Com Amor, Lena [Concluído]

By mllenica

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Helena sempre conversa através de mensagens de texto SMS com sua melhor amiga Victoria. Culpa do seu celular... More

Antes de começar!
#Prólogo
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BÔNUS (ALEX)
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#63
#64
#65
#66 (I)
#67
#68 (Sessenta e oito)
Epílogo
Agradecimentos
Vic e Leo em: Como ele conseguiu?
# Minhas outras histórias #

#66 (II)

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By mllenica

De: lena.jun@mail.com
Para: alex.veiga@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Eu sei que esse não é o melhor momento para conversarmos, porque você está cansado e teve um dia complicado. Mas já pensei demais sobre esse assunto e é muito ruim continuar pensando. Achei que estivesse exagerando e sendo dramática com sempre ou que pudesse ser um mal entendido, mas não. Não é nada disso. É só o choque da realidade, tão potente como quando sem querer levamos um plugin à tomada junto com um dos dedos e só nos damos conta quando a descarga alcança os cotovelos.

Ah, Alex!!!

Sabia que consigo dividir os nossos emails entre antes do nosso encontro que não deu certo e depois dele?

As flores, a mudança nos emails, o filme... Tudo isso faz parte do que quer me dizer, não é? É o que estava dizendo sobre você querer me dizer. Queria pensar que você não está fazendo isso de maneira consciente, que é só um tipo de defesa instintiva por essa situação ser complicada, mas eu não posso me enganar tanto.

A culpa é minha, claro. Talvez toda a minha insegurança fosse só um aviso de que era uma péssima ideia que você me conhecesse, assim como continuar com os emails. Não, eu não estou sendo repetitiva e dando voltas no mesmo lugar, mas o filme me fez voltar a pensar nisso.

Sou uma pessoa melhor do outro lado da tela, você está certo por ter percebido isso. Aquele dia foi uma amostra e eu sei que foi o motivo para que perdesse o interesse por mim. Por um lado, eu acho que até seja melhor que aconteça agora, quando a decepção ainda não é tão grande.

Sei o que vai acontecer: as mensagens vão diminuir até elas se limitarem a datas comemorativas e lembranças de aniversário, mas eu nem sei a data do seu!!!!

Eu sou uma fantasia que pode até ser interessante, mas que engana. Tenho noção do peso imenso que carrego e sei que não é fácil aceitá-lo. Então, posso entender que essa é uma razão para termos um prazo de validade curto. Aceito que estejamos tão perto dele, por isso acho que é muito mais justo que saiba do resto, que vai além de um ex-namorado que não conseguiu aceitar o fim e uma relação abusiva.

Decidi fazer isso por você, Alex.

Queria ter contado logo depois de ler a sua linda história de amor com Lavínia, mas seria um anticlímax tão grande que eu desisti do email sem nem tê-lo escrito. E se quer saber, eu senti uma pontinha de inveja por não ter uma história de amor maravilhosa quanto aquela. Sou uma pessoa má e pior ainda por contar. Eu sei! Ter algo assim sempre foi o meu maior desejo, mas desejos e escolhas são coisas totalmente diferentes.

Alexandre não foi o meu primeiro namorado ruim. Quero dizer, antes dele houve outro que também não me tratava muito bem, mas eu era nova demais para entender. Revivendo outras lembranças, dos relacionamentos que vieram depois, percebi que nunca foi simples e tranquilo. A indiferença, a impaciência e até a manipulação sempre foram acessórios em todos eles.

Sabe quando dizem que as ações de uma pessoa podem ser entendidas depois que você escuta a história delas? É verdade. Tudo isso começou antes mesmo que eu pudesse entender alguma coisa. Antes mesmo de eu existir.

Reginaldo, meu pai, era pelo menos vinte e cinco anos mais velho do que a minha mãe. Ele era casado e tinha uma família, mas supostamente se apaixonou pela aluna brilhante do curso de zootecnia. Foi algo magnético e rápido. Eles estavam pensando em dar um tempo, porque Reginaldo não ia acabar com o casamento dele, mas Lis engravidou. Eu nunca cheguei a conhecê-lo, porque ele sofreu um infarto fulminante, semanas antes de eu nascer e esse é um fato muito relevante que faz essa história ter sentido. Porque Lis, minha mãe, ficou sozinha para lidar com tudo.

A quem culpar pela morte de um grande amor? Você pode entender muito mais do que eu, mas aqui o caso é diferente. Ela poderia ter culpado o tempo, a vida sedentária dele, a situação complicada do relacionamento ou até a si mesma, mas era melhor responsabilizar o bebê indesejado que não podia reclamar.

Foi assim que passei parte da infância: com a responsabilidade de ter matado um pai e com o peso do desprezo, por quase dez anos, de uma mãe viva.

Eu entendo que a morte de Reginaldo transformou a vida dela, mas, muito mais do que isso, sentenciou a minha. Lis e eu nos resolvemos com o tempo e muitas sessões de terapia, mas eu ainda sinto o jeito que ela me olha às vezes, com se estivesse vendo ele. Eu sei o quanto ela ainda sente mágoa por Reginaldo não estar aqui.

Todo esse peso vai se afundando em mim a ponto de me deixar sem ar. Sabe quando uma crise de falta de ar aparece sem que você tenha feito qualquer esforço? Mas não é asma, é só uma sensação psicológica de sufocamento. Foi tentando evitar estar sempre sufocada que eu sai desesperada à procura de pessoas para manter por perto, mas eu nem sempre tenho um bom imã. Vic e Leo são exceções e talvez você.

Assim, acabei com tantos namorados ruins, mesmo que nenhum deles tenha sido como Alexandre.

Eu fico pensando que o problema não pode ser sempre dos outros, talvez tenha algo de errado comigo também. Talvez eu seja só alguém difícil de amar, que gosta de coisas complicadas e que já está tão acostumada a ser maltratada que inconscientemente procura por isso.

Não, não estou justificando as ações de Alexandre. Eu o odeio, principalmente, por ter me ajudado a ser alguém de que não gosto e por ter me usado de um jeito cruel.

Também não quero passar a imagem da coitadinha sofredora. Não é isso, Alex. O que quero dizer é que posso entender que o seu interesse tenha desaparecido. É justo!

Me vejo o tempo todo fazendo as escolhas erradas e pedindo desculpas ao tempo por estar sempre perdendo. Fiz uma escolha errada naquela noite e não posso ser perdoada. Então, eu te deixo desistir. Sobrevivemos por tempo demais nessa coisa estranha de emails.

Vê que faz algum sentido quando eu digo que não somos uma boa perspectiva?

Você é incrível e não merece ficar esperando na mesa arrumada de um bistrô por alguém que pode simplesmente não aparecer.

Com amor,
Lena
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Vinte e nove minutos depois...

De: lena.jun@mail.com
Para: alex.veiga@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Alex????

Esteja aí ainda, por favor,
Lena
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De: alex.veiga@mail.com
Para: lena.jun@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Achei que tivesse me despedido no último email, mas estou aqui ainda. Meio sonâmbulo e meio acordado, eu continuo lendo você.

Só precisei de um tempo para assimilar e também para reler algumas partes.

Eu disse que o sono me impede de ser coerente, mas está mesmo me dizendo que eu devo desistir de você, porque tem um histórico duvidoso de ex-namorados e problemas na família? É esse o grande motivo pelo qual eu devo justificar a minha suposta perda de interesse em você e em um novo encontro?

Isso é tão louco quanto parece ou sou eu que estou com dificuldade de entender?

Lena... Você é a pessoa mais incrível que já conheci através de emails, não que já tenha conhecido muitas pessoas desse jeito. E ninguém nunca foi tão envolvente e irresistível.

Não sei o que faço com você! Ou comigo quando estou com você.

Certo, ainda sobre o seu email, não são argumentos válidos e muito menos convincentes. Vai precisar de esforçar um pouco mais.

E já que você tocou no assunto problemas de família, sinto dizer que sou filho de um músico famoso e de uma groupie louca. Eu e meus irmãos sempre vivemos à sombra disso. As datas no calendário de turnê da banda eram mais importantes do que os nossos aniversários e o empresário e os outros musicos sempre foram uma presença desconfortável e problemática. Nunca tivemos viagens ou reuniões em família sem que fosse um evento midiático e você pode acreditar que isso também me levou a querer me afastar de tudo isso assim que pude.

Isso sem falar que a minha tentativa de construir uma família foi um completo fiasco.

Não quero que ache que estou menosprezando sua história, o que quero dizer é todos temos histórias complicadas e cicatrizes que precisamos carregar. Faz parte de nós, mas é preciso seguir em frente.

Eu consigo ver o passo enorme que deu em relação a Alexandre. Não se esqueça de que eu acompanhei o dilema da jaqueta e tudo o que aconteceu depois. Devia se orgulhar e não sentir culpa.

Sem pedidos de desculpa, se lembra?

Eu sinto muito pelos seus pais, imagino o quanto tudo isso foi doloroso e ainda é.

Nunca desejei tanto ser o gato morto-vivo para estar bem aí do seu lado quanto agora. Ainda posso consolar você, mesmo com os olhos quase fechando e sem forças para chegar até a cama.

Aposto como você me despertaria bem rápido.

Então, Lena, arranje outro jeito para se livrar de mim.

OBS: Meu aniversário foi no dia 28 de abril.

Com amor,
Alex
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De: lena.jun@mail.com
Para: alex.veiga@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Mas apesar de tudo, ainda não quer sair comigo. Por que?

Por favor ainda esteja acordado,
Lena
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De: alex.veiga@mail.com
Para: lena.jun@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Será que você pode ser um pouquinho razoável comigo?

Com amor,
Alex
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De: lena.jun@mail.com
Para: alex.veiga@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Não, Alex, não posso ser razoável enquanto não me disser que está evitando um novo encontro, porque nosso prazo de validade está perto do fim e eu sou complicada, confusa e pesada demais para valer o risco.

Lena
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De: alex.veiga@mail.com
Para: lena.jun@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Tudo bem.

Helena, você é demais para mim. Não pesada demais, embora confusa e complicada, mas quem disse que não gosto? Você é demais para mim, porque é mais do que acho que mereço.

E eu não estou evitando encontrar você por termos um prazo de validade  (não sabia que éramos produtos perecíveis) e estar considerando os riscos. Deixei de avaliar qualquer risco no dia em que você mandou aquele email por engano pela segunda vez.

Preciso dizer mais alguma coisa ou já estou liberado?

Com amor,
Alex
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De: lena.jun@mail.com
Para: alex.veiga@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Não, ainda não está liberado.

Também não foram argumentos convincentes! Preciso ouvir você dizer, Alexandre. Na sua voz, com as suas palavras.

Eu sei que Vic deu meu número pra você.

Quero acabar com isso de uma vez,
Lena

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De: alex.veiga@mail.com
Para: lena.jun@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Quer falar comigo agora?

Tem certeza?

Não estou muito coerente e vou bocejar no meio de cada frase.

OBS: Você acabou de me deixar acordado e nervoso.

Com amor,
Alex
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De: lena.jun@mail.com
Para: alex.veiga@mail.com
Assunto: RE: Precisamos conversar

Eu tenho certeza, Alex.

Não me importo com seus bocejos, se não se importar com minha voz de choro.

Sei que não estou fazendo sentido, aliás, quando é que eu faço sentido?

Você deve estar me achando meio doida. Estamos atravessando a madrugada e não quero te deixar dormir. Acho que estou mesmo meio louca por você.

OBS: Eu também estou.

Lena

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