Herdeiros de Kamanesh

By carlosmrocha

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Cerca de vinte anos após a abertura de um novo elo para as dimensões abissais, e da liberação da praga de mor... More

Aviso de reestruturação/revisão
A Saga está de volta! (Atualizado)
Prólogo
Noite dos Demônios
O guia
Herdeiro de Kamanesh
Um monge teimoso
O Julgamento
Novato
Espectro
Assassinado!
Sentimentos ocultos
Adeus Nathannis
Revelação
Desjejum inesperado
O Jardim de Ailynn
Expulso
Conspiradores da Necrópole
Um bendito aliado
Tomo dos Mil Demônios
Fuga
Espírito Protetor
Conversa com o príncipe
Posto de Arroz
Resolução
Tempo para pensar
Dia de folga
Consequências
Paixão ardente
Investigação
Traição
Possuído
Um grito de socorro
O Plano de Lorcas
Luto
Encontro e despedida
Quatro estrelas
Confiança
Reencontros
O Campeão de Lorual
Infiltrado
Banquete gelado
Kímel Lorual
De volta à Torre Celeste
Raiva sombria
Lições amargas
É seu dever...
O Olho de Uraphenes
Invasão
Progresso
Deixando Lacoresh
Perdão
Revelações
A voz do príncipe
Ordem Real
A Linhagem de Lacor
Mancha marrom
Avanço dos bestiais
O resgate dos Desbrin
Legado de Tisamir
O Embate dos Reis
Epílogo
Continuação

Assassina?

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By carlosmrocha

Tão logo o crime foi descoberto, Kandel isolou a área e mandou buscar o cavaleiro Galdrik. Isto demorou um pouco, pois ele não dormia na guarnição anexa ao palácio, mas sim em sua residência no Bairro das Espadas. Kandel guardava a porta do alojamento pessoalmente, havia agitação na guarnição e muitos dos cavaleiros, escudeiros e soldados da guarda já estavam despertos, a despeito do alvorecer ainda incompleto. Kandel isolou também os corredores, não queria falação perto da cena do crime. O lugar deveria estar o tão quieto quanto possível. A autoridade da Capitã foi suficiente para furar o bloqueio e ela levou consigo o monge Yaren.

— Capitã, Yaren. — a voz de Kandel soou pesada. Ele parecia esgotado, ou talvez, transtornado.

— Conselheiro — ela disse, e não estava nada feliz com a notícia. Henyl era um dos cavaleiros mais capazes dos blackwings. Era casto, compenetrado e talvez o mais habilidoso na conjuração dos sagrados ofícios. Por algumas ocasiões a Capitã buscara conselho junto ao experiente cavaleiro que beirava os cinquenta anos de idade.

— Ele não merecia perecer assim — Kandel deixou escapar, rancoroso. Ele e Henyl se conheciam de longa data.

Yaren tocou-lhe o ombro e olhou-o nos olhos com uma expressão de genuína compaixão. A expressão fechada de Kandel se suavizou por um momento.

A Capitã fez menção de entrar no quarto de Henyl, mas Kandel a segurou com firmeza.

— Não entre! Quero o ambiente livre de perturbações para que Galdrik dê uma olhada.

A Capitã anuiu. Compreendia o que Kandel pretendia. O cavaleiro Galdrik possuía inclinação para o Jii, em especial a habilidade para perscrutar o passado à partir da leitura de ambientes, corpos e objetos.

— Henyl era um sacerdote — revelou Kandel. — Mas quando a crise caiu sobre nós, encontrou disposição para passar pelo treinamento marcial. Eu mesmo o treinei, nos primeiros anos da academia.

— Rezarei para que seu espírito encontre a paz — ofereceu Yaren. Kandel acenou agradecido.

Enquanto isso, a Capitã demonstrava sinais de impaciência. Tamborilava a parede com os dedos e dava passos curtos de um lado a outro. Ela também tinha percepção psíquica e estava ansiosa para examinar a cena do crime. Já era a terceira vítima daquele assassino. E desde que começou a se aprofundar na investigação, com a ajuda de Yaren, sua mente não pensava em outra coisa.

A perda de Nathannis ainda lhe causava dor. E ela fora incapaz de ler as anotações do amigo sem a ajuda de Yaren. O monge havia percebido a fragilidade da Capitã em relação ao cavaleiro. Era difícil consolá-la e optou por não revelar todo o conteúdo das anotações.

"Estou preocupado com ela, mas deveria?" Yaren não mencionara esse trecho à Capitã. "Ela é tão forte e tão bonita... Se ela soubesse que vi seu rosto, acho que ia me matar". E Yaren havia parado para ficar imaginado sob qual circunstâncias Nathannis conseguira ver o rosto dela. A Capitã o escondia de forma obsessiva.

— Ele estava preocupado com você, Capitã. Por ocasião de sua viagem a Lacoresh. Mas expressa aqui também preocupações quanto ao futuro de Kamanesh. Eis o que diz: "Temo que uma guerra esteja próxima. Talvez Lady Kátia devesse assumir o trono no lugar do príncipe. Isto certamente deixaria nossa situação mais estável. Não confio nesses conselheiros; Sei que muitos não hesitariam em vender Kamanesh a quem der a maior oferta".

Ela pensava muito a respeito da hipótese tratada por Nathannis, mas que a maioria dos demais sequer dava crédito. Ele estava gastando um tempo considerável percorrendo o palácio em busca de sinais de um demônio escondido. Ela discutira aquilo com Kandel. O conselheiro não descartava a hipótese, mas também não estava muito convencido da causa dos assassinatos estar relacionada a um demônio escondido no palácio. O trecho que mais impressionava Kandel era a passagem em que Nathannis descreve seu encontro acidental com os conselheiros Yourdon e DeVance.

Yaren havia lido para a Capitã: "Estava no terceiro piso a procura de algum detalhe suspeito, como o que havia encontrado no dia anterior no Salão Azul. Foi quando escutei vozes discutindo na Sala de Mapas. Os conselheiros Yourdon e DeVance discutiam e não pude captar o assunto a princípio. Eu estava disposto a abordá-los, mas ao ouvir a palavra golpe decidi proceder com cautela e escutar mais. Infelizmente, não disseram nada que confirmasse alguma suspeita negativa. Yourdon parecia irritado e repetiu que Kamanesh estaria a salvo se o outro tivesse seguido suas instruções. Já DeVance estava relutante e o tom de voz deixava transparecer nervosismo. Temia que algo desse errado e disse que um desastre recairia sobre todos. Antes que pudessem prosseguir com aquela discussão uma terceira pessoa entrou na Sala de Mapas pelo outro lado e fez a discussão cessar. Ainda houve uma conversa num tom mais baixo antes que se fossem, mas não consegui captar o sentido".

A Capitã suspirou aliviada ao ver o cavaleiro Galdrik se aproximando. Ele era um homem maduro, bem apessoado, na faixa dos quarenta. Usava barba sempre bem aparada assim como os cabelos que eram loiros escuros. Os olhos eram cor de mel, grandes e expressivos.

— Uma perda terrível — ele disse assim que chegou. Todos concordaram com um aceno.

— Por favor, entre — indicou Kandel.

Todos entraram, exceto Yaren que ficou do lado de fora em oração. O quarto de Henyl era simples e pequeno. Ele jazia em sua cama, com os olhos arregalados e a boca aberta. Havia uma cadeira, cabides pendurados na parede com peças de roupa e uma pequena mesa com dois livros, papéis e um tinteiro. Um pouco de luz do sol já penetrava o interior por frestas nas janelas de madeira. Kandel examinou as janelas com cuidado e abriu-as para deixar a luz entrar. Ele explicou.

— O crime foi descoberto no final da madrugada, durante a troca de sentinelas. O rapaz que estava de serviço tinha que passar por aqui para ir até seu quarto, no andar inferior e achou estranho o fato da porta de Henyl estar aberta. O rapaz disse não ter tocado em nada, mas que notou o lençol manchado de sangue. Pela expressão imóvel do rosto, julgou-o morto e resolveu soar o alarma.

Com a luz do dia penetrando, Kandel e a Capitã, passaram a examinar todos os detalhes: Se havia algum rastro de sangue. Não. Se a porta fora arrombada. Não. Se havia sinais de luta. Não. Enquanto a dupla examinava esses detalhes em silênciom sem fazer comentários, Galdrik olhava nos olhos do defunto e tomava concentração. A causa da morte parecia ser um único golpe com uma lâmina contra o coração. O lençol branco apresentava uma mancha vermelha e um pequeno orifício que indicava o corte de uma lâmina pequena. Certamente algo como uma faca ou adaga, mas não uma espada ou espadim.

Galdrik engoliu seco, tomou coragem e aproximou-se da vítima. Uma de suas mãos estava manchada de sangue e sobre o peito, perto do local do corte, a outra pendia para fora da cama. Galdrik examinou-o de perto. Estava pálido e os lábios azulados. Um cheiro de morte invadiu suas narinas. Levou a mão esquerda cima da testa do defunto tocando a parte calva da cabeça. Ele estava frio.

O jii fluiu de sua mente para sua mão e por todo o corpo de Henyl e quando voltou, imagens atingiram-no. Seus olhos miravam o infinito e sua expressão dava a impressão de que não estava mais ali. Havia dor. Galdrik captou uma discussão. Aquele rosto era conhecido. Sim. Era o Conselheiro Ruy DeVance. Henyl estava cansado. Não, exausto. Galdrik percebeu que ele não tinha o costume de trancar seu quarto. Sentia-se seguro ali. Não havia motivos para trancar. O cavaleiro compreendeu que a porta destrancada havia tornado o trabalho do assassino mais fácil. Talvez até tivesse sido uma vítima por esta razão. Talvez não.

Tentou obter a última imagem de mente de Henyl, mas estava escuro. Ele chegou a ver seu assassino, mas não pode distinguir mais que uma silhueta contra a escuridão do quarto. Com a mão direita, puxou o lençol empapuçado de sangue e revelou o peito nu, coberto por pelos grisalhos. Tocou o local do corte com o dedo indicador. O jii fluiu e ele viu a imagem de uma adaga. Não era qualquer adaga. Era bonita, antiga e tinha o brasão do Duque. O velho símbolo do ducado de Kamanesh e não o novo brasão do Reino de Kamanesh. Muitas vezes o velho duque presenteava jovens com aquela adaga. A memória de Galdrik voou longe para o passado. Lembrou-se da primeira vez que viu uma daquelas. A cerimônia de ordenação de cavaleiros, logo antes da guerra contra os bestiais, há cerca de vinte anos. O Kyle Blackwing havia recebido uma daquelas no lugar de seu pai, Armand Blackwing. Aquele nome de família agora era usado pelo grupo de elite da guarda real.

O suor escorreu pela testa de Galdrik. Fazia agora um esforço mais intenso para obter impressões daquele que havia segurado a adaga. Sentiu então uma pontada de dor e a confusão tomou conta de si. Imagens desconexas que não faziam muito sentido. Sim, ele percebeu. O atacante possuía defesas contra o jii. Pressionou mais um pouco, mas seu esforço foi em vão. A identidade do assassino estava protegida. No entanto, foi capaz de captar uma sensação, talvez uma emoção, um prazer. Sim, o prazer de fazer algo proibido. O prazer de se escamotear. O prazer de enganar a todos. Uma sensação poder e saber que não poderia ser apanhado. Mas não! Havia medo. Medo de ser apanhado. Aquilo não fazia sentido. Eram sensações contraditórias. Galdrik ponderou, no entanto, que não era raro encontrar na mente das pessoas conflitos assim. Paradoxos. Sentimentos opostos convivendo de algum modo. Uma nova onda o atingiu e viu uma mulher. Uma mulher que tinha um olhar maligno. Olhos negros. Olhos das crianças do eclipse. Era algo que não via há muitos anos. Mas nunca havia visto aquele rosto. Seria ela a assassina? Ou uma cúmplice?

Ele suspirou forte e arfou ao retirar as mãos do defunto e se afastar.

Explicou suas impressões aos presentes e ao final disto, a Capitã indagou.

— Encontrou algo que pudesse sugerir uma presença demoníaca?

Galdrik olhou para a Capitã e sem saber o porquê, sentiu um calafrio percorrer a espinha. Uma ideia estranha percorreu sua mente e num descuido, deixou aqueles pensamentos aflorarem.

A Capitã captou os pensamentos e sentiu-se enjoada. "Ele suspeita de mim?"

Galdrik se recompôs e indagou — Por que a pergunta, Capitã?

— Nathannis suspeitava de um demônio infiltrado.

— Sim, havia algo de maligno, mas não necessariamente um demônio.

Galdrik explicou um pouco do que viu. Kandel pensou sobre a discussão de Henyl com DeVance. Eles eram velhos amigos e Kandel nunca vira qualquer sinal de desavença entre os dois. Isto fazia que suas suspeitas de que uma conspiração estivesse em andamento crescessem. A posição de Kamanesh, sem o rei, era frágil. Lacoresh, Whiteleaf e até mesmo Homenase poderiam tentar alguma coisa. Não seria difícil arranjar correligionários para um golpe entre os políticos de Kamanesh.

— Mas pensa ser possível? — insistiu a Capitã.

Galdrik olhou para dentro de si. As percepções quanto ao assassino eram confusas, mas ele respondeu. — Sim, é possível. Acho que é algo que vale examinarmos mais a fundo. Talvez, se trouxermos Mestre Darnell...

— Sim, bem pensado. Pode cuidar disto?

Galdrik estava perturbado e exaurido. Ele concordou, mas pediu licença para tirar a manhã para repousar. A Capitã e Kandel concordaram. Então Galdrik se retirou. Suspirou aliviado ao sair do ambiente passando ao lado de Yaren.

Apesar de Kandel não crer naquilo, as anotações de Nathannis indicavam seis tipos de demônios que poderiam obter sucesso numa infiltração. Havia tomado algumas notas a respeito após uma visita à biblioteca em Clyderesh na manhã do dia que fora assassinado.

— E então — o conselheiro indagou. — demônio ou conspiradores?

A respiração da Capitã acelerou e não foi capaz de responder.

— Capitã? Está bem?

Ela se esforçou para tomar controle de si. Algo fez com que seus poderes mentais se ativassem. Os fluxos de jii percorreram sua mente e ela se viu na posição de assassina. Não fazia sentido, mas ela estava presa. A investigação mostrou que ela havia sido possuída por um demônio. Aguardava julgamento, mas logo que todos descobriram seu segredo, que era uma criança de olhos do eclipse, só havia uma coisa a fazer. Ela seria executada. As crianças do eclipse foram preparadas pelos necromantes para abrigar demônios. Todas haviam sucumbido àquele destino. Os registros indicam que vários casos de possessão.

— Não pode ser verdade! — ela gritou em resposta.

— O que houve, Capitã? — Kandel tinha o intuito de tocá-la, mas recebeu uma cotovelada e ela correu para fora dali.

Kandel fez uma careta e gritou — Capitã! Volte aqui!

Ela o ignorou, zuniu pelo corredor, mas foi seguida por Yaren.

— O que houve, Capitã? Espere!

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