Mini Romances - Light

By JotaKev

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Finalizado! Coleção de Mini Histórias de Romance. Afetividade entre pessoas. LGBT, ou não. Não haverá distin... More

Apresentação
Ceci e Duarte - Parte I
Ceci e Duarte - Parte II
Ceci e Duarte - Parte Final Feliz
Liebe Blumenau - Parte I
Liebe Blumenau - Parte II
Liebe Blumenau - Parte Final Feliz
Suzi Ohana - Parte II
Suzi Ohana - Parte Final Feliz
Anjinho arretado e o Urso dobrado - Parte I
Anjinho arretado e o Urso dobrado - Parte II
Anjinho arretado e o Urso dobrado - Parte Final Feliz
Gabriel, cravo e canela - Parte I
Gabriel, cravo e canela - Parte II
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Sexy Clichê - Parte I
Sexy Clichê - Parte II
Sexy Clichê - Parte Final Feliz

Suzi Ohana - Parte I

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By JotaKev

Dedico com carinho a todos nós cheios de sonhos, Suzis e Valdizões!

*****

Por Suzi...


Sou a Suzi Ohana, mas nasci Simão Pedro Rodrigues.

Meu pai, Sebastião era um homem semialfabetizado e pregador na congregação do bairro, percebeu cedo que eu tinha "talentos" diferentes e o único dos cinco filhos que seria baitola, como se referiam a mim pelas costas.

Como que um homem que prega o que está na Bíblia poderia aceitar ter um filho acusado de ser uma abominação? Que moral ele teria, para falar de Deus tendo um "pecador sujo" em casa? Euzinho, um menino pequeno sempre alegre, afeminado, doce e amoroso, mereceria perecer no fogo dos infernos?

Fui um menino recatado, criado em uma família assembleiana e desde muito novinho, eu queria ser Suzi, é óbvio que não teria uma história de vida muito feliz.

Sinto muito se alguém esperava uma tragédia, espancamento e intolerância dentro de casa. Mas meu pai pregava com mais fervor ainda a paz, amor e compaixão. Foi dentro de casa que recebi amor, fui abraçado e orientado a fazer as coisas certas na minha caminhada.

Logo, a religião para mim não era motivo para afastar-me de Deus, mas de religação ainda mais forte com ele. Cada um de nós tem sua própria fé.

Do meu passado trago essa cena nas memórias...

Um dia meu pai voltava de bicicleta do centro e viu seu filho Simãozinho tomando uma surra, sendo chutado e chamado de viado e putinha. Bastião deu de cara com a cena de violência e gritou ameaçador:

— Larga meu filho agora ou dou com um cabo de enxada nas costas de vocês! Sumam daqui! Bando de coisa ruim.

Ele podia ser evangélico, reto, temente, mas era justo e eu, seu filho mais novo era seu xodó, seu sangue e sua carne. E depois, na cabeça daquele pregador, o amor só se prega quando se sabe amar de verdade. E esse amor, fez meu pai descer da bicicleta velha para me socorrer, limpar o machucado na minha boca que sangrava, com sua camisa de trabalho toda suada.

Muito cedo ele foi requisitado pelo Patrão lá de cima. Papai foi atropelado no acostamento da rodovia BR 101 e mesmo que o condutor do veículo tenha parado para prestar seu primeiro socorro, não havia muito que pudessem lhe fazer. Basta que eu diga que a caminhonete quando bateu na bicicleta, o atirou muito longe e na queda ele bateu a cabeça, falecendo no local.

A família chorou de saudade e ainda choramos com a lembrança daquela pessoa que deixou de exemplo o amor ao próximo, especialmente para eu Simão, seu único filho gay.

Eu tinha doze quando ele se foi e dezessete quando a mãe caiu de cama. Ficou quase sessenta dias internada e os médicos só diziam que estavam fazendo exames para terem certeza do que ela tinha. De lá ela nunca saiu, outra vez eu precisei me despedir de um grande amor de minha vida quando ela segurou apenas um de meus dedos e apertou:

— Simãozinho, não chora, a gente vem pra esse mundo, mas não é pra ficar aqui. Passa tão rápido, é só o tempo de cumprir a nossa missão. Foi assim comigo. Não chora. Ora para que eu não sofra. Prometa antes de eu ir, que nunca vai se afastar de Jesus...

Eu cumpri a risca, indo pelo menos uma vez na semana à igreja. Mesmo quando olhares tortos eram lançados sobre minha pessoa, eu suportei pelo amor aos meus pais e a promessa que fiz. Depois mudei de igreja onde me senti mais confortável e prossegui com minha vida sem me importar muito com as pessoas e suas pedras nas mãos. 

Uns anos passaram e aprendi a me defender. E tem outra coisa, eu nem era tão solitário assim, tinha amigas iguais a mim, as manas que cedo aprendem a se defender e que quando se juntavam, era pior que ataque de abelhas assassinas.

Me aceito, me amo e sempre imaginei que um dia, eu teria o cara certo para mim e por mim, sem que precisasse foder com todos os caras só pra me satisfazer fisicamente.

Sim, eu me apaixonei tantas vezes que nem me prendi muito quando conheci meu maridão Valdir numa pagodeira. Eu fiquei bem atiçado, lógico, um espécime daquele é de pegar e não largar mais. Naquele carnaval flertei a noite toda com ele, que sem dúvida devia ter sacado que eu era drag e até ofereceu-me carona no final da noitada.

Fora que, notei que o "pacotão da alegria" dele era enooooorme e tudo era para mim, sua Suzi...

Os três primeiros "meisinhos" de namoro foi perfeito, coisa de contos românticos impossíveis... Mas muitos homens que se identificam como héteros tem a maior preocupação quando se descobrem bi ou até gays. A luta que travam consigo é quase uma guerra, tem muito medo envolvido e muita justificativa.

Depois daquele período inicial, o Valdizão, que chegou no namoro cheio de sede, Passou a sentir-se apavorado com o que vinha de encontro a nós como casal. Ele vivia cheio de receio e tivemos até mesmo uma separação no meio disso. Mandei ele ficar um mês longe de mim e refletir, em cima do muro não aceitaria que ele ficasse. Ou me valorizava, dando uma chance a ele mesmo, me querendo como companheiro ou cada um seguiria por um caminho diferente.

Se for só pra transar que invada outro colchão.

Ele não aguentou uma semana e veio atrás, veio de mala e cuia. Ou melhor, eu fui morar com ele. Viramos companheiros como deveria ser. Tudo bem que eu passo a impressão de ser radical, mas eu tive que aprender a me defender quando era muito novo, ele tinha quase quarenta naquela época, que aprendesse a passar por cima de algumas coisas, porque a vida nunca vai ser fácil do mesmo jeito.

Isso foi lá atrás nos seis primeiros meses, que o coloquei de castigo, e quando ele voltou, começou a caminhar certinho do meu lado. Como ele mesmo diz, a vida não é um mar de rosas, nem nunca vai ser. Cada pessoa sabe o que carrega e eu sendo afeminado e travesti, sempre suportei alguns quilos a mais em minha bagagem.

Já ouvi pessoas dizendo que ser travestir é opção. Que seja, EU sou um rapaz homossexual que se sente muito feminino e gosta de vestir-se como ela. E faço exatamente isso, porque gosto, me sinto linda e poderosa, e outra: tô cagando e andando para aqueles olhares curiosos. Cuido da minha vida dentro do meu quadrado e aconselho a cada um fazer o mesmo. Cuidar da vida alheia causa desgaste e perde-se muito tempo. O meu tempo é precioso e a vida é curta demais.

Então, depois de seis meses tudo ficou ótimo? Não. Quem disse isso?

Eu tive que "podar" as asinhas do meu gavião, onde que já se viu. Sou uma dama ciumenta e caseira, logo, o macho tem que andar na linha. Quietinha sim, boba nunca!

Tenho outra pequena memória de três anos atrás:

— Valdizão, tá proibido de parar no boteco. Quem manda sou eu, oras. — Minhas amigas diziam que se eu pegasse muito no pé, o bofe saltaria fora. — Não há necessidade de beber todos os dias e ficar torrando o dinheirinho sacrificado que é tão difícil de conseguir.

— Suzi faz uns cinco meses que não piso no boteco.

— Não interessa. Eu também não vou. Direitos iguais!

— Ai minha nega braba do Valdizão, o papai respeita essa deusa. Mas só amanhã então. No bar do Zezão vai ter torneio de sinuca, o prêmio é um leitão, já pensou se eu ganho. — O maridão entra todo faceiro dentro de casa, sexta a noite, achando que vou liberar ele pra passar um sábado inteiro no boteco. Sonha. — Vai junto, minha rainha.

— Hã??? Euzinha no boteco, tá maluco? Valdizão, aqueles seus colegas ficam bêbados e começam importunar. Ah mas, não vamos mesmo, nem junto e nem separado. Se insistir, dorme na sala hoje.

— Oh minha preta, pensa no prêmio.

— Um porco? O que a gente vai fazer com um porcão de todo tamanho?

— Oh Suzi, umas morcilhas, torresmo.

— Eu não limpo nem tainha, que dirá estripar um porco.

Bem no fim, eu cedi um pouquinho, dei uma hora só e fiquei marcando no relógio. Pensa que não funciona aqui em casa? Ah, pois então. Cinquenta e oito minutos depois, meu homem já estava descendo da CG, sorrindo porque tinha conversado com os colegas e sem beber, porque o fiz ir de moto. Se fosse de bike, ele ia beber e eu ia "fechar o tempo".

É gente, isso foi tenso na época. Sei que o bofe não podia sair um dedo na linha que eu surtava a brigava, mas é porque eu tinha muito medo que ele me largasse e morria (morro) de ciúmes. Ciúmes é meu signo e nada tira a pulguinha de trás da minha orelha quando encasqueto.

Depois, passou dois anos... 

Depois, comemoramos junto com os três anos, a compra um lote onde levantamos nossa casa juntos. Digo que é a construção da vida de um casal que se dá muito bem.

Agora já são quatro anos que nos "grudamos". Valdizão me defende e segura minha mão em público. Sempre foi, carinhoso, gostoso e safado comigo entre quatro paredes do quarto, sala, cozinha, banheiro e garagem.

Ele já teve medo, hoje aceita-se completamente como sendo marido de uma drag, marido de outro macho, embora esse macho tenha se rebatizado de Suzi. Euzinha mesmo!

Continua...

***

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