- Dianna! - alguém grita o meu nome.
Eu viro a minha face para trás, olhando por cima do ombro. Liam corria até mim, ofegante. Há quanto tempo estará ele a correr. Sorrio e cumprimento-o, enquanto ele respira irregularmente.
- Para uma rapariga que no nono ano acabou o ano com um 3 a física, tu até andas bué rápido. - ele elogia e eu rio. É a primeira vez que estamos a ter uma conversa. Decente. Que não tem a ver com o Niall.
- O que queres? - questiono diretamente. Ele volta a suspirara e, quando volta ao normal, endireita-se.
- Vou-te levar ao... tu-sabes-quem. - ele sussura.
- Ao Lord Voldemort? - brinco e ele lança-me um olhar aborrecido - O tu-sabes-quem é...
- Eu sei quem é! E tu sabes que eu não me refiro a esse tipo que nem nariz tem. - ele resmunga e cruza os braços.
- Ok, e porque me vais levar? Eu ainda sei o caminho e sei tomar conta de mim. - lembro e ele ri sarcasticamente.
- Tenho de te lembrar que ontem levaste um murro na cara? - ele ironiza a sua pergunta idiota.
- Não tens de me lembrar. E eu não levei um murro na cara. - reclamo indignada. Foi só um estalo. Mão aberta, estalo. Mão fechada, murro. Até eu sei isso.
- Dá mesmo para ver que eras amiga da irritante Kimberly! Sempre a desfilar e a corrigir as pessoas! - e ele volta a atacar.
- A Kimberly não desfila nem corrige as pessoas. E eu também não! - corrijo-o. Boa!
- Se quiseres ser apanhada pelo Jake outra vez, tu é que sabes. Eu só te vou levar lá, depois pisgo-me. Tenho mais que fazer. - ele murmura e olha para o nada.
- Ok. - aceito, finalmente.
Eu e Liam passamos o cartão pela ranhura da máquina à entrada da escola. Não sei como vamos passar estes longos dez minutos, mas eu estou habituada a ir sozinha e calada, por isso se alguém aqui se incomodar, vai ser ele.
Ou talvez não. Liam está-me a irritar quando mete os fones nos ouvidos e anda a abanar a cabeça levemente ao ritmo da música igualmente irritante que eu consigo ouvir. Sem fones. Se ele realmente queria, exigia, implorava acompanhar-me, esperava mesmo que fossemos a falar de alguma coisa. Os meus dedos agarram os fios dos fones e eu puxo-os para baixo. Claro que ele resmunga.
- Ei! - Liam reclama e tira os fios da minha mão.
- "Ei", nada! - riposto e ele revira os olhos. Algo me diz que eu e o Liam não vamos ser bons amigos.
- Foda-se, Dianna. Quando fores ter com o teu namorado, ele não vai ter fones. - ele garante.
- Sim, o Daniel respeita-me. - balbucio.
- Eu não estava a falar desse paneleiro. - ele informa. Niall?
- Pois, eu não namoro o Niall. - defendo-me.
- Se gostasses, namoravam. - Liam acusa.
- Sim, claro, mas também precisava que ele gostasse de mim! - rosno.
- Se tu fosses mais inteligente e o teu mundo não rodasse só à volta do pequeno e fofo Daniel, irias ver que ele já gosta de ti, né? Só um burro é que não vê! - Liam resmunga e acelera o passo, deixando-me sozinha.
Ele atravessa a estrada e coloca de novo os fones nos ouvidos. O quê? O Niall gosta de mim? Espera, o quê? Não pode. Ou talvez pode.
O Niall anda sempre em cima de mim, preocupado comigo. Gosta de me animar, de saber o que tenho, o que pode fazer por mim, como me ajudar. Quanto ao Daniel, ele detesta-o e parece ficar com ciúmes e inveja quando falo nele. Talvez tenha sido por isso que ele lhe desligou o telemóvel, para não me acordar e eu não ir ter com ele. No entanto, eu adiei o encontro e, quando fui ter com ele, minutos depois, o Harry, a Melissa e o Zayn sentaram-se com o... Liam à mesa. Não pode. O Niall gosta de mim.
Só ando mais um minuto até chegar à rua onde o Niall costuma estar. Não sei como vou reagir quando o vir, isto é tão estranho. Quase de certeza que ele está sozinho. Assim poderemos falar mais à vontade... Se eu souber como falar disto. Oh meu Deus... eu já dormi com ele!
Ao contrário do que eu pensava, o Niall hoje está com todo o seu grupinho. Oh, bolas, a Melissa também cá está. Não posso falar disto, de maneira nenhuma! A rapariga ainda o manda contra o poste ou mete-me a mim debaixo de um trator em andamento.
- Olha quem é ela! - Zayn grita e todos se viram para mim. É a segunda vez que não consigo ir para a beira do Niall. A primeira vez foi quando eu tinha medo dele. Agora tenho é medo de abrir a boca. Espera, será que os amigos sabem?
- Olá. - cumprimento-os e sento-me mais ou menos ao lado do Niall, a uma distância de vinte centímetros mais ou menos.
- Continuando, e depois o carro virou! Devias ter visto! - Harry prossegue a conversa anterior e o Zayn começa a rir.
- Passou por cima de uma garrafa de vidro! - Zayn acrescenta.
- Aff, eu já estou farta de ouvir isto! - Melissa ralha e levanta-se. A mão pequena dela agarra o meu braço e levanta-me - Nós vamos para o apartamento, falar de coisas de raparigas, ou seja, de coisas interessantes!
- Desde quando é que falar do Justin Bieber é interessante!? - Harry ataca.
- Nós não vamos falar do Justin Bieber! Vamos falar de rapazes jeitosos! - ela garante.
- Então vão falar de nós três? - Niall pergunta e os outros dois riem. Não, não vamos falar de vocês três, só vamos falar de ti!
Melissa vira costas e dá-me o braço, puxando-me atrás dela. Acho que sou capaz de falar com ela sobre o assunto do Niall. Antes com a assustadora Melissa do que com o Niall. Melissa apenas empurra a porta lentamente, pois ela já estava aberta. A casa estava quente e acolhedora e ela manda-se para o sofá.
- Melissa... - chamo-a.
- Sou eu. - não? Jura!?
- Posso falar contigo? - pergunto e sento-me na poltrona do Niall.
- Se me vens pedir conselhos sobre o Daniel, eu não gosto dele. - bingo, ela sabe.
- Não, por acaso venho falar do Niall. - pigarreio.
- Oh, fala! - Melissa salta para o braço da poltrona e ronrona perto de mim.
- Eu sei... - começo - Eu sei que o Niall gosta de mim. - confesso e ela fica a olhar para mim, com aqueles olhos castanhos caramelo arregalados em dois perfeitos círculos.
- Ele contou-te? FINALMENTE! - ela festeja.
- Não, não. Não foi ele, foi o Liam. - murmuro, quase falando só para mim mesma.
- É a mesma merda! - ela diz lentamente - O Niall ia dizer-te.
- Mas não disse. - lembro.
- Porque, antes de te dizer, tu contaste-lhe toda feliz sobre o Daniel! - ela balbucia e cai de novo no sofá.
Foi naquele dia? No dia em que o Daniel apareceu? Oh! Pobre Niall! Como é que ele se sentiu? Boa, agora tenho pena ele. Que estupidez da minha parte. Bom, eu também não podia adivinhar, porém, estou pena dele. Por isso é que, no suposto momento em que ambos tinhamos algo a dizer, só eu falei. Logo a seguir, ele calou-se. Disse que não tinha nada a dizer. Que dilema! Onde é que eu me fui meter?
- O que é que eu faço? - pergunto desesperadamente. Eu gosto do Niall, sim, ele é um ótimo amigo, mas o Daniel...
- Ok, chega-te aqui, ninguém pode ouvir! - ela pede e eu reviro os olhos, aproximando-me dela - Com umas colheres de sopa, tu adormeces o Daniel. Metes o moço numa caixa de madeira e quando ele acordar, vai estar na Sibéria! - ela grita.
- Volto a repetir : O que é que eu faço? - tento parecer mais séria. Eu não sei o que fazer, nunca estive numa situação destas antes.
- Sei lá eu... tu tens a certeza que gostas do Daniel? - ela interroga.
- Sim(?) - afirmo e ela passa os dedos pela ponta do cabelo.
- Então fica com o Daniel. Eu acho que ficavas melhor com o Niall. Sei lá, ele cresceu, praticamente, rodeado de mulheres. Ele sabe como tratar de uma mulher. - ela informa.
- O Daniel também sabe... - defendo-o.
- Sim, eu pensei que ele gozava contigo. - o tom sarcástico dela faz a raiva pulsar no meu sangue.
- As pessoas mudam. Ele mudou, alias, perdeu a memória! - relembro. Farta de lembrar isto.
- As pessoas não mudam realmente. Se tu nasceste de uma maneira, ficarás assim para toda a tua vida. Quando as pessoas parecem mudar, elas simplesmente controlam as suas emoções para não fazerem o que lhes fica mal e o que pode magoar os outros. Quando ele se voltar a familiarizar-se com a escola, ele vai voltar a ser o idiota. Ele apenas está empenhado em recuperar a memória. Se é que ele está mesmo com falta dela.
Antes de responder, a porta do apartamento é aberta novamente. Os rapazes entram na sala e, só quando olho pela janela, percebo que começou a chover, fazendo com que eles tivessem de vir para casa.
- Olha, Melissa, sol e chuva! Vai haver haver um arco-íris! Procura o pote de ouro! - Zayn troça com a Melissa e ela fica vermelha de raiva. Ela levanta-se e o Zayn esconde-se atrás do Harry.
- Melissa... por amor de Deus, temos de ir embora! - Harry fala e agarra delicadamente os braços da namorada - Zayn, boleia?
- Só se esse monstro horrível for na parte de trás... amarrado! - ele implora.
- O monstro horrível que ganhou um concurso de beleza!
- Ganhaste? Ou as outras concorrentes eram super hiper mega ultra feias, ou tu participaste sozinha. - Zayn supõe e ela tenta saltar-lhe em cima. Eu e o Niall rimos em simultâneo, mas quando penso que isso soa estranho, eu paro, embora ele continue.
Quando a situação acalmou, os rapazes e a Melissa despediram-se de nós e foram embora. O momento fica constrangedor, pelo menos para mim, depois de eu e o Niall sermos deixados no seu apartamento, completamente sozinhos.
- Está tudo bem? - ele interroga.
- Sim, claro que sim! O quê? Eu não tenho nada! - nego rapidamente e depois rio. Ele fica a olhar para mim como quem diz "Ela está possuída".
- Ok... - ele gesticula a palavra de duas letras - O Daniel, como vai ele? - oh, boa, agora sei que ele pergunta por ciúmes.
- Não quero falar dele? - se eu disser que eu agora namoro com o Daniel, ele fica de rastos.
- JÁ NÃO QUERES SABER DELE?! - o tom alegre dele passa logo a um tom neutro - Quer dizer... já não queres saber dele?
- Não é isso. É que... eu sei, Niall. - confesso. Merda. Não, não digas palavrões, Diih.
- Sabes o quê? - oh, foda-se. Não consigo controlar-me. Nem a minha mente, quanto mais as minhas palavras.
- Que tu... gostas... da Melissa! - mordo a língua.
- Ui, cuidado, eu morro de amores por ela. - Niall arregala os olhos. Não podia ter falado de outra pessoa? Alguém gostar da Melissa é super raro, ela assusta até um leão.
- Mesmo, eu não pensei. Quer dizer, que cabeça a minha, não é, porque - rio - tu e a Melissa, tipo, não dá! Estás a ver!? - interrogo.
- Diih... do que é que tu e a Melissa tiveram a falar? - ele questiona.
- De queques... - queques? A sério.
- Queques? - ele repete a minha palavra.
- Sim! De baunilha! A Melissa disse que comprou uns... e adorou. - minto.
- A Melissa é alérgica a baunilha. E não gosta de bolos. - ele fala.
As sobrancelhas claras dele franzem-se e uma ruguinha familiar aparece entre elas. A confusão é claramente avistada nos seus olhos. Estou a dar muito nas vistas? Oh, eu devia dizer-lhe que sei e pronto. Não, não posso. Ou posso? Quer dizer, ele ia contar-me não ia? Por isso queria que eu soubesse, não é? Todavia, não contou, ou seja, eu estou mais confusa do que ele.
- Porque é que tu não gostas do Daniel? - interrogo.
- Porque acho que aquilo é uma mentira maior do que eu. E olha que eu tenho um metro e oitenta e cinco. - mesmo nestas perguntas, ele consegue rir adoravelmente.
- Só isso? - insisto.
O humor dele rapidamente altera. De divertido e confuso, ele passa a ficar sério e receoso. Indiretamente, acho que lhe contei o que, na verdade, eu descobri hoje.
- Sim. - ele mente. Uau! É mesmo fixe ouvir as pessoas a mentir quando sabemos a verdade. Oh, pobrezinho - Diih, do que é que tu e a Melissa estiveram a falar? - Niall volta a perguntar o mesmo.
- De coisas... não podes saber... - eu limito-o e ele rebola os olhos.
- Posso ler o teu diário, mas isso não posso saber? - que complicado que ele é!
- Niall, é... - ele corta-me e fita-me.
- Eu quero saber do que é que vocês duas estiveram a falar, porque já percebi que o tema foi "Niall Horan"! - ele insiste. Estou entre a porra da espada e a porra da parede.