Amor e Outras Guerras

By maricarign

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No ano de 1852, na Inglaterra vitoriana, Helene White enfrenta a dura realidade da vida após a perda de seus... More

Dedicatória
Capítulo 1: A Casa dos Taylor
Capítulo 2: O Segredo da Floresta
Capítulo 3: Mistérios de Dover
Capítulo 4: O Baile dos Taylor
Capítulo 5: A Surpresa
Capítulo 6: O Que Houve com os Homens?
Capítulo 7: Todo Mundo Tem Segredos
Capítulo 9: As Últimas Gotas de Esperança
Capítulo 10: Há Um Brilho Em Tudo
Capítulo 11: Não Acredite Nessa Falsa Esperança
Capítulo 12: A Guerra Ainda Não Está Perdida
Capítulo 13: Na Luta Por Uma Justa Sobrevivência
Capítulo 14: Só o Amor Fica Eterno
Capítulo 15: A Um Minuto da Fuga
Capítulo 16: Me Faz Sorrir De Novo
Capítulo 17: Focos de Ação do Amor e do Ódio
Capítulo 18: Ai Daqueles que se Amaram
Capítulo 19: Nós estrangulamos nossos próprios Corações
Capítulo 20: Acima de tudo ame
Capítulo 21: O caminho é este
Capítulo 22: Corra na outra direção
Capítulo 23: Por entre o perdão e a coragem
Capítulo 24: Perigoso é a gente se aprisionar
Capítulo 25: Passo a passo
Capítulo 26: O suor, as lágrimas ou o mar
Capítulo 27: Incêndios Selvagens
Capítulo 28: A ti vim encontrar
Capítulo 29: Matar o sonho é matarmo-nos
Epílogo
Agradecimentos

Capítulo 8: Laços Desfeitos

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By maricarign

"O que era isso,
que a desordem da
vida podia sempre
mais que a gente?"

— Guimarães Rosa


As árvores se fechavam a minha volta como se eu não tivesse saída, precisava chegar até a casa dos Taylor o quanto antes. Meus pés avançavam o mais rápido que eu conseguia, porém, era difícil correr desviando das árvores e olhando para trás ao mesmo tempo. Havia alguém me seguindo, podia ouvir seus passos se aproximando cada vez mais. O vento vinha na minha direção, bagunçando meus cabelos e meus pensamentos. Quem era aquele homem? Por que estava ali? O que ele queria? Meu coração acelerou enquanto o medo me dominava aos poucos. Eu não podia morrer ali, não daquele jeito, pensei.

Um calor subia pela minha garganta, estava ficando ofegante. Diminui o passo e levantei a saia do meu vestido azul para pular um tronco de árvore que havia caído, foi quando ela agarrou em alguma parte da madeira e fiquei presa. Precisava dar um jeito naquilo o mais rápido possível, nem queria pensar no que aconteceria se o homem me alcançasse. Os pássaros cantavam e voavam de um lado para o outro, a floresta continuava viva, não se importavam que eu estava perigo. Puxei minha saia com força, deixando um rasgo na barra e um pedaço de tecido perdido na mata.

Podia ver seus olhos, eram castanhos. A barba estava por fazer e a roupa surrada, definitivamente não parecia amigável. — Não adianta correr moça — falou, em um tom pesado e grave que paralisou meus músculos por alguns segundos. Dei passos fracos e curtos para trás, ouvindo o farfalhar das folhas sob os meus pés. O inverno estava chegando.

— O que você quer? — perguntei, sentindo algumas lágrimas umedecerem os meus olhos. Ele sorriu. Tirou uma faca de dentro do bolso e voltou a se aproximar.

Minhas pernas tremiam tanto que nem sei como mas comecei a correr novamente, devia estar perto da casa dos Taylor então tentei gritar por ajuda. Gritei algumas vezes o mais alto que pude, até minha garganta começar a arranhar.
Tropecei em um galho de árvore caído entre as folhas amarelas e minha visão ficou turva, pisquei lentamente enquanto fitava o topo das árvores. É isso, pensei. Vou morrer. Tudo ficou escuro.

Havia uma movimentação à minha volta. Sussurros. Passos. Uma brisa batendo em meu rosto. Cheiro de torta de maçã. Estava viva. Levantei bruscamente e me situei por alguns instantes, era a cozinha dos Taylor, me encontrei sentada na cadeira perto da despensa com Grace me encarando de perto. — Helene? — Ela perguntou, passando a mão por meus cabelos de forma carinhosa. — Você está bem? Pode me ouvir?

Pisquei lentamente, olhando para os lados e encontrando praticamente todos ali em pé. Me encarando. Assenti com a cabeça, voltando os meus olhos para Grace.

— Andem, voltem todos ao trabalho! — Ela gritou, indo até o fogão e colocando um pouco de chá de maçã em uma caneca. — Beba isso filha, vai se sentir melhor. — Tomei um gole, sentindo o líquido quente me aquecer por dentro.
— Estou bem — murmurei, vendo a porta da cozinha se escancarar e fazer um estrondo quando bateu contra a parede.
— O que aconteceu com ela? — Isabelle correu em minha direção, colocando delicadamente a mão em minha testa — Está doente? Não parece febril, não pode ser nada perigoso não é? — Falou de forma atropelada, se sentando ao meu lado e me puxando para um abraço.

— Ora, ela não está doente. Ouvimos gritos vindo lá de fora, e quando fomos conferir a Srta. White estava estatelada no chão. Pobrezinha, deve ter tropeçado e batido a cabeça. — Grace respondeu parecendo preocupada.
— Havia alguém me seguindo.
— Tropeçou e bateu a cabeça? Bem, Helene é um pouco desastrada mas é forte como um touro. — Belle me ignorou completamente.
— Alguém estava me seguindo! — Aumentei o tom de voz, percebendo todos virarem as cabeças em minha direção. — Um homem, estava segurando uma faca.
— Deve estar delirando, andem, sirvam mais um pouco de chá! — Grace afirmou, pegando minha caneca e a estendendo para Esther.
— Não estou delirando! — exclamei — Encontrei um homem perto do arbusto de crisântemos, pude ver seus olhos, sua barba, suas roupas, ele era real.
— Acredito em você Lene. — Isabelle me apertou em um novo abraço, acariciando meus cabelos devagar. — Está tudo bem, não precisa falar disso agora.

Fechei os olhos novamente quando senti uma pontada de dor na parte da frente da cabeça, devo ter batido em alguma pedra ou galho. Não parecia estar sangrando, mas definitivamente o mundo estava girando a minha volta. Tudo o que eu queria era me deitar e tomar um dos chás de erva doce que mamãe fazia quando nos sentíamos mal.
— É inacreditável que eu tenha que por os pés nessa cozinha, o que está havendo? — Anna Taylor abriu a porta pesada de madeira, mas não entrou no ambiente.

— Me desculpe Sra. Taylor, a Srta. White teve um acidente na floresta enquanto buscava flores para o arranjo. Acho que não está se sentindo muito bem. — Grace correu em sua direção, já se apressando para explicar toda a situação.

Eu tive que contar a história umas três vezes para que todos acreditassem e a entendessem por completo. Para minha surpresa, Anna Taylor ouviu tudo, parecia estar prestando atenção como se eu estivesse lendo um livro para uma criança. Balançou a cabeça algumas vezes, fez perguntas e por fim sugeriu que eu tirasse o resto do dia de folga, pediu para que Isabelle me levasse um pouco de sopa e um pedaço de pão no jantar. Não preciso dizer que fiquei ao mesmo tempo surpresa e extremamente agradecida por sua gentileza.

Contudo, os seus olhos ainda me fitavam de forma fria, e por trás daquela máscara eu pude enfim ver uma curva no seu lábio, era um sorriso. Ela estava gostando.

Só fui acordar quando Isabelle entrou no nosso quarto segurando uma bandeja, ainda não estava me sentindo cem por cento bem, mas certamente estava melhor. Me sentei na cama para comer, e fui obrigada a jantar com os olhos de Belle em cima de mim. Me fez mil perguntas e me ajudou a criar teorias para o que havia acontecido. De forma geral ela me fez ter mais ânimo. Grace também veio me visitar, perguntou como eu estava me sentindo e me deu um pouco de leite quente, eu me sentia acolhida apesar do susto que havia tomado. Era como se tivesse uma família de certo modo.

Charles já havia partido com Charlotte para a viagem à Londres, o que era bom porque Anna Taylor passou os dois dias seguintes me vigiando. Aonde quer que eu fosse, o que quer que eu limpasse, ela estava lá para conferir. Dizia que havia faltado um lugar para varrer, que o lençol da cama estava dobrado de forma desleixada, que o chá estava fraco, sempre haviam críticas a serem feitas.

Não podia saber ao certo o motivo de toda a sua ira contra mim, mas grande parte vinha da minha aproximação do seu filho mais velho, Charles. Talvez ela se achasse muito superior para que eu fosse amiga de alguém tão nobre como um membro de sua família. Talvez me achasse desprezível, talvez fosse por causa de minhas origens, poderia ficar listando centenas de possíveis motivos. Só que nenhum deles importava.

Não queria me arriscar a procurar a verdade, muito menos a questionar algo e acabar de volta ao orfanato. Se Anna Taylor tinha algo a ver com o homem que encontrei na floresta, eu teria que guardar os meus impulsos e desejos e me afastar do seu filho. Pronto, simples assim, ela havia vencido a guerra. — Está melhor Srta. White? — ela perguntou um dia após meu acidente, enquanto eu lhe servia uma xícara de chá.
— Sim Sra. Taylor. — Respondi educadamente.
— É melhor tomar cuidado, nunca se sabe do que as pessoas são capazes. — Seus olhos frios me encaravam como se dissesse muito mais do que gostaria, mas não era necessário, eu já havia entendido seu recado.

— Sim Senhora. — Repeti, tinha que engolir todos os meus sentimentos, abri um sorriso fraco e voltei para minha posição ao lado de Isabelle no canto da sala.

A casa sem Charles era definitivamente muito mais sem graça, como se ele fosse um raio de sol durante a tempestade. Entre as exigências da Sra. Taylor e os trabalhos a serem cumpridos, ele sempre estava lá para me alegrar com algum comentário, conversa ou simplesmente um sorriso. Seria difícil me manter afastada dele. — Você está estranha. — Isabelle disse enquanto estávamos cuidando da roupa.

— Não estou não. — Estava abalada por causa do acidente da floresta, preferia manter meus problemas só para mim. Não sabia do que mais Anna Taylor era capaz.
— Helene, para de esconder as coisas de mim! — Belle largou o vestido que estava enxaguando e me encarou séria por alguns segundos.
— Eu estou escondendo? Olha quem fala! — Deixei uma saia cair em cima da bacia que continha uma mistura de sabão e água e espirrou para todos os lados.
— O que você quer dizer com isso? — Perguntou com um tom irritado na voz, eu não estava gostando do rumo que aquela conversa estava tomando, porém, tínhamos muito a dizer uma para a outra e ao mesmo tempo nenhuma coragem para isso.
— Bem, de início eu até acreditei na história da sua mãe estar doente, mas pensando bem não faz muito sentido. — A desafiei, observando sua expressão mudar conforme eu ia falando. —Quer dizer, se esse fosse o problema você não precisaria sair escondido, Grace iria compreender a situação.
— Ah é isso que você pensa? Que sou uma mentirosa? — Jogou o vestido que estava lavando com força contra a água, enquanto me encarava incrédula. Notei um brilho diferente se formando em seus olhos e só então percebi que ela estava prestes a chorar.

— Não venha dizer que eu escondo as coisas quando você mesma não é sincera comigo. — Não queria brigar, não queria magoá-la, mas ao mesmo tempo as palavras fugiam de mim antes que pudesse pensar no que estava dizendo. Percebi que eu mesma também estava com os olhos cheios de lágrimas.

— Quer saber Helene White? Não se preocupe, eu vou sumir e você nunca mais vai precisar se preocupar comigo. — Pensei que estava sendo dramática, que estava tentando chamar minha atenção, ou dizendo algo grave o suficiente para que eu corresse e a abraçasse, mas eu não sabia da metade do que estava acontecendo.

Tudo estava escuro, um arrepio percorreu meu corpo antes que eu pudesse me situar. Não sabia onde estava, não sabia como havia ido parar naquele lugar estranho. De repente um par de olhos se forma nitidamente em minha frente, me fitava com frieza. Não o reconheci de primeira, mas assim que sorriu com pura maldade eu soube quem era. — Não! — Gritei — Não posso estar aqui outra vez! — Lágrimas se formavam em meus olhos e caíam antes que pudesse controlá-las.

— Ora, fique calada! — O ouvi dizer antes de sentir o lado esquerdo do meu rosto formigar de dor. — Você precisa aprender a se comportar, estou farto de vadias como você.
— Não! Não me deixe aqui! — Gritei o mais alto que pude, enquanto o homem se afastava e abria a única porta que havia no cômodo. Antes que me deixasse completamente sozinha naquela escuridão, me olhou com um olhar de superioridade e sorriu. A porta pesada de madeira rangeu enquanto fechava devagar, por fim, um estrondo ecoou me avisando que estava trancada mais uma vez.

Acordei sem conseguir respirar, Isabelle dormia tranquilamente ao meu lado, eu estava bem, estava na casa dos Taylor. Bebi um pouco da água que mantínhamos ao lado da cama enquanto tentava absorver que tudo não havia passado de um sonho ruim. Os pesadelos haviam voltado, e desta vez não havia nenhuma amiga do meu lado para me acalmar, Belle não falava comigo desde a nossa discussão no dia anterior.

Deitei novamente, ajeitando o travesseiro e puxando a coberta até o pescoço para espantar o frio, mas não conseguia fechar os olhos. O medo de voltar para o pesadelo me paralisava. Passei o resto da noite me revirando na cama tentando dormir, até o sol nascer e me chamar para mais um dia de trabalho.

Podia observa pela janela enquanto limpava o quarto de hóspedes do segundo andar, Charles estava chegando da viagem com Charlotte. Vi ambos descerem da carruagem parecendo mais felizes do que nunca e de repente me senti a pessoa mais sozinha do mundo. Eu não tinha ninguém, estava sem minhas irmãs, havia perdido a única amiga que tinha em Dover, e sabia que a partir de agora não poderia mais ter contato com Charles. Meu coração se apertou com o pensamento e tive que lutar para não deixar as lágrimas caírem em cima da cama que estava arrumando.

Assim que acabei a minha parte da limpeza, desci para ajudar Esther como de costume, porém, enquanto descia as escadas que levavam até a sala de estar esbarrei com Charles. — Helene — ele disse, abrindo um sorriso e começando uma explosão dentro do meu peito. Parei por alguns segundos sem saber o que fazer, queria sorrir de volta, dizer seu nome, passar o resto do dia conversando com ele no jardim, mas não foi o que aconteceu.
Desci as escadas sem dizer nada, deixando Charles parado no meio do caminho e todos os meus sentimentos guardados a sete chaves dentro de mim. De agora em diante teria que seguir firme.

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