Águas de Março

By gisscabeyo

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Rio de Janeiro, berço do samba, das poesias de Drummond, da Boemia de Chico Buarque, das noites na Lapa, da G... More

Prólogo.
1 - Goodbye, USA. Olá, Brasil.
2 - Coisas que eu sei.
3 - Mais do que oculta.
4 - Não era pra ser tão fatal.
5- Oblíqua e Dissimulada
6 - Ano novo, desejo antigo.
7 - Nosso jogo é perigoso, menina.
8 - Infinito particular.
9 - Boemia Carioca
10 - Quebrando tabus.
11 - Bom dia.
12 - Canto de Oxum
13 - Agradável e lento.
14 - Tempo ao tempo.
15 - Menina veneno.
16 - Contrapartida
17 - O que é meu, é seu.
18 - Colo de menina.
19 - Meu Pavilhão.
20 - Rua Santa Clara, 33.
21 - Sensações extremas.
22 - Aos pés do Redentor.
23 - Codinome Beija-flor.
24 - Cuida bem dela.
25 - Luz em todo morro.
27 - Azul da cor do mar.
28 - Revival
29 - Desague.
30 - Axé!
31 - Vamos nos permitir - part1.
Vamos nos permitir - part2.
32 - Idas e Vindas.
33 - A lua e o sol - part1.
34 - A lua e o sol - part2.
Bônus - Part. 1
Bônus - Part. 2
Spin off - part 1.
AVISO - LIVRO

26 - Queime.

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By gisscabeyo

N/A: Hello, hello, hello! Hannah aqui! Como estão vocês, queridos? Perdoe minha demora, mas eu e Gi estávamos viajando e eu só consegui parar pra escrever agora. O capítulo de hoje está MUITO maneiro, eu particularmente amei, estão esperamos que vocês sintam o mesmo. Beijo na bunda, segue o baile! Enjoy(:

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LAUREN POV

Trabalhar em uma grande empresa tem seus altos e baixos, especialmente quando se tratava da Microsoft. Nunca pensei que teria um dia tão estressante, mas aquela segunda-feira estava me deixando de cabelos brancos. Gritei com duas equipes, dispensei três estagiários e dei uma última advertência em Normani e Dinah por se atracarem no ambiente de trabalho. Eu estava pressionada pela filial mãe e eles queriam números, por isso Joana e Noah estavam de passagem marcada para o Rio de Janeiro, eram os responsáveis pela contabilidade.

Me joguei na poltrona e abaixei as luzes da sala, minha cabeça estava estourando e o que eu menos queria era a luz do sol e sua temperatura absurda de quarenta e dois graus. Retirei os óculos, esfreguei as têmporas e abaixei a cabeça, respirando fundo para tentar colocar as ideias no lugar e não explodir por mais nada durante o dia. Um bipe no meu telefone chamou minha atenção e ergui o rosto para ler o nome de Camila na tela. Suspirei de alívio e abri a mensagem, que era curta, mas agradável.

[15:00hrs] "Estou sabendo que alguém está de cabeça quente hoje. Fique tranquila, meu amor, se estressar não vai te ajudar a encontrar uma solução. Tome um café, respire fundo e imagine que estou fazendo um oral em você. Te amo"

Aquela última dica me fez soltar uma gargalhada alta e neguei com a cabeça. Camila era hilária e quente ao mesmo tempo. Deixei para respondê-la mais tarde, eu precisava falar com Normani e Dinah e pedir desculpa pela minha atitude explosiva. Chamei minha secretária pelo telefone e em poucos segundos a jovem ruiva apareceu na porta com um sorriso de orelha a orelha e um iPad na mão.

- Me chamou, senhora Jauregui?

- Preciso de um favor, Amanda. – ela fez um sinal afirmativo com a cabeça e sentou na cadeira em frente à minha mesa. – Aliás, mais de um. Chame as senhoritas Hansen e Kordei do setor do Xbox, tenho que falar com as duas agora. Marque uma reunião com a equipe da Nokia, precisamos saber se os próximos celulares deles vão receber nosso sistema operacional. Preciso da lista de candidatos para estágio, é de extrema urgência.

- Tudo anotado, mais alguma coisa?

- Um café forte, pleeeeease.

Amanda sorriu, levantou da cadeira e piscou o olho, me deixando sozinha na sala mais uma vez. Minha secretária era a típica menina modelo que muitos homens gostariam de ter, mas ela só tinha olhos para um; Lucas, um dos estagiários que coloquei no olho da rua por tentar vender uma ideia para os concorrentes. A menina ficou arrasada, mas entendeu minha posição e até agradeceu; seria horrível trabalhar com alguém que não lhe dá a mínima chance.

- Mandou chamar, senhora Jauregui? – Dinah apareceu na porta e vi a sombra de Normani logo atrás dela. – Amanda disse que era urgente.

- Vamos parar com a formalidade, não precisa me chamar de senhora. As duas, por favor, sentem-se.

O casal se entreolhou, bateu a porta atrás de si e sentaram nas cadeiras em frente à mesa. Esfreguei as têmporas mais uma vez, recoloquei os óculos e entrelacei os dedos na superfície de vidro. Fiquei em silêncio por alguns segundos, pensando na melhor maneira de abordar as duas sem parecer rude como aconteceu algumas horas atrás. Quando Normani ameaçou roer uma de suas unhas, limpei a garganta e me ajeitei na cadeira.

- Você está me deixando com medo, Lauren.

- Olha, meninas, eu chamei vocês aqui pra pedir desculpa pelo meu estouro de mais cedo, mas não vou retirar as advertências. Estamos em um ambiente de trabalho, não quero e nem gostaria de ver que os funcionários não sabem dividir a vida pessoal da profissional. Já pensou no que poderia acontecer se os outros descobrissem o que vocês fazem? Isso aqui não é um motel.

- Nós sabemos, desculpa. – elas falaram em uníssono e mantiveram a cabeça baixa.

- Não quero ser uma pessoa chata que precisa puxar a orelha de vocês, já não são mais crianças, mas estamos em um ambiente de trabalho. O que fazem daqui pra fora é problema inteiramente de vocês, mas aqui dentro eu não quero. Sou amiga das duas, temos uma excelente convivência fora da Microsoft, mas na empresa eu preciso assumir o meu papel de CEO e vocês o de empregadas. Dou liberdade pra que façam o que bem entendem no cargo, mas não vou tolerar mais uma dessas situações. Sexo e amassos ficam em casa, entenderam?

- Não era sexo ou amasso, Lauren, era só...

- Tem certeza que vai me contestar sobre isso, Dinah? – a mulher abaixou a cabeça e eu suspirei, completamente esgotada. – Ninguém me falou, eu vi. Normani, tenho um aviso pra você; não quero mais que vá à sala da Dinah se não for pra falar algo relacionado ao trabalho, tudo bem? Vocês duas formam uma excelente dupla e tenho certeza que se gastarem o seu tempo produzindo mais do que transando, vão sair projetos maravilhosos. Fui clara?

- Com certeza, não precisa falar duas vezes.

- Ótimo. Tenho uma última ordem; nada de portas fechadas. Sei que pareço uma chefe babaca agora, mas vamos manter as coisas nesse ritmo até eu sentir que posso confiar em vocês o suficiente pra trabalharem de porta fechada. Combinadas? – bastou um aceno positivo das duas e eu me joguei no encosto da poltrona. - Quero uma proposta de jogo para semana que vem. Qualquer coisa, nem que seja um único desenho. Parece que só passando trabalho pra casa e puxando a orelha como uma professora vocês entendem que aqui não é parque de diversões. Estão liberadas.

Normani e Dinah arregalaram os olhos pra mim, levantaram das cadeiras e saíram da sala sem nem olhar para trás. Eu estava uma pilha de nervos e preocupada. Se a minha filial fracassasse, eu teria que voltar para os Estados Unidos e isso estava longe dos meus planos. Joana e Noah chegariam em duas semanas e eu precisava pensar em alguma coisa para alavancar os projetos, nem que fosse necessário puxar as orelhas de Normani e Dinah mais uma vez. Eu sabia que elas estavam putas da vida por tomar um esporro como crianças, mas depois entenderiam o meu lado.

- Senhora Jauregui? – a voz de Amanda se projetou na sala e eu respirei fundo antes de apertar o botão para responder.

- Estou ouvindo.

- Estou levando o seu café e tem uma moça aqui para te ver.

Uma moça?! Se fosse Camila ela já teria anunciado, então quem poderia ser? Mordi o lábio inferior e franzi o cenho tentando pensar em qualquer pessoa que gostaria de falar comigo, mas não lembrei de ninguém. Decidi dar de ombros e ignorar minhas dúvidas.

- Tudo bem, pode entrar.

Me ajeitei na cadeira, limpei as lentes dos óculos e entrelacei os dedos em cima da mesa. Amanda abriu a porta e meu olfato logo fez meu corpo tremer ao sentir o aroma de café quente e fresco. A ruiva me entregou o copo, voltou para a saída da sala e falou com alguém para que entrasse. Fechei os olhos para sentir o líquido forte descendo pela minha garganta, relaxando os meus músculos e quando voltei a encarar a sala, cuspi um pouco do café quente.

Ela trancou a porta da minha sala e virou para me encarar. Segui as curvas do seu corpo como quem aprecia uma obra de arte detalhista; as pernas bem cuidadas e bronzeadas, os seios perfeitamente moldados no vestido preto com linhas brancas. Perdi o fôlego ao ver o conjunto completo que era fechado perfeitamente por um louboutin preto.

- Surpresa em me ver? – ela sorriu, se aproximou da cadeira em frente à minha mesa e cruzou as pernas ao sentar-se. A criatura era um demônio com traços angelicais. – Achei que seria perfeitamente adequado te fazer uma visita.

- Oh... yeah... hamm... perfectly...

- Está nervosa? – vi seus lábios carnudos se curvarem em um sorriso malicioso e tudo o que fiz foi engolir a saliva que se acumulou em minha boca. Me sentia completamente intimidada. – Preciso dizer, eu pensei bastante antes de vir aqui. De início, achei melhor não, você deve ter muito trabalho pra fazer, mas depois decidi que nada melhor pra relaxar do que receber uma boa massagem. E você anda tão estressada, tão tensa... Não concorda?

Ela levantou, deu a volta na minha cadeira e senti seus dedos apertarem meus ombros de forma suave, causando o efeito contrário do esperado depois de uma massagem; meu corpo tensionou. As unhas cravaram na minha pele e senti uma gota de suor descer pela têmpora direita, fazendo um percurso até minha clavícula por baixo da blusa social. A risada baixinha e maligna que ela soltou fez meus pelos arrepiarem, eu estava prestes a ter um ataque cardíaco.

- You... why...

- Shh... – seus lábios desceram pela minha orelha esquerda, me deixando toda arrepiada. Que inferno de mulher! Seria possível que nem no meu trabalho ela me daria paz? A resposta era apenas uma só: não. – Fica quietinha. Feche seus olhos, vai... sinta minhas mãos em você. – soltei um gemido baixo quando seus dedos delicados massagearam a curva do meu pescoço, e deixei minha cabeça cair para trás um pouco. – Sente a minha boca...

Porra!

Em um movimento lento e impiedoso, Camila arrastou a língua quente e molhada desde a minha nuca até o pé do meu ouvido direito, fazendo os meus dedos agarrarem os braços da minha cadeira com tanta força que cheguei a sentir dor. Um gemido rouco escapou da minha garganta, e meu corpo deixou claro aquele sinal de alerta indicando que ela havia, mais uma vez, ultrapassado o meu limite.

- Não faz assim, baby...

Suspirei, umedecendo os lábios, deixando suspiros e mais suspiros encherem o ambiente. Seus dedos desceram por minha clavícula e entraram sem permissão em meu sutiã rendado.

- Não só assim... mas farei desse jeito também. – ela beijou a minha mandíbula e deu um aperto firme e gostoso nos meus seios, e eu soube naquele momento que não tinha mais para onde correr. Ela faria de mim o que queria, e eu não diria nada para pará-la. – Aproveita! Eu vim até aqui só para mimar você.

Holy shit! Aquilo que era ser mimada, o resto era piada.

Eu abri os botões da minha camisa social e deixei que suas mãos macias massageassem meus seios necessitados de atenção. Era loucura o que estávamos fazendo, mas naquele momento, nada mais me importava. Seus dedos apertaram meus mamilos sensíveis e sua boca quente me lambia o pescoço. Meu rosto queimava, e deixei que alguns palavrões saíssem da minha garganta quando a vi dar a volta na cadeira, sentando-se em meu colo com uma perna de cada lado da minha cintura.

Nos encaramos por alguns instantes, seu cheiro era delicioso e refrescante, sabia que ela havia acabado de sair do banho. A fragrância de seu sabonete era inconfundível.

- Você é uma loucura, Camila. – apertei sua bunda, a forçando mais contra mim, distribuindo beijos molhados por seu pescoço. – Estou toda molhada e mal me tocou.

- Você ganhou na loteria, Lauren. – Camila se curvou sobre o meu corpo e chupou meu lábio inferior, enfiando as mãos entre as mechas escuras do meu cabelo. – Que mulherão do caralho você tem.

Eu vi o rastro de um sorriso convencido surgir em seus lábios antes de tê-los esmagando os meus em um beijo urgente. Como eu amava a forma em como ela se amava. Adorava seu jeito convencido, sua segurança, seu poder de leoa que me deixava a mercê de seus toques e olhares. Ela tinha razão, eu havia ganhado na loteria. Camila era, sem sombra de dúvidas, um prêmio de milhões e milhões de dólares.

Nosso beijo era molhado e delicioso, aquela garota beijava como ninguém. Sua língua era atrevida e curiosa, trabalhando em minha boca de forma incansável, deslizando contra a minha e me rendendo gemidos sufocados. Seu quadril rolava lentamente sobre minhas coxas, e eu podia sentir o calor que emanava dela.

Minhas mãos perdidas em suas coxas suavam, e a separação de nossos lábios causou um barulho gostoso e excitante, quando Camila se afastou um pouco e levantou do meu colo. Com calma e abusando da sensualidade que não lhe faltava, ela se sentou sobre a minha mesa de vidro, de frente para mim, e abriu as pernas.

- Por que não ocupa a sua boca com outra coisa? Não tem nada por baixo desse vestido e é tão fácil de abrir. – eu curvei meu corpo para frente, literalmente salivando. Maldita! - Vem, Lauren, me deixa te relaxar da maneira certa.

Joguei meus óculos para longe e com minhas mãos, trêmulas e desesperadas, puxei a barra do vestido dela pra cima. A visão perfeita da boceta toda melada e rosada fez minha boca salivar. Dei pequenos beijos começando pelo tornozelo, passando devagar pela panturrilha, dando uma mordidinha na coxa e deslizando a língua pela virilha. Ela tinha um cheiro doce que me deixava tonta.

Minha língua passou levemente pelo clitóris, lhe arrancando um gemido dolorido e desesperado, como quem implora por um contato mais intenso. Passei pelas laterais, dando beijos e sugando de leve a pele sensível da virilha, escutando resmungos de reprovação. A olhei de baixo e vi seus dentes mordendo com força o lábio inferior enquanto me observava. Como era linda e provocadora, não era preciso de muito para me deixar louca. Suguei sua boceta sem aviso prévio e ela jogou a cabeça para trás, deixando um gemido alto escapar pela garganta.

- Fuck me, Lauren! Just fuck me!

Ah, falando em inglês comigo. Que delícia! Ela não cansava de me surpreender. Primeiro, a rapidinha no banheiro do bar, naquele momento, daríamos uma rapidinha em cima da minha mesa. Com mais quantas rapidinhas Camila iria me surpreender na vida?

Posicionei dois dedos em sua entrada apertada e gemi de satisfação ao senti-los deslizar com facilidade para dentro dela, lhe arrancando mais sons desesperados e uma de suas mãos em minha cabeça. Ao mesmo tempo em que minha língua trabalhava com ferocidade, meus dedos saíam e entravam, às vezes com calma, outras com força, tocando no fundo, girando e massageando, a preenchendo com maestria. Vi as gotículas de suor descendo pelo quadril dela e a segurei com a mão livre, forçando seu rebolado na minha boca sedenta. Que gosto! Era tão bom chupá-la que eu gemi em puro deleite. Desisti de segurá-la e me afastei, recebendo um olhar de reprovação.

- Mas o que...

- Relax, baby, let me play too.

Ergui minha saia até a cintura e sentei novamente na cadeira, voltando à minha posição. Abocanhei sua boceta com uma sede descomunal, outra vez, e voltei a meter ao mesmo tempo, iniciando movimentos circulares no meu próprio clitóris. Seus gemidos me instigavam, e eu podia ouvir os meus próprios gemidos roucos contra a sua carne molhada. Eu estava sentindo que o orgasmo dela não ia demorar muito, mas queria ter a sensação de chegarmos ao ápice juntas. Diminuí as estocadas e aumentei a velocidade em mim. Quando ela percebeu o que eu estava fazendo, abriu a boca para falar tudo de sujo que eu mais gostava de escutar.

- Isso, me fode bem gostoso, quero gozar na sua boca. Você me come tão bem, Lauren. Ninguém nunca fez tão gostoso assim. – eu sentia que poderia explodir de tanto prazer. A mesa sacudia com minhas investidas, fazendo tremer os lápis e canetas sobre ela. – Vai, olha pra mim, olha como me deixa, veja como me deixa louca de tesão por você. Porra!

Era aquela voz rouca, gemida, misturada com um tesão acumulado que me deixou em ponto de ebulição mais rápido do que eu esperava. Recomecei a chupar e meter com velocidade, e quando ela gemeu alto, tremendo em cima da mesa, senti os músculos de sua boceta se apertarem ao redor dos meus dedos, onde seu líquido quente inundou a minha mão e os meus lábios. Eu bebi dela enquanto gozava na minha própria mão, gemendo e me lambuzando, aproveitando o frenesi do orgasmo que me consumiu. Nosso climáx em conjunto me deixou extasiada e tombei minha cabeça em suas coxas suadas. Senti sua respiração rápida começar a desacelerar e seus dedos iniciaram um carinho no meu cabelo bagunçado.

- I think... eu acho que... preciso de um banho.

- Não acho que tenha banheiros com chuveiro na empresa, né? – ela gargalhou e me afastou de seu corpo. – Então, está mais calma?

- Fuck... totalmente mais calma.

Levantei da cadeira para me ajeitar e lhe dei um beijo. Camila estava uma loucura naquele vestido e nem de longe aparentava ter vinte anos. Perdi mais alguns segundos do meu tempo admirando aquela mulher que fazia um coque para disfarçar o cabelo suado e quando percebeu meu olhar, sorriu e revirou os olhos. Nem em mil anos eu poderia definir o que aquela garota significava pra mim, era mais do que tudo. Nem reescrevendo o dicionário eu encontraria todas as palavras certas para explicar quem era Camila.

- Você tem um banheiro aqui na sua sala, não é?

- Isso, boa ideia. Vou dar uma geral na maquiagem e passar um perfume, estou cheirando a você até a alma.

- É uma coisa ruim?

- Não... – lhe dei outro beijo e apertei a bunda dela com vontade, fazendo Camila pular. – É uma coisa excelente e gostosa.

- Humm... assim você me deixa com mais tesão, Lauren.

- Uma rapidinha no banheiro. O que acha?

- É um convite que eu, infelizmente, terei que recusar. – fiz um biquinho e ela beijou, sugando meu lábio inferior. – Tenho um jantar na Barra, coisa do hospital do meu pai, vão fazer uma homenagem a ele por serviços prestados e acho que será promovido. Preciso buscar Sofia daqui a pouco.

- Por isso está vestida assim? – caminhei ainda com as pernas um pouco bambas até o banheiro e ela me seguiu, se escorando no batente da porta. – Esse vestido te deixa maravilhosa, deveria usá-lo mais vezes.

- Uso preto para ocasiões muito importantes com gente chata. Por mim, iria com alguma coisa bem escandalosa, adoro irritar meu pai.

- Você está com a calcinha na bolsa, né?

- Claro que não, eu vim sem. – eu, que estava refazendo a maquiagem, acabei passando batom na metade da bochecha ao virar para encará-la. – Meu Deus, estou brincando! Está aqui, ó!

Camila tirou a lingerie preta da bolsa e colocou na minha frente, virada de costas pra mim. A visão de sua bunda empinada fez minha boceta latejar, mas me segurei ao máximo para não começarmos tudo de novo, já que não daria para terminar. Ouvi a risadinha debochada dela e voltei minha atenção para o espelho, tentando consertar a besteira que tinha feito no rosto. Camila se aproximou com cautela e começou a me ajudar.

- Você me deixa no limite, sabia?

- Claro que eu sabia, é pra isso que estou aqui. Fique parada. – admirei a concentração dela e fiz um biquinho para que ela me desse um beijo assim que terminou. – Eu preciso sair agora, deixa só eu dar uma geral na minha maquiagem senão meu pai vai saber com certeza que não fui pra lá direto de casa.

- Oh... I see. Escuta, como sabia exatamente que eu não estava em um bom dia?

- Normani me contou que você explodiu com ela e Dinah mais cedo. Era realmente necessário? Elas só estavam dando uns amassos.

- Eu já tinha avisado que o ambiente de trabalho não é lugar pra isso.

- É mesmo? – ela desviou a atenção do espelho e me encarou com um sorrisinho de canto. – E o que acabamos de fazer aqui? Estamos no seu ambiente de trabalho.

- Yeah, but... you know... we... you don't... ah, fuck.

Camila, mais uma vez, estava certa. Percebi naquele momento o quanto fui hipócrita em relação a Normani e Dinah. Se as duas receberam notificações minhas por fazer exatamente o que acabei de fazer com Camila, não era correto que eu lhes desse um puxão de orelha. Aquela seria a última vez que faria algo assim, precisava agir de acordo com o que eu mesma pregava para os meus funcionários.

- Viu? Não seja tão dura assim com elas e nem consigo mesma. Sei que aqui é um ambiente de trabalho, local sério, mas as coisas acabam fugindo do controle e acontecendo. Dá um desconto. Não faremos outra vez, okay? E tenho certeza que muito menos Dinah e Normani farão. Enfim! – ela deu de ombros e sorriu. – Como estou?

- Linda, como sempre. – ela se aproximou de mim, beijou meus lábios com calma e fez um carinho no meu rosto. – Estou tão relaxada que poderia dormir aqui mesmo, mas ainda tenho muito trabalho pra fazer e pessoas para entrevistar.

- Pelo menos você não vai a um jantar onde só vão velhos babões e mulher plastificadas tentando empurrar seus filhos engomadinhos pra cima das filhas dos outros.

- Estou achando melhor ir a esse jantar também, posso cancelar meus compromissos de hoje só pra te acompanhar.

- Deixa de ser ciumenta, amor, nenhum mauricinho espinhento ou bombado vai me chamar atenção. Pra que vou olhar pra esses tipinhos se tenho você?! Francamente. – ela verificou as horas no celular e arqueou as sobrancelhas. - Olha, eu preciso ir, já são quatro horas e Sofia sai da escola às cinco. Te amo muito.

- Te amo, meu amor, vá com cuidado, me avisa quando chegar e ao sair também.

- Pode deixar.

Camila me deu um último beijo, ajeitou o vestido, destrancou a porta e saiu da minha sala, me lançando um último olhar antes de sumir da minha vista. Fiquei encarando aquele espaço vazio e ajeitei a roupa no momento em que ouvi batidas na porta. Corri para a mesa com papel higiênico e sequei o líquido que entregava o que havíamos feito um pouco antes. A cabeça de Dinah surgiu na abertura e eu lhe dei permissão para entrar. Ela estava um pouco encabulada e eu recoloquei os óculos para ver a prancheta que tinha trazido.

- Ham... então... Normani e eu sentamos para conversar e ela me mostrou esse desenho.

- Parece o Chief do Halo.

- Sim, é ele. Bom, é... – Dinah coçou a nuca e eu franzi o cenho, alternando meu olhar entre a imagem e ela. – Porra, parecia mais fácil quando a Mani estava explicando.

- Vamos lá, parte por parte. É um jogo em primeira ou terceira pessoa? Estratégia? Ação? RPG? Que tipo de jogabilidade? Exige muito da parte gráfica? Só isso que precisa me dizer, Dinah, o básico.

- A Normani pode te explicar melhor, mas temos a ideia de lançar a beta de multijogador aberta ao público pra testar a aceitação do jogo no dia treze de junho. Já temos o ponto inicial, só precisamos da sua aprovação para entrar em contato com resto da equipe.

- Muito bem, posso dar a vocês carta branca pra começar o projeto, mas não quero nenhum anuncio antes de ver uma demo ou teaser. Preciso ver a jogabilidade e me juntar com o pessoal de marketing pra fazer uma pesquisa de mercado. Tirando isso, bom trabalho, está vendo como conseguem resultados rápido?

- Obrigada. – Dinah recolheu a prancheta e se dirigiu a porta, mas antes de sair, virou nos calcanhares pra me olhar. – Escuta, Lauren, não sei se esse é o momento mais apropriado mas... está afim de tomar uma cerveja mais tarde? Normani vai à Cidade de Deus visitar a tia e comentou que Camila foi a um jantar na Barra. O que acha? Podemos tentar esquecer o climão de mais cedo.

- Vão entregar meu carro por volta de seis horas, daqui a pouco vou embora. Vocês vão ficar até às oito, né?

- Isso, temos que bater o cartão às oito em ponto.

- Quando chegar em casa, me manda uma mensagem. Se eu não estiver apagada no sofá, gostaria de uma cerveja bem gelada mesmo.

- Ótimo! Então nos vemos mais tarde. Com licença. – antes de sair, ela novamente me encarou com uma feição de dúvida. – Ham... por acaso a Camila veio aqui hoje?

- Sim, passou pra falar comigo antes de ir à Barra. Por quê?

- Nada, é que eu queria ter certeza de que Normani estava apertando a bunda de alguém conhecido o suficiente antes de estourar. Até mais tarde, chefia.

Soltei uma risada alta e me larguei na cadeira, sentindo o aroma do perfume de Camila que ainda preenchia minha sala. Ela mal havia saído de perto e eu já estava morrendo de saudade. Se eu pudesse conversar com a Lauren de dezenove anos, diria a ela que não importa o quanto seu coração fique quebrado por alguém, você vai conhecer uma pessoa melhor. Uma mulher que vai virar seu mundinho sem graça em uma explosão de cores e sensações. Camila era o meu primeiro e único maravilhoso recomeço.


Mais tarde, depois de enfim receber o carro e estacioná-lo na vaga que até então só Camila utilizava, subi para tomar um banho. Joker, que estava jogado no sofá, nem se mexeu quando eu abri a porta. Ficou me observando com aqueles olhinhos e me aproximei dele, estranhando seu comportamento calmo.

- Hey, buddy, what's wrong? – perguntei a ele com uma voz calma e Joker lambeu minha mão. – O que você tem de errado, meu amor? Eu esqueci de deixar o ar ligado, é isso? Está morrendo de calor, né?

Me senti mal por esquecer de deixar o ar da sala ligado para que Joker se refrescasse e mais ainda por não abrir a porta para que ele se divertisse na varanda. O apartamento estava imundo e eu, mesmo cheia de dor nos músculos, tive que limpar parte por parte, todos os locais onde Joker havia marcado território. Ele podia ser pequeno, mas fazia um belo estrago. Brinquedinhos estavam espalhados por todos os lados e o safado urinou na minha cama, uma provocação que ele faz desde que era filhote por eu sair sem lhe dar um agrado.

Cheguei ao banheiro e fiquei alguns segundos encarando meu reflexo no espelho, observando meus traços e notando o quanto estava diferente. Joana diria que a idade me fez muito bem, mas eu sabia muito bem quem era a culpada daquela mudança tão aparente; Camila. Depois de tantos anos sob as palavras duras e gestos insensíveis de Valerie em relação a tudo que eu fazia, ter uma pessoa que me dá o devido valor e respeita meu espaço era uma mudança e tanta. Minha felicidade era tão grande que se projetava para o meu exterior ao invés de se concentrar apenas no interior. Sorri para o meu reflexo e fiz um gesto como se estivesse batendo punhos com outra pessoa, me sentia uma boba.

Meu banho foi demorado e relaxante, que só interrompi porque os latidos de Joker estavam tão constantes que comecei a me preocupar. Levantei da banheira contra minha vontade, me enrolei na toalha e caminhei devagar até a sala, achando idiota a ideia de que alguém estaria ali me esperando para dar o bote e vender meus órgãos.

- Joker, what the fuck?! – me aproximei do cachorro enquanto ele latia feio louco para o computador. – É um notebook, o que houve?! Joker, para! É só um pedido de chamada de vídeo.

Agarrei o corgi e tentei equilibrá-lo enquanto segurava a toalha. Quando o tecido enfim cedeu e caiu, pouco me importei, estava sozinha de qualquer maneira. Peguei o pote de ração do cachorro e servi sua tigela, encerrando a sessão de latidos e fazendo meus tímpanos agradecerem. Quando Joker queria, ele conseguia ser bastante irritante para ter comida. O deixei à vontade para ficar mais gordinho e me aproximei do computador, vendo o nome de Joana piscando na tela. Corri para apanhar a toalha jogada no chão, me cobri e apertei o botão para aceitar a chamada, abrindo um sorriso exausto quando o rosto da minha amiga asiática apareceu.

- AH! Finally! Wait... wait... finalmente! Acertei?

- Sim, minha querida. Diga, a que devo o prazer dessa ligação no início da noite?

- Não tenho boas notícias, se é isso que quer saber. Well... actually...

- Fale de uma vez, Joana. Não tive um dia muito bom na empresa e não estou afim de enrolação. Ou fala logo ou manda e-mail. – ela arregalou os olhos e abaixou a cabeça. Pela primeira vez, notei suas olheiras. – Jo, o que aconteceu? Você estava... chorando?

- I'm sorry, I... me desculpa, Lauren, eu deveria ter falado de uma vez. Não tem nada a ver com você ou com a empresa é que... eu precisava falar com uma amiga e você é a única que eu confio de verdade.

- Você e Noah brigaram? O que ele te disse?!

- É incrível o quanto as coisas são frágeis, certo? Quer dizer, um dia está tudo bem e no outro, BUM! Tudo desmorona.

Ela assoou o nariz com um lencinho e deu um sorriso triste enquanto encarava os dedos. Me senti totalmente inútil ao vê-la daquele jeito, sem poder abraçar seu corpo pequeno e lhe beijar o topo da cabeça. Se existia alguém no mundo em quem eu confiava mais que Camila, era Joana. Quando meu mundo desabou depois que Valerie foi embora, foi ela quem me deu um teto, me ajudou a reerguer e me proibiu de desistir. Me lembro das vezes em que meu telefone tocava de madrugada e ela não me deixava atender porque sabia que era Valerie, provavelmente arrependida por ter terminado, como muitas outras vezes. Não sei colocar em palavras o quanto sou agradecida por Joana desligar meu celular e acalmar meu choro até dormir. Agora, vendo-a do outro lado da tela sem poder fazer o mesmo por ela, me deixava angustiada.

- Fique calma e respire fundo, quero que me conte tudo devagar. Comece do princípio, como aconteceu e o motivo.

- Eu sou uma idiota, Lauren. Legal essa palavra, não? Meu professor de português me ensinou alguns palavrões, são bem mais legais que nosso fuck. – eu sabia o que ela estava fazendo, desviando o assunto para pensar em como começar. – Não me olha assim, estou apenas criando coragem pra te contar. Não é muito fácil.

- Falando assim, parece até que você assassinou a família dele e escondeu os corpos. Vamos, tenho certeza que você não teve culpa alguma nessa separação, nós duas sabemos como o Noah era difícil.

- Não posso colocar a culpa exclusivamente nele, eu também tenho minha parcela. Sabe, acho que às vezes não é pra ser. Estávamos preparando as coisas do casamento e eu fiquei uma pilha de nervos com algumas decisões dele. Noah queria chamar um primo babaca que eu odeio, lembra? O tal do Brody. Fiquei irritada e pedi que não chamasse, e mesmo contra a própria vontade, ele cortou o primo da lista. Depois disso, eu quis convidar uma outra pessoa e Noah me pediu pra cortar, lógico que fiquei chateada, mas já tinha pedido o mesmo pra ele. Não conseguimos chegar a uma decisão em conjunto sequer, nem mesmo a cor das toalhas das mesas. Eu sei que parece pouca coisa, mas não é assim que começa um casamento? Você concorda com seu parceiro sobre coisas pequenas e depois vêm as grandes.

- Eu entendo o seu ponto, Jo, mas tem certeza que vale a pena acabar com tudo só porque uma cor de toalha não agrada os dois ou porque ele queria convidar o primo filho da puta? Sei que no casamento nós precisamos entrar em um consenso sobre muitas coisas, mas acho que a magia de tudo está nas diferenças. Se você gosta de uma cor e ele de outra, usem as duas. Por que não um casamento mais colorido? Quanto aos convidados, acho errado cortar quem ele quer levar e vice versa. Eu já acho casamento uma coisa difícil, prefiro casar no papel e viajar por um mês com Camila do que pagar pra um monte de gente comer e beber nas minhas costas. Cada um com seu cada um. Vamos lá, pense comigo, vale a pena jogar dez anos de relacionamento pelo lixo só por causa da cor de toalhas?

Joana ficou congelada por alguns minutos, me encarando pela tela do computador. Ela sabia muito bem que eu estava certa, apesar de descordar de alguns pontos. Incontáveis foram as vezes em que ouvi os planos de casamento dela, sabia o quanto tudo aquilo era importante, mas valia a pena acabar com tudo por causa de uma festa? Não, não valia. Vi seu sorriso crescendo de novo e ri de seu nariz vermelho enquanto ela me mostrava o dedo do meio.

- Odeio quando você está certa, sabia? Só que posso fazer uma observação? – fiz um sinal afirmativo com a cabeça e ela arqueou as sobrancelhas. – Você notou que falou da Camila e casamento na mesma frase? Está pensando nisso pela primeira vez, Jauregui?

- What?! No, I mean... I was... Oh, fuck you!

- Sabia! Você pensa nisso quando se trata dessa menina. Minha nossa, se eu contar, ninguém acredita. – Joana limpou o nariz e apoiou o rosto nas mãos. – Você está realmente diferente, Lauren. Seu sorriso está mais bonito, os olhos brilham mais, até sua pele não está tão pálida quanto antes. Seus ombros andam mais erguidos, a cabeça menos baixa. Essa menina te mudou mesmo, fico tão feliz. Só Deus sabe o quanto rezei pra que você encontrasse alguém que te fizesse tão bem quanto o Noah... me faz.

Joana abaixou a cabeça e vi que tinha começado a chorar de novo. Era difícil falar em Noah e não tê-lo por perto para conversar. Se eu estivesse nos Estados Unidos, provavelmente já teria dado um jeito de juntar os dois, mas estava bem longe deles e impossibilitada de fazer mais do que algumas ligações. Joana levantou a cabeça e me encarou, mas eu notei que tinha alguém atrás dela; Noah. Ele estava lá escutando toda a nossa conversa e ela nem ao menos percebeu a presença dele. Dei um sorriso para a tela e vi o sorriso do ruivo crescer, ele sabia que eu o notei. Decidi por em prática a única coisa que estaria ao meu alcance; fazer Joana falar.

- Hey, minha japonesa linda e preferida, vamos... me dê seu melhor sorriso.

Eu amava o sorriso dela, tinha algo de reconfortante nele. Jo era uma mulher linda, tanto física quanto mentalmente e eu me lembro de ter tido uma queda por ela quando a conheci na empresa, mas logo afastei. Nenhuma pessoa que passou pela minha vida tinha a capacidade de me fazer sentir tão bem quanto Joana Konimura.

- Okay, okay, estou sorrindo, viu?

- Você ama aquele irlandês falsificado, por quê continuar chorando aqui se pode sair e encontra-lo? Sabia que sexo de reconciliação costuma ser muito bom? Aquele homem te ama mais do que a vida dele. Já vi Noah fazer coisas que muita gente duvida só pra te mostrar o quanto é devoto. Vamos, esqueça a droga das toalhas, os convidados e façam o que esse dia realmente propõe; se unam pra sempre.

- Não sei se conseguiria falar com ele agora, nem mesmo sei onde aquele cabeça dura está.

- Por quê não experimenta olhar pra trás?

Joana se virou tão rápido que bateu no notebook, virando a imagem. Eu quase não pude ver, mas sabia que eles estavam se beijando. Passados alguns segundos e barulhos que eu preferia não ter escutado, os dois apareceram na tela.

- Eu sou um idiota, Lauren, obrigado por me fazer perceber isso. Amo demais essa mulher pra deixar tudo ir pelo ralo por causa de bobeiras.

- Descobriu isso sozinho?

- Caminhei um pouco, tomei um café com meu primo e ele falou basicamente as mesmas coisas que você disse a ela, por incrível que pareça. – o ruivo encarou a noiva e lhe deu um beijo na ponta do nariz. – Eu só quero me casar com você, Joana, não importa como, só quero te ouvir dizer que quer ser minha esposa pro resto da vida. Eu te amo, minha japinha.

- Vocês são tão lindos, acho que vou vomitar. – eles me mandaram o dedo do meio ao mesmo tempo e ouvi meu celular tocando no quarto. – Pessoal, preciso atender meu celular, mas foi muito bom falar com vocês.

- Não pense que vai escapar de nós tão fácil, ainda estamos de passagens marcadas para o Brasil e fazemos questão da sua presença e da Camila no casamento.

- Conversaremos sobre isso depois. Aproveitem essa reconciliação. Amo vocês.

Os dois me mandaram beijos no ar e encerrei a chamada, agradecendo mentalmente por ter resolvido uma situação estando tão longe. A verdade é que Joana e Noah nasceram uma para o outro, sem exageros. Não consigo me lembrar de uma única vez que tenha visto os dois separados, mesmo com pequenas discussões, o que é completamente normal. Pensar neles me fez pensar em Camila e no que Joana falou enquanto conversávamos. É verdade que minha cabeça volta e meia chegava no assunto futuro, mas eu logo tratava de afastar, não queria assustá-la ou a mim mesma com essas ideias tão cedo. Camila ainda tinha vinte anos e não tem muito tempo que eu consegui, com esforço, a confiança de Alejandro. Seria uma boa dar um passo de cada vez.

Levantei do sofá me arrastando e quase tropecei em Joker, que jogava uma pelúcia em forma de bola de futebol americano que Camila tinha lhe dado de um lado para o outro. O cachorro me encarou e decidiu me seguir até o quarto, ignorando completamente a ordem de não subir na cama. Me larguei no colchão e atendi a chamada sem nem olhar para o visor.

- Espero que tenha uma boa explicação para demorar tanto pra me atender, dona Lauren.

- Hey, baby, what's up?

- Não me enrola, Jauregui, por que demorou pra atender? Está em casa?

- Estou deitada só de toalha, mas antes estava conversando com a Joana por videochamada, ela e Noah quase se separaram por causa de cores de toalha.

- Acho que eu prefiro não saber muito sobre isso. Olha, eu não sei que horas vou voltar, meu pai começou a beber e só Deus sabe quando vai parar. Geralmente, passa das três da manhã. Sofia já se enturmou com algumas amigas e eu estou conversando com duas garotas que cresceram comigo nesse ambiente insuportável.

- Espero que ambas sejam héteros.

Levantei com esforço da cama e fui para o closet, precisava me trocar logo se quisesse chegar na casa de Dinah sem pegar o trânsito todo da hora do rush. Separei uma calça jeans, a camisa do Patriots e minhas inseparáveis havaianas brancas.

- Não fiz essa pergunta a elas, mas acho que são héteros sim. Se fossem lésbicas, qual o problema? A festa poderia ficar até mais interessante, elas são bonitas.

- Não me faça pegar o meu carro e ir até a Barra te caçar, Camila Cabello. – a risada dela ecoou pelo outro lado da linha e eu respirei fundo. – Não estou vendo graça nenhuma.

- Pois eu estou. Quer vir? Então vem, mas aí teremos que fazer um grupal, igual no carnaval.

- Camila, isso não tem graça! Sabe que eu odeio essas brincadeiras.

- Ui, tá putinha? Adoro quando você fica assim, fico louca de tesão só de te imaginar bufando, com as narinas infladas e cenho franzido. Uma delícia de mulher.

- Idiota.

- Amor, bota uma coisa na sua cabecinha lindinha; eu não trairia você nem sob tortura. Olha só o mulherão que eu tenho! Acha mesmo que eu vou trocar toda essa carne de qualidade por esses pedaços de tripa seca?! Por favor, né. – neguei com a cabeça e abri um sorriso, ela era inacreditável. – Escuta, eu preciso desligar, meu pai está me chamando. Presta atenção, combinei com a Normani de busca-la quando eu sair daqui, vamos passar na casa da Dinah. Você vai pra lá, certo?

- Não vou perguntar como você sabe disso, mas sim, eu vou. Estou me arrumando agora mesmo.

- Eu sei de tudo, meu amor, você que se atreva a fazer algo nas minhas costas pra ver o que te acontece. Meu santo é forte.

- Disso eu não tenho dúvidas. – fiz um malabarismo para colocar a calça jeans e tropecei, caindo de bunda no chão. – Fuck, shit, son of...

- Lauren?! O que aconteceu?! Que barulho foi esse?

- Nada demais, só caí de bunda enquanto tentava colocar a calça. Escuta, eu vou com o meu carro pra casa da Dinah, você vai dormir aqui?

- Estou pensando seriamente em deixar o meu em casa e pegar um uber com a preta, mas depois decido isso. Eu preciso desligar, nos falamos depois. Te amo.

- Não apronte nada, entendeu? Te amo!

- Não adianta, as duas já estão tirando a roupa e só falta eu. Beijo!

- Camila!

Ela encerrou a ligação em meio a risadas e eu fiquei parada no meio do closet com o celular na orelha e bufando. Eu sabia que era brincadeira, mas meu ciúme chegava a ser um pouco infantil quando se tratava dela. Camila me dava tantas sensações diferentes que era impossível lidar com todas elas ao mesmo tempo. Era essa a maravilha do nosso relacionamento, cada dia uma explosão interna diferente.

Terminei de me arrumar enquanto cantarolava Samba de Verão e liguei para Dinah, confirmando se poderia sair agora. Sua voz, esgotada e exausta, dava dicas de que ela tinha acabado de chegar em casa, mas parecia aliviada ao saber que eu levaria algumas Heinekens. Antes de sair, enchi um pouco mais o pote de Joker e nem me dei o trabalho de ler a mensagem que piscava na tela do meu computador indicando um novo e-mail, não deveria ser nada importante.


O apartamento de Dinah era pequeno e aconchegante. Eu adorava todas aquelas plantas, o ambiente ficava mais fresco e cheiroso. A namoradeira que ela comprou na feira dos paraíbas estava na varanda, com certeza assustando algumas pessoas que passavam, como foi o meu caso. Cheguei a pensar que tinha alguém aqui e que Dinah teria que explicar pra Normani o que uma estranha estava fazendo em sua varanda. Mesmo tendo dinheiro e sendo filha de uma família bem-sucedida, ela era simples, talvez fosse por isso que eu me sentia tão confortável quando estava ao seu redor.

- Aqui está, canela de pedreiro. – Dinah me entregou uma garrafa de Heineken tão gelada que o vidro estava branco. Notando minha cara de dúvida, ela sorriu e negou com a cabeça. – A gente fala canela de pedreiro quando a cerveja está estupidamente gelada, daquelas que congelam o cérebro.

- Ah sim, canela de pedreiro.

Brindamos as garrafas e eu tomei um gole, sentindo todo o meu estresse da semana inteira morrer afogado naquele líquido maravilhoso. Um dos poucos momentos de prazer que não envolviam Camila estava concentrado naquela garrafinha verde. Na televisão, o show da Loud Tour começava e Dinah aumentou o volume quando Rihanna cantou os primeiros versos de Only Girl In The World.

- Amo essa mulher, olha o corpo. Sei que esse foi o melhor álbum dela disparado, não tenho dúvidas. Fui a esse show em São Paulo, gritei até ficar rouca.

- Gosto muito dela, mas nunca fui a um show, acho muito movimentado e gosto de coisas calmas, como aquele show do Caetano que nós fomos.

- Aquele foi muito bom, né? Eita, não molhei minhas plantas hoje, espera um pouco.

Dinah levantou e eu continuei vendo o show, nem mesmo reparei quando ela derrubou o regador no meio da sala e teve que secar tudo entre xingamentos a si mesma. Tirei o celular do bolso e abri o whatsapp, precisava mandar pra Camila uma parte da letra que eu me identifiquei.

[21:34] "Baby I'll tell you all my secrets that I'm keepin', you can come inside. And when you enter, you ain't leavin', be my prisoner for the night. Want you to make me feel like I'm the only girl in the world, like I'm the only one that you'll ever love, like I'm the only one who knows your heart.

Sempre achei clichê enviar letras de músicas para alguém, mas pela primeira vez aquela atitude fazia sentido. Enquanto Rihanna animava seu público alucinado, eu mergulhava nas letras e me imaginava mandando cada palavra pra Camila. Minha paixão por ela transbordava sem limites e quando meu celular vibrou com uma resposta dela, senti meu coração acelerar.

[21:36] Você não faz ideia do sorriso que eu dei quando li sua mensagem. Lauren, você é a única mulher do mundo pra mim, a única que eu vou amar e, sem dúvidas, é a única que conhece meu coração. Mal posso esperar pra te encher de beijos, te amo!

Lá estava eu com uma cara de pateta enquanto olhava pra tela do celular e nem notei que Dinah estava parada regando sua samambaia e sorrindo pra mim. Revirei os olhos e ela ergueu a garrafa, brindando comigo. Como não me sentir totalmente apaixonada quando eu estava rodeada de amor por onde ia?! Tinha Dinah, que arrastava um país inteiro por Normani. Joana, que mesmo estando nos Estados Unidos, eu podia senti-la por perto e seu amor por Noah. Meus pais, a devoção de Alejandro à memória de Sinu e suas filhas. Taylor e Beto, Andrea pela filha, até mesmo Joker comigo e Elis com Camila. Sofia pela irmã. Eu estava rodeada e isso me fez abrir um sorriso ainda maior, que chamou atenção de Dinah.

- Ei, pateta, o que tanto ri?

- Estou rodeada de amor, dá pra perceber?

- Você está bêbada? Quer dizer, não é possível, não bebeu uma inteira ainda. – soltei uma gargalhada alta e Dinah largou o regador para sentar ao meu lado. – Sério, você está bem? Precisa de alguma coisa?

- Um abraço seria ótimo. Não estranhe, é que... you know... it's the... espera. Eu nunca experimentei isso. Acho que você já deve ter se sentido assim, mas é a primeira vez que tenho essa sensação de estar rodeada de amor. Pode parecer estranho, mas estou muito feliz de verdade por me sentir assim.

- Vem aqui, gringa. – Dinah me apertou em um abraço confortável e eu suspirei. – Isso tudo foi a Camila? Toda essa paixão pela vida e tudo mais?

- Antes de conhecer a Camila eu não sabia o que era ser amada de verdade, quer dizer, não duvido que em algum momento a Valerie tenha me amado, mas com a Camila é diferente. Eu olho pra ela e vejo uma coisa diferente, como se tudo que eu sempre quis estivesse nas mãos dela. Camila me respeita, conhece meu espaço, me dá tempo pra trabalhar e não fica irritada quando preciso ficar um pouco mais na empresa ou passar o dia todo com a cara no notebook resolvendo problemas. Não lembro de uma única vez em que Valerie tenha aceitado algo assim. Sei que Camila só tem vinte anos, mas ela é tão estupidamente madura e não me arrependo em momento algum por ter colocado aquele anel de compromisso no dedo dela.

- Sabe, Jauregui, sinto a mesma coisa com Normani. Apesar de ser três anos a menos que você, sei do que está falando. Eu nunca tive um relacionamento sério, jamais pensei em me envolver e, de repente, a nêga me tem nas mãos. Acho que preciso te agradecer.

- A mim?! Por que?!

- Porque se você não tivesse me contratado, eu não teria te conhecido. Se eu não tivesse te conhecido, não teria parado na Lapa pra te cumprimentar e jamais teria conhecido a Normani. Bem ou mal, nós nos conhecemos através de você. Portanto, obrigada.

- Foi Camila quem empurrou Normani pra você, não eu.

- Cala a boca e aceita meus agradecimentos, Jauregui. Depois eu falo com Camila, agora meu assunto é contigo. – Dinah me deu um tapinha na parte de trás da cabeça e nós duas rimos juntas. – Está com saudade dela, né? Tudo fica meio sem graça sem a presença da Camila? Me sinto assim em relação a Mani.

- Sinto o tempo todo. É estranho acordar e não ter o corpo dela do lado do meu ou quando vou dormir e ela não está lá pra eu abraçar. Odeio almoçar sozinha ou tomar café sem ver aquela carinha de sono amassada. Camila faz parte do meu dia a dia e eu não sei mais o que fazer pra suprir a saudade toda vez que precisamos nos separar.

- Fico pensando nessas coisas e, pior que isso, é saber que logo as aulas vão recomeçar e Normani não vai poder ficar aqui o tempo todo, até mesmo depois do trabalho. Falando nisso, como ela vai fazer? Quer dizer, estudar e trabalhar.

- Eu não tinha pensado nisso, você tocou em um ponto importante, mas vamos resolver isso depois. Também não pensei no que vai acontecer quando as aulas de Camila começarem, mas vou dar um jeito de vê-la todos os dias, nem que tenha que busca-la.

- Escuta, o show ainda está no início e minha cerveja já acabou. Vamos tomar outra e preparar alguma coisa pra comer. As meninas só vão chegar lá pras três da manhã, o que eu acho bem perigoso, mesmo elas vindo de Uber. – Dinah levantou do sofá e eu a acompanhei, sentando no banquinho alto da cozinha e apoiando os braços na bancada. – Pensei em fazer uma linguiça com queijo provolone e chimichurri, o que acha?

- Não acha melhor irmos busca-las? Quer dizer, você disse que pode ser perigoso. Ah, adorei a ideia, parece ser delicioso.

- Espera, meu celular tá tocando. Pega na geladeira uma linguiça artesanal, por favor? Está na prateleira de cima. Se quiser cerveja, estão no congelador. Já volto.

Dinah me deixou sozinha na cozinha e fiz o que ela me pediu, me perdendo um pouco na quantidade de potes de nutella e morango em uma das prateleiras. Aposto que tinha dedo de Normani naquilo e me obriguei a lembrar de perguntar a Dinah sobre isso. Peguei a garrafa de Heineken no estilo 'canela de pedreiro' como ela chamou e abri, reparando nos imãs. Dinah tinha pelo menos um de cada lugar que já visitou, o que dava um ar colorido e divertido à geladeira de inox escuro. Quando voltei a sentar na bancada, vi Dinah se aproximar com um sorriso enorme no rosto.

- Parece que recebeu uma ligação do Papai Noel.

- Não era o Papai Noel, mas não deixa de ser um presente. Normani falou que Camila conseguiu sair da Barra e já está indo busca-la. Sofia ficou na casa de uma amiguinha e o pai dela estava bêbado demais pra voltar dirigindo, vai ficar por lá. Ou seja, não precisamos nos preocupar com as mocinhas vindo de madrugada. Até uma da manhã elas já devem estar aí e nos acompanham.

- Camila nem ao menos me ligou pra avisar.

- Talvez ela queira fazer uma surpresa e Normani me contou sem querer. Faça o seguinte; finja surpresa quando ela chegar aqui, certo? Agora, vem me ajudar a preparar essa linguicinha, é uma delícia.


Quando o relógio de pêndulo da sala de Dinah marcou uma e meia, comecei a me preocupar. Ela me disse pra ficar calma, que deveriam estar no trânsito ou o Uber demorou pra chegar. Já tínhamos bebido dez garrafas, cinco cada uma e não queria parecer bêbada quando Camila chegasse, mas estava difícil. O show da Loud Tour já tinha terminado e Dinah trocou para o Multishow Registro N9ve + 1 da cantora Ana Carolina. Quando a música com Seu Jorge começou, a campainha do apartamento tocou. Dinah me deu a dica de fingir surpresa e no segundo em que Camila abriu a porta com duas caixas de Heineken, eu nem tive como fingir, porque fiquei realmente surpresa. Levantei do sofá e lhe dei um beijo.

- Estava com saudade.

- Hum... quis te fazer uma surpresa, aí consegui sair mais cedo daquela prisão na Barra e busquei Normani. Olha só essas duas, é muito doce. – Dinah e a namorada se atracavam encostadas na bancada e eu neguei com a cabeça. – Estavam vendo Ana Carolina? Esse show é ótimo. Isso me lembrou de uma coisa, nós vamos dormir aqui pra sair amanhã.

- Dormir aqui?! Mas... eu pensei que...

- Fica calma, primeiro porque não quero que você dirija depois de beber e segundo, está cheio de Lei Seca por ai. Nós vamos a um churrasco amanhã na Taquara, em Jacarepaguá.

- Jacaré o que?

- Jacarépagua, só que nosso destino é a Taquara, minha amiga vai fazer um churrasco e muita gente do meu terreiro vai, quero que você conheça todos eles.

- Vai ser um prazer. – dei um beijo cheio de saudade nela e aquela sensação gostosa voltou a tomar conta de mim, me fazendo sorrir. – Quer uma cerveja? Estão como canela de pedreiro.

- Ai, meu Deus! Quem te ensinou essa expressão?

- Eu sou culpada e não nego. – Dinah apareceu ao meu lado e Normani ajeitava seu cabelo. – Gente, o quarto de hóspedes já está arrumado, tem uma cama de casal. Fiquem à vontade, hein?

- Vocês já vão dormir?!

- Vamos dar umazinha, chefia, não demoramos. Camila, meu amor, coloca as cervejas no congelador que quando eu sair do quarto vou precisar de um refil. Agora, se vocês me dão licença, eu preciso tomar outra coisa e não é cerveja.

Fiquei com uma cara de paisagem e Camila revirou os olhos, rindo, caminhando em direção à mesa onde estavam os dois engradados de Heineken. Meus olhos não se cansavam de admirar aquela carioca perfeita; o vestido moldando seu corpo, o cabelo preso em um coque, os dentes mordendo o lábio graças ao esforço de puxar as garrafas da embalagem. Percebendo o meu silêncio, ela me encarou sem entender, parando por um instante com duas garrafas nas mãos.

- Aconteceu alguma coisa, amor? Meu vestido está rasgado?

- Não aconteceu nada, só estava te olhando. Gosto de fazer isso todas as vezes que tenho a chance, gravar todo e qualquer traço seu na minha memória. – Camila ruborizou e suspirou, colocando as duas garrafas na mesa e se aproximando de mim, enlaçando meu pescoço. – Eu estava falando com a Dinah que estou com a sensação de ser rodeada por amor. Nunca senti nada assim e, desde que te conheci, é como eu fico. Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

- Você está bêbada? Anda falando tão bonitinho.

- Posso estar levemente alterada pelo álcool, mas acredite quando eu digo que você me deixa com essa sensação. Eu te amo, Camila.

Lá estava o brilho que eu amava ver toda vez que ela me ouvia dizer aquelas três palavras. Camila avançou em mim como uma verdadeira leoa e nós nos amamos sem nem pensar no instante em que Dinah e Normani voltassem. Duvidava muito que as duas apareceriam tão cedo, portanto, fiz amor com Camila no sofá e no tapete da sala. Amava sentir o cheiro da pele dela, ouvir sua risada baixinha no meu ouvido ou seus gemidos. Meus dedos passeavam pelo corpo de Camila e era a mesma sensação de tocar uma obra de arte valiosa. Em todos os meus anos de vida em jamais imaginei que acabaria uma noite de sexta-feira nos braços de uma garota de vinte anos, em Botafogo e ao som de Ana Carolina. A vida, mais uma vez, me impressionava.

Ficamos deitadas e sem roupa, cobertas por uma manta que Dinah guardava no armário embaixo da televisão. Só nos levantamos quando Normani e Dinah apareceram e a mais nova soltou um grito, correndo para pular em cima de nós duas. Mani era pesada e rolou de um lado para o outro, apertando nossas bundas.

- Mas são gostosas, né não?! Que casal é esse, bicho?! Como eu não lembro muito bem como são as joias da família, deixa eu ver, Jauregui!

- Sai pra lá, vagaba, ou eu levo a Dinah pro quarto e descubro como são as joias da família dela.

- Tu não é louca, bunduda. Eu arranco esse cobertor e agarro a Lauren aqui mesmo.

- Partiu grupal?

- Só se for agora.

- Ninguém vai fazer grupal nenhum! – levantei um pouco mais o cobertor e Camila gargalhou. – Por favor, amor, pega minhas roupas e vamos tomar um banho.

- Por que, Lauren?! Um grupalzinho não faz mal a ninguém. Já transamos as quatro no mesmo cômodo, qual o problema?!

- Que mania, hein?! Mani, sai de cima da Camila e deixa elas irem pro banho. Me ajuda a guardar as cervejas que as fofas não tiveram tempo de colocar no congelador. Anda, vem cá.

- Porra, Dinah Jane, maior corta tesão. Pode guardar, bunduda, ainda vou dar uma trepada louca com vocês duas. – Normani levantou aos risos e Camila lhe deu uma mordida na bunda. – É assim que começa, vai treinando mais.

- Pode deixar, preta, vou me jogar de cabeça.

Camila e eu levantamos ao mesmo tempo e fomos abraçadas até o banheiro, torcendo para não tropeçar em nenhuma das plantas. Depois de transar na sala, senti uma vergonha descomunal por ter sido apanhada por Normani e Dinah, mas Camila pouco se importava. Cansou de dizer durante o banho que já estava na hora de eu perder a vergonha, afinal, nós quatro transamos no mesmo cômodo, nos vimos peladas e que não tinha nada demais. Me dei por vencida e a convenci de transarmos no chuveiro, mas Normani apareceu no quarto e bateu na porta pra nos apressar, o tira gosto estava pronto.

- Ela tem radar pra sexo, tenho certeza.

- Isso eu já sei faz tempo, mas vamos sair logo ou ela derruba a porta.

- Mas... e a nossa brincadeira?

- Faremos em casa e na banheira quando voltarmos do churrasco. Prometo.

Só de pensar na ideia eu senti meu estômago formigar, mas fui obrigada a me conter e seguir Camila para fora do box, ajudando-a a se secar entre mãos bobas. Eu adorava estar perto dela, de tocar e beijá-la o tempo todo. Era o meu maior vício e eu não precisava ou queria uma cura. Por qual motivo eu gostaria de não sentir falta dela? A abstinência de Camila era o que me fazia produzir mais rápido, por que cortar isso? Não, obrigada.

Quando chegamos na sala, Normani e Dinah estavam embaralhando cartas na varanda e nos chamaram para sentar. Não entendi uma palavra do que ela tentava me explicar do jogo chamado Presidente, mas topei tentar. Não foi muito difícil, mas depois de perder cinco vezes, pedi pra trocarmos.

- Você é uma péssima perdedora, Jauregui. Eu tenho uma ideia, que tal Strip Poker?! Está calor e podemos nos divertir.

- Você só pensa nisso, Mani?

- Meu amor, por mim eu andava nua nesse Rio de Janeiro. Acho que o que é bonito é pra se ver, mas a lei, infelizmente, não permite. Atentado ao pudor, sabe como é. – fiz uma cara de quem entende exatamente o que ela está falando e Normani deu um gole na cerveja. – Por isso adoro esses joguinhos, estou morrendo de calor e não me importaria de tirar algumas peças de roupa.

- Não precisa de nenhum joguinho pra você tirar a roupa, mana, apenas faça.

Camila falou entre risadas e Normani deu de ombros, tirando a blusa para ficar apenas de sutiã. Pouco me importei, já estava acostumada com o corpo dela, mas os peitos sempre chamam a atenção dos olhos, por isso recebi um tapa na cabeça quando acabei olhando demais.

- Deixa a gringa olhar, Camila, eles adoram um chocolate.

- Vai tomar no cu, vadia.

As duas esfregaram os narizes e se abraçaram. Fiquei observando aquela cena e respirei fundo, ouvindo os carros correndo à toda na rua e vozes distantes de pessoas bêbadas em algum bar por perto. Eu gostava de estar ali, me sentia plena... me sentia feliz.


- Lauren, por que está tão nervosa? Só estamos indo a um churrasco onde amigos meus e meu povo do terreiro estarão. Não precisa desse nervosismo todo. O que te assusta?

Olhei pra ela com uma cara de descrença e ela gargalhou, fazendo um carinho na minha mão e dando um beijo em seguida. Enquanto atravessávamos a Linha Amarela em direção à Taquara, meu coração batia mais rápido. Milhares de perguntas pipocavam na minha cabeça em uma velocidade alarmante e eu só queria colocar a cabeça pra fora da janela e gritar. A mãe de santo dela estaria lá, e se ela não gostasse de mim? E se ela visse alguma coisa em mim e falasse pra Camila que era um prazer me conhecer, mas que eu não era a pessoa certa pra filha dela?! Nunca acreditei em nada disso, em mediunidade e etc, mas confesso que algo em relação àquilo estava me incomodando. Como saber exatamente o que era? Enquanto eu tremia furiosamente, Camila se divertia com o meu desespero.

- E se ninguém de lá gostar de mim? Sabe que eu sou muito tímida, posso acabar não conseguindo falar uma palavra em português... e se eu der defeito?! – ela gargalhou tão alto que por um instante eu quase me esqueci que o motivo da risada era eu. – Não tem graça, Camila. Você ia gostar de ir a um churrasco da empresa?!

- Claro! Adoraria conhecer as pessoas que estão ao seu redor, que conversam com você, que podem te ver todos os dias por oito horas. Lauren, sei que os seus empregados da Microsoft não têm o mesmo peso que o povo do terreiro ou meus amigos, mas são pessoas que convivem comigo e que eu gostaria que você conhecesse. Não é uma boa ideia saber com quem estou quando fico longe dos seus olhos?

- Tudo bem, você tem um ponto, só que isso não muda o fato de eu estar nervosa.

- Amor, se acalma, okay? Ninguém vai te tratar mal, são pessoas maravilhosas que me acompanham desde que eu era um bebê. Não se preocupa.

Ela pegou a saída da via e fui observando tudo ao meu redor enquanto nosso carro cortava ônibus e carros, sob a alegação dela de estar atrasada. Eu confiava em Camila no volante, mas não quando ela estava nervosa ou com pressa. Não demoramos mais do que quinze minutos para chegar na casa da amiga dela na Taquara e abri um sorriso ao ver tantas pessoas juntas logo na entrada. Camila me apresentou para dois grupos diferentes e quando passamos pelo portão, meu sorriso aumentou.

Uma roda de samba animava a festa, algumas pessoas sambavam juntas e o cheiro do churrasco fez minha boca salivar. Um pouco afastada da muvuca, Camila acenou na direção de duas senhoras e um rapaz da idade dela, que estavam sentados em uma mesa cheia de latinhas de refrigerante e pratinhos com carne de churrasco.

- Camila, é aquela senhora que está me olhando? Parece que ela está me analisando. – comentei receosa.

- Faça exatamente o que eu fizer, está bem? É questão de respeito. – apenas concordei com a cabeça enquanto nos aproximávamos da mesa. Eu vi um sorriso doce se abrir nos lábios da minha garota quando ela parou de frente para a senhora que estava sentada na ponta direita. Era mais do que óbvio o tamanho de sua admiração e respeito, e eu queria apreciar isso até onde pudesse. Com calma, Camila tomou as velhas mãos nas suas e beijou cada uma delas, levando-as até sua testa no momento em que se curvou. – Sua benção, minha mãe.

- Que Oxalá te abençoe, minha filha. – com um carinho que eu pude sentir imediatamente, a senhora que eu ainda não sabia o nome, pousou sua mão direita no topo da cabeça de Camila, abrindo um sorriso mais do que acolhedor. Camila se ergueu, me dando espaço para aproximação. E foi o que eu fiz, repetindo seus gestos e desfrutando de uma sensação maravilhosa quando sua mão tocou a minha cabeça. Independente de qualquer coisa que eu acreditasse ou não, aquela energia era incrível. Quando me levantei, a idosa sorriu. – Quem é essa moça? Como é bonita.

- Essa é a Lauren, minha namorada. Lauren, essa é a Mãe Vitória de Yemanjá, nossa Yalorixá. Esse é o nosso Ogan, Paulinho, mas ele não toca só os atabaques e canta o Candomblé, ele é o homem da casa que zela pelo bem-estar do barracão. Uma responsabilidade e tanto.

Eu fiquei um pouco confusa com aqueles nomes em Yorubá. Mas me lembraria de perguntar a Camila depois e fazer uma profunda pesquisa.

- Prazer! – ele sorriu. - Camila, você com uma namorada?! Você?! Alguém finalmente te pegou de jeito. – Paulinho se empertigou na cadeira e me analisou por alguns instantes. – Não é brasileira, né? Parece gringa.

- Sou americana, mas minha família toda mora no Brasil, cheguei ao Rio em Dezembro. Camila é a melhor amiga da minha irmã, foi assim que nos conhecemos.

- Estamos nos dando muito bem, me sinto muito feliz. Lembra do que minha mãe de sangue costumava dizer, mãe Vitória? – Camila abriu um sorriso nostálgico. – Que sempre fiz escolhas certas.

- Lembro sim, minha filha, e como lembro das palavras de Sinu. – ela voltou a se sentar, soltando um suspiro. - Mas deixa eu dar uma olhada nessa moça. Abaixa, criança.

A moça que estava ao lado da senhora cedeu o lugar e me sentei de frente pra ela. Senti seu olhar me analisar, despir minha alma e me ajeitei na cadeira. Camila olhava tudo com uma curiosidade infantil e eu tentei ao máximo não perguntar o que ela estava fazendo. A Mãe de Santo de Camila era uma senhora negra e idosa, suas rugas cobriam o rosto, mas davam um ar de grande sabedoria e paz. A cabeça estava coberta com um turbante e ela sorriu ao me ver reparando em suas contas, que caíam por cima do vestido florido.

- Eu... eu...

- Por que nervosa? Fica calma. Você é uma pessoa de coração grande e bonito, tem uma alma cheia de luz. Agrada muito o meu velho coração que minha menina tenha encontrado alguém puro, por isso quero pedir para cuidar bem dela. Camila tem uma proteção muito forte com ela, não anda sozinha. E como pode ver, todas as pessoas que estão aqui a adoram. Ela é especial. É de extrema importância que você a trate com respeito e sabedoria. Ela não merece menos que isso. A faça feliz e nos deixe felizes. Estamos combinadas? – a senhora apertou minha mão e eu senti sua palma calejada, o que me fez apertar com mais vontade, estava me passando uma sensação boa. – Gostaria muito que você fosse ao terreiro com minha filha, caso seja de seu desejo. Sinto uma energia muito forte vinda de você, Lauren. Uma energia boa. Vá até lá se quiser, estarei lhe esperando.

- Não se preocupa, mãe Vitória, vou levá-la se ela quiser. Lauren é ateia, mas se encantou bastante pelo nosso Candomblé, com as histórias dos Orixás e tudo mais. Acho que ela vai gostar ainda mais quando escutar o som potente do atabaque.

- Será muito bem-vinda, viu, menina Lauren? Como Yalorixá, digo que as portas do meu terreiro estão abertas para receber aqueles que desejam receber graças ou aprender um pouco mais sobre a nossa crença.

- Eu... obrigada, mãe Vitória. Muito obrigada mesmo. – beijei suas mãos de novo, me sentindo estranhamente emocionada. – Sua benção outra vez.

Camila sorriu e a senhora colocou a mão na minha cabeça, sorrindo. Me afastei um pouco da mesa me sentindo eufórica enquanto minha mulher conversava com mãe Vitória. Todo aquele ambiente me deixava com vontade de dançar e me divertir, era uma energia tão boa que mal percebi quando Camila puxou minha mão para dançarmos um pouco. Como não acreditar que tinha uma energia forte ali, quando eu sentia que ela por inteiro vinha de Camila?! Eu iria ao terreiro com ela para conhecer, não podia fazer tal desfeita com Mãe Vitória, mas no fundo tinha um pouco de receio do desconhecido. Camila logo afastou meus pensamentos quando beijou minha boca e arrancou gritos e palmas dos seus amigos. Eu estava em outro mundo agora e me sentia bem nele.


Depois do churrasco e toda algazarra, nós voltamos exaustas pra casa. Não bebemos uma gota de álcool, Camila precisava dirigir e eu seria incapaz de nos tirar de Jacarepaguá sem errar o caminho. Quando finalmente chegamos em casa e ela cumpriu o que tinha prometido na casa de Dinah, decidi preparar alguma coisa pra comer. Camila tinha pegado no sono e aproveitei a oportunidade para levar algo na cama. Quando passei em frente ao notebook, notei o ícone de mensagem e me sentei em frente à tela para ler o e-mail.

Remetente: Valerie Booners.

Assunto: Queime depois de ler... ou não.

Meu coração foi literalmente para a boca. Como Valerie descobriu meu novo e-mail?! Fiquei parada durante bons minutos olhando aquela linha fina e azul destacar a mensagem dela, sem saber o que fazer. Minha cabeça dava tantas voltas que precisei me jogar no sofá para não desmaiar. Depois de oito anos sem qualquer contato, nem mesmo uma mensagem, ali estava um e-mail dela. Meus dedos tremiam e minha primeira reação foi apagar, mas a curiosidade falou mais alto. Sentei na ponta do sofá e dei dois cliques no e-mail, abrindo a mensagem de Valerie.

"Hey, baby.

Lembra como costumávamos nos chamar assim? Não se assuste com esse e-mail em português, fiquei sabendo que agora está morando no Brasil, então dei um jeito de me comunicar usando sua nova língua. Andei pesquisando sobre você, precisava saber como estava indo minha workaholic favorita e olha só o que eu descubro; CEO da Microsoft no Rio de Janeiro! Meu Deus, Lauren, eu fico tão feliz por você, ninguém merece mais esse cargo. Lembro das noites em claro que você passou estudando pra conseguir a vaga e da sua felicidade quando a carta chegou. Eu mal podia me conter. Tivemos tantos momentos maravilhosos, não consigo enumerar cada um deles, mas vou falar os meus preferidos.

Eu adorava a maneira que você preparava um café quente antes de eu acordar e deixava a fumaça entrar nas minhas narinas só pra me despertar. Era a melhor maneira de acordar, café fresco e olhar seus olhos verdes logo pela manhã. Não existia sensação melhor do que ir dormir nos seus braços e acordar podendo te ver, saber que você era só minha e de mais ninguém.

Amava aquelas tardes no United States Botanic Garden, onde você me fotografava de todos os ângulos possíveis com sua velha polaroid e não cansava de dizer o quanto eu ficava linda, seja com pouca ou muita luz. Minhas bochechas queimavam de tanta vergonha e você se aproximava, beijando a ponta do meu nariz e me acolhendo nos seus braços. Deus, como eu sinto falta do seu calor e da sua voz.

Nossas noites em frente à lareira quando estava uma nevasca do lado de fora, ouvindo nossos discos de vinil, tomando vinho ou um chocolate quente e nos amávamos sob aquele calor gostoso que só os nossos corpos emanavam. Lauren, você não faz ideia do quanto sinto saudade do seu corpo, dos beijos, das carícias, das juras.

Sabe aquele conjunto de chá que Joana e Noah nos deram?! Eu ainda guardo cada uma daquelas peças, minha atual companheira nunca entendeu o meu apego a uma louça barata daquela lojinha na esquina da rua, mas nunca vou contar. Assim como nunca vou dizer que o cordão que ela tanto ama, foi você quem me deu. Guardo até mesmo o anel do nosso primeiro aniversário. Uso às vezes no cordão, assim fico ainda mais perto do que tínhamos. Por que tudo teve que ser tão difícil?

São incontáveis as vezes em que eu acordo de madrugada chorando depois de sonhar com você, imaginando em qual pedaço de terra decidiu refazer a sua vida. Será que conheceu outra pessoa? Será que essa outra que está do seu lado te faz tão feliz quanto eu? Tenho certeza que não. Ninguém jamais seria capaz de oferecer a você o que eu ofereci. Meus sentimentos foram puros, reais, sólidos! Que outra mulher do mundo pode te dar isso?! NENHUMA! Eu choro sempre que lembro de você, quando escuto nossas músicas, até quando vejo nossas fotos que escondi com muito cuidado. Simplesmente não posso me desfazer de nada.

Merda, Lauren, éramos tão felizes, o que aconteceu? EM QUAL PARTE DO NOSSO FELIZES PRA SEMPRE TUDO DESANDOU?!

Lembro do dia em que você chegou em casa tarde da noite e brigamos porque eu estava de saco cheio do seu trabalho, sua voz estava tão cansada e eu não parava de te atacar. Fui injusta ao mandar que escolhesse entre eu ou a empresa. Porra, eu fui babaca demais! Quem nesse mundo não está correndo contra o relógio todos os dias? Mas você foi tão ignorante comigo, gritou pra que eu fosse embora de uma vez, que também estava exausta das minhas reclamações.

POR QUE VOCÊ FEZ ISSO?! EU NÃO TE FAZIA FELIZ?! NÃO FUI BOA O SUFICIENTE?!

Lauren, eu tenho tantos momentos maravilhosos guardados, mas você preferiu se afundar no trabalho do que me ter do seu lado. Foi horrível saber que um computador era mais importante que eu e você. Mas tudo bem, agora eu tenho uma pessoa que é cem por cento minha, não preciso dividir com nada e nem ninguém, mas...

Pois é, sempre vai existir essas reticências. Existe algo depois desse mas que eu nunca vou saber colocar direito. Estive rondando a Microsoft no mês passado, até encontrei a Joana, mas ela logo me dispensou dizendo que você foi embora. Um dia eu gostaria de te encontrar, talvez vá até o Brasil, no Rio de Janeiro, pra sentar e conversar. Falar sobre a vida, como tem andado, te contar o que ainda sinto e nunca deixei de sentir. Por favor, me responda, mande seu endereço e telefone, seria ótimo ouvir sua voz de novo.

Espero que ainda pense em mim de vez em quando, mesmo tendo decidido que era melhor que nos separássemos.

Eu ainda te amo.

PS: Aquele vinil da Adele nunca foi tão usado, espero que me desculpe se pular alguma música quando eu te devolver.

PS²: Estou enviando duas fotos nossas em anexo, achei no meio das minhas coisas antigas. Que saudade daquele tempo."

Fiquei completamente petrificada em frente à tela, não tive nenhuma reação a tudo que tinha acabado de ler. Abri os anexos e a primeira foto era uma polaroid nossa em uma viagem para Chicago, tínhamos acabado de acordar. A outra, mostrava nós duas de testas unidas e sorrindo durante um jantar de natal na casa dos amigos dela.

Aquela bomba de Valerie me deixou sem reação, não por ainda me importar, mas pela audácia de me culpar pelo término. Como uma pessoa era tão egocêntrica a esse ponto?! Toda nossa história foi jogada fora por puro egoísmo e agora ela queria me encontrar?! De jeito nenhum. Quando me estiquei para cima do teclado, pronta para mandar uma resposta curta e grossa, uma voz atrás de mim me fez pular de susto.

- Se você responder esse e-mail, será uma mulher solteira.

Virei para encarar Camila e notei seu olhar furioso. Tentei me aproximar dela, mas ela avançou no computador, fechando a tela com força. Nunca tinha visto Camila daquela maneira e me senti assustada pela primeira vez. Minha voz morreu antes de chegar a boca, mas foi no instante em que ela se afastou, que a segurei pelo braço.

- Não é nada disso, okay? Sei o que está passando pela sua cabeça. – suspirei e balancei a cabeça. - Camila, please!

- Não é nada disso?! Só eu sei o que se passa pela minha cabeça. Você ia responder essa mulher, não ia?! Olha nos meus olhos e fala que não ia!

- Camila, Valerie não significa mais nada pra mim, o que você leu aqui foi uma clara demonstração de desespero dela. Não falo com essa mulher há oito anos!

- Pelo visto ela ainda guarda muitas memórias felizes, não é?! Essas porcarias de fotos! – Camila esbravejou, apontando para o computador. Sabia que era muita informação para ela, eu tinha consciência de que ela havia batido de cara com o desconhecido e que, infelizmente, era demais para lidar naquele momento. Vi em seu rosto que toda a sua segurança havia ido pelo ralo. Reparei nas lágrimas começando a se formar em seus olhos e tentei me aproximar. – Quero uma explicação agora mesmo, Lauren! Quando esse e-mail chegou?

- Eu estou tentando te dar a porra de explicação, mas você não me deixa falar! – comecei a gesticular e senti meu português falhar. – She... I don't know... Fuck, I just don't know! Ela descobriu meu e-mail novo. Depois que terminamos, eu troquei tudo. EVERYTHING! Número de telefone, e-mail, qualquer merda que fizesse ela chegar até mim! Estou tão surpresa quanto você, mas isso não significa nada! Valerie não significa nada!

- Mas significou e deu pra ver muito bem. Que merda essa mulher estava pretendendo?! Ela está pensando em vir ao Brasil e ai?! Você vai encontrá-la?!

- What?! No, no! Eu nunca disse que ia encontrar a Valerie, Camila, você quem está dizendo. Não tem como ela me achar, eu não vou dar meu...

- Ela deve saber onde é a Microsoft aqui no Rio, já deve ter mexido os malditos pauzinhos pra saber tudo e você aqui achando que ela é burra. Mulher quando quer, descobre até a cor da calcinha que a outra está usando. – Camila estava vermelha de tanta raiva e as lágrimas começaram a molhar sua bochecha. Tentei me aproximar mais uma vez e ela levantou a mão para me impedir. – Não! Quero que me responda. O que vai fazer se ela de repente aparecer na sua sala com a cara mais lavada do mundo? Você tinha que ignorá-la e só. Por que iria respondê-la se não tem mais nada a ver?

- Toda pessoa merece uma resposta, especialmente quando precisam de um belo corte. E eu não preciso receber quem eu não quero, Camila. Valerie não vai me procurar, ela não...

- DEIXA DE SER INOCENTE, PORRA!

- EU NÃO ESTOU SENDO MERDA NENHUMA, CAMILA, ENTENDE QUE ISSO NÃO SIGNIFICA PORRA NENHUMA PRA MIM! CHEGA!

De repente, como quem desliga um aparelho de som, Camila ficou muda. Seus olhos me encararam uma última vez e ela virou as costas em direção ao quarto. Minhas pernas demoraram pouco mais de um segundo para correr atrás dela e segurá-la por trás enquanto ela colocava suas coisas na bolsa.

- Lauren, por favor, me solta.

- Não, você não vai embora. Espera!

Camila pareceu me ignorar, continuando a arrumar suas coisas e andando comigo em suas costas. Joker, que até então estava escondido desde que começamos a discutir, saiu debaixo da mesa de centro da sala e se aproximou de nós, dando pulinhos. Ela soltou minhas mãos com esforço e se abaixou para fazer um carinho atrás das orelhas do cachorro. Quando Camila levantou de novo, a abracei com mais força e ela suspirou.

- Por favor, não me pede pra ficar agora. Eu não sei o que estou sentindo e tenho medo de falar o que não devo ou pior ainda, fazer. Nunca topei com algo parecido antes, nunca senti isso. Deixa eu ir pra casa, eu preciso ficar sozinha.

- Não, eu não quero que você vá, não quero que fique chorando sozinha. Por favor, você tem que entender, amor.

- Realmente, Lauren, eu preciso entender o que é isso que está acontecendo comigo, o que é isso que está me fazendo chorar. Depois nós conversamos. Agora me solta.

Meus braços fraquejaram ao ouvir a voz embargada de choro dela e a soltei, vendo a mulher da minha vida abrir a porta da frente e fechar com força, fazendo meu quadro na parede estremecer. Corri para alcança-la, mas quando cheguei ao corredor, ela já tinha entrado no elevador. Soquei as portas de metal e senti meus dedos incharem. Voltei a passos largos para dentro do apartamento e abri o notebook, as fotos ainda estavam na tela quando desbloqueei. Apaguei o e-mail sem ler duas vezes e fui para o quarto com a cabeça à mil e mandando trezentas mensagens para Camila. Que maneira merda de acabar um dia. Tentei ligar, mas depois da décima tentativa, ela desligou o celular. Quando a caixa postal anunciou que eu poderia deixar uma mensagem, respirei fundo e engoli o choro.

- Por favor, me liga! Estou tão preocupada. Vamos conversar, Camila, me deixe explicar melhor, me deixei falar, amor. Só... me liga, ou volta.... Eu te amo!

Joguei o celular para o outro lado da cama e assobiei para chamar Joker. O cachorro se aproximou de mim, me analisou por alguns segundos e se aconchegou na minha barriga, lambendo algumas lágrimas que tentaram cair. Não tinha nada que eu pudesse fazer, agora era só esperar por ela, porque eu sabia que Camila voltaria.

Ela precisa voltar pra mim.

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