P.O.V. Nico
- Bem, o mundo está uma zona - foi o que consegui dizer.
E essa era a maior verdade que já saiu da minha boca. Estávamos sentados na sala de reuniões do Olimpo. De um jeito macabro, éramos a nova ordem mundial entre os deuses. E, por Hades, como haviam coisas para resolver.
Não sei o porque, mas meu pai e os outros deuses não aceitaram suas funções divinas: renegaram seus cargos e títulos, e se tornaram apenas cidadãos da única cidade divina dá Terra: Phoenix (ideia do Percy... Renascimento e bla, bla bla...).
Essa foi a primeira bomba. Como os deuses saíram em batalha, os exércitos de Caos atacaram os palácios divinos para destruírem as fontes de poder dos deuses. A sorte foi que o plano de Odin previa esta contingência. Todas as fontes de poder dos deuses de cada panteão, por menor que fosse (como os deuses da Guiana Francesa, que eu nem sabia que existiam), estavam salvas em Etherion, a dimensão da deusa Alana.
Infelizmente, isso nos deixava com milhões de deuses sem moradia, todos eles amontoados no Olimpo. Apartamentos luxuosos foram erguidos sob a supervisão de Annabeth e Athena, para acomodar todos os deuses. Parecia que o mundo divino agora era um único panteão.
Isso era...
- Isso é fantástico! Essa união é a chave da prosperidade do nosso planeta!
Suspirei resignado.
- Grace. Por favor. Cale a boca.
Ele me olhou confuso.
- Nico, o que temos aqui é uma chance enorme de...
- Por favor, não contrarie o cabeça de águia. Lembre-se dos desmaios - divertiu-se Léo.
Jason ficou vermelho, enquanto Magnus chorava de rir. Uma batida no chão ecoou pela sala.
- Basta!
Todos olhamos para Percy, que guardava o tridente dele. Ele mudou nos últimos dois dias. Estava sério, tenso e sombrio. Sei, é irônico isso vindo de mim, mas é a verdade. E não era só ele. Annabeth estava mais desleixada do que nunca, e nem mesmo a insistência de Piper de que a primeira dama da nova teogonia deveria lembrar de pentear o cabelo adiantava. Havia mais vida nos soldados mortos do mundo inferior do que no rei e na rainha do Olimpo.
Percy olhou cada um de nós.
- Recaiu sobre mim a obrigação de salvar o universo. E todos sabemos que a chance dá minha vitória é ínfima. Se não pensarmos em algo, seremos aniquilados.
- Então, só por isso, devemos agir como idiotas sombrios e ficar com cara de morte até a batalha? Retrucou Magnus, que parecia ter herdado o humor e irritação do Deus nórdico do trovão.
- Magnus está certo, Percy - disse Hazel, ao meu lado. - Você sempre foi o elo para nós, em todas as situações difíceis. Não pode se dar por vencido agora.
Carter Jr. concordou, acenando com a cabeça.
- Desde que sou pequeno meu pai conta da sua bravura e energia contagiante, Percy. Mesmo frente aos maiores desafios, você nunca desistiu. Vamos dar um jeito nisso.
- Como? Rebateu Annabeth, visivelmente aflita. - Caos é o senhor de tudo que existe. O senhor absoluto da criação.
- Você está equivocada Annabeth - respondeu Sadie. - Isfet é o senhor do Caos. Mas a senhora da criação é Maat. E ela está do nosso lado.
- Mas está sem poderes - ponderou Kisha.
- Sim - disse Nara. - Se tivesse poderes para enfrentar Isfet, não delegaria essa responsabilidade ao Percy.
Hazel suspirou.
- Esse deve ser o pior conselho de deuses do mundo.
- Na verdade - disse uma voz profunda, nas portas do Salão dos Deuses -, vocês ainda não pegaram em armas para destruírem uns aos outros. Estão indo muito bem, em meu ponto de vista.
Todos viramos para ver um velho corcunda entrando, apoiado em um cajado. Vestia uma túnica branca, simples, com um cordão amarrado na cintura. Sua longa barba branca e a pança proeminente lembrava o Papai Noel, se bem que eram vários os deuses que tinham essa aparência.
Porém, o ar ao redor dele se destorcida levemente, e o poder da sua aura era impressionante.
Ele entrou no meio do salão e fez uma profunda reverência.
- Salve, Conselho de Phoenix. Eu, Chronos, Deus antigo do tempo, vim jurar vassalagem, como dita a tradição. Meus poderes, meus súditos e meus conselhos são seus, se assim o quiserem.
Percy apertou os olhos.
- Você não é Cronos.
Annabeth tocou a mão dele levemente.
- Percy, este é o deus Chronos, não o titã Cronos. Ele já era lorde do tempo muito antes do Cronos com quem lutamos nascer.
- Isto é verdade, minha lady Annabeth. Sou o que sou a inúmeros milênios. Pode-se dizer que fui criado junto com os deuses antigos, talvez um pouco antes.
Ele falava com eloquência, descontraído, mas seus olhos tinham um brilho como... como se estivesse empolgado com aquela visita.
- Por que se apresentar apenas agora? Por que não ajudou na batalha? Questionou Annabeth.
- Minha senhora - disse Chronos, fingindo-se de ofendido -, eu ajudei. Pesquisei uma maneira de sairmos dessa situação na Biblioteca do Infinito.
Percy quase saltou de seu trono.
- Sério? Você esteve lá?
- Sim, me senhor. Certamente!
Eu odeio não saber do que as pessoas estão falando. E pelo visto, não sou o único.
- O que é essa biblioteca? Perguntou Carter pai.
- Meu senhor Carter, a Biblioteca do Infinito é um local entre dimensões, onde é retido todo o conhecimento do universo.
Ficamos em silêncio. Pela cara de Annabeth, ela devia estar a imaginar como chegar lá e que assuntos pesquisaria primeiro.
Olhei para Percy, lembrando do pergaminho que ele me mostrou, contando o início do universo de uma maneira que não conhecíamos. Depois que conhecemos Alana, as coisas ficaram mais fáceis de entender, mas mesmo assim, tinham muitas peças faltando.
- Como você teve acesso a esse lugar? Perguntou Piper.
- Tirou as palavras da minha boca, rainha da beleza - disse Léo.
- Léo, pare de me chamar assim!
Calíope se mexeu desconfortável em seu trono. Ainda não tinha se acostumado com o lugar que lhe demos no conselho.
- Mas, hum... Piper, sendo deusa da beleza, você não seria realmente a rainha da beleza agora?
Ficamos quietos por três segundos, até que gargalhadas romperam de todas as gargantas naquela sala. Inclusive Bessie, o ofiotauro, magia em sua bolha mágica como se estivesse gargalhando.
Até Percy é Annabeth riram, o que serviu para quebrar o clima tenso dos últimos dois dias.
Passando um pouco a euforia, Percy olhou novamente para Chronos.
- Bem, Chronos, descobriu algo que possa me ajudar?
Os olhos de Chronos brilharam novamente.
- Bem, majestade, existe algo que pode ser feito.
Ele tirou um pergaminho enrolado e entregou a Percy. Pela cara do novo rei do Olimpo, era muito parecido com o que Emily tinha dado a ele. Lembrar dela fez minha garganta apertar, mas engoliu os sentimentos. Isso teria que acontecer depois.
Percy fitou o pergaminho enquanto ficávamos em uma expectativa muda. Por fim, entregou a Annabeth e pediu que lesse em voz alta para todos.
Ela apertou os lábios e começou a ler.
- A Trindade Alpha é formada pelos três seres primordiais do universo. Os três são filhos de AKA, gigante primordial e sua esposa MONA, rainha primerva.
"O primogênito do casal se chamou Không, lorde do vazio primordial e senhor dos abismos. Dizem que todo abismo sem fim, existente no universo, leva aos domínios de Không. Tomou como esposa Katara, filha de seus sobrinhos Equilibrium e Kataly. Teve vários filhos e filhas, mas entre eles se destacaram Gaia e Urano, mestres da terra e do céu, pais dos Titãs.
Depois de Không nasceu Isfet, lorde do caos e mestre da maldade. Vagou pelo infinito por tempos incontáveis, pois este ainda não fora inventado. Até que se viu diante de um ser que até então não conhecia. Ela se apresentou como MAAT, lady da ordem e mestra da bondade, também filha de Aka e Mona , portanto, sua irmã.
Tudo em Maat atraia Isfet, talvez pelo dato de serem antônimos um do outro. O senhor do Caos exercia a mesma atração em Maat, o que os fez apaixonarem-se.
Desta união nasceu EQUILIBRIUM, que herdou a bondade e a ordem da mãe, mas também a maldade e o caos do pai. Se tornou então o mestre da justiça e da retidão, mestre do equilíbrio.
Um terceiro ser, vindo dos confins do cosmos, chamou a atenção de Isfet. Seu nome é INFERIA, a rainha do caos, senhora da maldade absoluta, dominadora da magia das trevas. Sua natureza era fascinante, e sua beleza majestosa.
Com ela, Isfet teve NGUÓI e KATALY, os primeiros gêmeos da história do universo. O garoto se tornou senhor da maldade e da vingança, para orgulho de Isfet. A garota, por outro lado, era a primeira mestra do amor e da justiça, o que fez com que fosse exilada do Reino das Trevas, morada de seus pais.
Encontrou abrigo justamente na maior inimiga de sua mãe: Maat. A lady da ordem a criou como filha e, quando descobriu que Kataly e Equilibrium se amavam, abençoou a união dos dois.
Desta união nasceu KATARA, primeira dominadora elementar. Dela nasceram os quatro elementos do universo (terra, fogo, vento e água), criados a partir do ÉTER, o elemento primordial criado por Equilibrium.
Foi quando a jovem chamou a atenção de Không. Ambos se apaixonaram e deles nasceram alguns dos mais importantes lordes da história de Etherion: Gaia, Urano, Tártaro, Érebo, Nix e Eros.
Depois de seus filhos terem crescido, Không e Katara se exilaram do contato com sua família, se retirando para os confins do universo.
– Primeiro conselheiro da Biblioteca do Infinito, Tot – Os Relatos do Alpha Universal, versão resumida."
O silêncio era tão intenso que era quase palpável. Todos nos olhávamos sem colocar em palavras o que aquelas palavras significavam. Foi o próprio Chronos, que estava tão quieto que esquecemos de sua presença, quem disse-nos o que se tornou nossa única esperança.
- Bem, lordes e ladys, creio que, se conquistarem o favor de Không, senhor dos abismos, podem conseguir uma solução para nossos problemas.
- Então - disse Jason -, teremos que viajar para o universo de Alana.
- Não - disse Percy. - Eu irei ao universo de Alana. Sou eu quem enfrentará Isfet, então, eu devo conseguir o favor dele.
- Isso será um pouco difícil, meu senhor.
- Porque diz isso?
- Porque, o caminho para o reino de Không é uma via de mão única. Aquele que for interceder o favor do senhor dos abismos, não voltará com vida. Na verdade, não voltará.