Assim que Ally e Emma foram embora, já era de tardezinha. O sol estava se pondo, e o ar estava mudando. As meninas e eu fizemos o trabalho há tempo. Era exatamente o que Emma disse, apenas colocar o que pensamos sobre um certo assunto e questionar um pouco. Eu acho que filosofia é isso. Para fazer você pensar, refletir. Foi fácil e rápido.
Hoje foi um dia legal pra mim, posso dizer. As meninas são engraçadas e acabo por me divertir um pouco. Mesmo que esse não seja o meu jeito de me divertir, eu acabei me divertindo. Foi bom saber sobre as meninas e sobre a vida delas. Bem, os garotos que elas gostam. Eu particularmente ouço muito as pessoas, mas não é totalmente bom se eu não começasse a questionar e comparar minha deprimente vida com a dos outros. Isso é um saco e eu preciso realmente parar com isso.
Decidi esperar minha mãe sentada nos degraus da varanda. Ela disse que logo estará aqui e que talvez ela precise da minha ajuda com algumas coisas da loja. Não, não é sobre roupas ou algo assim, ela apenas quer uma ajuda com o faturamento da loja. Ela sabe a filha nerd que têm.
A rua está calma, quase deserta. O sol está se pondo deixando que o vento fique ainda mais fresco e a noite comece a chegar. Meu pai provavelmente vai chegar tarde. Ele sempre têm uma reunião ou outra para comparecer.
Mary está lá dentro conversando com tal Shawn pelo celular. Ela disse que encontrou ele no Instagram e eles começaram a conversar. Ele deu o número dele para ela, e agora os dois estão lá, marcando o dia para enfiarem um a língua na garganta do outro.
Mary sempre foi assim, de não se apegar. Eu posso dizer que admiro isso nela algumas vezes, porque sabe, Você começa a se apegar, e começa a sentir algo mais forte e aí já está apaixonada e quando vê, o cara te da um pé na bunda, te deixando com cara de tacho. Bem, não é como se eu fosse experiênte mas é o que acontece na maioria das vezes. Homens são todos idiotas.
Mas como a Mary não. Ela fica, e quando sente que já está ficando mais sério, ela quem dá o pé na bunda. Eu acho ruim às vezes porque tem caras legais, como o Greg. Mas eu realmente não posso julgar. Só espero que um dia ela se apaixone por alguém de verdade, e essa pessoa a faça feliz. Vai ser impagável ver ela apaixonada mas mesmo assim, se ela estiver feliz, eu ficarei por ela.
Ouço barulhos de passos na grama e viro minha cabeça para ver quem é. Harry aparece com suas mãos nos bolsos da bermuda moletom, os habituais chinelos, e os cabelos rebeldes em sua cabeça. Não faço ideia do porquê, mas sempre estão assim, e eu gosto disso, não, eu apenas acho que lhe caiem bem esse estilo.
Quando ergo a cabeça para olha-lo, seus olhos verdes estão em um tom mais claro e brilhante, queria saber como ele se sente sabendo o quanto bonito é. Eu infelizmente, nunca saberei isso.
Eu não faço ideia porque ele sempre me procura. Justamente eu. Sempre aparece onde eu estou. Ele quem aparece, não pode dizer que é conhecidência, porque é ele quem aparece.
- Oi. - ele diz rouco e desvio o olhar para baixo novamente.
- Oi..
- Posso sentar? - ergo o olhar novamente para ele, surpresa.
- Uhm... se quiser. - dou de ombros.
Harry se sentou ao meu lado, em uma distância razoável entre nós. Não consigo impedir de sentir o cheiro dele. Seu cheiro não é tão forte, é levemente suave e fresco. Me lembra hortelã e algo mais rústico, um perfume amadeirado talvez. Mas é bom, muito bom na verdade.
- Sua amiga é engraçada. - ele diz depois alguns segundos em silêncio. Eu ainda estou me perguntando o que ele está fazendo aqui, puxando papo comigo, de novo.
Quando olho-o, seus olhos não estão em mim, estão admirando o céu acima de nós. Ele parece tranquilo, ou até chapado.
- Uhm... Sim. - viro a cabeça para frente novamente.
- Vocês estavam fazendo o trabalho de filosofia? - ele pergunta genuinamente curioso e olho para ele, confusa.
- Sim, como sabe? - seus olhos encontram os meus assim que ele vira a cabeça para mim.
O verde dos seus olhos fixaram-se nos meus olhos. Eles são mesmo bonitos. Harry é mesmo uma criatura linda. São tantos seus olhos quanto o resto do seu rosto; O maxilar, a pele branca límpida, o formato perfeito do nariz, a mandíbula extremamente marcada, e os lábios rosados. São tudo coisas bonitas de se ver, bem, vamos deixar de fora o seu tronco tatuado e inegavelmente sexy.
Por que estou pensando nisso de qualquer forma?
- Eu imaginei. - ele disse ainda com os olhos em mim. - Eu também tinha que fazer mas os meninos furaram. -desviei o olhar.
- Hm.. então, você vai ficar sem nota. - ele suspira, seu joelho toca levemente o meu mas rapidamente se afasta.
- Hm.. sim, mas já estou acostumado. Meus amigos não são nada interessados nas aulas. Eu também não sou pra ser sincero, mas eu não posso fazer nada sozinho. - ele dá de ombros e puxa os cabelos para trás com uma das mãos.
- É uma pena. - digo e sinto seu olhar em mim, por longos segundos.
- Você não gosta de mim não é? Eu sinceramente não entendo ainda o porquê. - sua voz soa estranhamente irritada e encolho os ombros evitando o olhar dele.
Eu apenas não sabia o que dizer a ele, não sou boa em conversar, ainda mais com ele que eu mal conheço.
- Hum... Eu não tenho nada contra você. - ele continua me olhando. - mas também não tenho nada há favor. - dou de ombros.
- Você me explicou bastante com isso. - ele revira os olhos e encaro ele confusa. - Pode pelo menos me dizer o motivo disso?
- Eu não sei, eu mal te conheço e não gosto do que ouço falar de você. - dou de ombros novamente.
- E o que você ouve falar de mim? - sua voz é apressada, e estou ficando irritada com a forma que ele está falando comigo. Ele está sendo grosso.
- Eu não sei e realmente não faço questão de saber. - atiro de volta. Ele prende a respiração como se tentasse se controlar.
Eu não estou afim de ficar aqui conversando com ele sobre o que não gosto dele. Ele nem me conhece, nós não nos conhecemos e ele se virou contra mim do nada.
Pode ser que aquele comentário tenha sido mais indiferente do que eu desejava que fosse, mas isso não é motivo para ele ser grosso comigo.
- Você é sempre grossa assim ou só comigo? - ele parece ofendido quando olho.
- Eu não sou grossa.
- Você escutou o que acabou de falar? - sua voz é dura.- Quer saber? Esquece. Não faz nenhuma diferença essa merda pra mim. - ele se levanta bruscamente.
Me levanto junto. Não tenho ideia do porque me sinto tão irritada e onde minha sanidade está nesse momento mas eu realmente preciso dizer algo. Ele não pode vir me procurar e depois sair como se eu tivesse feito algo à ele.
- Você é quem me procura. - acuso - O que espera que eu faça? Que eu me rasteje no chão por você, como todas as garotas que você conhece?
Ele se vira para mim.
- Eu não quero nada de você. - sua voz é dura. - Eu nem estava dizendo isso. Só queria saber porquê você não gosta de mim. Você só me trata mal e eu não fiz nada pra você.
Não quero mesmo dar o braço a torcer agora.
- E por quê se importa tanto?
Percebo quando seus ombros ficam tensos, seu olhos escurecem e sua mandíbula fica duramente marcada. Posso estar enganada, mas talvez o que eu disse atingiu ele mais do que queria.
- Tem razão. Eu não preciso me importar com a opinião de uma menina sem graça. Posso ter qualquer garota e todas elas são melhores que você. - ele cospe.
Dou um passo para trás, como se tivesse levado um tapa. Seus olhos não demonstram nenhuma culpa, não há arrependimento. Havia apenas escuridão. Um verde frio e negro.
Meus olhos consequentemente piscaram e meu peito se afundou juntamente com o pingo de autoestima que restava em mim. Nunca ninguém disse isso na minha cara. Sempre me olhavam com indiferença mas ninguém teve a coragem de dizer isso desse jeito.
E é fodidamente muito mais doloroso.
A porta da minha casa se abre e finalmente desvio o olhar para longe dele.
- O que está acontecendo? - Mary pergunta.
Não preciso olha-la para saber que sua testa está franzida e as suposições estão transbordando em sua cabeça.
Limpo a garganta.
- Nada. - minha voz é embargada e eu gostaria que tivesse coragem o suficiente para dizer-lhe tudo que penso dele. Posso estar certa ou errada, mas ainda sim, eu iria falar.
Evito um suspiro e caminho para dentro de casa, passando por Mary.
Subo as escadas rapidamente, entro no meu quarto e fecho a porta. Me jogo na cama, com raiva de mim mesma. Se eu ao menos tivesse tido coragem daria uma boa resposta. Meu cérebro travou. Até aquele nada saiu com dificuldade.
Eu estou tão...magoada?
Minha vontade é de esmurrar a parede mas só o que consigo fazer, o que é uma idiotice pra mim, é chorar. As lágrimas piscam em meus olhos e não seguro-as mais. Suas palavras estão latejando na minha cabeça enquanto eu desesperadamente choro.
Todas elas são melhores que você.
Eu não devia estar me importando tanto com a opinião dele, eu sei. Mas suas palavras me magoaram, afetaram o meu ponto fraco, as minhas inseguranças. Ele devia ver o quanto sou insegura, isso sempre fica estampado mas mesmo assim ele quis fazer o favor de esfregar na minha cara o que eu já sei.
Eu merecia mesmo ouvir aquilo? Ele precisava mesmo me humilhar desse jeito?
Se ele quer um motivo não gostar dele, agora já tem. Não consigo parar de pensar em como eu pude acreditar por um momento, que ele podia ser melhor do falam. Ele é um idiota.
- Bella, abre a porta. - Mary pede atrás da porta.
Suspiro alto. Não quero que Mary saiba disso, me faria sentir mais envergonhada do que já tô sentindo.
Limpo as lágrimas idiotas no meu rosto.
- Está tudo bem, Mary.- digo alto pra ela ouvir, mas minha voz me trai, quebrando no final.
- O que? Me diz o que aconteceu. Eu perguntei para ele mas ele não me disse nada.
Mais um motivo para eu não dizer. É capaz de Mary ir na casa dele e começar a tentar me defender do jeito dela e isso definitivamente não vai me fazer sentir melhor.
- Não aconteceu nada, Mary. Eu só quero ficar sozinha. - me levanto da cama e vou até o computador. Na verdade não sei porque estou fazendo isso, minha visão está embaçada pelas lágrimas e minha cabeça latejando.
- Isabella, por favor. Deixa eu entrar.
Antes que pudesse sentar na cadeira, olho pela janela e vejo ele entrando no quarto. Seus olhos rapidamente encontram os meus, mas sem hesitar, vou rapidamente fechar a janela.
Eu não sei mas meu coração está doendo tanto e olhar pra ele só faz doer mais. Ele é tão babaca e não sei mais se fico com raiva dele, ou de mim mesma.
- Isabella?!
- Mary, por favor, me deixa sozinha.
Consegui ouvi-la suspirando através da porta.
- Tá. - ela cede - Mas depois quero saber o que aconteceu. - ela exige e logo depois ouço seus passos se afastando.
Me sento na cadeira do computador, e suspiro passando as mãos no rosto. Não sei o que pensar, se me odeio, se odeio ele. Se choro mais ou se tendo segurar isso.
Meu coração está tão magoado, mas tão magoado, que independente do que eu tente, não vai passar. Não vai passar esse sentimento, não vai passar a imagem dos seus olhos enquanto dizia aquilo, como sua voz soou tão cheia de sarcasmo e deboche, como eu estou totalmente humilhada com suas palavras que não param de me atormentar.
Eu não tenho que me importar com a opinião de uma menina sem graça...
Todas elas são melhores que você.
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