Gabriel, cravo e canela - Parte I

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Dedico ao leitor Gabriel_Sant que me autorizou a usá-lo (no melhor sentido) como inspiração para o personagem Gabriel. 

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Fiz amizade pela internet, através de um aplicativo de leitura, com um cara de SC e no começo só nos esbarrávamos nos comentários nas mesmas histórias, pois ambos amamos contos com lobisomens, fadas e outras criaturas mágicas. Seu nome é Júnior (ele prefere), pessoa que sempre me deixou super a vontade para falar de coisas mais íntimas, pequenas confissões de segredos que eu tinha vergonha até de pensar. Ele sempre me pôs pra cima quando eu me lamentava a respeito de algo com minha aparência ou com relação às minhas escolhas, sobre o que estudar ou o que escolher pro meu futuro.

Tudo que eu tinha era o nome J.Júnior e o ícone com um bonequinho, que ele copiou do meu próprio perfil e algumas pessoas até shippavam, achando que tínhamos alguma coisa além da amizade e o carinho que eu sei que temos um pelo outro.

Eu confesso que nutri uma paixão platônica por uns tempos, mas ele dizia com calma que tinha alguém e que era muito fiel ao cara.

Nas conversas pelo "privado" do próprio aplicativo, muitas vezes ficávamos até tarde da noite a confessar coisas bobas, eu sobre meus crushes, ele sobre seus gatos que dividiam a cama com seu boy e nós dois, de verdade, não sabíamos o que estava além disso, eu alimentava uma esperança e ele, eu não sabia...

Finalmente, depois de tantos papos amigos, amizade, amizade e mais um pouco disso, eu decidi que não dava pra esperar que o "bonequinho" caminhasse um passo em minha direção, ele não viria na minha direção. Nunca.

Eu morava no RJ, mas confesso que já tinha pensado em ir pra SC. Queria ficar mais perto do Abi ou interagir com o Bando, que é o seu grupo de amigos e, bem, o Júnior não me dava esperanças, nem sacava o quanto estava na sua, então parti para um lance mais físico, pois queria sentir uma pele na minha pele. Uma boca na minha, uma rol... essas coisas mais íntimas também...

Namorei uns tempos, mas não estava escrito que ia durar, não durou. Pode não ser o amor da nossa vida, mas a gente sofre do mesmo jeito, o apego acontece, a dor da separação acontece também. Eu quis ficar por uns tempos longe de tudo. Sem face, sem Wattpad, sem grupo de Whats ou redes sociais que me fariam tropeçar no ex ou no crush catarinense.

Admito que estava apaixonado pelo cara e evitar é a melhor coisa. A gente cria uma distância segura, depois levanta uma muralha protetora, coloca artilharia pesada atrás desses muros e quando acha que pode por a cara pra fora do esconderijo, tem uma pá de mensagens de quem???

Do Júnior!

O "bisho" tava com saudade. Sentiu falta e deixou uma mensagem por dia no privado, tanto que tive que tirar uma hora pra ler tudo, era muita coisa. 

Porcaria. Isso só aquece e fomenta a esperança que era pra continuar "amordaçada" e "amarrada" no quartinho escuro do coração.

O nome do Júnior poderia ser qualquer nome, talvez nem começasse com a letra J. Mas arranquei dele com custo e finalmente (Glória a Deuxxx), ele disse que se chamava Joel, igual ao seu pai, que já fora vereador na cidade onde ele vive, por isso usava um apelido genérico que jamais seria associado com a figura pública do velho preconceituoso ou mesmo a sua, já que ele era um carinha muito tímido.

"— Como você é?"— comecei assim e ele se descreveu fisicamente conforme um dos personagens do conto chamado Amor Virginiano de um autor que gosto. "— Ruivo?"

"— Ninguém é perfeito." — ele reclama. Fala que sempre odiou o cabelo cor de cobre escuro, seu jeito aguado e as pintinhas no rosto.

Pra ir pro Whats, ele me fez jurar que não contaria a ninguém que tinha seu contato e assim, nos aproximamos mais. A amizade acabou ficando mais doce, mais fraternal e eu perdi um pouco do tesão que antes residia no mistério. 

Mini Romances - LightWhere stories live. Discover now