A sua espera

By autorarearaujo

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Lia estava com tudo planejado. Se formaria em seis meses e se casaria em sete com Eduardo, seu namorado desde... More

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EPÍLOGO
Minhas Obras

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By autorarearaujo

Capítulo 3/3

Lia

— Ana, você não precisa correr como uma louca, quero pelo menos segurar Valentina em meus braços antes de morrer.

Ana só não me jogou no banco do carona porque eu estava grávida. Estava tão histérica quanto Gabriel. Achei que pessoas histéricas só existiam nos filmes, mas eu tinha minha amiga e meu namorado para comprovar isso.

— Sua bolsa estourou...

— Eu sei, ainda estou me sentindo estranha quanto a isso, mas isso não quer dizer que o bebê vai nascer agora. Até porque prometi ao Gabriel que esperaríamos por ele.

— Você fez o quê? – Ana gritou sem tirar a atenção da pista.

— Gabriel parecia que iria sofrer um infarto. Se pudesse, ele se teletransportaria até aqui. Precisei acalmá-lo.

— E disse que Valentina esperaria por ele para nascer? Você sabe que não poderia ter prometido isso, não sabe?

— Gabriel está há duas horas daqui, vai dar tempo, ok? Pensamento positivo que tudo vai dar certo. Agora pode diminui a velocidade, quero chegar inteira na maternidade.

Quando chegamos, a equipe médica já estava me esperando. Marcos estava em uma reunião, mas assim que saísse, iria me encontrar no quarto.

A famosa camisola transparente já estava me esperando quando entrei no quarto. Ana me ajudou a me livrar das minhas roupas e ficou comigo até meu médico aparecer.

— Então parece que chegou o grande dia. Nervosa? – Marcos perguntou assim que entrou no quarto.

— Contei os dias, agora só quero que demore mais um pouco.

— Por quê? Acha que vai sentir falta da barriga?

— Também, mas não é por isso. Gabriel está em um avião vindo para cá. Ele quer muito estar junto quando eu entrar na sala de parto.

— Eu ia mesmo perguntar por ele. Nunca vi você sem ele ao lado.

— Ele teve que ir a um seminário. Pensamos que Valentina iria esperar mais um pouco, mas parece que ela tem vontade própria...

— A quem será que ela puxou? – Ana soltou logo atrás de Marcos.

— Ana, não é um bom momento para suas ironias – falei cerrando os dentes.

— Oi Ana, como tem passado?

Marcos se virou para cumprimentá-la.

— Me recuperado do susto.

— Imagino.

— Não é todo dia que sua amiga liga avisando que sua sobrinha vai nascer. Achei que teria um infarto.

— Quase pedi uma cama para ela – falei.

Marcos riu e voltou a me encarar.

— Vamos ver como está sua dilatação – disse começando a colocar as luvas.

— E essa é minha deixa para deixar o quarto e ir atrás de um café.

— Você pode ficar – Marcos pediu.

— Obrigada, mas não quero ter a lembrança de um médico enfiando o dedo na vagina da minha amiga.

— Ana!! – falei morrendo de vergonha.

— O quê? Olhando daqui não é legal. Volto quando vocês terminarem.

Ana saiu quase correndo do quarto.

— Sua amiga é bem engraçada.

— Totalmente louca e sem filtro. Desculpe-me – era tudo o que poderia dizer.

— Está tudo bem. Se eu lhe contar por quais situações já passei, você não acreditaria. Agora vamos ver como essa garotinha está.

Confesso que por mais que tenha passado por isso centenas de vezes durante a gestação, era algo desconfortável, ainda mais por meu médico ser tão jovem e lindo. Que Gabriel não descobrisse isso.

— Está tudo bem. Ainda teremos um pouco de tempo. Vou pedir para colocá-la no soro, para induzir as contrações.

— Isso ainda vai demorar um pouco? Gabriel quer assistir o parto.

— Vamos ver se Valentina vai cooperar, ok? Não podemos arriscar a vida das duas.

— Eu entendo.

Minutos depois que Marcos saiu, Ana voltou para o quarto.

— Você quase me matou de vergonha.

— Eu? Você queria que eu ficasse aqui assistindo a cena? Acredite, de onde eu estava, não era a melhor visão. Trouxe água, é tudo que você pode beber – disse me entregando um copo descartável.

— Vá se preparando para quando for sua vez.

— Estou pensando seriamente em adiar isso ao máximo de tempo que eu puder. O que fazemos agora?

— Esperamos.

— Ok, esperar... Acho que dou conta disso. Posso te deixar sozinha por alguns minutos? Preciso avisar ao Beto onde estou.

— Tudo bem. Vou ficar por aqui, sabe, esperando... Esperando...

— Não sei como você consegue ser engraçada nessa hora. Eu já volto.

Os minutos passaram lentamente. Ficar esperando não era meu melhor passatempo. Ana estava fora há quase trinta minutos. Enquanto isso, enfermeiros vieram colocar o soro e medir minha pressão, que estava controlada, só não fazia ideia de como eu estava conseguindo fazer isso.

Marcos deu mais uma passada para ver como eu estava e me tranquilizar, que eu estava indo muito bem. Quando senti a primeira contração, achei que Valentina iria nascer naquele momento. Entrei em desespero, porque eu não queria admitir, mas estava com medo. Gabriel ao meu lado me daria mais segurança.

— Onde inferno você estava? – gritei quando Ana voltou para o quarto.

— Não precisa gritar, porque ainda não fiquei surda. Estava tentando fazer Beto entender que ele não precisava vir, porque é você que vai ter um bebê e não eu. Achei melhor ele vir quando Gabriel chegar. Como estão as coisas aí?

— Alguém deveria ter me avisado como essa merda dói. – falei sentindo mais uma contração se aproximando.

— Não olhe pra mim. Sei sobre muita coisa, mas contrações não estão na minha lista.

— Agora entendo totalmente porque minha mãe não quis me dar um irmão. É uma dor infeliz.

— E só estamos no início da viagem – Marcos entrou na sala novamente.

— Eu preciso de algo para dor, e tem que ser agora – falei segurando a respiração.

— Isso é algo que não vou poder lhe dar, faz parte do trajeto.

— Como assim não vai me dar nada? Falaram-me que era um pouco pior do que cólicas... Isso é a dor da morte.

— Quanto exagero Lia. Onde está a garota forte de meses atrás? – ele perguntou segurando minha mão.

— Está de férias em algum lugar do Havaí.

— Isso é minha amiga quando está de TPM.

— Chega mais perto e eu vou te mostrar o que é uma garota de TPM – gritei.

— Calma Lia, isso faz parte. Vamos ver com quanto de dilatação você está.

— E lá vou eu dar mais uma volta.

— Não ouse sair desse quarto ou você é uma garota morta.

— Ou eu só deva virar de costas – disse Ana virando para a porta.

— Ideia sábia – disse Marcos.

— Quantas vezes iremos fazer isso? – perguntei.

— Tantas vezes for necessária para saber que você estará pronta – disse sorrindo.

— Você gosta disso, admita.

— De quê?

— De torturar suas pacientes quando elas estão com dor e querem matar alguém.

— Admito que gosto um pouco. Mas quer saber o que eu mais gosto?

— Não, eu não quero saber – falei enquanto tentava não pensar em ele me tocando.

— Vou falar assim mesmo. O que eu mais gosto é de colocar o bebê sobre o peito da mamãe e ver o quanto valeu apena cada dor. Não tem felicidade maior do que isso.

Marcos terminou o toque, retirou as luvas e jogou na lixeira.

— Você está fazendo um ótimo trabalho. Pela dilatação, acho que Valentina quer esperar por certo alguém.

— Está falando sério?

— Sim, você só precisa suportas as contrações um pouco mais. Acha que dá conta disso?

— Sim, eu consigo.

— Ótimo. Volto daqui a pouco.

— Pode me informar quando Gabriel chegar?

— Claro, não se preocupe com outras coisas, a não ser respirar fundo quando as contrações aumentarem, ok?

— Ok.

Não sei quanto tempo passou desde a saída de Marcos, mas parecia que tinha sido a uma eternidade. Ana estava sentada na cama e cada vez que vinha uma contração, ela me deixava apertar sua mão.

— Acho que vou sair daqui direto para uma sala de cirurgia. Sinto que os ossos da minha mão estão quebrados.

— Me desculpe – falei quando mais uma contração foi embora.

— Está tudo bem. Estou falando isso para você esquecer um pouco as dores. Não está funcionando?

— Um pouco. Obrigada.

— Amigas, lembra?

— Há quanto tempo estamos aqui?

— Um pouco mais de uma hora e meia. Se estiver preocupada com Gabriel, fique calma, daqui a pouco ele rompe por essa porta.

O tempo passou, as contrações estavam mais fortes e duradouras. Não tinha notícias de Gabriel, uma ligação, um recado, nada. Eu sentia que Valentina não iria esperar por mais tempo. Tive a certeza quando Marcos entrou no quarto acompanhado de dois enfermeiros, trazendo uma maca.

— Lia, não podemos mais esperar.

— E Gabriel? Ele ligou?

— Não. Nenhuma notícia. Eu sinto muito, mas não podemos mais esperar. Cada minuto agora que perdemos, compromete Valentina.

— Eu prometi a ele...

— Eu sei que fez o seu melhor. Deixei avisado na ala de preparação que leve ele para a sala de parto quando chegar.

— Obrigada.

Eu estava apavorada quando entrei na sala. Não queria passar por tudo sozinha, mas também não queria prejudicar minha filha por conta disso. Gabriel iria entender que esperei o máximo que pude.

— Lia, vamos começar o nosso trabalho. Quando eu pedir para que faça força, você me obedece, tudo bem?

— Sim.

— Vai dar tudo certo. Logo Valentina vai estar com você. Vamos trabalhar juntos e trazer sua filha ao mundo.

Havia várias pessoas ao meu socorro, mas eu só queria a companhia de um.

— Vamos lá Lia... Faça força – Marcos pediu.

Porque isso não estava detalhado nos livros que li?

A porta da sala foi aberta e vi o vislumbre de Gabriel passar por ela.

— Estou aqui... Estou aqui – disse ele segurando minha mão.

Gabriel beijou suavemente nos meus lábios e acariciou meus cabelos.

— Desculpa o atraso...

— O importante é que você está aqui.

— Chegou bem na hora Gabriel, agora ajude Lia a fazer força – disse Marcos olhando para nós dois.

— Vamos lá meu amor, você consegue.

Quando você vê a cena na TV, parece tão fácil e lindo. Na vida real é só dor e força, mas valeria apena, só para no final ver o rostinho de Valentina.

— Vamos lá Lia, só mais um pouco.

Tudo pareceu caminhar em câmera lenta. A voz de Marcos soou longe, parecia que todos haviam sumido da sala, restando apenas eu e Gabriel. Sua mão segurando a minha cada vez que eu tinha que fazer força. Jamais poderia esquecer esse momento. Quando ouvi o choro de bebê, percebi que eu tinha conseguido. Eu tinha trazido Valentina ao mundo. Soltei a respiração presa e olhei para o pequeno embrulho que Marcos trazia para o meu encontro.

— Olha mamãe, eu cheguei – disse Marcos colocando Valentina nos meus braços.

— Ela é linda – falei sentindo meus olhos marejarem.

— Linda e tem suas bochechas – Gabriel complementou a frase. Havia lágrimas molhando seu rosto.

— Agora que vocês a viram, a enfermeira vai levá-la para os primeiros cuidados e depois a levará para o seu quarto. Gabriel, você também precisa sair.

— Eu te encontro no quarto daqui a pouco.

— Ok.

Gabriel beijou minha testa e saiu da sala ainda olhando em minha direção.

— Fez um ótimo trabalho.

— Obrigada.

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