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Caminhando como se estivesse perdido, Yoongi meditava sobre qual direção seguir. A mensagem de socorro de MI-Cha continuava lá. Ele não tinha certeza se deveria ir até ela ou até onde pretendia ir. Uma coisa era certa: O garoto não estava disposto a fugir ou simplesmente acabar com a própria vida. Não, ele não faria isso. Antes de tudo, resolveu acabar com as dúvidas e todo o mal que Tae, o patinador dele, poderia carregar.
Seu intuito era ir direto à delegacia de polícia mais próxima. Falaria tudo o que sabia – ou o que queria falar. Já que ninguém havia chegado ao autor do acidente que matou Yuju, seria ele, Yoongi, que se autointitularia como autor. Antes que qualquer prova ou investigação apontasse para o irmão. Ele o protegeria.
Neste ponto, vale a pena discutir como o destino pode ser engraçado – para quem acredita nele. Dizem que fazemos o nosso próprio destino. Isso pode ser verdade. Pode ser verdade, também, que quando alguém decide mudar as coisas, influencie no destino de outra pessoa. Agora que isto está esclarecido, talvez seja possível entender o que aconteceu quando Yoongi ainda tinha dúvidas sobre que caminho seguir.
Mi-Cha enviava mais uma mensagem.
"Yoongi, estou na sala que guarda os artigos esportivos da escola. Por favor, me ajude. Eu te imploro. É a minha única esperança.."
Foi aí que, mudando o próprio destino, Yoongi resolveu ir até a escola.
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Taehyung acordou.
"Ótimo!", pensou, "de novo no hospital!". As costas dele doíam um pouco, mas respirava melhor. Por isso, tirou o aparelho de oxigênio do rosto, sentando-se na cama e olhando para as paredes claras. Estava sozinho dentro do quarto de hospital. Então, como se um flash de lembranças voltasse à sua mente, recordou-se do lugar de paredes brancas e de Yuju, naquilo que poderia ter sido um sonho enquanto se afogava.
— Yoongi não o atropelou. — disse convicta a si mesma. — Ele não atropelou Yuju...
Não sabia se estava lúcido ou não. Se estava ficando louco, que se dane! Estava cansado! Por isso, saiu da cama do hospital sem nem se dar conta de que vestia um roupão verde água exclusivo para pacientes.
— Ele não atropelou Yuju... — repetia.
Abriu a porta do quarto. O corredor parecia ser mais extenso do que se lembrava – se é que já esteve naquela ala.
Olhou para os lados e continuou a caminhar. Até que chegou na recepção. Viu seus pais, Jungkook, Minhyuk, Hoseok e inclusive SinB. Todos se levantaram dos bancos de espera, olhando atônitos para Taehyung. Obviamente seu cabelo deveria estar bagunçado e, dadas suas condições, aparentava como alguém que havia fugido do manicômio. Mas não se importou com isso.
— Onde está Yoongi?
Todos se entreolharam. No mesmo momento, viu Jimin chegar. Tae arregalou os olhos, surpreso por vê-lo ali, em pé. Ele realmente estava recuperado e sua felicidade só não seria maior, porque não via o boneco de neve.
— Garoto sorriso.
— Jimin! — correu até ele, o abraçando.
Um enfermeiro tentou se aproximar, mas foi afastado pelo pai de Tae, dizendo para que o deixasse ali. Ao menos por enquanto.
— Eu preciso falar com o Yoongi. — balbuciou.
— Eu o vi. — Jimin se desvencilhou dos seus braços. — Eu falei com ele, garoto sorriso. Agora está tudo bem. Ele mandou dizer que o ama.
— Jimin, eu preciso falar com ele. Onde ele está? — olhou através dos ombros do garoto, tentando procurá-lo. Mas não o via. — Onde ele está, Jimin?
— N-não sei... Ele simplesmente disse que precisava ir e...
— Preciso encontrar ele...
Afastou-se, continuando a correr pelo corredor. Definitivamente, estava mesmo ficando louco. Mas era necessário um pouco de loucura em razão da situação.
— Amuleto! — Hoseok gritou, correndo atrás de Tae junto com os outros.
— Eu preciso encontrá-lo!
Correu mais ainda, desviando-se de qualquer um que aparecesse à sua frente. Era como se estivessem o caçando, por isso, evitou até mesmo olhar para trás. Não sabia para onde iria, só queria encontrar Yoongi. Diria saber que ele não era assassino. Que confiava nele. Que o amava. Que tudo ficaria bem.
Alguns médicos e enfermeiros até surgiram em sua frente, mas conseguiu escapar, até ir por uma das escadas de emergência do hospital e entrar na zeladoria. Quando estava próxima à saída, olhou para trás. Ao longe viu o que parecia ser um comboio de gente querendo alcançá-lo.
Aguentaria mais um pouco. Taehyung tinha o coração de Yuju, deveria ser forte.
Saiu pelos fundos do hospital, deparando-se em uma calçada. Olhou para os lados, tentando achar algum sinal; alguma coisa que a levasse à Yoongi. Onde ele deveria estar... Onde?
Sentiu a adrenalina tomar conta de seu ser, com uma vontade imensa de chorar e gritar por Yoongi.
— ONDE VOCÊ ESTÁ, YOONGI? — gritou.
Algumas pessoas que passavam por perto, se afastaram, dando olhares estranhos ao garoto. Em uma atitude desesperada, correu até o parque perto do hospital, mas ele não estava lá.
Droga. Droga. Droga.
E se ele cometeu alguma besteira? Não, ele não poderia fazer isso!
— Eu preciso de uma luz...Eu preciso...
Em uma atitude desesperada, ergueu o rosto para o céu, olhando para as nuvens que lá se formavam. Então, como se sua consciência falasse, lembrou-se da primeira vez que o viu.
Escola. Taehyung era o garoto esquisito e depressivo de quem Yoongi esbarrava e derrubava os cadernos. Será que poderia encontrá-lo lá? Olhou para atrás e percebeu uma movimentação fora do hospital. Um dos seguranças inclusive apontou para si.
Era hora de correr.
Chegou ao colégio com o corpo dolorido. Seu corpo a todo instante pedia para parar, mas Tae não parou.
A escola estava vazia. Fazia algumas horas que as aulas tinham terminado. Por sorte, o portão estava aberto para aqueles alunos que decidem ir à biblioteca ou treinar em um dos ginásios.
Procurou Yoongi na quadra de basquete, na pista de patinação, mas não o encontrou. Então, decidiu entrar em um dos prédios. Caminhou pelos corredores de salas de aula, tendo como intuito, o procurar até mesmo na sala pequena que guardava artigos esportivos. No entanto, seus pés se enterraram no piso assim que avistou uma sala em especial, bem perto de um alarme de emergências. Olhou para o letreiro acima da porta, lendo o inscrito:
"Sala A – 102"
Sentiu o corpo tremer por inteiro. Era a sala que Yuju havia dito no sonho que não gostava. Mas era a sala de física, por que justo aquela sala?
— Está perdido?
Sentiu uma mão repousar sobre seu ombro. Assim que se virou, deparou-se com o professor Hang.
— Está tudo bem? — ele percorreu os olhos em seu roupão de hospital.
— Estou...— deu um passo para trás, fazendo com que as mãos dele se afastasse de si.
— Tem certeza? Não parece estar bem...
Olhou para ele com mais atenção e percebeu um fio de sangue crescer nos lábios dele. Era um corte, como se ele tivesse se machucado... Ou como se alguém o tivesse machucado.
— O senhor que não parece estar bem, professor Hang.
— Ah, isso? — ele apontou para a boca, dando um sorriso. — Foi só um corte. Venha, vou ajudá-lo. Irei te levar ao hospital.
Pensou se daria um passo à frente ou não. Tae nunca gostou do professor de física. Ele sempre foi ríspido durante as aulas e, demonstrar-se tão solícito naquele instante chegava a ser assustador.
Não obstante, o silêncio no corredor lhe ajudou a ouvir alguns ruídos abafados, que vinham do final do corredor da escola... Parecia ser da sala de artigos de esporte.
— Vamos, vou te levar ao hospital. — ele repetiu.
Tae não disse nada, até prendeu a respiração, só para tentar ouvir mais algum barulho. Foi então que, em um som quase inaudível, ouviu um "patinador". Não estava louco, era mesmo Yoongi. De alguma forma ele poderia estar preso lá.
— Não parece estar bem, vamos sair daqui. — O professor Han deu um passo à frente.
Sua atenção se dirigiu rapidamente à porta da sala. " Sala A- 102". Seu coração bateu ainda mais forte.
— Yuju não gosta dessa sala... — disse.
— Yuju? — Hang franziu a testa, assustado. Olhou para Tae com a boca entreaberta.
Poderiam até dizer que estava imaginando coisas. Poderiam taxá-lo como louco, o que fosse. Quem sabe, fosse se sentir como Harry Potter, no momento em que Voldemort mata Cedrico e ninguém acredita no garoto que o Lord das trevas havia voltado. Mas assim como Harry, ao olhar para a expressão do Professor Hang, por mais que as pessoas não acreditassem, teve certeza de que Yuju realmente havia lhe dado pistas.
Ainda não sabia como... Mas Taehyung teve certeza que foi o professor Hang.
Ele havia atropelado Choi Yuna.