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Lia

Estava um pouco receosa por voltar à fazenda onde tinha ido inúmeras vezes com Eduardo. Quando ele tinha uma folga no fim de semana, ele me arrastava para ela, mas nunca passávamos da varanda. Uma única vez consegui com que ele me levasse a cachoeira onde eu e Gabriel fomos uma dúzia de vezes. Acabamos brigando porque Eduardo ficou com ciúmes quando contei nossas aventuras. Depois disso nunca voltamos.

Gabriel havia alugado um carro na cidade, já que resolvemos fazer surpresa para seus avós e não tinha como chegar à fazenda sem um transporte. Metade da viagem, eu fiz em silêncio, me perdendo em meus devaneios. Memórias que eu achava que iria contar para meus filhos, mas com as mudanças, eu teria que substituí-las por outras.

Estava olhando a vegetação verde ao redor da estrada quando senti um toque quente. Olhei para ver Gabriel segurando minha mão, me oferecendo o sorriso que nem em cem anos eu iria esquecer.

- Tudo bem?

- Sim - sorri - apenas admirando.

Voltei a olhar para a paisagem, sentindo que Gabriel esperava mais da minha resposta.

- Você acha que seus avós vão gostar da notícia? - perguntei me forçando a ter uma conversa.

- Se eles vão gostar? Eles vão amar. Será o primeiro bisneto.

Gabriel abriu um longo sorriso.

- Ainda acho que deveríamos ter avisado. E se eles não estiverem lá?

- Para onde eles iriam sozinhos?

Meia hora depois, passamos pela porteira. Havia pessoas trabalhando ao redor, cuidando da mata e outras carregando caixas para o depósito onde eram armazenadas as uvas para a produção de vinho.

Gabriel estacionou e deu a volta no carro para abrir a porta para que eu descesse. Depois pegou nossas mochilas e jogou nas costas, pegando minha mão e me conduzindo para a Grande Casa, como era conhecida a fazenda. Subimos uma pequena escada e logo estávamos no alpendre. Algumas redes estavam espalhadas pelo espaço, costume que eu sempre adorei em fazendas.

A porta da sala foi aberta e nos surpreendemos com a avó de Gabriel. Apesar da idade avançada, ainda estava com seu porte bem segura. Usava roupas simples, diferentes das últimas vezes em que nos encontramos.

- Não acredito que vieram sem avisar - ela disse enxugando as mãos no avental e abrindo um enorme sorriso.

- Queríamos fazer surpresa - Gabriel disse ido abraçá-la.

- E conseguiram.

Dei espaço para que os dois matassem a saudade. Cruzei os braços e fiquei admirando o carinho que os dois tinham um com o outro.

- E você, minha querida, não vai vir aqui me dar um abraço?

Antes mesmo de seguir até ela, dona Rosa já estava vindo me encontrar.

- Que grande alegria vocês me deram hoje. Achei que não a veria mais...

Se dependesse somente de mim, eu teria cortado qualquer contato, mas o destino meio que estava jogando com minha vida. Eduardo havia me tirado da sua vida, mas eu ainda continuaria fazendo parte de qualquer modo.

- Pois é - foi o que consegui falar em meio ao abraço sufocador que recebi.

Olhei por cima do ombro de dona Rosa e troquei um olhar com Gabriel. Ele apenas deu de ombros, como se dissesse "sinto muito".

A sua esperaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora