O fim da aula veio como uma benção. Já estava exausta de ouvir a professora de geografia falar e o pior é que nem é sobre a matéria e sim sobre a vida dela. Que é um tédio só aliais. Não querendo julgar, porque a minha ainda é pior mas eu apenas estava exausta de ouvi-la falar. Ela passou vinte perguntas para nós copiarmos do livro e fazermos hoje. Mas não deu para terminar, infelizmente.
Ela nos interrompia a todo o momento e também vamos admitir que vinte questões em menos de uma hora não é uma coisa tão fácil, sem contar no quanto as perguntas eram difíceis. Meu braço já está melhor, ainda bem que foi o esquerdo, se não ficaria difícil de eu escrever já que sou destra e mal conseguia mexer a mão.
Não me lembrei muito da Stacy durante as aulas. Para mim ela nem existia mesmo que eu tenha reparado os olhares frios que ela trocou com Mary. Tive que segurar Mary para ela não começar uma briga por motivo infantil. Tive que pedir para ela esquecer e parar de arrumar problemas. Não precisamos disso agora, que recém chegamos.
Ela me ouviu, felizmente.
Guardei meu material calmamente enquanto todos saiam. Mary ainda parece irritada e posso dizer que essa aula não a ajudou muito. Eu fiquei aliviada quando soube que teríamos ensino religioso logo após a educação física mas logo meu desânimo voltou quando me lembrei dessa aula. Eu gosto de ensino religioso. É como se eu pudesse contar tudo sobre mim e me faz ficar aliviada. É bom. Espero que o Sr. Woody não se importe tanto com os meus problemas.
Quando finalmente saímos da escola, me despedi de Emma e Ally, e caminhei de volta para casa. Mary está quieta e ainda emburrada durante os primeiros passos e eu não posso deixar de achar engraçado o jeito que ela parece uma criança emburrada quando não ganha doce.
- Para de rir. - ela xinga quando eu começo a rir sozinha. Seus braços cruzam contra o peito e ela fica ainda mais emburrada, me ocasionando a rir um pouco mais. - Isabella, eu vou te bater.
Quando estava pronta para dizer algo, ou apenas retrucar, alguém a chama. Nos viramos vendo Shawn e mais dois amigos. Luke e Michael. Sim, hoje não é o dia da Mary.
- Você já vai? - Shawn se aproxima dela com seus amigos.
Cruzo os braços e me encolho no lugar já que a conversa não é comigo. Desvio o olhar para duas garotas rindo como malucas na outra calçada enquanto vêm algo no celular. Eu realmente não faço ideia do que possa ser, e não faço questão de saber.
- Vou para casa agora. - ela responde ignorando a presença de Michael. Eu sei que ela está se irritando e sei que é pelo jeito que Michael está a encarando.
- Nós íamos ir naquela pracinha atrás da escola. Não quer ir com a gente? Vamos ficar-
- Fumando? - Mary arqueia a sombrancelha para ele, que dá de ombros.
- Também. - ela revira os olhos. - Ah vamos lá, Mary. Não é como se nunca tivesse feito isso.
Eu rapidamente olho para ela, aguardando pelo o que ela pode dizer.
- Não. Nunca fiz isso. Não preciso ficar me drogando. - ela dá de ombros.
- Também não é assim. - Shawn murmura, contrariado. Michael solta um riso seco.
- Deixa, cara. As pessoas gostam de julgar mas só quando não envolvem elas. Não é mesmo, Mary?- Michael encara Mary e mexe as sombrancelhas em provocação.
- Eu não acho que eu estava falando com você. Então faz o favor de cuidar da sua vida e não se meter no que não foi chamado. Obrigada.
Desvio o olhar enquanto Shawn e Luke riem baixinho.
- Olha como ela brava. - Michael sorri, encarando Mary intensamente. - Tem mais de onde veio isso? Pode mandar que eu aguento, gatinha.
- Garoto, cala boca. - Mary resmunga, revirando os olhos. - Shawn, era só isso?
- Não. - ele rapidamente diz e olha repreensível para Michael. - Eu posso te acompanhar até em casa então? Já que não quer ir.
- Tudo bem por você, Bella? - Dou de ombros. - Ok. Você pode vir, se não trouxer esse aí junto.
Mary não disfarça o desprezo ao encarar o garoto de cabelos coloridos.
- Vai me impedir de andar onde eu quiser também? Acha que tem todo esse poder? - Michael retruca de volta.
- Na verdade, eu acho sim. - Mary sorri. - Pelo menos do meu lado você não vai.
- Desse jeito vou acreditar que você se importa mais do que diz. - provoca.
- Garoto, você não..-
Shawn interrompe.
- Ok, ok. Mike, cala a merda da boca antes que eu te bata. - Shawn manda e Michael revira os olhos.
Eu realmente não sei qual o problema que ele tem com a Mary, mas por alguma razão, eu vejo que não é só implicância, têm algo por trás disso. Eu sinto que ele apenas quer a atenção dela, mesmo que seja da pior forma.
- Ele não vai ok?
- O que? Você não está mesmo dizendo que eu não vou para a porra do lugar que eu quiser.
- Mike, por favor, cara. Não força.
- Não fode, Mendes. Não pense que tem o direito de me dizer o que fazer.
- Cara, qual a parte do ela não quer ter você por perto, você não entendeu ainda? Caralho, cara. Vai pra casa.
Michael respira fundo, aparentemente como se buscasse todo autocontrole que tinha.
- Que se foda. Vai à merda, Mendes.
Michael se afasta e vai embora, parecendo mais que irritado. Todos parecem não querer dizer nada agora e Shawn suspira, puxando o topete para trás antes de nos olhar.
- Relaxem. Ele faz isso o tempo todo. Não demora ele vai esquecer isso e voltar como um cachorrinho pro meu lado. - Shawn fala, e não o admiro por retrata-lo dessa forma, mas não digo nada. - Vai ir junto, Luke?
Meus olhos são postos no garoto loiro quieto e estranhamente fechado. Ele apenas dá de ombros e eu não sei se isso significa um sim ou não até ele nos acompanhar.
Andei quieta o tempo todo. Shawn conversava com a Mary o caminho todo, tentando anima-la ou apenas irritar ela sem querer. Ela tem um temperamento forte e isso deve ser a primeira coisa que ele viu, além da beleza dela claro.
Eu não acho que Shawn goste dela de verdade. Não tenho confirmação nem nada mas é apenas uma impressão. Ele deve apenas querer ficar com ela, porque ela é uma das garotas mais bonitas da escola e a novata.
Meninos são tão.. idiotas? parece que tudo é questão de status para eles.
Assim que chegamos na esquina da nossa rua, Mary ria de alguma bobagem que Shawn dizia e eu mantive o meu olhar no meu all-star enquanto eu andava quieta. Eu ainda me sinto invisível, como se não fizesse importância eu estar aqui ou não. Fiquei agradecida quando chegamos em casa. Subi a calçada e fiquei esperando a Mary perto da varanda.
Ela conversava alguma coisa com o shawn e apenas as vozes deles eram ouvidas. Mantive meu olhar baixo, no meu all-star branco. Uma voz me surpreendeu no entanto.
- Ei..- eu estranhei a voz e tive que olhar para ver de quem era. Luke não fala muito, pelo menos não comigo, e ele estar falando agora me deixa hesitante.
- Hm.. Oi. - respondo, encolhendo os ombros enquanto ele se põe na minha frente.
- Você pode me emprestar seu celular? O meu acabou a bateria e eu preciso fazer uma ligação. - ele pede, totalmente despojado.
- Oh, sim. - pego meu celular e desbloqueio rapidamente entregando para ele. Desvio o olhar enquanto ele usa meu celular e meus olhos encontram Harry parado a frente da sua casa, nos olhando.
Ele está apenas parado na calçada da sua casa nos observando. Seus olhos encontram os meus e posso ver eles suavizando. Não presto muita atenção no que Luke fala ao celular e muito menos quanto tempo ele fica usando. Só volto a olhar para ele quando ele me chama e coloca o celular na minha mão.
- Valeu. - ele agradece com um rápido sorriso. - Me liga se quiser, eu gravei meu número aí. - ele avisa e sai antes que eu possa entender o que ele disse.
Espera, ele me deu o número dele exatamente pra que?
Ele nem fala comigo, nunca fez questão. Na verdade nem eu faço. O que acontece com esses garotos para serem tão confusos assim?
Abano a cabeça e resolvo deixar isso para lá. Não é como se eu fosse realmente ligar para ele. Observo quando ele e Shawn se afastam voltando pelo mesmo caminho e passando por Harry que ainda continua lá parado. Eles se encaram por um momento, mas logo Harry desvia o olhar e começa a caminhar até mim.
- Uhm... Ele está vindo... - Mary murmura ao meu lado, estranhamente maliciosa e a encaro confusa.
- O que?
Ela revira os olhos.
- Nada. Eu vou entrar, não demora. - ela avisa, passando por mim.
Volto meu olhar para frente e Harry se aproxima devagar de mim. Como habitualmente, com suas mãos nos bolsos da calça jeans preta. Não consigo decifrar sua expressão porque eu não encaro-o por muito tempo.
- Hey. - Ele cumprimenta com um pequeno sorriso.
- Oi. - respondo.
Por algum motivo não me sinto tão desconfortável como antes, de um modo que não entendo realmente. O que mudou?
- Você está melhor? Como está o seu braço?
- Ah. Eu estou bem. - asseguro-lhe.
- Que bom. Foi um tombo feio. Você podia ter se machucado mais.
Eu realmente não entendo toda essa preocupação.
- Eu estou bem e sei que aquilo foi patético. - digo amargamente e encolho os ombros.
- Não foi patético. As pessoas caiem toda hora, ainda mais em um jogo. A única diferença no seu caso é que não foi sem querer e você podia ter se machucado sério. - ele corrige.
- Hm.. sim. Pode ser. - continuo encarando meus all-stars.
- Bem, eu não sabia que você sabia jogar basquete tão bem. - ele elogia e encaro ele que sorri. - Isso é raro.
- Hm... Sim. Mas eu não jogo bem. Me sinto patética.
- Por que? Você esqueceu a cesta que fez?
- Foi apenas sorte. - dou de ombros, ligeiramente envergonhada.
Não sou acostumada com elogios. É difícil saber o que dizer depois.
- Modesta uh? - ele brinca com um pequeno sorriso e não posso evitar em retribuir. - Você pareceu saber muitas coisas aquela hora que me acusou de ter feito falta em você.
Harry parece meticuloso ao dizer isso, quando um sorrisinho provocador surge em seguida.
- Mas você fez falta em mim!
- Você sabe que eu não fiz.
- Se eu sei muitas coisas, é porque eu estava certa. Admita. - ele solta um riso abafado.
- Ok, você ganhou. - ele suspira e pressiona os lábios segurando um sorriso.- Não foi por querer no entanto.
Dou risada, um pouco leve com o caminho em que a conversa tomou.
- Eu sei. Você só podia ter ficado mais longe. Não iria ser falta.
- Você sabe realmente de muita coisa, não é? Onde aprendeu? - ele parece interessado.
- Hm... Eu vejo. Sei lá. - dou de ombros. - Não é o que eu mais costumo ver de esportes mas eu sei algumas coisas. Eu na verdade gosto mais de futebol, parece menos complicado.
- Ah sim, você estava assistindo o jogo naquele dia. - ele lembra.
- Sim, eu sou uma menina com.... Gostos diferentes ou como posso dizer... -
- Inesperados?
- É. Todo mundo fica surpreso quando eu digo que gosto de assistir jogos, jogo videogame, e enfim, essas coisas.
- Espera, você joga videogame? - sua surpresa era evidente e esperada. Dou risada.
- É.
- Você é boa?
- Acho que sim. Já ganhei do meu primo e olha que ele é muito viciado.
Harry sorriu. Pareceu significar mais alguma coisa e eu soube quando ele disse:
- Não, eu preciso ver isso.
- Você está duvidando de mim?
Tentei parecer ofendida.
Harry sorri abertamente, do jeito que suas covinhas fundas se destacam junto ao seus olhos verdes. É evidente o quanto sua beleza é exuberante. Gostaria de ser bonita tão fácil assim.
- Claro que estou. Precisamos de uma partida.
- Hum... Contra você?
- Claro. Eu sou muito bom se você quer saber, mas posso te deixar ganhar uma ou duas vezes quem sabe, dependendo do quanto você sofrer. - sorriu.
Ele é tão metido, Jesus.
Reviro os olhos e paro um segundo para pensar. Eu não tenho jogado muito mas não posso realmente deixar que ele ache isso. Isso parece patético mas eu tenho que mostrar a ele que sei jogar e que posso ganha-lo. Mesmo estando enferrujada e hesitante.
- Ah vamos lá. Não vai dar para trás agora não é? - arqueia a sombrancelha, provocando. Reviro os olhos.
- Sem chance. Vou vencer só pra você deixar de ser tão metido.
Harry riu, estendendo a mão a espera que eu apertasse.
- Feito. - concordou e juntei nossas mãos num acordo muito formal e bobo que nos fez rir ao mesmo tempo.
- Okay, vamos logo.
Harry me seguiu pra dentro e por algum motivo um sorriso besta não saia da minha cara. Entrei dando espaço para ele e depois fechei a porta.
Seguimos até a sala e Mary apareceu vindo da cozinha, segurando um copo de suco e um prato com dois sanduíches.
- O que esse energúmeno está fazendo aqui? - ela pergunta confusa e eu não consegui conter o riso e gargalhei.
- Energúmeno?
Harry franze o cenho, parecendo confuso e ao mesmo tempo ofendido.
- Deixa pra lá, Harry. Mary põe apelidos em todo mundo.
Tento tranquiliza-lo sobre os modos de Mary. Harry me encara e franze o cenho.
- Energúmeno?
Ele parece incrédulo e eu rio da situação.
- Tá. O que ele veio fazer aqui?
Mary não demora a questionar.
Harry responde antes que eu possa.
- Eu vim mostrar pra Bella toda a minha habilidade no videogame. E claro que isso quer dizer que ela vai perder pra mim.
Sua voz transborda convicção e eu nunca vi uma cara mais metida.
- Ei! Você pode deixar de ser tão metido, por favor?
Harry encolhe os ombros, como se dissesse que sente muito. Eu reviro os olhos e cruzo os braços, levando isso mais sério agora.
- Espera, vocês dois vão jogar vídeogame? Como dois amigos?
- Não. Só vou mostrar que posso vence-lo sem nenhum problema. - retribuo a presunção.
Sinto o olhar de Harry em mim quase que imediatamente.
- Ah sim. Você consegue né? - Mary sorri provocativa e eu fecho a cara. Seu sorriso aumenta. - Tá, então vou subir. Deixar vocês.. a vontade.
Me faço de sonsa sobre o sorrisinho malicioso que Mary me lança antes de subir as escadas e encaro Harry quando percebo sua atenção intensa em mim, por algum motivo.
- Por que está me olhando assim?
- É que... - ele limpa a garganta e eu apuro os ouvidos. - Você não me considera como um amigo?
- O que?
- É que você acabou de dizer que não somos amigos, então...
Harry deixa a frase morrer, mas não preciso de mais para entender o que ele está falando. Desvio o olhar e passo por ele. Largo minha mochila no sofá menor e me sento no sofá de frente para tv. Harry senta ao meu lado em uma distância bem menor do que eu poderia deixar antes, em seguida.
- Falei algo errado? - perguntou, me olhando como se já estivesse arrependido.
Droga.
- O que? Não. Você não fez nada. Eu só... só acho que não sei o que dizer. Não somos íntimos o suficiente para isso, você sabe não é?
- Achei que isso estivesse mudando.
- E está. Mas mesmo assim. Acho que essas coisas precisam de mais tempo.
- Precisam? Quando conheci Louis, ficamos amigos no mesmo dia no jardim de infância. - comentou e eu suspirei, não sabendo como explicar melhor.
Eu também nem sabia se o que estava falando era realmente verdade para mim. Estava confusa com isso; Harry e nossa aproximação.
Eu não sei realmente por que isso importa tanto para ele. É confuso.
- Mudaria alguma coisa pra você? Te considerar como meu amigo? - perguntei, realmente curiosa.
- Acho que o que quero mesmo é considerar alguma coisa por você... - confessou, me encarando. Engoli em seco. - Mas se não for o caso, tudo bem. Não estou tentando te pressionar.
- Você me deixa confusa. - admiti, e ele pareceu curioso. - Desculpa, mas é que não entendo ainda o motivo disso ser tão importante pra você. Eu e o que eu acho. Isso na maioria das vezes não importa pra ninguém.
- Então essa não é a maioria das vezes. - Harry respondeu, de repente sério demais. - Eu me importo. Principalmente quando se trata de mim. Qual é? Quem não se importaria?
- Não sei... Talvez a maioria?
- Então eu não faço parte dela. Faço parte da minoria que se importa com a opinião das pessoas, principalmente com a sua. Faz sentido pra você agora?
Na verdade não. Porque isso só me trouxe mais e mais perguntas. Mas não queria alongar essa conversa. Minha cabeça já tinha pontos de interrogação suficientes.
- Está bem. Me desculpa por ser tão neurótica. - forcei um sorriso.
- Não peça desculpas pelo o que você não é. - pediu. - Não tem problema em perguntar.
Ele tentou procurar meus olhos. Realmente não entendo como ele consegue olhar tão intensamente e nunca ficar tão expostos como eu sei que fico quando me olham assim. É uma droga.
Forcei novamente um sorriso para ele, enquanto assentia, e decidi mudar de assunto antes que isso ficasse mais embaraçoso do que já estava.
- Vamos jogar?
Peguei os controles encima do rack, ligando a tv e o Xbox.
- Vamos.
Eu acho isso ainda muito confuso, Muito mesmo.
Sabe quando uma pessoa que você pensava ser totalmente idiota, babaca e egoísta começa a se importar com você e ser legal?
Eu ainda sinto que tem algo que eu não sei, porque as pessoas não insistem tanto em mim como Harry.
Ou talvez Harry não seja esse cara que eu pensava. Talvez ele possa ser esse cara divertido e legal que tenho visto nos últimos dias.
Talvez eu devesse dar um voto de confiança à ele, independente do quanto isso soe bizarro.
Afinal, o que pode acontecer?
Obrigada por lerem!❤️❤️
Desculpa qualquer erro.
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