Irresistível - Degustação

By LuMoon-

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Livro disponível na Amazon através do link: https://www.amazon.com.br/dp/B0CK6Q7P7W Jodie Campbell estava fug... More

Irresistível
1 • Festa
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7 • Lembranças
8 • Biblioteca
Publicação de "Irresistível"
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By LuMoon-

"It's just a spark

But it's enough to keep me going"

(É apenas uma faísca)

(Mas é suficiente para que eu continue tentando) - Paramore - "Last Hope"

Jodie encontrava-se na delegacia.

Lugar também conhecido como o mais novo trabalho de sua mãe.

Fazia cinco horas que Andrew havia a deixado na casa de Rachel e, logo que ela entrou na mesma, o telefone tocou e sua mãe disse que estaria indo buscá-la para que elas fossem comer algo. Jodie trocou rapidamente de roupa, colocando uma calça larga e longa para esconder seus joelhos ralados, estava fora de cogitação contar para a sua mãe sobre a suposta perseguição. Porém, antes de irem em alguma lanchonete, Maurie precisou passar rapidamente na delegacia já que havia esquecido seu casaco.

Jodie estava a esperando na entrada do local, sentada em uma espécie de sala de espera. Ela pegou uma revista que estava em cima de uma das mesas, folheando-a.

Estava na página dez, lendo a respeito de uma receita de bolo quando um homem raivoso entrou pelo local. Jodie desviou seu olhar da revista encarando-o, ele dava fortes passadas, praticamente fazendo buracos no chão com seus passos.

O homem devia possuir mais ou menos a idade de sua mãe. Ele usava um terno preto o que dava um belo contraste com seus cabelos loiros, Jodie o comparou com o modelo que fazia um comercial de um relógio caro que estava estampado na contracapa da revista que lia. Ele se colocou na frente do balcão.

— O meu carro foi roubado. — a voz dele era tão raivosa quanto suas passadas.

O homem que estava lendo um jornal atrás do balcão encarou o indivíduo na sua frente e largou o jornal na mesma hora.

— Eu acabei de voltar de viagem e quando chego na minha casa a minha garagem está vazia! — o homem bateu com força no balcão.

Jodie o encarou um pouco assustada.

De repente uma mulher que carregava algum distintivo em uma corrente no pescoço surgiu perguntando para o homem raivoso as informações básicas sobre o seu carro.

— É uma BMW. — ele falou, sua voz era um trovão na sala de espera.

Jodie engoliu em seco ao se lembrar do dia da fogueira.

Do dia que conhecera Andrew...

— Por favor, peço para que o senhor se controle senhor Field. — a mulher do distintivo falou, rude.

Jodie quase deixou a revista cair de suas mãos.

Field.

Não podia ser mera coincidência. Não era mera coincidência. Estava óbvio... o homem era uma espécie de Andrew do futuro: os ombros largos, os cabelos loiros...

— Senhor Field, nós encontramos antes de ontem uma BMW incendiada em um dos campos próximos da cidade... — a moça falou, engolindo em seco como se estivesse com medo.

O senhor Field bateu mais uma vez no balcão. E então ele esfregou seus cabelos com violência. Jodie sentiu dó do pobre balcão.

— Andrew... — o senhor Field sussurrou, mas Jodie conseguiu ouvi-lo. A voz dele era um sussurro contendo muito mais do que raiva. Quase beirava a agonia... Como se pronunciar o nome de Andrew lhe causasse dor.

O pai de Andrew deixou a delegacia da mesma forma que entrou: com passadas fortes e rigorosas.

— Esses dois são pior que gato e rato... — a moça murmurou encarando o senhor Field sair da delegacia. O senhor que estava lendo o jornal soltou um suspiro e concordou com a fala da colega de trabalho.

Jodie tentou processar tudo o que havia acontecido. Por que diabos Andrew botou fogo no carro do pai? Aparentemente os dois tinham uma relação bem conturbada, mas por quê? As perguntas eram várias e as respostas inexistentes.

Maurie surgiu alguns minutos depois segurando seu casaco em uma mão e a bolsa na outra.

— Vamos então! — ela murmurou sorridente.

Jodie se levantou, ainda em meio a dúvidas a respeito de todos os acontecimentos.

••••

Rachel voltou para casa no final da tarde.

Jodie estava em um acirrado dilema: contar ou não contar sobre sua visita a casa Field.

Decidiu que contaria, omitindo a parte que achou estar sendo perseguida pelo Monstro.

As duas se encontravam no quarto de Rachel.

Rachel estava deitada em sua cama, lendo uma revista enquanto comia algum salgadinho com cheiro de queijo. Jodie se encontrava sentada em um pequeno sofá que ficava de frente para a janela, ela observava a chuva torrencial do lado de fora, depois passou a observar sua cama de solteiro, aquela cama ficava na realidade no quarto de hospedes, porém, Rachel achara que seria mais legal se elas dividissem o quarto.

Jodie adorou essa ideia porque assim sua mãe poderia ficar com o quarto de hospedes unicamente para si. Maurie precisava de um tempo sozinha mais do que qualquer um. Jodie se levantou de sua cadeira e sentou na sua cama, ficando de frente para Rachel.

— A gente precisa conversar. — Jodie murmurou, decidida a contar tudo o que acontecera para Rachel.

Rachel desviou seu olhar da revista com o cenho franzido.

E então Jodie contou tudo o que havia acontecido. Desde a parte do desmaio - omitindo a suposta perseguição do Monstro, dando a justificativa que apenas tropeçara e caíra - até a parte em que Andrew Field a deixou em casa.

Rachel, por vezes, esboçou feições cômicas de surpresa.

E então ela também contou da delegacia e sua suspeita sobre a BMW que pegou fogo pertencer ao pai de Andrew. Rachel, nessa parte da história, ficou estranhamente quieta e séria.

Jodie terminou sua história com um suspiro.

Rachel encarou sua revista.

— Sim, a BMW que o Andrew botou fogo era do pai dele. — Rachel murmurou, seus olhos vidrados na revista.

Jodie esboçou sua melhor feição de dúvida e então Rachel largou a revista, sentando-se melhor na cama e focando sua visão na amiga. Jodie percebeu no mesmo instante que a história tinha muitas mais camadas do que ela sabia...

— Sabe, Stonewood era só... Stonewood antes da família Field chegar aqui... Eu ainda chupava o dedo e usava fraldas quando eles chegaram, mas, pelo o que as pessoas dizem... a cidade inteira se focou na chegada da família. — os olhos de Rachel não encaravam Jodie, estavam focados em algum lugar do quarto. — Eles eram a típica família rica de capa de revista: felizes e realizados. Naquela época eles só tinham o Andrew, depois veio o Aiden e por fim Lisa. E depois veio a maior desgraça da família.

Rachel engoliu em seco.

Jodie se relembrou da fotografia que viu na mansão de Andrew: ele, Aiden - o garoto de cabelos pretos ao qual não havia reconhecido - e Lisa. Colocou seus pés na cama, agarrando suas pernas em frente ao seu peito, prestando extrema atenção em Rachel.

— Não era segredo para ninguém que Samantha Field era um pouco... maluca. E, aos poucos, os podres da família perfeita foram tomando conta de Stonewood... na verdade eles vieram para esse fim de mundo para internar a senhora Field em um manicômio que fica a vinte minutos daqui. E aí aconteceu muito provavelmente o maior desastre de Stonewood e é claro que a família Field foi responsável por orquestrar esse desastre. Na época eu tinha só onze anos... mas me lembro de tudo como se fosse hoje... A notícia saiu na capa do jornal da cidade. — Rachel passou a encarar Jodie. — Samantha Field se matou, se enforcou. Dizem que ela fez todo um ritual estranho, espalhou velas pelo quarto e então... se enforcou... e, o que dizem, é que ela esbarrou em uma vela... e isso gerou o início de um incêndio. — Rachel mordeu seu lábio inferior.

A história era muito mais triste do que ela esperava.

Jodie sentiu uma pena indescritível de Andrew, Aiden e Lisa. A forma que eles haviam perdido a mãe...

— Meu Deus... — Jodie apenas conseguiu murmurar.

Essa não é a pior parte. — Rachel respirou fundo e balançou a cabeça em negação. — Andrew, Aiden e Lisa estavam na casa. Andrew foi o primeiro a sentir o cheiro do fogo e quando subiu as escadas até o quarto dos pais encontrou a mãe enforcada e as persianas pegando fogo.

Jodie esbugalhou seus olhos.

— Ele precisou escolher entre tirar o corpo da mãe do quarto ou salvar os irmão... É claro que ele escolheu a segunda opção. O problema era que o fogo estava se alastrando rápido, os bombeiros logo chegaram... os repórteres que estavam por lá disseram que Andrew surgiu na porta de entrada segurando as mãos dos irmãos. Lisa chorava e Aiden também. Andrew estava atônito. Ele deixou os irmãos em um lugar seguro e correu para dentro da casa, indo até o quarto da mãe... os bombeiros logo foram atrás dele e saíram com ele e o corpo sem vida da senhora Field.

Jodie só percebeu que estava chorando quando sentiu algo molhado tomar conta de suas bochechas. Lembrou-se da mão machucada de Lisa... Ela havia se machucado no tal incêndio. Ela não conseguia nem imaginar qual era a dor daqueles três irmãos.

— Ele tinha só onze anos... — Rachel murmurou e negou com a cabeça, parecendo afastar algo de sua mente. — Sabe o braço enfaixado dele?

Jodie concordou com a cabeça.

— Dizem que ele tem um cicatriz lá... bem no pulso. Quando ele tentou voltar para ajudar a mãe, acabou se machucando... sangrou tanto que os bombeiros mal tinham esperanças que ele sobrevivesse. Mas sobreviveu. Ele nunca tira as ataduras... não na frente das pessoas. — Rachel acariciou seu pulso, como se fosse com ela que toda aquela tragédia tivesse acontecido.

Jodie respirou fundo. Mas ainda não entendia algo...

— Mas por que ele tem tanta raiva do pai? — ela murmurou, sua voz saiu um sussurro quase inaudível.

— Porque foi ele que comprou a corda que Samantha Field usou para se matar. — Rachel murmurou.

Jodie não resistiu soltar um gemido de surpresa.

— Dizem que John Field sabia que a mulher ia se suicidar... Ele viajou um dia antes da morte dela... e só voltou uma semana depois. — Rachel esboçou uma feição de desgosto.

Jodie momentaneamente sentiu raiva do homem que vira na delegacia...

Como ele era capaz de deixar que algo tão desastroso assim acontecesse? Jodie percebeu que ela não era a única que conhecia um Monstro.

— Desde então Andrew faz de tudo para acabar com a vida do pai. Todas as festas que acontecem no campo são realizadas por ele... Ano passado ele queimou todos os sapatos caros do pai, ano retrasado todas as roupas... — Rachel não resistiu abrir um sorriso. — Ah... o senhor Field ficou muito irritado.

— E esse ano ele queimou o carro. — Jodie concluiu.

— Sim... Eu estou só esperando o dia que ele vai queimar o próprio senhor Field. — Rachel falou brincalhona, mas Jodie sentiu uma pitada de verdade em sua voz. — Ele sempre fala as mesmas palavras enquanto destrói alguma coisa do pai com fogo... você saiu antes de ouvi-lo gritar: "ei, você matou minha mãe e botou fogo na nossa casa... acha legal agora que eu estou botando fogo nas suas coisas? Tirando de você tudo que você tem?"...

Jodie engoliu em seco e, instintivamente, passou a mão nos roxos no seu braço causados pelo Monstro... um pensamento assolou sua mente: será que, se queimasse alguma coisa do Monstro se sentiria aliviada?

Ela se lembrou de uma coleção de conchas que ele tinha. O Monstro era obcecado por essa coleção até mais do que era obcecado por ela e por Maurie.

Jodie se imaginou quebrando todas aquelas conchas na frente dele... Rindo e dizendo frases de efeito. Só o pensamento fez com que sentisse algo próximo do prazer.

O Monstro havia tirado tudo de Jodie...

De repente percebeu: Andrew enfrentava o pai. Ela, em contrapartida, fugia do Monstro.

— Por mais que ele seja um cretino, babaca, desgraçado... — Rachel mordeu seu lábio inferior. — Ele tem um passado digno de respeito.

Jodie concordou com a cabeça.

Rachel deitou-se na cama, colocando sua revista e salgadinhos na mesa de cabeceira. A conversa das duas parou por ali.

Andrew e Jodie, afinal , tinham algo em comum: os dois tinham um passado obscuro cercado por mortes e dores irrecuperáveis.

Os dois estavam destruídos.

De repente Jodie não se sentiu mais sozinha enfrentando o mundo. Havia pessoas que também eram atormentadas por um Monstro... e Andrew Field era uma delas.

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