Caçador Herdeiro (1) - Vento...

By WesleyArruda

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Livro 1 da saga CAÇADOR HERDEIRO. Se, por ventura, seu sonho é ser um Caçador de Vampiros ou algo do tipo eu... More

ATENÇÃO, LEITOR (A)
Sinopse
Prólogo - Faroeste urbano
01 - Um "tranquilo" primeiro dia de aula
02 - Novos amigos, e novos inimigos
03 - A garota dos olhos de esmeralda
04 - Sem querer, eu aborreço o meu diretor
05 - O meu pai é um assassino!
06 - O motoqueiro misterioso
07 - O falso vampiro
08 - Um novo parceiro e um novo rival
09 - Uma simples ida ao shopping
10 - O misterioso Jake!
11 - Dores do passado. Riku, mudou de ideia?
12 - Rubens Almeida, o nosso novo treinador
13 - Natsuno Explica: Os Caçadores de Vampiros!
14 - O jogo da superação!
15 - O dia do encontro
16 - Armadilha mortal
17 - Um dia com o tio Michael
18 - Trio de caçadores formado! Riku, o terceiro membro?
19 - Caçadores da noite
20 - Eu me deparo com um anjo marinho!
21 - O primeiro passo: Rio das Águas Pesadas
22 - Ganho um presente do meu pai!
23 - Shin Encrenca e Irritação Altamente Perigosa!
24 - Modo Ataque! A transformação do meu tio Michael
25 - O primeiro desafio: 1°B x 3°A, a abertura do campeonato!
26 - Um encontro um tanto desagradável
27 - Neblina da morte
28 - Missão Martins! A infiltração complicada
29 - Fugitivos por uma noite: o zelador irritado!
30 - Visitando o subterrâneo de Honorário
31 - Hospital para vampiros! Invadindo o território inimigo
32 - Conhecendo o Mundo Paralelo: a Base do Fogo Militar
34 - Conhecendo o Mundo Paralelo: o museu e suas histórias
35 - Minha melhor amiga é uma rastreadora!
36 - Uma bomba no shopping?
37 - A grande aventura do metrô!
38 - Prova de amor
39 - Ferdinando, o caçador das florestas
40 - As chamas da esperança de um coração motivador
41 - Rivalidade dentro de campo: Diogo Kido vs Yago Cordeiro!
42 - Partindo ao Monte Zentaishi!
43 - O clã dos índios e o pesadelo real
44 - A casa mal assombrada
45 - A batalha dividida contra as armaduras vivas
46 - Aprendizes? Não mais! O encontro com o profeta da casa velha
Epílogo - O rosto de Rodrigo
DISCUSSÃO: A HORA DO LEITOR!
Caçador Herdeiro estreou na Novel Mania!

33 - Conhecendo o Mundo Paralelo: a organização Ko-Ketsu

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By WesleyArruda

Andamos muito pela cidade, e por onde passávamos, muitas pessoas faziam uma reverência ao meu pai, que respondia sempre com um sorriso simpático. Eu não estava acostumado com aquilo, mas me sentia mais protegido. Parecia que todos daquela cidade eram protetores nosso. E, de certo modo, eram.

Eu percebi que realmente não existiam carros em Firen. Nem motos ou caminhões, apenas bicicletas. Ainda assim era raro eu ver alguém usando uma. As pessoas gostavam de andar, estava na cara. Caminhavam lentamente pelas ruas estreitas e vielas de Firen, todas em um clima muito bom e animado. Até que, finalmente, encontramos uma coisa não muito boa.

A poucos metros à nossa frente, um homem robusto – postado ao lado de uma melancia esmagada no chão - ameaçava um rapaz magro que, provavelmente, vendia frutas, uma vez que ele estava atrás de uma barraca cheia de bananas, maçãs, uvas e melancias, em uma das ruas de cascalho. Muitas pessoas observavam a confusão, com medo e sem fazer nada. O homem forte o puxou pela blusa agressivamente, seu corpo inclinado acima da barraca, dizendo, em um tom selvagem:

- Quero meu dinheiro de volta!

- Não foi culpa minha ter caído, já que foi o senhor quem derrubou - o comerciante defendia-se calmamente, embora estivesse nitidamente assustado.

- Isso não importa! Eu paguei e quero a mercadoria!

- Mas senhor...

- "Mas" nada! - interrompeu-o o valentão.

O pobre homem ficou imóvel, seus olhos trêmulos e inquietos, até que o outro o largou. Este esperava que o comerciante lhe desse outra melancia ou o seu dinheiro, mas nada aconteceu.

De repente, o grandalhão derrubou a barraca de frutas do comerciante para frente e avançou contra ele, sem se importar em esmagar, com os pés, algumas maçãs; e deu-lhe um soco na cara, assim o derrubando no chão. O magro murmurou de dor, com a mão sobre a bochecha, e quando ia levar outro soco, meu pai já estava à sua frente, bloqueando o ataque do homem agressivo.

- Acho melhor parar - disse Tony, calmo e ameaçador; o comerciante ficou visivelmente aliviado, enquanto sentava-se perante as frutas no chão, a barraca caída à sua frente.

O valentão olhou para o meu pai, tentando disfarçar o medo, aparentemente o reconhecendo.

- Senhor Kido, m-me desculpe, acontece que...

Antes que ele pudesse terminar de falar, dois policiais já seguravam seu outro braço, o algemando com o braço que meu pai apertava.

- Acho que não é pra mim que você deve explicações - disse meu pai, ainda tranquilo. Fiquei impressionado com o seu modo de agir. Não digo sua velocidade, mas sim a sua atitude, calma e serena.

Os policiais - que tinham seu fardamento completamente preto - conduziram o sujeito até uma simples viatura do outro lado da rua - o primeiro carro que eu havia visto - e o colocou no camburão, levando-o para, provavelmente, a delegacia.

- Muito obrigado, senhor - disse o bom homem ao Tony, ainda assustado.

- Não tem de quê - sorriu meu pai, virando-se e o ajudando a levantar a barraca de madeira. Outras pessoas que estavam por perto também ajudaram o comerciante a colocar as frutas de volta no lugar, enquanto meu pai vinha até mim, como se nada tivesse acontecido.

- Vamos?


Depois de andar bastante pelas ruas estreitas preenchidas por pessoas, finalmente chegamos em uma zona da cidade onde havia edifícios de três ou quatro andares, rodeados por belas árvores bem cuidadas, que deixavam o bairro com um ar de tranquilidade. Entre os prédios, um se destacava. E foi até ele que caminhamos.

- Essa é a organização - falou meu pai.

O edifício era maior que o BFM, tanto de largura quanto de altura. Tinha cerca de cinco andares, e suas paredes eram de um vermelho-escuro muito forte, com lindos detalhes alaranjados nas janelas de madeira - algumas fechadas, outras abertas. O telhado escuro tinha o mesmo formato piramidal que os telhados das outras casas da cidade. A fachada acima da porta não continha janelas, e a porta, por sua vez, era estreita e de aço, cujas dobradiças também eram alaranjadas.

Não havia seguranças por perto.

Meu pai aproximou-se da entrada e, simplesmente, abriu.

Estranhei.

- Ninguém entra aqui – disse ele, gesticulando para que eu também entrasse e depois fechando a porta atrás de si; ficamos lado a lado. - Ninguém é tão tolo.

Estávamos numa pequena sala fechada, incluindo apenas a porta de entrada atrás de nós. Apesar de pequena, não era abafada. Uma lâmpada fluorescente amarela iluminava o ambiente. O mais estranho, contudo, era que a lâmpada não ficava no teto, e sim na parede lateral à esquerda, embutida.

De repente, um fio de luz surgiu das duas paredes laterais e passou pelo meu corpo e pelo do meu pai, dos pés à cabeça, como se estivesse nos analisando.

Era laser, daqueles que usam em museus para proteger algo. Entretanto, ao invés de ser vermelho, aquele era amarelo, muito fino e brilhante.

- Boa tarde, senhores Antony e Diogo Kido - disse uma voz de algum alto-falante que eu não conseguia ver. Uma voz feminina, simpática, mas aparentando ser de alguma espécie de robô.

- Boa tarde, Helena - meu pai disse ao nada.

- Hã... boa tarde - falei também, desconfortavelmente.

O teto se abriu de repente, me assustando de imediato. Não dava para ver nada adiante da abertura escura, mas eu sabia que ali havia bastante espaço. Aquele com certeza era um lugar bem estranho, e eu sabia que ainda havia muitas surpresas futuras.

Me assustando novamente, o chão que pisávamos começou a se mexer, e logo percebi que o mesmo estava subindo. Estávamos num elevador?

- Quem é Helena? - perguntei ao Tony, o encarando.

- A voz - disse ele, simplificando.

- Hum.

O chão continuava a subir lenta e silenciosamente, passando por um lugar imerso em escuridão, deixando-me curioso para saber aonde sairíamos. Até que, finalmente, parou. Eu não via nada além de paredes e do teto. E o silêncio era total.

A parede à nossa frente abriu-se feito uma porta eletrônica. Tudo se iluminou no mesmo instante - e um clarão tomou minha visão por alguns segundos. Quando voltou, meu pai estava à minha frente, imóvel, olhando para algo. Caminhei até ele, e vi que estávamos numa espécie de corredor estreito com um parapeito à nossa frente, com as barras alinhadas de cor prata, encravando-se na borda vermelha e no chão branco espelhado.

Ao decorrer do corredor, nas duas direções, muitas portas de madeira fechadas, que contornavam o pátio amplo lá em baixo. Estávamos no quinto andar, uma altura enorme. E fiquei pasmo quando olhei para baixo, adiante do parapeito, o gigantesco saguão....

- Incrível – foi o que consegui dizer.

Havia centenas de pessoas vagando por ali. Todas com algo para fazer, desde entregar papéis, ou simplesmente mandar recados. Algumas até mexiam em computadores espalhados pelo espaço, como se houvessem escritórios improvisados ali. A movimentação era enorme, e todos os homens e mulheres pareciam apressados e preocupados com algo, porém sempre sorridentes.

Alguns davam gargalhadas, enquanto outros corriam e entravam em uma mesma porta situada no extremo oeste. A maioria estava armado com diferentes tipos de espadas - e vestiam uma roupa estranha, cujo colete grosso vermelho-sangue combinava com a roupa interior, que parecia aqueles trajes de nadador, bem apertado, tomando o corpo inteiro do indivíduo em um tecido preto. Além das vestimentas já mencionadas, usavam também botas e luvas, do mesmo tecido do colete, e da mesma cor também.

No pátio havia diversas mesas e cadeiras enfileiradas, além de diversos computadores modernos ou outros tipos de objetos como rádios ou até celulares. De longe, percebi um rapaz - não muito velho - com fones de ouvido e, provavelmente, trocando de música no seu Iphone. Além de tudo isso, havia, em um determinado canto, sofás, filtros de café, TVs, geladeiras e mais algumas coisas do cotidiano.

Olhei para o meu pai, fascinado.

Ele já era acostumado com aquilo, e apertou um botão na borda vermelha do parapeito.

Em seguida, o chão que estávamos pisando começou a descer, mas só aquela parte, um quadrado perfeito. Enquanto descíamos lentamente, meu pai perguntou:

- O que você achou da organização Ko-Ketsu?

- Muito legal - respondi, ainda encantado, observando o lugar.

Nos andares superiores ao térreo, havia mais portas em corredores que contornavam o gigantesco pátio em um quadrado, protegidos por parapeitos estilosos (que percebi que eram de ferro). Pareciam quartos ou dormitórios, a maioria com a porta fechada ou entreaberta. No saguão, todos usavam o "traje de nadador", porém sem o colete. Dava para ver o formato dos músculos dos homens - e o formato dos seios das mulheres também. E percebi que, em todos os trajes, havia uma espécie de botão vermelho (a maioria dessa cor), pequeno, abaixo da gola simples. Decidi tirar aquela dúvida:

- Pra que serve aquele botão, pai? - perguntei, apontando para um dos rapazes que estava caminhando apressado, no centro do pátio abaixo de nós, sentido sul.

- Para ativar o colete - respondeu ele, com orgulho na voz. - O tecido preto de borracha é super resistente e feito especialmente para a elasticidade completa do caçador, além de aliviar dores musculares e aquecer o corpo em lugares extremamente frios. É uma roupa de compressão. E o colete, obviamente, serve para proteger o peito.

Eu ainda analisava aquele lugar fabuloso, e percebi também que nem todos usavam o vermelho (digo, os coletes, as botas e as luvas). E, antes que eu perguntasse sobre aquilo, meu pai falou:

- O padrão é o vermelho, mas os veteranos podem escolher outra cor, se quiserem. O modelo permanece o mesmo, mas vai do estilo de cada um.

- Entendi - falei, reparando que realmente os que usavam de cores diferentes aparentavam ser mais velhos. Alguns usavam amarelo, outros azul (claro ou escuro), roxo, verde, branco e até cinza. Eram poucos os diferenciados, mas o destaque em meio ao mar preto e vermelho era enorme.

Finalmente chegamos ao térreo, e reparei que não havia janelas por perto, muito embora o ambiente fosse extremamente agradável, possuindo paredes claras e limpas, contendo dezenas de lâmpadas brancas embutidas no seu decorrer. Ainda assim parecia que era uma iluminação natural, solar. Não havia ventiladores, mas pelo lugar passava uma brisa refrescante. Eu sentia também o ar puro. Um ar muito bom, muito agradável.

Eu realmente estava encantado.

Meu pai me guiou rumo ao norte do pátio pelo chão de pavimento espelhado, e todos que estavam no caminho o cumprimentavam. Homens fortes, feições firmes e olhos experientes; mulheres bonitas, postura invejável, sorriso simpático no rosto. Claramente, meu pai era o mais conhecido dentre todos. Na verdade, todos se conheciam, mas meu pai era o mais famoso, o mais respeitado – tanto que aquilo chegava a ser desconfortável.

Alguns membros me olhavam com certa admiração, outros nem ligavam tanto. Havia pessoas de diversas idades no saguão, inclusive da minha – mesmo que não usassem uniformes, já que, eu imaginava, não eram membros, provavelmente só visitantes, iguais a mim. Havia mais homens do que mulheres, incluindo moças muito bonitas e elegantes, apesar dos uniformes de batalha e olhares ameaçadores - e todos formavam a organização. Todos eram da mesma tribo. Todos eram companheiros - mesmo alguns aparentando ser antipáticos e calculistas.

Finalmente chegamos à sala, uma porta de madeira igual às outras, situada no nordeste do amplo pátio. Meu pai a abriu e entramos, e me vi em um lugar bastante aconchegante e tranquilo. Ali era uma espécie de escritório; um escritório espaçoso. Um enorme sofá à direita com uma TV em frente a ele, de tela plana. Na parede oposta à porta por onde entramos, a uns dez metros, havia três janelas altas, lado a lado. Estavam abertas, dando passagem à luz solar – muito embora aquilo não fosse necessário, considerando que lâmpadas embutidas nas paredes iluminavam o cômodo.

Por fim, à esquerda, alguns computadores modernos ligados, com as telas na área de trabalho, que tinha um plano de fundo retratando a foto do prédio vermelho-escuro de telhado piramidal, em um estilo bem tradicional: a organização Ko-Ketsu.

Olhei para o sofá, onde havia dois homens sentados. Vestiam o uniforme de compressão preto sem colete, apenas com as botas e as luvas. As cores? Do branquelo de cabelos longos eram azul-escuro; do outro - que era muito parecido com um amigo meu - as botas e luvas eram roxas.

Meu pai, sem me esperar, caminhou até eles e os cumprimentou, em um aperto firme de mãos.

- O que faz aqui, Tony? - perguntou o de cabelo roxo-escuro, levantando-se e arqueando uma sobrancelha. - Pensei que você tinha ido visitar sua família.

Ele olhou para mim, e seu olhar era idêntico ao do meu melhor amigo; olhos azuis que tinham um tom sarcástico, como se ele fosse fazer piadas a qualquer momento.

- E aí, Diogo - ele me cumprimentou, com um sorriso estampado no rosto. Eu nem fiquei surpreso por ele saber o meu nome. Aliás, por que ficaria? Muitas pessoas que eu nem conhecia sabiam mesmo.

Caminhei até ele, que me estendeu a mão:

- Muito prazer, senhor Kogori - o cumprimentei, adivinhando quem era.

- Pode me chamar de Hebert - sorriu ele, passando a mão sobre o cabelo roxo (este era volumoso e bagunçado).

- Beleza – eu disse, percebendo que ele tinha a mesma personalidade do Natsuno.

- Pelo visto o seu pai decidiu te mostrar o nosso local de trabalho - disse o outro, soando meio antipático, permanecendo sentado; eu apenas assenti.

Ele me estendeu a mão, dizendo:

- Muito prazer, Diogo. – Suas mãos eram frias, e levei um choque quando percebi quem ele era. Aquelas mãos, aqueles olhos castanhos, aquelas sobrancelhas...

- Digo o mesmo... senhor Macedo – eu falei tentando me manter firme, sentindo as bochechas queimando. Então aquele era o pai da Sophia?

Era um homem de aparência jovem, cabelos longos bem arrumados, cuja pele pálida era macia, lembrando a de uma mulher. Admito que ele era bonito, mas seu rosto deixava transparecer um ar de mal humor, seus olhos sem um pingo de animação.

Hebert voltou a se sentar, enquanto Tony virava-se para mim, uma expressão de satisfeito.

- Diogo, quero lhe mostrar algo.


Após sairmos da sala, caminhamos pelo pátio sentido noroeste, passando por vários membros trajando a mesma roupa preta, a qual eu não me acostumara ainda. Será que eu teria que usá-la algum dia?, era o que me incomodava, pois embora gostasse do modelo, não achava que ficaria boa em mim. Acabei imaginando o meu pai uniformizado, e a ideia me pareceu engraçada.

Ri muito por dentro, o imaginando com o traje apertado.

- O Hebert é gente boa - disse Tony, tirando-me do meu irônico devaneio. Ele olhou para mim com uma cara estranha. - Percebi que você ficou um pouco nervoso perto do Sandro. Aconteceu alguma coisa?

- Não - menti, com as mãos trêmulas no bolso; meu pai percebeu que eu não estava falando a verdade. Ele sempre percebia.

- Ele não é muito de falar, mas ainda assim também é gente boa. Não precisa ter medo.

- Nem fiquei com medo - protestei, o fitando.

- Então o que era? - Tony soou desconfiado.

- Nada, pai, já falei. Apenas impressão sua.

Meu pai ainda estava incerto quanto àquilo.

- Diogo, você está me escondendo algo?

- Eu não - respondi impaciente. - Fica frio.

- Tá - foi a última palavra dele.

Chegamos à porta e entramos. O corredor largo era curvado para a esquerda, contendo uma enorme vitrine de vidro brilhante no seu decorrer à direita; à esquerda, apenas a parede branca com lâmpadas embutidas fluorescentes amarelas.

A vitrine protegia alguns objetos esquisitos, semelhante a um museu. Aquilo era um museu, onde algumas pessoas apreciavam os objetos exóticos e, aparentemente, valiosos. Meu pai caminhou ao primeiro objeto ao nosso alcance, e eu o segui, sem hesitar – começava a ficar curioso.

- Isso aqui é a espada de Taiyo Hentsu - disse meu pai, mostrando uma bela espada de cabo azul-marinho com alguns detalhes prata. Prata como a longa lâmina, de aproximadamente dois metros de comprimento.

- E quem é esse? - indaguei.

- O caçador dono do recorde. Ele foi o que mais destruiu vampiros em toda a história. Milhares. Não me lembro quantos, mas nunca chegarei a essa marca. - Meu pai riu, no entanto parecia insatisfeito com o fato. - Detalhe: - ainda inseriu - essa espada não é uma Takohyusei. - Confesso que fiquei bem surpreso. Então esse tal de Taiyo deveria mesmo ser muito forte.

Caminhamos até o segundo objeto.

- De quem era essa faca? - ri, em deboche; era apenas uma adaga pequena. Muito bonita, mas eu preferiria mil vezes uma espada feia que tivesse uma lâmina maior.

- De um falecido amigo meu - respondeu meu pai, assumindo uma expressão triste, fazendo-me ficar arrependido no mesmo instante. - Arc Dadilan foi o homem que matou o Rei Ogro da Colina Rosan. Muitos tentaram em toda a história, mas ele foi o único que conseguiu. Ele era especialista com facas, e essa era uma especial. Foi criada pelos Monges Profetas especialmente para ele que, com ela, matou o inimigo. Um inimigo muito poderoso, por sinal.

Primeiro, eu fiquei impressionado sabendo que ogros existiam. Depois, mais ainda, sabendo que o rei deles foi morto por uma faca.

Caminhamos até o terceiro objeto.

Foi aí que me assustei. Aquilo não era bem um objeto, era a cabeça de um vampiro horrível!

- Pai, pra quê vocês guardariam a cabeça de um vampiro? - perguntei, ironizando, sentindo náuseas no estômago.

- Acontece que esse não é um vampiro comum – disse ele. - Nem evoluído. É a cabeça de um vampiro demoníaco, uma raça absolutamente rara. Só existem no Reino dos Vampiros.

Eu fiquei surpreso e admirado. Vira de perto o que era o Reino dos Vampiros, e era inacreditável saber que alguém havia entrado lá e trazido a cabeça de um vampiro.

- Os vampiros demoníacos são a raça mais forte que existe, Diogo. Na verdade, eles são a primeira espécie que surgiu no mundo, passando o vírus para humanos ao ponto destes também virarem vampiros. São simplesmente os "originais". E você sabe quem foi que conseguiu arrancar a cabeça desse?

Balancei a cabeça negativamente.

- Eu - respondeu Tony, simplesmente. Por alguns instantes eu esperei ele dizer que era brincadeira, mas nada. Então fiquei surpreso.

- Sério mesmo? – perguntei; ele fez que sim. Um tanto orgulhoso, dúvidas surgiram à minha cabeça: por que meu pai entraria no Reino dos Vampiros? E por que aquele vampiro não virou areia?

Deixei esse assunto para depois.

Continuei reparando a cabeça do indivíduo. Se eu dissesse que ele era feio, eu estaria pegando leve. A julgar pela expressão de dor, ele havia tido uma morte horrível. Seus olhos de íris escarlates não tinham vida, e seus cabelos desgrenhados pareciam que nunca haviam sido lavados. Além das presas afiadas em sua boca, ele possuía uma pele avermelhada e peluda. Parecia mais um lobisomem do que um vampiro. Seu nariz era enorme e as suas orelhas eram pontudas. Sua feiura vencia a do diretor facilmente.

Apesar de tudo, seu rosto não estava danificado, e ele parecia olhar diretamente para mim!

No corredor havia outras pessoas e, sem querer, acabei esbarrando em um garoto e caí no chão. Ele era mais ou menos da minha idade, apenas um pouco maior do que eu, e também estava, claramente, com o pai. A primeira coisa que reparei foi nos seus cabelos volumosos, que chamavam muito a atenção por ter um tom alaranjado muito forte.

- Desculpe-me - pediu ele, me estendendo a mão simpaticamente enquanto sorria.

- Que nada - falei, também sorrindo, me levantando com a sua ajuda; percebi que ele era gente boa. Nossos pais se cumprimentaram. Pelo jeito já se conheciam. - Seu pai também está te mostrando o museu da organização? - perguntei.

- Está sim - disse ele, com um sorriso meigo no rosto levemente maduro. - Muito legal, não acha?

- Aham - assumi, coçando a cabeça.

- Aliás, meu nome é Yago Cordeiro. – Ele me estendeu a mão novamente, ainda sorrindo; senti que ele era familiar.

- Eu sou Diogo Kido. – A apertei.

- Do Clã do Fogo. – Yago parecia fascinado.

- Acho que sim. – Nós rimos.

Seu pai também me cumprimentou - e fiquei impressionado com a semelhança entre ele e o filho -, depois meu pai e eu continuamos a "jornada".

Caminhamos até o quarto objeto.

Era um pergaminho aberto, com as bordas desgastadas.

- Isso é o mapa que um pirata usava na época do Quinto Caçador Lendário. Foi achado dentro de um navio afundado no Oceano das Águas Pesadas.

Eu me surpreendi duplamente.

Primeiramente, claro, por saber que existiam piratas. Depois, porque Águas Pesadas era um nome conhecido para mim. Eu sabia que existia o rio, só não imaginava que existia um oceano. Queria nem imaginar como seria nadar lá...

- Foi um milagre esse pergaminho resistir à agua - disse Tony.

- Talvez não seja de papel.

- Mas é - replicou meu pai, mas não parecia tão interessado no assunto. Continuei analisando os desenhos na folha amarelada. De fato, era um mapa. Mesmo estando em preto e branco, distingui os oceanos e as terras. Conclusão: o Mundo Paralelo era completamente diferente do Mundo Humano, pelo menos baseando no que eu conhecia em Geografia.

Fomos ao quinto objeto.

Era uma coroa. Muito bela e brilhante. Dourada, claro. Havia pedras preciosas embutidas nela, e percebi que algumas eram diamantes. A coroa era tradicional, como a de um rei de histórias em quadrinhos ou até de contos de fadas, mas com a falta do tecido interior, fazendo-a parecer um anel gigante - muito bem decorado, visivelmente.

Olhei para Tony, e vi sua expressão novamente triste.

- Vai me dizer que era de um amigo seu - falei, em um tom zombeteiro.

- Era sim - disse ele, falhando sua voz. - Meu melhor amigo.

Fiquei surpreso mais uma vez - já estava até me acostumando. Nunca imaginei que o meu pai seria amigo de um rei.

- Ele era rei de onde? - perguntei, voltando-me para a bela coroa dourada.

- Do mundo todo - respondeu meu pai, me deixando ainda mais surpreso. - Pai de Cláudio Rodríguez, membro do Clã da Terra e, por fim, o Décimo Caçador Lendário.

Meu queixo caiu de vez.

Então quer dizer que... o último Caçador Lendário era o melhor amigo do meu pai e... o pai do Cláudio?

- Hã, impressionante - foi a única coisa que consegui dizer tentando disfarçar a surpresa. Mas acho que não funcionou. O que mais viria pela frente?

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