A sua espera

By autorarearaujo

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Lia estava com tudo planejado. Se formaria em seis meses e se casaria em sete com Eduardo, seu namorado desde... More

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EPÍLOGO
Minhas Obras

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By autorarearaujo

Gabriel

Eu não sabia como eu estava conseguindo levar a normalidade de ter Lia morando comigo. Era como ter chegar do outro lado da ponte e não pegar o pote com o tesouro. Eu me sentia casado, mas sem ter acesso à minha esposa.

Acompanhar a gravidez da Lia de perto tinha sido o maior presente que ela poderia ter me dado. Lembro-me que a primeira vez que ouvi o coração de Valentina bater, eu quis soltar fogos de artifícios e mostrar a todos o tamanho da minha felicidade. Outro presente foi Lia ter me deixado escolher o nome, me levando ainda mais para dentro do seu coração.

Então os meses passaram rápidos e tudo o que acontecia com elas, eu estava por perto. Ana havia começado a me dar mais um pouco de crédito depois de ver que sua amiga aos poucos nem lembrava mais os motivos que a fizeram chorar.

Eu sabia que a relação com seus pais ainda pesavam, mas como ela não tocava no assunto, eu não insistia, mas queria de alguma forma tentar fazer com seu relacionamento ultrapassasse a barreira da ignorância religiosa e pudessem curtir a preparação para a chegada de Valentina.

Na empresa, eu estava quase finalizando a primeira fase do projeto para enfim passar para a parte mais divertida: a criação. Tive algumas divergências com André pelo caminho, tudo porque ele estava querendo se meter no meu projeto e eu o vetei. Sentia uma certa tensão quando ele e Malu estavam no mesmo ambiente, mas desde que ela não me revelasse um bom motivo para mandá-lo para o hospital, eu apenas acompanhava de longe.

Lia estava pirando com seu TCC, na verdade, o seu professor estava pirando com ela. Cheguei até sugerir que ela trancasse o semestre para cuidar da gravidez, mas irredutível como sempre, achou que eu estava forçando-a a desistir por não sentir que ela conseguiria dar conta de tudo.

Às vezes, só às vezes, eu tinha vontade de segurar Lia pelos ombros e gritar e exigir que ela parasse de tentar ser durona quando estava na cara que não estava indo muito bem nisso. Mas bastava me olhar com aqueles olhos de cachorrinho que caiu da mudança e eu logo esquecia toda a raiva.

Fazíamos passeios, caminhadas, sessões de cinema, como se fossemos um casal de verdade. Era tudo o que eu queria, mas sentia um verdadeiro pânico só de pensar em falar sobre meus sentimentos e ela simplesmente ir embora. Então eu me segurava ao máximo para não estragar tudo.

— Que tal um filme e uma bacia de pipoca? – perguntei ficando de pé novamente e afastando minhas mãos de sua barriga.

— Posso escolher?

— Contanto que não seja Um amor para recordar, P.S. Eu te amo e nem Antes que termine o dia. Juro que já sei as falas decoradas de tanto que já assistimos.

O quinto mês de gestação havia sido o pior, até mais do que a fase dos enjoos. O corpo de Lia estava sofrendo com as mudanças e isso a deixou ainda mais sensível. Tínhamos horas a fio de filmes tristes e com muitas lágrimas. E quando por milagre, eu conseguia escolher uma comédia, tinha que ser A verdade nua e crua ou Muito bem acompanhada. Ou seja, de qualquer forma eu sofria.

— Você sempre tem péssimas escolhas – disse Lia baixando a blusa cobrindo a barriga.

— Só porque prefiro filme de ação ao invés dessas coisas melosas?

— Você não é nada romântico. Deve ser por isso que não arranjou uma namorada até agora.

— Filmes melosos não são os meus motivos para estar solteiro.

— Não?

— Não.

Meu único motivo por nunca ter me interessado por uma garota era porque Lia dominava cada pedaço do meu coração, não deixando espaço para mais ninguém, e olha que eu tentei. Quando vi que era inútil lutar contra, eu desisti.

— Agora você vai me falar o motivo de ter vindo aqui?

— Eu... Já falei... Vim apenas te ver – disse se afastando e desviando o olhar.

— Lia, quando vai entender que eu sei quando tem algo acontecendo. Nesses últimos dias vejo você aérea, me olhando de canto de olho quando acha que não estou vendo.

— Não olho assim... Não pode me acusar assim...

— Ei, não estou acusando ninguém aqui – falei segurando seu rosto entre minhas mãos – só quero entender o que se passa nessa mente quando não estou perto.

— Você sempre está por perto – ela sorriu.

— Isso é verdade...

Tentei manter o foco em seu olhar, mas seu sorriso era o que sempre me quebrava. Todos tinham razão quando diziam que a gravidez deixava a mulher mais linda, e Lia já havia ultrapassado a perfeição. Quanto mais a olhava, mas eu a admirava como se fosse uma deusa em forma de mulher.

Quando estávamos nesse limite de espaço, precisava de toda minha força de vontade para me afastar antes que cometesse uma loucura.

— Vou tomar um banho e ficar cheiro para você. Vou deixar que escolha o top cinco para assistirmos.

Beijei sua testa e me afastei enquanto ainda me restava um pouco de bom senso. Quando cheguei à porta, me lembrei de atormentá-la um pouco.

— E depois do filme, você vai me contar o que está acontecendo. E nem pense que vai me dobrar – pisquei para ela e fui direto para o banheiro.

Quando saí enrolado com uma toalha na cintura, vi Lia passeando pelo Netflix montando sua lista e que havia um filme de ação no meio. Sorri ao perceber que ela me deixaria escolher dessa vez.

Coloquei outro moletom cinza e uma camiseta branca e segui para a sala. A lista estava montada, mas Lia não estava no sofá. Fui até a cozinha e a encontrei colocando a pipoca no micro-ondas.

— Você pode ficar de olho enquanto tomo um banho rápido?

— Claro.

— Posso roubar uma camisa sua? Minhas blusas estão ficando apertadas, essa é a única que ainda consigo vestir sem que ela me sufoque.

— Como se precisasse me pedir alguma coisa.

Lia sorri e vai para o meu quarto. Ela levaria cerca de dez minutos no banho e eu precisava me ocupar com alguma coisa enquanto a esperava. A campanhia tocou e achei estranho não ter sido avisado que alguém da cabine do codomínio. Olhei para a hora e passa um pouco das 22h00min, um horário estranho para visita. Deixei a vasilha de pipoca em cima do sofá e fui em direção à porta. Olhei através do olho mágico e quase não consegui acreditar quem estava do outro lado da porta. Abri e nem tive tempo para uma reação, quando Mel se jogou nos meus braços, colocando suas pernas em volta da minha cintura.

— Surpresa meu jogador! – ela falou me beijando na boca logo em seguida.

— Gabriel, acho que vou roubar essa para mim...

Ouvi a voz de Lia atrás de mim e nem consegui reagir quando me virei com Mel ainda agarrada a mim.

— Quem é ela? – Mel se soltou do abraço e encarou Lia com seu olhar inquisidor.

— Mel, essa é Lia – foi tudo o que consegui falar quando vi o olhar de choque que as duas trocaram.

Lia está vestida em minha camisa preta de mangas longas dobradas até a altura dos cotovelos, cabelos presos de qualquer jeito, dando aquela impressão de que tinha acabado de sair da cama.

— Ela está grávida? – Mel ficou dividida entre chocada e zangada – foi por isso que você largou tudo e sumiu sem deixar explicações?

— Ele não é o pai – Lia falou se defendendo colocando a mão sobre a barriga.

— Então é melhor alguém aqui me explicar o que está acontecendo.

— Para início de conversa, como entrou aqui sem ser anunciada?

— Falei para o porteiro que estava vindo de muito longe fazer uma surpresa para o meu namorado. Você me conhece, sabe com sei ser convincente – diz sorrindo.

— Namorada? Você tem uma namorada Gabriel? – perguntou Lia não acreditando na cena.

— Não tenho namorada Lia. Você saberia se eu tivesse uma. Mel é uma amiga que conheci no Japão...

— Mais do que amigos, diga-se de passagem. Agora pulamos essa parte e chegamos ao que interessa. Você está grávida, mas Gabriel não é o pai... Está usando uma camisa dele, o que torna algo especial acontecendo entre vocês e não estão juntos? – sua voz era carregada de acusação.

— Não tem nada acontecendo aqui. Eu e Lia somos amigos de longa data... – comecei a falar, mas fui interrompido por Mel.

— Amigos? Ela está grávida, usando uma camisa sua. Onde está o pai do bebê?

— Não é da sua conta.

Lia gritou e saiu pisando forte para o seu quarto. Ouvi a batida forte da porta e olhei para Mel. Ela estava me olhando como se tivesse curtido tudo o que aconteceu.

— O que deu em você para aparecer aqui sem me avisar e insultar a minha...

— Sua amiga é muito nervosinha. Deve ser por causa dos hormônios.

— Você não tem o direito de vir aqui e insultar alguém – rebati me controlando para pegar Mel pelo braço e a obrigar a pedir desculpas à Lia.

Mel soltou um longo suspiro e então se aproximou novamente.

— Me desculpe, agi por impulso, sabe com eu sou. Eu fiz uma longa viagem de avião do Japão para São Paulo e depois para o Rio apenas para ter ver. Quando cheguei aqui, encontrei uma garota grávida, usando suas roupas... Eu meio que surtei.

— Não tem motivos para surtar. Não tem mais nada acontecendo entre a gente a mais de um ano... Preciso ver como Lia está.

— Pode ir, vou ficar aqui esperando sua volta – ela falou sentando no sofá.

— Não acho uma boa ideia você ficar aqui...

— Nossa Gabriel, eu troquei de voo e vim direto te ver, nem procurei um hotel para me hospedar porque achei que você seria um cavalheiro e me convidaria para dormir aqui. Estou cansada demais para sair a essa hora... Não posso passar a noite aqui?

— O quê?

— Vai me negar um teto? Não tem quarto de hóspede sobrando?

— Só tem dois quartos e os dois estão ocupados.

— Posso dormir no seu – disse sorrindo.

— Dormir no meu quarto? – perguntei sem acreditar que estava tendo essa conversa.

— E com você de preferência – ela sorriu maliciosamente.

— Não vai rolar.

— O que não vai rolar? Dormir no seu quarto ou dormir com você?

— As duas sugestões.

— Poxa Gabriel, depois de tudo o que vivemos vai mesmo me expulsar da sua casa?

— Vou ver como Lia está, depois conversamos.

— Estarei aqui quando voltar.

Mel cruzou as pernas e ficou me encarando. Deixei a sala e fui para o quarto de Lia. Bati na porta com delicadeza por medo de não saber com ela iria me receber.

— Pode entrar.

Lia estava sentada na cama, com as costas apoiadas na parede. Vi lágrimas banhando seu rosto e isso me matou. Aproximei e sentei de frente para ela.

— Me desculpe pela maneira que tratei a sua... Eu nem sei como devo chamá-la – ela soluça.

— Você não precisa se desculpar por nada. Sou eu quem tenho que pedir desculpas por Mel ter sido tão grossa. Normalmente ela não é assim...

— Está claro porque ela agiu assim, achou que te encontraria sozinho e deu de cara comigo, com essa barriga parada no meio da sua sala.

Lia passou a mão no rosto para secar as lágrimas. Toquei suas mãos levemente com medo dela se afastar, como ela não fez isso arrisquei mais um pouco e me aproximei para abraçá-la.

— Ela deve gostar mesmo de você para vir do Japão para o Rio. Por que nunca me falou dela?

— Porque ela nunca foi mais importante do que você – falei acariciando seus cabelos, enquanto suas lágrimas molham minha camisa.

— Vocês foram namorados?

— Não, a gente ficava quando dava.

— Sexo sem compromisso?

— Basicamente isso.

Lia se afastou e me encarou.

— Durante quanto tempo?

— Isso importa?

— Para ela ter vindo atrás de você, pode apostar que importa.

— A única coisa que importa aqui é você.

— Eu não gostei do jeito que me olhou, me julgando...

— Eu sei que a primeira impressão foi ruim, mas ela é uma garota legal.

Lia faz uma careta, discordando de mim.

— Ela vai dormir aqui?

— Você ouviu a conversa?

— Parte.

— Ela veio direto do aeroporto e mesmo depois de ter agido rude, é minha amiga.

— Eu sou sua amiga, ela pode ser outra coisa, menos sua amiga.

Não sei por que, mas por um segundo senti como se Lia estivesse com ciúmes e isso me arrancou um sorriso.

— Do que está rindo? – perguntou me empurrando para longe.

— Nada, não estou rindo de nada.

— Ela quer dormir com você no seu quarto.

— Isso não vai acontecer.

— Porque não? Terá sexo sem compromisso.

— Não quero sexo.

— Vai virar celibato?

Não pude conter a gargalhada. Lia, claramente estava com ciúmes.

— Não vou virar celibato só porque não quero sexo com Mel. Quero algo que vai muito além disso.

— Você não vai dormir naquele quarto com ela – Lia foi taxativa.

— Já falei que não vou. Vou deixar ela no quarto e vou dormir na sala.

— No sofá?

— Tem outro lugar?

Como ela não falou nada, eu a abracei novamente.

— Posso te deixar sozinha só um pouco? Vou mostrar o quarto para Mel e depois volto para ficar aqui até você dormir.

Lia balançou a cabeça concordando.

— Ok, eu não demoro.

Quando voltei para a sala, Mel já tinha retirado as sandálias e estava mexendo no controle remoto.

— Desde quando você assiste esse tipo meloso de filme? – ela pergunta quando sento no outro sofá.

— Lia gosta deles.

— Usa suas roupas, escolhe os filmes... Aposto que se eu olhar no seu quarto, irei encontrar coisas delas espalhadas por lá.

— Já falei que Lia é minha amiga e se continuar a fazer insinuações, vou pedir que vá embora, e não vou me importar que não tenha um lugar para ficar.

— Está apaixonado por ela?

— O quê – pergunto percebendo que ela acertou em cheio.

— Não tente me enganar. Só uma paixão para te arrancar do seu trabalho e te fazer voltar para o Brasil.

— Não foi bem assim que aconteceu.

— Ela está grávida e o filho não é seu, o que me deixa com várias perguntas pipocando na minha cabeça.

— Lia passou por um momento difícil. É tudo o que você vai saber. Vou te levar para o meu quarto para que possa descansar. Amanhã conversamos.

— Vai dormir comigo?

— Te falei que isso não vai acontecer. Vou dormir aqui no sofá.

— Vai trocar minha companhia por um sofá duro e solitário?

— Vou – falei sério.

— Ok – disse erguendo as mãos para cima – amanhã será um novo dia.

Mostrei o quarto, informei onde tinha toalhas, caso ela quisesse tomar banho e depois peguei alguns edredons e travesseiros e fui para a sala. Quando ouvi o barulho do chuveiro sendo ligado, desliguei a TV e fui ver se Lia ainda estava acordada me esperando. Lia estava deitada de lado, segurando sua barriga com uma das mãos, enquanto a outra estava servindo de travesseiro.

Aproximei-me o suficiente para lhe dar um beijo de boa noite. Quando comecei a me afastar, Lia abriu os olhos.

— Dorme aqui, por favor...

— Tem certeza?

— Olha o seu tamanho. Vai acordar todo torto se dormir naquele sofá minúsculo. Além do mais, Valentina parece que tomou energético, não parar de chutar. Talvez se você ficar conversando com ela, eu possa dormir.

— Como se ela fosse me obedecer...

— Valentina gosta do som da sua voz. E eu também...

Não iria questionar sua decisão, até porque dormir com ela era sempre o melhor momento. Fechei as cortinas, e deitei ao seu lado da cama. Ficamos de frente um para o outro por um bom tempo, até Lia pegar minha mão e colocar sobre sua barriga. Não tinha sensação melhor do que estar com as duas mulheres da minha vida.

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