Para amar e proteger - Minha...

By SimoneFraga

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"...tudo faz parte de querer protegê-la e eu vou te proteger, mas nem tudo fará parte do contrato e do pagame... More

Sinopse: Para amar e proteger - Minha pequena, Grande Mulher
COMUNICADO
Capítulo 01 - Minha pequena, Grande Mulher
Capítulo 02 - Seu sorriso acalma minha alma
Capítulo 03 - Seu corpo parece um parque de diversões
Capítulo 04 - Essa mulher te ama
Capítulo 05 - Você é uma mulher muito corajosa
Capítulo 07 - O que está acontecendo com essas mulheres?
Capítulo - 08 - Você é minha, pequena
Capítulo 09 - Minha garotinha
Capítulo 10 - Você quer tentar algo diferente hoje?
Capítulo 11 - Eu te amo e só quero te dar prazer
Capítulo 12 - Você foi perfeita, estou orgulhoso!
Capítulo 13 - O aniversário da minha garotinha
Capítulo 14 - Para amar e proteger
Capítulo 15 - Juju e a novidade
Capítulo 16 - Tentando achar pistas

Capítulo 06 - Vou tentar ser forte

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By SimoneFraga

Acordei na cama do Lucas. Ao lembrar do ocorrido, senti-me suja. Desesperada, tentei tirar a roupa do meu corpo, mas não consegui, a angústia era enorme. Queria esquecer que me tocaram e me espancaram. Quando me dei conta da sua presença, num reflexo puxei o cobertor que estava ao meu lado, me enrolei e encolhi-me, não queria que ele me visse assim.

– Júlia, querida... – Despertei assim que Júlia acordou e tentei acalmá-la, parecia um bichinho assustado. Fiz um carinho em sua cabeça, sentindo seus cabelos pelos meus dedos. – Calma, não se machuque mais, vou encher a banheira e vamos tomar um banho juntos, vamos lavar tudo isso para fora das nossas vidas e recomeçar nossa história só com lembranças boas. Acabou, pequena. – Fui até o banheiro, liguei as torneiras, coloquei espuma na banheira e deixei a água correndo para enchê-la. Desci as escadas rapidamente e peguei uma garrafa de suco de cranberry e um copo. Subi, servi um pouco e dei para Júlia beber. Seus lábios estavam machucados, provavelmente foi aquele merda quando chegou ao quarto. Eu sabia que não podíamos demorar tanto. Minha única satisfação era saber que ele ficou muito pior. – Posso? – Apontei para o cobertor que ela estava agarrada, mas ela não o soltou, as lágrimas começaram a cair pelo seu rosto, lindo e machucado.

– Eu não queria que você me visse assim... – Minha voz embargou e eu não consegui terminar a frase.

– Você é adorável e linda, hoje eu te amo e te admiro mais do que ontem. Você provou ser uma mulher muito corajosa, não sinta vergonha de mim, muito menos de você. – Ela chorou, mas soltou o cobertor. Eu levantei-a, joguei ele para longe, baixei sua calcinha, tirei seu vestido por cima, peguei-a no colo e levei-a para a banheira. Ela sentiu um leve desconforto por causa dos machucados, mas logo a água a acalmou. Entrei na banheira só de box e ela apoiou sua cabeça no meu peito. Ficamos assim por uma eternidade, até ela parar de tremer e os soluços diminuírem. Ninguém falou nada, não era preciso. Apenas acariciei suas costas e a embalei carinhosamente. – Vamos sair, sua pele está ficando enrugada. Consegue ficar em pé para que eu lave seus cabelos? – Júlia confirmou com um gesto de cabeça. Eu lavei seus cabelos, enxaguei bastante, desliguei o chuveiro, peguei uma toalha macia e sequei sua pele delicadamente. Sentei-a no banquinho e liguei o secador, Júlia não levantou o olhar em nenhum momento. Precisei dar um tempo a ela, não faria nenhuma pergunta a respeito. Fui até o closet, peguei uma de minhas camisetas, e aproveitei para trocar minha box, depois a levei para a cama. Apaguei a luz, deixando apenas o abajur ligado, deitei ao seu lado e puxei-a para o meu ombro. Ela voltou a chorar até adormecer.

Júlia teve diversos pesadelos durante a noite. Todas as vezes eu a abracei, beijei sua cabeça e acariciei suas costas, até que adormecesse novamente. Eu nunca me perdoaria por ter deixado isso chegar tão longe e nem estava convencido que tinha acabado de fato.

Sem conseguir dormir direito, levantei antes que ela acordasse, preparei o seu café e levei na cama.

– Bom dia, pequena! – Dei vários beijos no seu rosto, que não estava mais tão inchado, para que acordasse. Ela abriu os olhos e virou de lado. – Hei, nada disso, você precisa comer alguma coisa. Tome um café ou pelo menos um iogurte, por favor. – Ela sentou na cama e eu a alimentei na boca. Assim que terminou se virou e deitou novamente. Senti um aperto no peito, queria fazer essa mulher feliz, queria que acordasse todos os dias com um lindo sorriso nos lábios. – Seu pai estará aqui daqui a pouco, ele está louco para te ver.

– Não quero ver ninguém.

– Uma coisa de cada vez, vamos primeiro colocar uma roupa adequada e levantar um pouquinho? – De repente, Juju entrou no quarto correndo e eu a agarrei antes que ela pulasse em cima da Júlia. – Que surpresa! Quem trouxe a minha princesa?

– Foi a tia Mari. O que aconteceu com você? – Ela arregalou os olhinhos assustada, quando viu o rosto da Júlia.

– Existem algumas pessoas que são muito más, fazem coisas ruins para os outros. A Júlia encontrou algumas dessas pessoas que acabaram machucando-a. – Tentei resumir, sem deixar de explicar os machucados de Júlia para minha garotinha.

– Você tem que prender essas pessoas, papai.

– Com a ajuda dos policiais e de amigos do papai, nós conseguimos prender todos eles, mas a Júlia está dodói e muito triste, vai demorar um pouquinho para se recuperar, ficar boa, então temos que deixá-la descansar.

– Juju saiu do meu colo e deitou do lado da Júlia.

– Eu quero ficar aqui com ela.

Júlia estava emocionada, abraçou Juju deitada na cama enquanto ela oferecia beijinhos delicados por todo o seu rosto, falando, "já passou, já passou", imitando direitinho o que fazíamos com ela quando se machucava.

Depois de algum tempo as duas adormeceram juntas, abraçadinhas. Fiquei observando... Foi um dos momentos mais comoventes que eu já vivi. Ver minha filha, que não sabia o que era ter uma mãe, com a mulher que eu amava, juntas e abraçadas na minha cama, foi uma alegria imensa no meio de tanta dor.

Senhor Alfredo chegou ao quarto bem no momento em que eu estava cobrindo as meninas e paralisou. Depois deu um sorriso e me acompanhou até a cozinha.

– Como ela está? – O pai de Júlia estava muito preocupado.

– Muito abalada e um pouco machucada, mas eu prometo, Sr. Alfredo, farei tudo que estiver ao meu alcance para que ela esqueça definitivamente esse maldito dia.

– Tenho certeza disso, filho. Você sabe que foi muito corajoso e sereno, não sabe?

– Foi uma tortura vê-la passar por tudo aquilo. – Enquanto conversava com o Sr. Alfredo sobre o que aconteceu, resolvi não permitir que Júlia ficasse longe de mim, nem mais uma noite. Eu a queria sobre minha proteção e amor, e faria o que já deveria ter feito há algum tempo. – Será que o senhor, por favor, poderia ficar um pouco sozinho aqui e cuidar de Júlia por uma hora aproximadamente? Preciso sair para comprar uma surpresa para as meninas. Minha irmã deixou Juju pela manhã e deve estar passeando com Jony. Se chegarem antes de mim eles tomam conta dela.

– Claro que posso, filho. Não se preocupe.

– Se Juju acordar, basta dar papel e caneta para que possa desenhar aqui embaixo, assim ela não incomodará Júlia. Os materiais estão na primeira gaveta abaixo da TV. – Caminhei em direção à sala e apontei para a estante.

– Você acha que não sei cuidar de uma criança? Além do mais, eu duvido que Júlia deixará aquela menina sair de perto dela antes que você volte.

– Obrigado, Sr. Alfredo. – Peguei minha carteira, a chave do carro e saí rapidamente. Precisava encontrar uma boa joalheria e uma floricultura aberta.

*****

Depois de achar tudo que procurava, voltei para casa. Se as meninas não estivessem lá embaixo era porque ainda estavam dormindo.

Fui até a geladeira, peguei uma garrafa de suco, servi-me um grande copo e dirigi-me à sala onde ouvi a TV ligada, o Sr. Alfredo devia estar vendo o noticiário.

– Você foi rápido, Lucas. Conseguiu achar tudo o que procurava? – Fiz um sinal de positivo com a cabeça.

– Obrigado por me aguardar, vou lá em cima verificar como estão as meninas, já volto. – Subi as escadas e abri a porta do quarto com cuidado. As duas estavam abraçadas. Queria eternizar aquele momento, então peguei meu celular e tirei uma foto, colocando-a como plano de fundo e sorri. Elas se mexeram e eu fui até elas, sentei do lado de Júlia, encostei na cabeceira e puxei-a para mim.

– Oi.

– Oi.

– Ainda está com sono?

– Não, mas me sinto cansada.

– Vai passar. – Continuei acariciando os seus cabelos. Em poucos minutos Juju acordou chorando e sentou na cama. Soltei Júlia e coloquei-a deitada em cima de mim, no meu peito. – Que foi, princesa? – Júlia fez um carinho na sua cabecinha, mas ela tentou esconder o rosto.

– Eu não gosto das pessoas más.

– Eles estão bem longe, acabou. – Comecei a beijá-la e fazer cócegas, ela deu umas gargalhadas gostosas, que fizeram Júlia sorrir. – Tenho uma surpresa. – Elas me olharam sem entender. – Sim, para as duas. Fiquem aí. – As meninas sentaram na cama esperando. – Fechem os olhos. – Elas fecharam e eu permaneci parado, olhando. Quando as duas abriram um pouquinho para espiar, eu peguei-as no flagrante, fazendo-as rirem. – Não podem fingir! – Peguei duas caixinhas com um laço em cada uma e flores. – Podem abrir. – Eu estava com dois buquês, um para cada uma, o da Juju com florzinhas coloridas e o da Júlia com rosas vermelhas e champanhe. Júlia estava mais encantada com a alegria da minha garotinha ao receber flores do que com o seu buquê. – Ela adora.

– Sério? Uma menina de três anos que gosta de flores? Sua filha é incrível!

– Tem mais – avisei e Juju bateu palminhas, eu coloquei uma caixinha na frente de cada uma, elas abriram e dentro tinha um colar idêntico para as duas, com um coração gravado no verso:

Meu amor... Minha vida...

Minha pequena... Minha Júlia!

Lucas Tuner

– São iguais, papai! Que lindo! – Ajudei Juju a colocar o colar e depois Júlia que estava emocionada. Deslizei o polegar pelo seu rosto, carinhosamente. – Tem mais um. Primeiro para a Juju. – Era uma caixa grande com um laço rosa, que rapidamente foi desfeito e o papel de presente rasgado, suas mãozinhas tiraram de dentro a coleção de livros infantis 'Quem tem medo, dos autores Joly Fanny e Jean Noël Rochut'. Feliz com a surpresa, ela pulou no meu pescoço e me deu um beijo apertado na boca! Depois sentou agarrada aos seus livros e perguntou curiosa: – E o da Júlia?

Tirei uma caixinha pequena do bolso e entreguei para Juju dar a ela, que parecendo adivinhar do que se tratava, já estava tremendo.

Quando Juju entregou a caixinha, Júlia arregalou os olhos, colocou a mão na boca e prendeu a respiração!

– Oh, meu Deus!!!

– Case comigo, Júlia? Quero te amar e te proteger por toda a minha vida. Não consigo mais viver longe de você, quero que você seja minha. Sei que ainda precisa me conhecer melhor, principalmente sobre minhas preferências... – olhei para Juju, então continuei – Não quero te assustar com isso, pensei muito e não vejo motivo para que não possamos estar juntos e nos conhecermos aos poucos enquanto compartilhamos momentos e emoções.

– E eu também! – Gritou Juju parecendo entender tudo o que estava acontecendo naquele momento, como se fosse uma menina grande.

– Sim...sim...sim..., mas tenho uma condição. Que essa pirralhinha faça parte do pacote.

– Essa pirralhinha com certeza faz parte do pacote. – Todos rimos. Júlia deu vários beliscõezinhos na Juju, até que acabamos em um abraço coletivo.

*****

Depois das meninas apreciarem o anel, suspirarem e me beijarem, passamos um tempo abraçados, curtindo aquele momento, até que nos demos conta de que o coitado do Sr. Alfredo estava lá embaixo nos aguardando.

– Seu pai está te esperando, vou descer e falar com ele. – Levantei e lhe dei um beijo na testa. – Quer descer comigo, Juju? – Minha garotinha deu um pulo para o meu colo, confiando plenamente que eu a pegaria no ar. Apertei-a entre os meus braços e lhe dei um beijo gostoso. – Você precisa de alguma coisa? – Júlia balançou a cabeça em sinal negativo, com um semblante um pouco mais tranquilo. – Precisa de ajuda para trocar de roupa?

– Não, obrigada.

– Eu volto em quinze minutos para te ajudar a descer.

*****

Apresentei o Sr. Alfredo para a Juju e os dois se apaixonaram imediatamente. Meu futuro sogro tinha uns sessenta anos, cabelos grisalhos, aparência de um velhinho fofo, daqueles que dá vontade de abraçar. Muito carismático.

– O senhor sabia que meu pai vai se casar com sua filha? – Juju perguntou antes que eu pudesse falar qualquer coisa.

– Juju! – Ela colocou a mão na boca dando gargalhada, com aquela carinha de quem diz: falei demais, desculpe, papai eu sei que você me ama. – O que deu nessa menina? Hoje só pode ser o dia das gargalhadas. – Enquanto eu tentava controlar a língua da minha filha, Sr. Alfredo esperou que eu explicasse o que estava acontecendo. – Desculpe, Sr. Alfredo, desci justamente para falar sobre esse assunto, sinto muito ser desta forma que o senhor recebeu essa notícia, mas gostaria muito de pedir sua permissão para me casar com Júlia.

– Ela já disse sim! – Juju bateu palminhas entusiasmada e nós caímos na gargalhada com a alegria contagiante dessa coisinha fofa e tagarela.

– Se minha filha aceitou seu pedido, você tem minha permissão e minha bênção, meu filho. Espero que possa fazer minha Júlia muito feliz, ela merece. Mas você não acha que foi muito rápido e justamente em um momento em que ela está tão fragilizada?

Coloquei Juju no chão, ela correu para a TV, mudou de canal e sentou no sofá para ver desenho animado.

– Realmente quem vê de fora pode ter a impressão equivocada de que tudo isso foi muito rápido, mas na verdade já demoramos demais. Descobrimos que sempre nos amamos, eu a amei em silêncio uma vida inteira e ela também sempre gostou de mim. Depois de tudo o que viveu, não posso deixá-la partir, preciso fazê-la se sentir amada, mostrar que pode ser feliz e ter uma família só dela. Não se trata de tempo e sim de nos sentirmos preparados para dar esse passo na nossa relação e eu posso garantir ao senhor que estamos certos dessa decisão. – Senhor Alfredo me abraçou dando uns tapinhas nas minhas costas, um abraço caloroso, daqueles que se dá em uma pessoa que você quer muito bem. Um sinal de que entendeu e aceitou a nossa escolha. Ele era um homem muito bom e o que mais queria na vida era ver Júlia feliz.

Assim que terminamos de conversar, peguei o telefone para comunicar aos meus pais. Contei a novidade, minha mãe chorou e eu sabia o motivo: Juju viria morar conosco. Mesmo assim eu sei que ela estava feliz, tinha certeza.

– Quando será o casamento?

– Não sei, mãe, acabei de fazer o pedido. Não tivemos tempo de conversar sobre esses detalhes ainda.

– Que tal vocês virem almoçar aqui no domingo, a casa estará pronta. Estamos convidando alguns amigos, os mais íntimos, para festejar nosso retorno.

– Acho que Júlia irá adorar.

– Estou ouvindo a voz de Juju, ela está aí?

– Sim, Amarílis a deixou aqui e foi passear um pouco com Jony.

– Ela já sabe?

– Ela me ajudou a fazer o pedido ao Sr. Alfredo. – Minha mãe percebeu a alegria na minha voz.

– Esperamos vocês no domingo. Diga para Amarílis trazer Juju hoje antes das vinte e duas horas.

Desliguei o telefone e subi até o quarto, Júlia estava em pé olhando para o espelho, de cabeça baixa, imersa nas suas lembranças. Me aproximei por trás e encostei meu corpo no dela, rodeando meus braços pela sua cintura, girando-a delicadamente para mim. Levantei seu queixo e disse que não queria mais vê-la tão triste.

– Estou tão feliz que você tenha aceitado meu pedido. – Sorri para ela.

– Eu também, foi a melhor coisa que já me aconteceu.

– Já falei com seu pai, ou melhor, a Juju falou.

– Sério? E meu pai?

– Acho que ele já esperava, se divertiu com Juju e me deu sua benção, desde que eu te faça muito feliz. Respondi que essa será a missão da minha vida.

– Tenho medo de não te corresponder, de não ser tão perfeita para você.

– Não pense nisso, pequena. Eu não estaria tomando essa decisão se tivesse alguma dúvida do quão perfeita você é para mim. – Ela me abraçou e nos beijamos. Queria me afogar em seus lábios, mas ainda não podia, não assim, não depois de ter passado tudo o que passou na última noite. – Vamos descer, eu te ajudo. Seu pai está esperando e Amarílis e Jony chegarão daqui a pouco para pegar Juju.

– Pensei que ela fosse ficar conosco.

– Não... ela vai para casa, mamãe já está esperando. – Respirei fundo, sabia que estava prestes a iniciar a segunda guerra mundial com minha mãe.

*****

Ao ver Júlia, Sr. Alfredo correu em direção à ela. Os dois se abraçaram forte até que seu pai levou-a para sentar junto dele no sofá. Servi um copo de suco para Júlia e ofereci whisky para meu futuro sogro, acho que ele precisava de algo mais forte para poder encarar sua filha machucada, física e psicologicamente.

Glória avisou que Amarílis e Jony estavam subindo. Juju foi até a porta e começou a pular, esperando por eles. Meu amigo pegou-a no colo e beijou-a no pescoço fazendo cócegas com sua barba mal feita. Ela quase morreu se contorcendo de tanto rir. Seu riso era contagiante e todos, até Júlia, sorriram.

– Como você está, Júlia? Jony me contou que você foi muito corajosa. Estamos todos muito orgulhos e felizes por você estar bem. – Júlia olhou para o chão, triste, com os olhos cheios de lágrimas, enquanto Amarílis a beijou e abraçou, confortando-a. – Tenho um convite da mamãe e do papai, além do beijo que mandaram eu não esquecer. Ela quer que vocês venham almoçar no domingo. Vamos fazer um churrasco no jardim, comemorar nossa volta e o parquinho da Juju.

– Podemos, claro! Acho que não tenho nenhum compromisso no domingo, a não ser que papai tenha programado algo. – Aguardamos a resposta do meu pai que fez um sinal de negativo.

– O senhor também será bem-vindo, meus pais ficarão felizes se puder estar presente. – Sr. Alfredo agradeceu.

Passamos a tarde juntos e o tempo voou. Júlia se distraiu bastante e não faltaram carinho e risadas. Juju estava impossível!

– Temos que ir. Viemos só buscar a Juju, mamãe já me ligou duas vezes.

Enquanto Amarílis se despedia, levantei os braços e Juju pulou para o meu colo, me deu um beijo e outro em Júlia, fazendo questão de oferecer o mesmo carinho para o Sr. Alfredo. Abracei-a novamente com força, era sempre tão difícil deixá-la ir. Passei-a para Jony e eles se foram. Sr. Alfredo também aproveitou para se despedir. Eu chamei o segurança para conduzi-lo até a sua casa. Mesmo tendo insistido, ele não quis ficar e dormir conosco.

Assim que eles saíram, Glória se aproximou com um prato de sopa de legumes que preparou para Júlia e eu a alimentei no próprio sofá.

– Agora, pequena, hora de ir para a cama e descansar. Amanhã será um novo dia e tenho que te mostrar um pouco mais da minha vida e o mais importante, temos um casamento para planejar! Quero que tenha direito a tudo o que sempre sonhou. – Peguei-a no colo e a levei para o quarto, soltei-a no banheiro, coloquei pasta de dente na escova e lhe entreguei, depois preparei a minha. Terminei antes dela e lhe dei um tempo sozinha. Fui para o quarto, tirei a roupa e me joguei na cama, esperando-a. Seu pai foi gentil em trazer algumas roupas.

Ela estava de calcinha e com a minha camiseta. Realmente era linda! Levantei o edredom e ela se aconchegou no meu peito.

– Você me pediu em casamento sem que a gente nunca tivesse transado... é sério, Lucas, e se você não gostar de mim? – Júlia falou baixinho, envergonhada, com as bochechas coradas.

– Júlia... eu quero fazer amor com você... não preciso ter provado de você para saber que te amo e que te quero. Já perdemos muito tempo das nossas vidas escondendo esse sentimento um do outro. Também sei que quando tivermos a nossa primeira vez, será única e especial. Vou esperar você estar preparada para ser minha. Enquanto isso, vou te falar sobre meus gostos e vou te proporcionar grandes experiências para que você tenha certeza que deseja compartilhar essa vida comigo. – Júlia suspirou, fechou os olhos e adormeceu.

*****

Tive vários pesadelos durante a noite e todas as vezes fui acordada carinhosamente por Lucas que me abraçou forte e me fez carinhos que me tranquilizaram. Estava com tanto medo que até a felicidade que senti por realizar o sonho de ter aquele homem lindo, que sempre amei, só para mim, me amedrontava. Felicidade e medo, uma mistura de sentimentos que não estava conseguindo entender direito.

Meu pai ficou realmente feliz com a notícia do casamento, também, mesmo eu nunca tendo falado, tanto ele quanto Vera sempre souberam o quanto eu amava Lucas. Eles acompanharam meu sofrimento quando tive que me separar dele e mais ainda quando partiu. Sem falar de todos os meus relacionamentos frustrados.

Queria construir uma família linda ao seu lado, amá-lo com todas as minhas forças e ser uma boa mãe para a sua garotinha, que agora seria minha também. Mas como faria para me livrar daqueles pesadelos para que pudesse me entregar de corpo e alma? Ele realmente devia me amar muito. Como fui idiota esse tempo todo! Nunca percebi seu amor por mim, que sofria tanto quanto eu. Acreditava que me tratava como sua irmã mais nova e que seu carinho e proteção era fruto desse sentimento.

*****

Na manhã seguinte, levantei-me e fui para o escritório, tinha que falar com a minha assessora e ver como estavam as coisas na empresa. Tinha que retomar as negociações da nossa filial e precisava marcar uma videoconferência com os meus gerentes operacionais. Deixei Júlia dormindo até mais tarde, precisava descansar um pouco mais. Combinamos que ela só retornaria ao trabalho na segunda-feira para poder se recuperar, pelo menos fisicamente.

Meu telefone tocou e identifiquei o número do agente Benet, o policial que comandou a operação da prisão do padrasto de Júlia e de seus comparsas duas noites antes.

– Bom dia, agente Benet.

– Bom dia, senhor Tuner. Desculpe incomodar tão cedo, eu deveria ter ligado ontem, mas diante da intensidade dos acontecimentos acreditei que a senhorita Harrison precisava descansar. Preciso conversar com ela pessoalmente e infelizmente não pode passar de hoje.

– Eu entendo, o senhor poderia pegar seu depoimento aqui em casa? Ela está machucada e ainda muito fragilizada, com certeza não será fácil. Um ambiente harmonioso fará melhor a ela do que uma delegacia.

– Posso estar aí por volta das dez e meia da manhã. O senhor é da área, sabe que é preciso e importante. Está bom esse horário?

– Sim, estaremos a sua espera. Obrigado.

*****

Cheguei em casa antes de Júlia levantar, peguei a bandeja de café que Glória deixou pronta com carinho e levei para o quarto. Havia pouco tempo para prepará-la para essa entrevista.

– Bom dia, pequena. – Coloquei a bandeja na cama e dei beijos em sua testa, em seu rosto e em seu pescoço. Deus, como era linda essa mulher, seria minha perdição!

– Oi.

Ela se espreguiçou gostoso, olhou para a bandeja e disse que ficaria mal acostumada. Ah, se soubesse que essa era minha intenção.

– Sente-se e coma, precisa se alimentar. Temos que conversar. – Ela parou de comer e eu a repreendi com o olhar. – O agente Benet me ligou, ele precisa conversar com você, pegar seu depoimento, sobre tudo o que aconteceu naquela noite. Estará aqui às dez e trinta. – Seus olhos encheram de lágrimas, eu afastei a bandeja e a abracei. – Ele devia ter vindo ontem, foi gentil de sua parte esperar, mas não tem jeito, querida, ele é obrigado a falar com você. Estarei ao seu lado e terá todo o tempo que precisar, mas quero te preparar para as perguntas. Você terá que contar tudo, desde o início.

– Vou tentar ser forte.

– Você é forte e corajosa, mas não precisa ser agora, não nessa situação. Eu estou aqui para você. – Passei a mão pelos seus cabelos, beijei sua testa, ela respirou fundo e me retribuiu o carinho.

*****

Exatamente às dez e trinta da manhã, o agente Benet e a agente Alyssa foram anunciados. Cumprimentei-os e encaminhei os dois até a sala, apontando o sofá. Solicitei que Glória servisse um suco, enquanto fui buscar Júlia.

Assim que retornei com ela os agentes perceberam que ainda estava muito abalada e machucada. Isso de certa forma era bom, porque pegariam mais leve.

– Bom dia, Srta Harrison. Eu sou o agente Benet e essa é a agente Alyssa. Nós acompanhamos toda a operação e precisamos fazer algumas perguntas.

Ela fez um sinal de positivo com a cabeça. Eu acomodei Júlia no sofá que ficava de frente a eles. Sentei-me no braço da poltrona ao seu lado, coloquei a mão no seu ombro, abraçando-a e com a outra segurei a sua no meu colo. Queria que percebesse com aquele gesto que não estava sozinha e se sentisse mais segura para enfrentar a situação. Alyssa iniciou o depoimento, ligando um gravador.

– Senhorita Harrison, nós tivemos acesso ao processo que seu tio moveu contra seu padrasto ainda quando a senhorita era uma criança. Sabemos que sua vida não foi fácil, mas o depoimento da época não vai servir para o que está sendo movido hoje. A senhorita era muito pequena, foi difícil para os assistentes sociais e psicólogos obterem alguma informação. Preciso que me conte sua história, desde o início, tudo o que se recorda.

– Querida, fale o que lembrar, sem medo. Se tiver que parar nós paramos até que você se recupere e possa continuar. Estou aqui com você – Júlia respirou fundo, abaixou a cabeça olhando para um ponto fixo no chão e começou a falar.

– Meu padrasto se chama Jorge, minha mãe foi a grande vítima de toda essa história. Uma pessoa que sempre pensou mais nos outros, principalmente na sua família em detrimento a sua própria felicidade. Todos sofreram muito, inclusive seu noivo, quando ela sumiu do nada voltando depois de dois anos casada com esse Jorge. Ele mexe com drogas, prostituição e tráfico de mulheres, mas nunca conseguiram provar nada a respeito, parece ser muito bom no que faz. – Júlia ironizou e a agente Alyssa se manteve atenta ao mesmo tempo em que fez anotações no seu bloquinho. – Minha mãe se chamava Ana, ela foi sequestrada pelos homens dele como tantas outras mulheres para ser vendida no exterior como prostituta. Depois de passar três meses sendo usada de todas as formas horríveis que vocês possam imaginar, com a finalidade de lhe ensinarem como deveria se comportar para servir homens de todos os tipos, descobriram que tinham sequestrado a filha dos donos de uma cadeia riquíssima de hotéis e que sua família não sossegaria até encontrá-la. Jorge então resolveu não vendê-la, se aproximou mais a defendendo dos demais homens, tirando-a daquele ambiente e fazendo com que servisse apenas a ele. Maltratava, mas também a protegia. Não podia devolvê-la, mas também não podia vendê-la, então tinha duas opções: sumia com ela ou se casava e tentava colocar a mão na sua fortuna. Escolhendo a segunda opção, traçou um plano. Fez com que sentisse tanto medo dele que se submetesse ao casamento. Por favor, não me perguntem como conseguiu, eu não sei dizer, mas conseguiu. Posso imaginar tudo o que sofreu até que ele alcançasse esse objetivo. – Parei um pouco para respirar e avisei que pegaria um pouco de suco. Ainda em silêncio voltei bebendo alguns goles e sentei na mesma posição.

– Você está bem? – Sussurrei no seu ouvido. Ela fez um sinal triste que sim e continuou.

– Eles se casaram e voltaram para a cidade. A família da minha mãe não entendendo o que tinha acontecido rompeu com ela, deixando-a sozinha nas mãos daquele monstro. A história que ele a obrigou a contar foi que haviam se apaixonado e que ela resolveu viver sua vida por conta própria sabendo que os pais nunca aprovariam essa relação. Pouco depois, minha mãe descobriu que estava grávida. Só que a coitada não sabia que ele não podia ter filhos. Como engravidou? Minha mãe conseguiu pedir ajuda ao meu tio, o qual contou para o noivo dela que praticamente enlouqueceu. Eles conseguiram se ver algumas vezes escondidos e foi assim que engravidou do homem da sua vida e não daquele ser. Sou filha do seu grande amor. – Nesse momento, uma enxurrada de lembranças invadiram minha mente e eu precisei parar para me estabilizar. Lucas me ofereceu um pouco de suco e os agentes aguardaram pacientemente que eu me acalmasse e continuasse. – Jorge ficou irritadíssimo porque essa gravidez afundaria com seus planos.

– Claro, Júlia seria a herdeira da fortuna dos Harrison e não era filha dele. Um pesadelo para um homem desses. – Intrometendo-me comentei olhando sério para os agentes, sem soltar a mão de Júlia.

– Nunca foi provado, mas minha mãe tinha certeza que foi Jorge quem encomendou o assalto à loja do meu pai e o tiro que o matou. Com sua morte, ela voltou novamente para a posição que ele queria, sabendo do que era capaz e que suas ameaças não eram blefes. Ele a intimidava com frequência, dizia que meu tio seria o que mais sofreria antes de morrer, mas por consideração faria um serviço rápido com meus avós. Minha mãe vivia em pânico. Ele voltou a permitir que os outros homens a usassem de vez em quando para mostrar o quanto ela não significava nada e ao mesmo tempo o quanto pertencia a ele, literalmente.

– Senhorita Harrison, a senhora não tinha nascido ainda, de onde vieram todas essas informações?

– A maioria da minha mãe, outras dele próprio e do quanto eu consegui absorver enquanto vivia naquele lugar.

– Entendo. Por favor, continue. Todas essas informações são muito importantes para que possamos mantê-lo preso definitivamente.

Engoli a saliva com dificuldade para não chorar e continuei descrevendo minha vida resumidamente, mas de maneira dolorosa, de cabeça baixa pois não conseguia encarar os olhares dos agentes à minha frente.

– Ele tentou fazer com que minha mãe tivesse um aborto, forçando-a a tomar remédios. Ela tinha que ingerir quantidades absurdas de drogas, chás, etc. Não entendo até hoje como não me perdeu, acho que deve ter conseguido enrolar a ele e seus capangas muitas vezes. Era amarrada, espancada e quando não estava com ele, estava sendo estuprada por um dos seus homens. Essa era a vida dela, até eu nascer.

– Ela foi muito forte. – Naquele momento vi um sorriso nos lábios de Júlia, um sorriso triste, mas um sorriso.

– Quando minha mãe entrou em trabalho de parto, alguém a ajudou e meu tio foi avisado, não sei quem foi, nunca descobriram. Tio Alfredo invadiu a casa e o quarto escuro em que ela estava, viu que as janelas ficavam trancadas, só tinha um banheiro e uma cama. Ele fez o meu parto ali mesmo e depois nos levou para o hospital.

– Senhorita Júlia, além do seu tio e de sua mãe, é claro, mais alguém soube dessa história?

– O meu pai, mas ele morreu em seguida, e meus avós, que morreram alguns meses depois que eu nasci. Minha família acredita que eles adoeceram por causa dessa situação toda, principalmente pela dor de não ter enxergado o que sua filha estava passando para protegê-los, enquanto eles a abandonaram à própria sorte.

– Temos que fazer com que esse cara apodreça na cadeia. – Interrompi novamente, Júlia respirou fundo e continuou a contar sua história. Seu tio tentou levá-las para casa, mas Jorge não permitiu. Fez um escândalo e novamente a mãe de Júlia cedeu por medo. Depois do nascimento, Jorge a humilhava ainda mais: enquanto segurava a neném no colo, mandava seus capangas a despirem, baterem nela e a estuprarem. Ela precisava se submeter para proteger sua filha. Júlia acabou tendo que crescer no meio das drogas e da prostituição. Algumas noites pegava a menina dizendo que tinha um comprador, deixando sua mãe desesperada. As torturas físicas, psicológicas e sexuais só aumentavam conforme sua filha crescia. Até Júlia completar cinco anos, quando ele resolveu que era hora de dar um basta à mãe e se concentrar na sua enteada.

– Quando meus avós faleceram, primeiro o meu avô e seis meses depois minha avó, ele achou que tinha chegado a hora que tanto aguardava, mas eles já sabiam de tudo, alteraram o testamento oficializando que meu tio seria o tutor dos bens da família. Eles deserdaram minha mãe e inseriram uma cláusula que somente eu, assim que completasse a maior idade poderia mexer na parte que seria dela. – Parei diversas vezes para respirar, tomar suco e secar as lágrimas. Os agentes eram muito pacientes, em nenhum momento me apressaram ou pressionaram. – Os advogados o convenceram que só existia uma possibilidade de reverter o caso: minha mãe falecer e, como havia me registrado como pai, solicitar a tutela dos bens questionando na justiça o testamento, deixando entender que o problema dos meus avós era o medo que minha mãe usasse indevidamente os recursos, mas que o desejo deles era que eu fosse amparada. Dias depois, minha mãe sofreu um acidente onde ela e o motorista morreram.

– Eu me recordo, Júlia tinha quase dez anos. – Ela ainda não comentou nada sobre o que passou, percebi que os agentes estavam apreensivos, daqui a pouco teriam que pressioná-la a falar a respeito. Antes que acontecesse eu abaixei minha cabeça, apertei sua mão demonstrando que estava ao seu lado, beijei sua bochecha e sussurrei: – Você precisa falar de você, pequena.

– Foi a partir da morte da sua mãe que seu tio solicitou sua guarda? – Com habilidade o agente Benet conduzia a entrevista.

– Sim, uma guerra foi instaurada na justiça. Meu tio sofreu duas derrotas. Até que um dia Jorge perdeu a cabeça e me machucou tanto que o médico que cuidava de nós, encobrindo tudo o que ele fazia orientou que eu deveria ser levada para o hospital, que não poderia fazer mais nada. Jorge disse que eu tinha me metido em uma briga, mas meu tio conseguiu provar que o ambiente em que eu vivia não era propício para uma criança.

– Senhorita Harrison, preciso perguntar, a senhorita foi estuprada? Ele a torturava? – Alyssa foi direta, sem mais rodeios.

– Eles nunca me estupraram, mas eu via minha mãe sendo estuprada, muitas vezes... eu os vi aplicando choques, amarrando-a e espancando até ela desmaiar. Acho que a pior tortura para ela era me ver nua e amarrada enquanto eles diziam que fariam o mesmo comigo. Eu tinha aulas para saber como me comportar quando alguns homens visitavam a casa. Nesses dias, tinha que ficar só de calcinha enquanto eles me tocavam como se fosse uma brincadeira, depois me batiam. Só não ficava presa no quarto como minha mãe. Eu podia andar pela casa e comer o que quisesse. Ouvia as conversas deles falando que iriam me vender. Uma virgem era rara, principalmente uma virgem educada para a função desde pequena – falei com a voz meio embargada por soluços, levantei e sai da sala.

– Só um minuto, por favor. – Assim que os agentes consentiram, corri atrás da minha pequena. Ela estava na sacada, se segurando na parede, chorando de soluçar, mal conseguindo ficar de pé. Cheguei perto, ela tentou me afastar, mas eu não permiti. Sentei na poltrona que tinha ali para ver o mar e coloquei-a no meu colo, segurando-a firme e fazendo carinhos em suas costas enquanto beijava sua cabeça. – Vai ficar tudo bem, pequena, vai ficar tudo bem. Nós vamos nos casar, construir a nossa história juntos e seremos muito felizes. Confie em mim. Não posso evitar que você passe por isso hoje, é necessário, mas eu te prometo que farei tudo que estiver ao meu alcance para te fazer feliz. Em breve, toda essa crueldade e violência farão parte de um passado distante.

– Você promete, Lucas? Promete que vamos ser felizes e que nossos filhos nunca passarão por nada parecido, por nenhum milímetro?

– Prometo. Não tenha medo disso, Júlia. Eu te amo, minha pequena.

– Eu te amo, Lucas.

– Vamos voltar, está quase terminando. – Júlia secou as lágrimas e voltou para a sala comigo. Sentou no sofá e pediu desculpas aos agentes que novamente demonstraram entender quão difícil para ela era relembrar de todos os acontecimentos, principalmente falar a respeito depois de tudo que viveu nos últimos dias.

– Foram Jorge e Francisco os responsáveis por eu ter sido hospitalizada. Eles deram uma festinha onde tive que desfilar só de calcinha. Havia muitas mãos, palmadas e brincadeiras inconvenientes, inclusive com brinquedos. Francisco me colocou de bruços no seu colo e me deu algumas palmadas, tirou a minha única peça de roupa para mostrar minha bunda para os outros, avisou que eu era virgem e deveria continuar assim, mas que...

– Acho que vocês entenderam, eles tentaram brincar sexualmente com uma menina de dez anos, com objetos, mantendo apenas sua virgindade. – Júlia não conseguiu prosseguir e eu fui ao seu socorro, querendo que aquilo acabasse de uma vez.

– Eu fiquei muito desesperada e tive um ataque de pânico. Para me conter, vários homens tiveram que me segurar. Acabei sendo espancada brutalmente enquanto as brincadeiras abusivas continuaram. Acordei uma semana depois no hospital com meu tio ao meu lado. Quando tive alta, ele tentou me levar para casa, mas fugi. Fui procurar Lucas pois era o único em quem eu confiava. Ele me protegia, me escondia e algumas vezes até os enfrentava para me defender. Fiquei com ele e com sua família até que meu tio conseguisse minha guarda.

– Acredito que já entendemos os acontecimentos do passado e porque Jorge tem tanta raiva da senhorita e da sua família. Ele acabou gastando quase tudo o que tinha e deposita seu fracasso em vocês – comentou o agente Benet.

– Senhorita Harrison, por favor, temos que conversar sobre a operação que realizamos conjuntamente com a equipe do Sr. Tuner. Há algumas lacunas que não conseguimos acompanhar e que a senhorita precisa nos contar como aconteceu, por exemplo: no elevador quando ele estava lhe arrastando para o quarto, você estava bem e no momento seguinte já não conseguia andar. O que aconteceu? – A agente Alyssa fez uma anotação no seu bloquinho.

– Ele me prendeu com o seu corpo na parede do elevador, tirou uma seringa do paletó e injetou no meu pescoço. Disse que eu não adormeceria, muito menos morreria, só ficaria mais calma e meu corpo não responderia às minhas vontades.

– Quais foram as agressões físicas que a senhora sofreu deste homem, Francisco, enquanto estava no quarto?

– Eu recordo dele me jogando no chão, machuquei meus joelhos e cotovelos. Então ele puxou meus cabelos e me bateu algumas vezes com o cinto que estava usando. – As mãos fortes de Lucas tentavam me acalmar a todo instante. Acho que era perceptível o quanto estava abalada ao falar dos acontecimentos recentes.

– Lamentamos muito por esse acontecimento, Srta Harrison. Tivemos que nos conter para não invadir o quarto naquele momento, principalmente o Sr. Tuner...

– Por mim, teria terminado no momento em que ele tirou o cinto da calça – falei cerrando os lábios, franzindo a testa e apertando os pulsos. O agente Benet compreendeu que não aprovei deixá-la naquela situação. Foi a vez de Júlia acariciar a minha mão, confortando-me mesmo estando abalada com a enxurrada de lembranças que a assombrava.

– Senhorita Harrison, quando seu padrasto e os outros homens entraram no quarto, o que aconteceu? – A agente Alyssa olhou séria para Júlia, tentando captar todas as informações e emoções que ela transmitiu.

– Foi tudo muito rápido. Levantaram-me da cama e quando vi, estava vomitando por causa de dois socos no estômago. Assim que me curvei de dor, minha cabeça girou. Estava sendo esbofeteada por causa do vômito, eu acho, e em seguida desmaiei, porque só me lembro dos braços de Lucas me tirando daquele pesadelo.

– Alguma coisa a mais que a senhorita acha que é importante termos conhecimento? Uma frase, um detalhe estranho, qualquer coisa? – Benet conversava com Júlia carinhosamente, acreditei sinceramente que poderíamos ser amigos, gostei daquele cara.

Júlia pensou um instante e responde que sim! COMO ASSIM, SIM??? Ela não me falou nada! Olhei para ela e meus músculos estavam tensos esperando sua revelação. Fiz um sinal para o agente Benet avisando que não tinha ideia do que ela falaria.

– Num determinado momento, ainda no elevador, o Francisco deixou escapar que tem alguém trabalhando para mim, comigo, não sei, que monitora meus passos e passa informações. Também disse que eu nunca iria imaginar quem é essa pessoa pois foi muito bem plantada.

– MERDA! – esbravejei, levantei e passei a mão pelos cabelos! – Agente Benet, podemos falar em particular? – Bennet me acompanhou enquanto as duas permaneceram no sofá conversando. – Quais as chances deles ficarem presos?

– Estamos fazendo o possível, mas você sabe como funciona. Ele tem dinheiro e seus advogados darão um jeito dele conseguir sair sob fiança. É uma questão de tempo, alguns dias Tuner, até que responda o processo e seja preso definitivamente.

– Isso quer dizer que ela ainda corre perigo, mais do que antes, inclusive. Não adiantou muito tudo o que teve que passar.

– Lucas, posso te chamar assim? – consenti. – Você sabe que as coisas se complicaram muito para ele. Agora terá mais dificuldade para chegar perto dela e nós estamos mais próximos de enfiá-lo numa cela por muito tempo. Temos um processo com provas que não podem ser contestadas. Foi um grande avanço no caso.

– Preocupo-me com Júlia porque continua em perigo. Agora com essa informação, sempre desconfiei de um infiltrado, mas acabei não me debruçando sobre esse detalhe já que estávamos prestes a pegar o cabeça. Os cuidados precisam ser redobrados.

– Nós faremos a nossa parte. Eu te prometo que não vamos deixar de agir. Comunique-me sobre qualquer novidade. Você tem meu número, sei que não preciso te aconselhar, mas faça o que estiver ao seu alcance para reforçar a segurança dela, você tem seus meios. Mantenha contato.

– Obrigado, agente. – Apertei sua mão. Era um bom homem e quem sabe poderíamos vir a ser amigos no futuro. Voltamos para a sala, os agentes se despediram e eu abracei Júlia, que colocou o nariz no meu pescoço. Como gosto disso!!! – O que você quer fazer hoje? Podemos ficar em casa ou podemos fazer qualquer outra coisa que você queira. – Ela surpreendeu-me pedindo para pegar Juju e a levarmos ao cinema para ver os Smurfs, comer pipoca, tomar sorvete e passear no shopping. Que mulher era aquela? Sorri para ela, peguei meu telefone e avisei mamãe para arrumar minha menina que passaríamos para pegá-la.

– Juju gostou da ideia?

– Deve estar enlouquecendo minha mãe. Troque de roupa. – Júlia se levantou do sofá e caminhou para o quarto...

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