No teu abraço

By SamLRamos

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Caio e Rafael. Impossível falar de um sem falar do outro. Vizinhos, melhores amigos. Juntos cresceram, brinca... More

PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO EXTRA
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
AVISO!
CAPÍTULO 53
CAPÍTULO 54
CAPÍTULO 55
CAPÍTULO 56
CAPÍTULO 57
CAPÍTULO 58
CAPÍTULO 59
AVISO IMPORTANTE
CAPÍTULO 60
CAPÍTULO 61
CAPÍTULO 62
CAPÍTULO 63
CAPÍTULO 64
CAPÍTULO 65
AGRADECIMENTOS

CAPÍTULO 4

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By SamLRamos

Era mais uma manhã chuvosa. Rafael acordou cedo. Mesmo com o frio, o sono simplesmente havia sumido e ele estava com uma sensação ruim que não sabia explicar. Olhou o celular, 6h05min. Suspirou. Maio ainda estava na metade. "Oh, mês para demorar acabar.", pensou. Sempre gostou do mês de maio, talvez porque Caio sempre gostou de maio também. Lembrou que Caio desde criança cantava "Chegou o outono, chegou o outono, a estação mais linda do ano!", apesar de no Ceará não dar para perceber a mudança das estações. Mas ainda assim, maio era o mês mais lindo do outono, assim como julho era o mais lindo do inverno e setembro da primavera. Era assim desde que ele se lembrava. Sorriu ao recordar a infância.

Só que esse maio estava demorando acabar, talvez porque já sentia a pressão da vida universitária, os milhões de trabalhos e as avaliações que já se aproximavam. Não via a hora do semestre acabar e finalmente ter férias.

Ficou mais um tempo deitado, só pensando na vida, até que lembrou do trabalho de "História do Pensamento Geográfico" para entregar nessa sexta-feira, ou seria na próxima sexta? "Droga!", pensou. Levantou e foi até a mochila no chão. Seu quarto estava uma bagunça, assim como sua cabeça. Pegou a agenda que havia ganhado de Caio e olhou a data: dia 26, sexta-feira da próxima semana. Suspirou em alívio. Teria mais tempo, o que era ótimo, visto que nem havia começado ainda. Segurou a agenda em frente ao rosto e falou para si mesmo "Não é que esse presente inútil até que está sendo bem útil. Caio, o que seria da minha vida sem você?".

Aproveitou que já estava de pé e foi tomar um banho sem pressa. Sua mãe estava na cozinha, seu pai já havia saído e o avô ainda dormia. Tinha estado doente esses dias, então era melhor ele descansar bastante. Rafael amava muito seu avô Francisco, às vezes pensava que até mais do que amava os pais. Não que não amasse os pais, amava muito, mas seu avô era seu avô, seu porto seguro.

Depois do banho aproveitou para dar uma olhadinha no seu Facebook. Ultimamente não tinha tido muito tempo para isso. Nada interessante, só as mesmas postagens sem importância, memes engraçados. Viu um meme de Star Wars que o Caio precisava ver, então salvou a imagem para mostrar para ele depois. Por falar em Caio, foi no WhatsApp e escreveu para ele:

R: "Acorda, flor do dia! O céu está lindo! O sol está brilhando!"

Esperou. Caio visualizou e não respondeu. Então enviou outra.

R: "Ok, o céu nem tá tão brilhante assim, mas como eu perdi o sono não é justo vc ficar dormindo. Então acorda!"

Esperou. Caio respondeu.

C: "O q tu quer, demônio? Deixa eu dormir!"

R: "Eu vou já praí."

C: "Tá, tá. Pode vir."

Guardou o celular e foi tomar café da manhã com sua mãe, Paula.

***

Já que estava acordado, graças a Rafael, Caio levantou da cama e foi até a cozinha atrás de alguma coisa para comer. Viu pela janela que ainda chovia. Estava chovendo bastante naquele ano, o que era ótimo por vários motivos, mas não era tão ótimo para quem morava numa cidade como Fortaleza. Fez um sanduíche com os restos de muitas coisas que encontrou por lá e já estava na metade quando Amanda se juntou a ele.

— Já está acordado? — e começou a preparar alguma coisa para ela também em silêncio.

Estava incomumente quieta, o que chamou a atenção de Caio.

— Aconteceu alguma coisa, Amanda?

— Não. Eu só tive um sonho ruim essa noite e não dormi bem — falou enquanto sentava perto do irmão. — Mas daqui a pouco eu esqueço e passa.

— Sobre o que foi esse sonho?

Ela ficou em silêncio por um instante até que falou.

— Eu sonhei com você. Não sei bem o que acontecia, mas você estava chorando muito e sofrendo muito. Eu tentava te consolar, mas eu não sabia o que dizer. Foi bem desesperador.

— Calma, foi só um sonho. Eu estou bem.

— Eu te amo muito, mano. Você sabe disso, né?

— Eu sei. E eu também te amo muito. — então deu beijo no rosto da irmã.

***

Rafael saiu de casa após abraçar e beijar a mãe. Ainda pensava no tom de voz dela quando se despediu. Não foi nada incomum, o mesmo que ela sempre dizia, mas algo parecia diferente mesmo assim. Também teve a impressão de que o abraço tinha sido mais apertado, como se ela não quisesse que ele se fosse. Afastou esse pensamento. Claro que estava imaginando coisas, talvez por causa da sensação que estava sentindo desde que acordou.

Chegou na casa de Caio e o encontrou na cozinha com a mãe e a irmã. Laura lhe ofereceu um pouco da vitamina que acabara de fazer, mas ele recusou e disse que estava já bastante cheio. Então ela continuou o assunto que estava falando, sobre um acidente que havia acontecido na Mister Hull e que tinha sido bem grave.

— Por isso que eu morro de medo de vocês andarem de moto nessa cidade louca — disse olhando para Rafael. — Eu sei que você dirige bem e toma cuidado, senão eu não entregaria meu filho para você, mas existe tanta gente irresponsável no mundo e ainda mais com essa chuva, só piora tudo. Eu queria mesmo era que vocês fossem de ônibus.

— Fica tranquila, dona Laura, que não vai acontecer nada com a gente — disse Caio para a mãe. — Afinal, como você mesmo disse, o Rafael é bom no que faz. Não é mesmo, Rafa?

— Sou sim. Não se preocupe que seu filho está em ótimas mãos.

Após se despedirem de Laura, saíram. Como esperado o trânsito estava terrível e para piorar a situação, quando já estavam próximos de chegar, um ônibus passou por eles e fez com que a água de uma poça imunda os banhasse dos pés à cabeça.

— Puta que pariu! — gritou Rafael. — Esse ônibus idiota me sujou todo!

— E essa água está terrível de suja, que horror — disse Caio examinando o estado de suas roupas. — Vamos chegar muito cheirosos na faculdade. Droga!

O sinal abriu novamente.

— Rafael, você não vai colocar o capacete de volta?

— Não. Eu não consigo enxergar nada, a viseira está toda suja. Mas a gente já está chegando mesmo, não tem problema. Lá eu dou uma lavadinha nisso no banheiro.

Após um instante, continuou:

— Ah, Caio, eu vi um meme muito legal que eu acho que você vai gostar. Eu salvei no celular e quando a gente parar eu te mos...

Mas não conseguiu terminar a frase. Foi tudo muito rápido. Um carro apareceu do nada na frente, parecia ter se materializado ali. Quando Caio se deu conta já estava no chão. Levantou meio atordoado e tirou o capacete, então olhou para os lados para encontrar Rafael.

Seu coração parou no peito. Caído no canto do meio fio estava o corpo do amigo, uma poça de sangue se formando ao redor. Parecia morto. Caio correu ao seu encontro. Olhou para a origem daquele sangue e viu que havia uma ferida no lado da cabeça de Rafael, provavelmente havia batido no meio fio. Um medo horrível tomou conta dele. Instintivamente encostou o ouvido no peito do garoto caído. Tum, tum, tum... O coração ainda batia. Mas pela situação que se apresentava não seria por muito tempo. Caio nem percebeu que estava chorando, suas lágrimas se misturando às gotas de chuva que caíam. Queria pegar o amigo nos braços, mas sabia que não deveria, poderia piorar a situação dele. Olhou para o lado e viu que alguém estava ligando, pedindo ajuda. Então recostou sua cabeça no peito de Rafael e chorou. Chorou e implorou para que ele não morresse, para que ele não o deixasse.

— Por favor, não morre, Rafa. Eu te amo!

Caio parou e abriu os olhos, espantado com o que acabara de dizer. Não era a primeira vez que Caio dizia que amava Rafael, na verdade eles sempre diziam que se amavam, nunca tiveram receio em demostrar seus sentimentos. Mas sentiu que dessa vez era diferente. Algo dentro dele, uma parte que ele ainda não conhecia, havia falado aquelas palavras. Ele sentia que era algo mais, que essas palavras tinham um significado diferente. Ele não disse "Eu te amo, você é meu melhor amigo". Seu corpo, sua alma, sua mente, disseram "Eu te amo, eu quero você!".

Naquele momento Caio se deu conta de um sentimento que não sabia que existia dentro dele. Há quanto tempo aquele sentimento estava ali sem ser percebido? Em que momento Rafael deixou de ser apenas um amigo para ele? Quando aquele sentimento nasceu? Ele não sabia. Só tinha a certeza dentro do seu coração de que esse sentimento já estava lá há muito tempo, escondido, impercebido, e que agora uma luz acendeu em sua mente e ele conseguia ver claramente.

Mas Caio não queria pensar nisso agora, ainda estava muito confuso com essa situação. Rafael estava ali morrendo em seus braços. Morrendo...

O coração de Caio sangrava.

As pessoas se amontoavam cada vez mais ao redor deles. Caio conseguia ouvir trechos do que eles falavam. "Será que ele morreu?" "Coitado, tão jovem!" "Tão lindo para morrer assim." "Eu vi como bateu no carro, não tem como ele escapar." "É um milagre o outro não ter morrido também.". Caio queria gritar para que eles calassem a boca e parassem de dizer que Rafael iria morrer, que já estava morto. Rafael não iria morrer, não podia morrer.

A sirene da ambulância se fez ouvir. Os paramédicos desceram rapidamente e começaram a imobilizar o corpo de Rafael. O "corpo"... Caio afastou para longe o sentimento ruim que essa palavra despertava. Assistia a tudo como se estivesse num sonho ruim, o pior pesadelo de sua vida. Um dos paramédicos começou a examiná-lo e constatou que ele estava bem, só tinha alguns arranhões pelo corpo, bem superficiais. Perguntou qual o seu nome, o nome de Rafael, e se ele iria acompanhá-lo na ambulância. Claro! Pediu o número de alguém da família para avisar. Disse que ele estava muito mal e que precisaria ir urgentemente para o I.J.F., então subiram na ambulância.

As cenas passaram por Caio como se ele não estivesse ali. Como se observasse tudo de fora. Tinha que ser só um sonho ruim... Abriu os olhos que nem percebeu ter fechado. Rafael estava ali deitado à sua frente, inconsciente, e os paramédicos ainda prestando os primeiros socorros.

— Ele está vivo — disse uma voz ao seu lado. Com espanto Caio olhou e viu que havia uma enfermeira ali, parecia um anjo tentando lhe confortar. Deve ter percebido seu desespero. — Vai dar tudo certo, já estamos conseguindo estabilizar a situação dele. — Parou por um instante e olhou para Rafael. — Vocês são amigos há muito tempo?

Caio, com esforço, encontrou novamente a voz.

— Sim. Na verdade, desde que eu consigo me lembrar eu tenho o Rafael. Estávamos a caminho da faculdade agora. Bem que a mãe disse que era perigoso a gente sair nessa chuva, mas o Rafa estava tão empolgado com a moto. Ele ganhou agora em fevereiro no aniversário dele e ainda continua lambendo ela — sorriu. — Todos os dias a gente vai para a faculdade nela... — não sabia porque tinha começado a falar tanto, mas aquilo o acalmava, então continuou. A enfermeira "anjo" o ouvia com atenção, parecia realmente interessada nas bobagens que ele estava dizendo. Caio agradeceu internamente por isso.

Quando a ambulância chegou ao hospital, levaram Rafael para um lugar onde Caio não poderia ir também. Caio queria estar com ele, não queria se separar dele um instante sequer. Disseram que ele ficaria bem e o levaram. Então Caio ficou sozinho e ferido, não no corpo, mas na alma.

Não sabe por quanto tempo ficou ali sentado na recepção esperando. Mas em algum momento os pais de Rafael chegaram e ele lhes contou o que havia acontecido. Depois apareceu um médico e falou com eles. Disse que o estado dele era delicado, que havia batido a cabeça e ainda não sabiam a extensão da lesão, e que ele passaria por uma cirurgia de emergência. Falou que deveram ir para casa descansar porque a cirurgia iria demorar. Caio não queria ir, queria ficar perto de Rafael, mas foi convencido de que não adiantaria ficar lá agora, precisava descansar para estar bem quando Rafael acordasse. Então ele foi.

***

Quando chegou em casa sua mãe e Amanda estavam na sala e pareciam muito aflitas. Laura correu para lhe abraçar. Perguntou se ele estava bem, se não estava mesmo machucado.

— Não, mãe. Eu estou bem, pelo menos fisicamente. Mas está doendo aqui. — e colocou a mão no coração. — O Rafa... — as lágrimas voltaram — Eu não quero que ele morra.

— Oh, meu bebê. Vai ficar tudo bem, ele não vai morrer. Deus não vai permitir.

Apesar de ser reconfortante o colo da mãe, como quando ele era criança e ela o acalentava, Caio queria tirar as roupas molhadas, tomar um banho e dormir. Então olhou para a mãe e a irmã, que também chorava, e foi para o quarto.

Tomou um banho bem demorado. Parecia querer que todo o peso que caiu sobre ele fosse levado pela água. Pensou novamente sobre tudo que aconteceu naquela manhã. Em Rafael caído e quase morto no chão. No sentimento que ele havia descoberto. Será que teria sido só por causa da situação? Será que no momento de desespero ele confundiu as coisas? Não. Ele sabia que não. Ele conseguia ver claramente agora.

Era estranho, nunca tinha gostado de um garoto dessa forma. É verdade que nunca gostou de ninguém dessa forma. Já havia ficado com algumas garotas, é claro, mas sempre porque os amigos pressionavam e nunca porque realmente queria. Era bom, mas não era especial. Nunca havia se apaixonado antes e nunca pensou que se apaixonaria por um garoto, muito menos por seu melhor amigo. "Que clichê.", pensou. Mas sabia que não fazia diferença, ele jamais falaria sobre isso com Rafael. Não queria estragar o que eles tinham, não queria afastá-lo. Nunca pensou em uma vida sem ele por perto. Ele sempre esteve ali e sempre estaria. Se sobrevivesse... Caio sentiu novamente o medo e não conseguiu evitar as lágrimas. Rafael tinha que sobreviver, ele iria sobreviver, iria se formar, se casar e ter filhos. Eles passariam o resto da vida juntos como sempre imaginou, ainda que só como amigos.

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