A sua espera

By autorarearaujo

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Lia estava com tudo planejado. Se formaria em seis meses e se casaria em sete com Eduardo, seu namorado desde... More

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EPÍLOGO
Minhas Obras

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By autorarearaujo


Capítulo 1/2

Gabriel

Quase rezei para que minha tarde voasse. Havia ficado um clima estranho entre eu e Lia. Queria reverter isso, não gostava de ficar sem falar com ela, mesmo que fosse por algumas horas. Mandei algumas mensagens, mas não recebi nenhuma resposta.

E entendia seus motivos. Não devia ter escondido que às vezes me encontrava com Mel para almoçar. Mas não foi intencional quando não falei a verdade, apenas não queria criar um atrito maior entre elas, porque eu sabia como Mel era.

E em relação a Mel, eu iria ter uma conversa séria com ela. Não me incomodava tanto os seus comentários maldosos quando estávamos sozinhos, mas eu não poderia aceitar que isso acontecesse quando Lia estivesse presente.

Manu havia me pedido para ir embora mais cedo e como percebi que ela estava triste, a liberei. Faltava apenas uma hora para que eu pudesse ir para casa, então não me incomodei em ficar sozinho.

Houve uma batida na porta e não me importei em perguntar quem era.

— Pode entrar – falei sem levantar o olhar de uma papelada que estava dando uma revisada para outro projeto que ainda não tinha data de início.

— Agora entendo porque você não pede demissão. Essa sala é enorme e tem uma visão privilegiada.

O som da voz de Eduardo me fez erguer o olhar em direção à porta. Estava vestido em um terno e gravata, como se tivesse participado de uma reunião. Trazia com ele seu sorriso cínico.

— Como entrou aqui?

— Pela porta? – ele riu – desculpe, não resisti. Informei à portaria de que era seu irmão. Não havia ninguém na recepção, então resolvi arriscar.

Eduardo desabotoou os botões do terno e sentou na cadeira à minha frente.

— Devo dizer que você fica muito bem atrás dessa mesa, mesmo com esse estilo despojado.

— Tenho total liberdade para me vestir como quiser.

— Uma vantagem de vir de uma família como a nossa.

— Meu lugar nessa empresa não tem nada a haver com meu sobrenome.

Eduardo riu.

— Sempre tem.

Apertei minha mandíbula para conter minha raiva.

— Acredito que você não veio aqui para falar do nosso sobrenome...

— Você está certo. Tirei o dia para fazer algumas visitas, cuidar de negócios inacabados... Ver meu irmão.

— Por quê?

— Você já deve saber.

— Lia...

— Exato. Deveríamos ter conversado no sábado quando cheguei ou no domingo, mas vocês fugiram.

— Nós não fugimos.

— Que seja. A questão é que voltei e descobri que meu irmão se apossou de algumas coisas que pertence.

— Vamos mesmo falar sobre isso? Não me faça rir dessa piada.

— Lia é minha, assim como minha filha.

— Lia não é sua, muito menos Valentina...

— Ela é minha filha e qualquer exame de DNA pode confirmar isso.

— Posso não ser o pai biológico, mas fui eu quem esteve acompanhando ela desde os primeiros meses de gestação.

— Um pequeno detalhe que pretendo resolver com a Lia.

— Você não vai chegar perto da Lia – falei me levantando.

— E é você que vai me proibir?

— Você já não casou muita dor para ela?

— Todo mal quando não é intencional pode ser perdoado.

— Acha mesmo que deixar a noiva e fugir sem deixar o paradeiro é algo que se pode perdoar?

— Admito que errei ao não falar onde estava, mas precisava de um tempo.

— Tempo? Quase um ano fugindo da sua família e da Lia... Isso é tudo o que tem para falar? Tem ideia de como foi difícil para ela?

— Eu sei que não foi fácil, mas estou muito arrependido do que fiz. Quero uma chance para conserta as coisas, e...

— E o quê? O que acha que vai acontecer agora?

— Eu e Lia iremos conversar assim que ela se acalmar.

— E você acha que vai ser fácil assim?

— Por que pergunta isso? Por sua causa? – Eduardo riu – acha mesmo que está permanente na vida dela?

— Eu não acho, tenho certeza. Enquanto você estava procurando uma resposta para sua vida, eu estava juntando os pedaços do coração dela.

— Você foi sempre tão prestativo. Depois de anos ignorando sua família resolveu voltar justamente quando eu saí de perto para cuidar do coração partido da sua paixonite.

— Não é paixonite e você sabe disso. Aproximou-se da Lia para me provocar, para disputar como tanta outras vezes fez. Você nem gostava dela.

— Isso é verdade. Ela era uma garota irritante – Eduardo pareceu pensativo – mas foi preciso apenas uma hora com ela para perceber o quanto Lia era encantadora e madura.

— Tão encantadora que a deixou meses antes do casamento.

— Não se pode voltar ao passado, mas estou disposto a lutar para que ela me perdoe.

— Não pense que vai conseguir envolvê-la com suas mentiras.

— Não sou eu quem mentiu para ela.

— Do que você está falando? Nunca menti para Lia.

— Tem certeza? Antes de afirmar qualquer coisa pense direito.

— Chega de jogos aqui.

— É você que está jogando uma partida que não vai vencer. Lia me ama e não será alguns meses afastada de mim que mudará os sentimentos dela.

— Aí é que você se engana.

— Se eu fosse você não teria tanta certeza.

Eu poderia apostar minha carreira de que Eduardo estava aprontando alguma.

— Se falou tudo que tinha para falar, pode ir embora. Ainda tenho muito trabalho para fazer.

— Tenho muitas coisas para falar, mas por hora basta saber que vai perder Lia... De novo.

— Dessa vez é você quem precisará ter cuidado. Não vou desistir da Lia sem lutar.

— Por mim tudo bem. Mostre-me todas suas armas, mas sabemos com quem ela ficará no final. Eu sempre venço. Sempre.

Eduardo se levantou da cadeira, abotoou o palitó e se encaminhou para a porta.

— Esse é um jogo perdido para você. Achei que deveria saber.

Minha vontade foi esquecer toda a minha educação e partir para a violência, mas sabia que essa não seria a solução para tudo. Lia merecia muito mais do que duas pessoas brigando como moleques.

Quando finalmente chegou a hora de ir para casa, guardei minhas coisas, desliguei o computador, tranquei a sala e segui para o elevador. Tentei ligar para Lia, mas a chamada foi direto para a caixa postal.

Iria precisar de algo pra usar como arma de reconciliação. No caminho para casa, passaria em uma loja para comprar chocolate, os preferidos de Lia.

Guardei o carro na garagem e segui para casa. Quando abri a porta, o silêncio tomava conta do ambiente. Esperei ver Lia e Valentina na sala, sentada no sofá, como fazia todos os dias quando eu chegava em casa. Havia virado um hábito.

Mas nem sinal das duas. Passei pela cozinha, mas também não estava lá. Estava saindo da cozinha quando me deparei com um buquê de rosas vermelhas jogadas no lixo.

Segui para o único lugar onde eu tinha certeza de que a encontraria. Ao me aproximar, ouvi a voz de Lia. Ela estava cantando uma música de ninar para Valentina. A porta estava aberta, então fiquei encostada na parede e fiquei observando as duas. Era uma linda fotografia real da vida.

Lia sentiu minha presença, mas não ergueu o olhar em minha direção. Minutos depois, Valentina foi colocada no berço e Lia saiu do quarto, passando por mim sem dirigir uma palavra.

Ok, eu merecia.

— Eu sei que deve estar bem chateada comigo e com toda razão...

— Que bom que você é capaz de admitir isso – disse indo para o guarda-roupa e puxando uma camisa com a estampa da Mônica.

— Encontrei rosas jogadas na lixeira... – falei tentando aliviar o clima.

— Eu sei. Fui eu quem as jogou lá.

— Quem te mandou flores?

— Seu irmão – disse como se não tivesse falando de Eduardo.

— O quê? Como ele...

— Esteve aqui algumas horas atrás.

— E você deixou que ele entrasse? – perguntei sentindo o tom de a minha voz aumentar.

— Quer falar baixo? Demorei em conseguir fazer com que Valentina dormisse.

Fechei a porta e voltei a encará-la.

— Por que convidou ele para vir aqui?

— Como se ele precisasse de um convite para alguma coisa. Ele simplesmente apareceu.

— E?

— O que você esperava que eu fizesse?

— Que o mandasse embora.

— Por que eu faria isso?

— Porque nós temos um bom motivo para isso.

— Temos? Ou seria porque você estava com medo de que ele me contasse a verdade?

— A verdade? De que verdade está falando?

— São tantas que você pode até escolher.

— Eu não sei do que você está falando.

— Ah, não sabe?

— Eduardo andou inventando mentiras e você acreditou?

— Então é mentira que você recebeu um convite para retornar para o Japão?

— O quê? Como ele ficou sabendo?

— Então não é mentira?

— Não...

— Você escondeu isso de mim, como escondeu seus encontros com sua amiga.

— Não foram encontros... Foram alguns almoços. Eu admito que errei ao não lhe contar, mas foi pensando no nosso bom relacionamento que evitei falar sobre isso. E quanto ao convite, ele aconteceu, mas eu não aceitei...

— Vai me dizer agora que foi por minha causa?

— Claro que foi!

— Vamos parar como esse jogo...

— Você me conhece, sabe que não jogo.

— Conheço mesmo?

— Sim, me conhece. Voltei ao Brasil por você.

— Não. Você voltou por causa do Eduardo.

— Em parte sim, mas o motivo maior foi por você. Eu queria saber como estava...

— Claro que queria. Ignorou-me por quatro anos...

— Porque você disse que não queria mais me ver.

— Estava com raiva e você sabe por quê.

— Eu estava apaixonado por você e fiquei furioso quando descobri que estava namorando com meu irmão.

— Você deveria ter me contado...

— E você deveria ter percebido.

— Você era meu melhor amigo. Achei que seu carinho era apenas de um irmão... Depois da nossa briga fiquei péssima e quando fui te procurar, você já tinha partido.

— Porque não entrou em contato comigo?

— Eu tentei, mas você nunca respondeu meus emails.

— Que emails? Nunca recebi nada.

— Eduardo me deu seu endereço de email...

— Claro, tinha que ter o dedo dele no meio. Quando perguntei por você, sabe o que ele me disse? – como ela não respondeu, continuei – ele me disse que você me odiava e que jamais me perdoaria.

— E nunca falei isso...

— Quem é o mentiroso nessa história? Um de nós dois está mentindo. Tenho certeza de que não sou eu.

Lia abriu a boca para falar, mas fechou novamente.


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