The Donor - Faberry

By Lookafterachele

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A filha de Rachel quer saber quem é seu 'pai'. Como Rachel pode explicar à menina que 'seu pai' é, na verdade... More

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31. Epílogo

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By Lookafterachele


Hey kids!!



The Donor

de wishfxlthinking

Capítulo 6


Rachel POV

– Oh, Rach, eu convidei a Quinn para ir com a gente hoje!

– O que? – Eu encarei minha companheira de apartamento com repleta confusão. Quando que elas tinham se falado?

– Sim, eu mandei uma mensagem para ela perguntando se ela estava livre. Foi ideia das meninas! – Santana explicou. É claro que tinha sido ideia das meninas. Já tinham passado duas semanas desde nosso passeio até a praia e as meninas estavam de volta à escola para o descontentamento das duas. Quinn tinha conseguido uma folga no trabalho enquanto a escola de Beth estava de recesso para passar um tempo com a mais nova, e foi isso que ela fez. Desde a ida à praia, nós três tínhamos passado bastante tempo juntas.

A primeira coisa que fizemos foi ir ao cinema, apenas nós três. Eu e Quinn tínhamos planejado aquilo apenas entre nós para surpreender a pequena, e nossa filha ficou extasiada quando soube que ela sairia aquela noite com suas duas mães – inclusive, assim que ela voltou a escola ela fez questão de se gabar por causa disso. Nós fomos assistir Divertidamente porque Quinn pediu. Eu achava que o conceito do filme seria muito complexo para uma criança daquela idade, mas no fim do filme eu não sabia se aquilo era verdade porque Beth parecia tão encantada com o filme quanto Quinn. E eu também, para ser honesta. Nossa filha sentou-se entre nós duas, é claro, mas isso não impediu que Quinn e eu trocássemos olhares de vez em quando, no meio de risadas, para nos certificarmos que a outra estava achando as mesmas coisas engraçadas. Ela tinha uma risada linda, a qual eu nunca me cansaria de ouvir.

Em um almoço, Quinn nos levou a Pizza Express para fazermos nossas próprias pizzas, o que eu acho que ela planejou mais para minha felicidade do que a de Beth. Acabou que, para a surpresa de ninguém, Quinn se mostrou brilhante também em fazer pizza. Depois de terminar de fazer a sua própria massa de pizza, ela ofereceu seus serviços para nossa filha, apenas para que a menor a afastasse dizendo que ela estava quase terminando. Assim, ela começou a me ajudar com a minha massa porque eu realmente não estava me saindo muito bem. Inicialmente foi porque eu era muito ruim em abrir a massa de maneira apropriada, mas eu logo descobri o truque para isso – eu só não contei isso a Quinn, porque eu gostava de tê-la me ajudando. Ela começou a me ajudar ao me mostrar com sua própria massa como eu deveria fazer, mas ela logo estava segurando minhas mãos entre as delas e manobrando meus dedos da forma correta. Eu lembrava da sensação gostosa de suas mãos nas minhas. Não foi tão gostoso quanto quando ela espalhou filtro solar nas minhas costas na praia, mas o carinho era caloroso e coloriu minhas bochechas num tom profundo de vermelho. O fato de que ela estava mais aberta em me tocar, diferente de como ela se comportou quando fomos jogar mini-golfe, também me aqueceu.

Ela também me tocou quando levamos Beth e Michele ao parque. Começou como um dia normal no parque. Nós nos revezamos alimentando os patinhos com a comida que Quinn tinha levado para isso porque, aparentemente, pão pode ser muito perigoso para patos, como ela me informou na nossa conversa noturna ao telefone, então nós duas concordamos que seria melhor ela levar a comida. E, aliás, isso foi na noite anterior ao passeio no parque, e não em uma conversa aleatória ao telefone em que os hábitos alimentares de patos foram mencionados por acaso. Sim, nós normalmente cobríamos tópicos estranhos e randômicos em nossas conversas, mas não chegávamos a ser tão loucas assim.

Depois de descansarmos sob a luz do sol por um tempo, sentadas na grama conversando, as duas meninas mais novas queriam brincar de futebol. Não havia propósito em criar times e tampouco criamos uma área para servir de traves para o gol, apenas nos divertimos correndo e passando a bola para quem quer que fosse e enfrentando a todas. Quinn parecia ser a única que podia jogar de verdade e usava de truques baratos para nos humilhar, o que resultou em nós três jogando sujo e a enfrentando. Michele e Beth pularam em cima dela para desequilibrá-la enquanto eu corri com a bola. Eu usei meu corpo para proteger a bola, e ela apoiou-se inteira sobre minhas costas – e no meio de todas as risadas no grupo, não chamou a nossa atenção o fato de ela estar com as mãos no meu quadril e cintura para tentar me tirar do seu caminho. Quando me dei por mim, Michele e Beth tinham se afastado para esperar pelo meu passe, e eu continuava na frente de Quinn, com as bolas nos meus pés, tentando proteger a bola com as costas levemente inclinada e o corpo de Quinn moldava-se ao meu, com sua frente encostando nas minhas costas. Seus braços pressionavam contra meu abdômen, onde minha barriga aparecia porque minha blusa tinha subido; sua mão encontrava-se sobre a minha perna numa tentativa de nos manter equilibradas; e seus lábios roçando meu ouvido. Eu rapidamente consegui fazer meu passe para uma das meninas, apenas para me virar para Quinn e descobrir que nenhuma de nós estava rindo mais. Nós apenas nos encarávamos com bochechas coradas e sorrisos velados que não ousaram emergir em nossos lábios.

Com nós três saindo juntas como uma família, Quinn e Beth não tinham ainda passado tempo juntas só elas duas, porque, honestamente, eu ainda não estava pronta para deixar a minha filha sozinha com alguém novo. Além disso, também, eu não tinha certeza se eu queria perder qualquer coisa. Ver as duas interagindo aquecia meu coração toda vez; os pequenos sorrisos que elas trocavam; suas risadas idênticas e o fato de que seus olhos brilhavam intensamente assim que uma se dava conta que tinha feito a outra feliz. As duas estavam sempre animadas em falarem sobre o tempo que passavam juntas, mesmo que eu estivesse ali, com elas, para testemunhar tudo.

Mas eu não achava que Quinn ou Beth se importavam muito com isso, especialmente Quinn. Ela tinha me confidenciado que ela não achava que estava pronta ainda para cuidar da nossa filha sozinha e, também, ela gostava muito de passar um tempo comigo. E, agora, graças a Santana, naquele dia passaríamos ainda mais tempo juntas como uma família.

Naquela noite, haveria um leilão na escola de Beth e Michele para ajudar a levantar dinheiro para um novo programa da escola, voltado para crianças com autismo. As pessoas doaram prêmios de vários tipos, desde garrafas de champanhe e caixas de chocolate até viagens de fim de semana e jantares em restaurantes chiques. Na verdade, não seria bem um leilão de verdade. Os pais já tinham recebido uma lista dos itens disponíveis e eles tiveram que escrever uma oferta ao lado do item desejado e a maior oferta ganhava. Desta maneira, tudo já havia sido previamente comprado. Mas, apesar disso, a escola tinha organizado jogos para as crianças enquanto os pais doavam dinheiro para esse novo programa. Eu já estava ansiosa antes para aquela noite porque eu veria Kitty e Marley, mas sabendo agora que Quinn também iria, eu tinha ainda mais razão para ficar ansiosa. Eu não estava, todavia, muito animada com a idéia de apresentar Quinn às meninas.

XXXXXXXXXXXXXXXX

– Cadê a sua amiga, Rach? – Eu me virei para Marley e as meninas, enquanto bebericava minha bebida de um canudo. Quinn tinha dito que ela se atrasaria um pouco e que era para nós nos encontrarmos na escola, para a decepção de Beth, que queria chegar com suas duas mães. Kitty e Marley tinham nos visitado durante a semana com sua filha para que ela pudesse brincar com as meninas, e eu acabei contando tudo a elas. Elas já sabiam que eu estava procurando pelo doador de esperma e elas sabiam que eu tinha encontrado, mas elas não sabiam que era uma mulher. Elas ficaram muito surpresas, e eu precisei ficar lá sentada ouvindo suas inúmeras perguntas acerca da condição de Quinn, sem ter respostas para a maioria delas. Eu contei a elas o que eu sabia, mas sem divulgar muitas informações que Quinn tinha me contado porque não queria invadir sua privacidade. Mas a verdade era que eu nem sabia muito sobre intersexualidade e sobre o caso de Quinn em particular.

Eu tinha feito uma pesquisa sobre intersexualidade desde que encontrei Quinn, mas o que descobri quase que imediatamente é que todos os casos são diferentes entre si. Eu não sabia o que exatamente tornava Quinn intersexual. É claro que havia o pênis, mas eu não sabia o que mais poderia haver no seu caso, mas eu queria saber.

– Ali está ela! – Santana anunciou. Eu me virei para onde seus olhos encaravam e eu puder ver alguém que era indubitavelmente Quinn abaixada do lado de Beth, falando coisas que fizeram a menina rir.

– Aww, ela é tão fofa com a Beth! – Marley elogiou enquanto nós quatro estávamos observando as outras duas, Quinn ainda sem notar o nosso intenso olhar.

– Nós podemos falar "ela"?

– Kitty, mas que porra? – Eu me virei em total choque e desprezo diante de sua pergunta. Eu sabia que aquilo seria uma má idéia. Se alguém não entende um conceito minimamente, acaba se tornando um tipo de preconceito. Sem dúvida era por isso que Quinn tinha sido vítima de discriminação por toda sua vida e, naquele instante, quem fazia a discriminação era Kitty. – Você não ouse falar algo do tipo novamente, entendeu? – Eu disse entre dentes.

Kitty não falou mais nada depois daquilo.

Depois que Beth apresentou Quinn a todos os seus amiguinhos, a mulher de olhos verdes veio se juntar ao nosso grupo e eu a apresentei a Marley e a Kitty. Marley sendo Marley foi muito acolhedora e gentil com Quinn, conversando com ela sobre o leilão, Beth e sobre ter uma participação na vida da menina. Kitty sequer falou oi.

Logo depois, os prêmios do leilão estavam sendo lidos e os pais e os professores estavam se divertindo tentando cobrir os lances uns dos outros de brincadeira. Quinn estava com Beth em seu colo enquanto ela conversava com a professora da nossa filha; Marley tinha levado Kitty até lá fora para conversarem, de acordo com Santana, e minha melhor amiga e eu estávamos interagindo com os outros pais até o momento que ela me puxou para o lado:

– Então, eu meio que comprei algo para vocês. Você e Quinn. Não pareça surpresa quando seu nome for chamado porque eu fiz uma oferta muito boa nisso e...

– Santana, o que? Você comprou algo para a gente? O que você comprou? – Eu perguntei com desconfiança, cruzando meus braços.

– Você vai ter que esperar para ver, mas você vai ter que aproveitar o prêmio com Quinn.

– Não se for algo esquisito! Espere, se foi você que comprou, por que meu nome que vai ser chamado? Quinn vai achar que o que quer que seja foi idéia minha!

– Mas esse é o plano! – Sant piscou para mim. – Você tem que conquistar a sua garota, nanica!

– Minha garota? O que você quer dizer? Eu nunca disse que eu queria isso!

– Por favor, você deixa isso tão na cara que aquela garota é muito burra para notar. Você já pensa em vocês três como uma família, você não hesita em defendê-la e você está sempre a olhando como se cupido tivesse acertado uma flecha em você, com suas bochechas rosadas e os olhos brilhando.

Eu não respondi nada a ela. Primeiro, eu não sabia o que dizer. E segundo, eu estava pensando sobre o que Santana tinha falado e o quão certa ela estava. Eu gostava de Quinn. Eu já tinha percebido aquilo, mas eu não podia ter Quinn. Ou, ao menos, eu não achava que eu podia; mas, como sempre, otimismo nunca foi uma das minhas qualidades.

No fim da noite, Kitty e Marley voltaram para casa com uma chave para uma casa de praia num fim de semana, Santana ganhou um champanhe e chocolate, e eu tinha reserva para dois num restaurante chique em Nova Iorque. Bem, Quinn e eu tínhamos essas reservas, ela apenas não sabia ainda.

Meu coração tinha se acelerado quando uma noite num hotel grã-fino foi lida e Santana piscou para mim, eu tolamente pensando que ela tinha reservado aquilo para mim. Eu não pude deixar de sentir um certo desapontamento quando ouvi que outra pessoa tinha ganhado aquilo. Algo que com certeza Santana viu refletida na minha face, que murchou na hora. Como Quinn não tinha recebido nenhuma lista de prêmios com antecedência, ela não ganhou nada, mas ela doou duzentos dólares para o programa, uma atitude que todos, inclusive eu, acharam cativante.

– Então, obrigada por vir hoje. Eu sei que Beth gostou, já que ela pôde apresentar você aos amiguinhos dela e aos professores. Ela realmente gostou – eu falei para Quinn quando estávamos nos despedindo. Depois do leilão, ela veio para casa conosco para colocar Beth na cama e decidiu ir embora logo depois. Estávamos, então, as duas em pé perto do carro dela, nos despedindo enquanto eu tentava conseguir coragem para chamá-la para sair.

– Eu me diverti também. Obrigada a você e a Santana por me chamarem. Significa muito pra mim poder ir em eventos assim pela minha filha. Ainda é estranho falar isso, – ela olha para baixo com um sorriso cheio de dentes em seu rosto – minha filha. Bem, nossa filha – sua risada pueril brotou outra vez.

– Sim, nossa filha – eu ri com ela. – Nós também estamos gostando de passar um tempo com você nessas últimas semanas. Nós duas.

– Eu também. Está sendo incrível. Vocês duas me fazem muito feliz.

– Também me fez muito feliz – um silêncio recai sobre nós duas enquanto nós trocamos sorrisos tímidos. – Então, Quinn, erm, eu não sei como perguntar isso – eu cocei a minha nuca quando ela me olhou com expectativa, me deixando mais nervosa ainda.

– O que foi, Rae? – Rae.

– Você gostaria de sair comigo para jantar amanhã à noite? – Minha fala saiu apressadamente, sem que eu fizesse contato visual com ela.

– Você está me chamando para um encontro? – Ela me perguntou de maneira convencida. Nunca que eu a vi tão confiante. Normalmente ela parecia desconfortável e agitada. E agora que eu estava desconfortável, ela se transformou numa pessoa supersegura. Eu não sabia o quanto aquilo duraria, então escolhi apreciar a mudança por um momento. Eu observei que a cor dos seus olhos estava um tom mais claro e que seu sorriso convencido era surpreendentemente sexy.

– Você está tornando as coisas difíceis, Quinn.

– Hm, talvez eu esteja. Mas, para sua sorte, eu não gosto de deixar as pessoas se sentindo desconfortáveis – meus olhos finalmente se fixam nos dela. – E você não precisa usar esse seu olhar de cachorrinho abandonado também – ela riu enquanto me apontava um dedo –, é claro que eu vou com você, Rae. Parece ótimo.

– Er, ótimo! – Eu engoli meus nervos. Eu ainda não tinha me acalmado, eu estava pensando em como seria o encontro...

– Mesmo que seja você quem está me chamando para sair, eu gostaria de tomar as rédeas desse encontro – eu a olhei, confusa. – Eu busco você e dirijo até lá. Eu obviamente não posso escolher o lugar porque isso já está decidido, mas é... – A Quinn tímida voltou.

– Ah, é assim? Aposto que você só quer dirigir para me deixar bêbada – eu pisquei para ela, rindo do seu nervosismo.

– Não, não, é claro que não. Não era essa minha intenção. Digo, se você quiser você pode beber, mas não era...

– Eu sei, Quinn. Relaxa. Eu estava só brincando. Me busque às 7? – Ela concordou com a cabeça.

– Eu vejo você às 7 – ela disse, mas não se moveu para entrar no carro. Ela se inclinou para frente e meu coração praticamente parou. Seus olhos estavam muito próximos de mim e eles eram tão, tão lindos. Seu perfume invadiu meus sentidos e os lábios dela pareciam incrivelmente convidativos. Todavia, ela não se inclinou de maneira devagar e romântica como se via em filmes. Seus lábios diretamente desceram na direção da minha bochecha, como se ela tivesse medo de estar tão próxima de mim. Mas eu sabia que eu tinha que decorar todos os traços do seu rosto dessa proximidade, porque eu não sabia quando eu teria a oportunidade de vê-la desta distância novamente.

Eu sequer pude curtir o beijo na minha bochecha, porque me foi dado muito rápido, e ela logo entrou no seu carro. – A gente se vê amanhã! – Ela gritou para mim tirando a cabeça de dentro do carro por um segundo. Ela começou a dirigir e eu acenei minha despedida, sentindo-me tanto nervosa quanto animada para o nosso encontro no dia seguinte.

Sentir o toque dela na minha pele sempre me fez desejar mais, mas agora, com os lábios dela, não é mais um desejo, é uma fome irreprimível.

XXXXXXXXXXXXXXXX

– Então, como você era quando criança? – Eu perguntei a Quinn, me inclinando sobre meus cotovelos com um brilho no olhar. O nosso jantar tinha sido num restaurante chique em Nova Iorque. Não era particularmente formal, mas era bem sofisticado. Tínhamos terminado nossa refeição naquele minuto e estávamos agora sentadas na cobertura do restaurante, e não havia nenhuma brisa gelada para acalmar meus nervos.

– Hmm, deixe-me pensar – ela tomou um gole do seu vinho –, eu era bem parecida com Beth, por incrível que pareça. Aparentemente eu era bem atrevida. Falava alto, era confiante, sempre tentando contar piadas e fazer as pessoas rir. Eu era bem atlética também. Eu participei do time de futebol, do time de hóquei e do time de basebol.

– No time de basebol, huh? Desafiou as fronteiras sociais e escolheu basebol em vez de softbol?

– Fronteiras sociais?

– Garotas escolhem softbol, não? Foi isso que me foi empurrado até que eles perceberam o quanto eu era desastrada e simplesmente terrível em qualquer esporte – eu ri do fato de eu ser um caso perdido.

– Oh, essas fronteiras sociais – ela se juntou às minhas risadas. – Sim, não, erm – ela engoliu em seco, desconforto refletido novamente em suas feições. – Eu fui criado como um menino até a puberdade – meus olhos se arregalam em choque diante da confissão dela. – Então não, eu não desafiei nenhuma fronteira social. O contrário, eu as aceitei. Eu joguei beisebol assim como todos os outros meninos.

– Uau. Se você não se importa em eu perguntar isso, quando que você percebeu que você queria viver como uma mulher?

– Você pode perguntar o que quiser – ela sorriu para mim antes de pigarrear e começar sua história. – Quando eu tinha uns nove anos, eu precisei fazer diversos exames porque eu tinha muitas dores no estômago. Eles descobriram que eu tenho também características anatômicas femininas e foi então que eles descobriram a minha condição, porque, naquela idade, eu parecia um garoto "normal", então ninguém desconfiava. Mas, durante a puberdade, eu percebi que eu não estava crescendo como um menino, mas sim como uma menina e basicamente eu tive a oportunidade de escolher se eu queria viver como uma menina ou como um menino – ela me explicou calmamente.

– E foi uma escolha óbvia para você? – Eu perguntei, querendo saber tudo que eu podia sobre ela.

– Foi, na verdade. Eu sempre pensei em mim como uma mulher. Como minha biologia não pode determinar meu gênero, eu pude fazer essa escolha, o que para mim foi bom. Meu corpo é feminino apesar de um ou outro fator. Da forma que eu entendo as coisas, o seu gênero não deveria ser determinado pela sua anatomia porque existem milhares de variações. Pense no sexo biológico como se fossem cores, em que uma cor representa o "masculino" e outra cor representa o "feminino". Ser intersexual corresponderia a qualquer cor entre essas, e uma variação enorme de tons decorreriam dessa mistura. Existem muitas pessoas que podem ser "diferentes", mas não se classificam assim. Mas isso é só o gênero biológico. Quem tem direito a determinar a verdadeira sexualidade de uma pessoa? Eu não sei se eu estou sendo clara, mas é assim que eu vejo as coisas. A anatomia não deveria definir uma pessoa... porque isso coloca pessoas como eu em uma situação muito pegajosa*!

*Eu não sabia como traduzir sticky situation, porque no português não há o mesmo sentido, mas no inglês há sentido duplo de: situação difícil ou de estar coberta de sémen (que é pegajoso, "sticky") (segundo o urban dictionary, ao menos). Por isso, a frase foi engraçada no contexto delas.

Apesar da sua seriedade, ela sempre conseguia fazer aquilo: tornar uma situação leve de maneira muito rápida. Nós duas acabamos rindo. Nossa conversa até então fora baixa e muito privada, então quando nós duas começamos a gargalhar de maneira escandalosa, os outros clientes que estavam jantando na cobertura estavam, no mínimo, surpresos e nós duas acabamos envergonhadas da atenção indesejada.

A visão de Quinn sobre gênero e sexualidade era incrível para mim. Eu nunca tinha considerado gênero como uma escala antes, afinal por que eu faria isso? Mas era uma observação brilhante e eu queria que aquilo fosse algo no qual eu já tivesse pensado. Como na sexualidade. Ambos pertencentes a uma escala Kinsey.

– Você se arrepende de sua decisão? – Perguntei hesitantemente.

– De viver como uma mulher? – Eu fiz que sim com a cabeça. – Houve ocasiões em que pensei a respeito. Quando eu era menor, eu contei aos médicos e aos meus pais da minha escolha e, apesar de eles estarem felizes com isso, eles tentaram me empurrar procedimentos médicos para me tornar "normal". Foi difícil passar por aquilo e ainda rejeitar suas idéias. Eu nunca quis causar mais problemas aos meus pais, mas aquilo acabava acontecendo, e eu me sentia uma decepção. Então, mais tarde, quando eu percebi que eu me sentia atraída por mulheres, eu reconsiderei minha escolha. Faria mais sentido viver como um homem, casar com uma mulher e ter crianças. E apesar de querer casar e ter filhos, ser um homem nunca teve apelo para mim. Não é quem eu sou – ela disse e bebeu o último gole do seu vinho. – Não está com sede, Rae? – Ela perguntou para mim, notando que minha taça ainda estava cheia.

Eu limpei minha garganta. – Eu esqueci isso, na verdade – eu tomei um gole do meu vinho. – Uau, isso é muito para digerir. Eu não sei muito o que dizer, para ser honesta.

– Tudo bem – ela se inclinou para frente e acariciou minha mão que estava em cima da mesa. – Eu não estava procurando por uma resposta filosófica ou sociológica sobre as minhas decisões ou sobre a exatidão das minhas interpretações. Eu só queria responder as suas perguntas. E eu sei que você tem muitas outras perguntas, então eu tentei responder quantas eu podia durante minhas explicações. Desculpa se eu inundei você com muitas informações...? – Ela levantou sua voz no final da frase como se estivesse fazendo uma pergunta.

– Não, claro que não. Bem, eu quero dizer... talvez? Foi muita coisa. Mas eu estou feliz que você se sente à vontade para falar comigo sobre isso, mas eu me sinto muito inadequada em prover resposta suficiente – ela riu de mim. Por que ela estava rindo?

– Inadequada? Você está longe de ser inadequada – meu olhar se suavizou diante de sua sinceridade. – Então, agora, que tal olharmos a sobremesa? – Ela piscou para mim e então riu quando meu humor imediatamente melhorou com a ideia de mais comida.

XXXXXXXXXXXXXX

Quando Quinn me levou para casa, eu refleti sobre tudo o que ocorreu naquele jantar. Desde ela falando sobre sua infância e sua condição, e então para as perguntas aleatórias que fizemos uma a outra durante toda a noite. Eu, na verdade, havia sugerido que nós brincássemos de "20 questões", o que ela achou engraçado, mas nós brincamos de qualquer forma. Nós não tínhamos terminado ainda, nós tínhamos feito apenas algumas perguntas.

– Minha pergunta agora – Quinn interrompeu o silêncio e me trouxe de volta dos meus devaneios, e ela própria pareceu absorta em pensamentos. – Ah, já sei. Quem foi a maior influência na sua vida? E se você falar Harry Styles, eu vou gritar.

Viu, ela sempre me fazia rir.

– Beth – eu falei sem hesitação. – Sem dúvidas. Ter Beth me fez amadurecer. Me fez mais independente, mais confiante em mim mesma porque eu sei que eu posso fazer o que quer que eu idealize e me esforce para fazer, como ter uma filha e criá-la sozinha. Ela influenciou minha vida em todos os aspectos. E agora ela me fez eu conhecer você – ela tirou os olhos da estrada por um segundo, me flagrando com as bochechas rosadas.

– Eu adorei essa reposta – ela finalmente disse.

Não muito depois, estacionamos em frente ao meu prédio. Quinn também saiu do carro porque ela tinha prometido colocar Beth na cama se a nossa filha ainda estivesse acordada. Mas, para surpresa de ninguém, Beth, Michele e Santana tinham caído no sono enquanto assistiam a um filme; Michele agarrada na própria mãe e com Beth ao seu lado, seu rostinho escondido sob uma almofada e suas pernas e braços em todas as direções. Depois de nós duas tirarmos fotos das três com nossos telefones, Quinn me ajudou a levar as duas menores para cama, cobrindo-as com o cobertor e desejando um "boa noite", mesmo que nós soubéssemos que elas não nos ouviriam.

– Santana – eu cutuquei minha colega de quarto. – Santana, acorda. Sua cama vai ser bem mais confortável, então levanta essa bunda daí – depois de quase dez minutos tentando acordar a mulher, e recebendo nenhuma ajuda de Quinn, que estava achando a cena engraçada, Santana finalmente se moveu.

– Onde estou? – Uma sonolenta Santana disse, olhando para Quinn e para mim. – Ei, olhos verdes, onde eu estou? – Ela insistiu novamente, fazendo com que nós duas gargalhássemos.

Depois de uma breve explicação sobre o jantar e depois de ouvir Santana nos provocar sobre Quinn ter entrado no apartamento para ter sua "sobremesa", ela finalmente foi para seu quarto, deixando eu e Quinn ainda coradas depois do seu comentário.

– Você quer ficar um pouco? Talvez assistir um filme? Eu posso abrir outra garrafa de vinho, se você quiser – eu perguntei já andando até a cozinha e procurando a garrafa de vinho.

– Sim, claro! – Ela tirou sua jaqueta, ficando apenas de calça jeans e uma camisa de botões. Eu vestia um vestido de verão na altura do meu joelho e um blazer que julguei apropriado para uma saída à noite. Ela estava fabulosa e formalmente vestida, enquanto eu tinha me contentado em parecer bonitinha e confortável.

A garrafa de vinho estava na mesinha de centro a nossa frente, nossas taças agora vazias pela segunda vez no dia, o que significava que nossa inibição estava levemente comprometida e nosso comportamento tornou-se um pouco mais ousado. Nós escolhemos não ver um filme de terror dessa vez, por minha causa, ela sabia que eu me assustava, então nós assistimos a Uma linda mulher, depois de eu ter revelado durante o jantar que era meu filme favorito.

Apesar do sofá ser grande, nós nos encontramos bastante próximas uma da outra – e aquilo era minha culpa. Ela se sentou de lado numa ponta do sofá, suas pernas esticadas a sua frente. Em vez de me sentar na ponta oposta, eu decidi colocar minha bunda entre suas pernas, esticando minhas pernas do lado das dela.

Não foi uma decisão consciente, na verdade. Eu não sabia o quanto eu a queria perto de mim. Mas pareceu tão certo.

Quando ela mexeu um braço para circular minha cintura, sua a outra mão começou a passear pelo meu braço, e tudo aquilo apenas pareceu natural. Eu sabia que ela tinha ficado tensa quando eu me sentei ali pela primeira vez, mas seu comportamento depois me fez perceber o quão confortável ela achava aquela posição. Nós não conversamos sobre a posição em que estávamos, nem nos perguntamos se ela aproximação era boa, nós apenas sabíamos que era.

Com o vestido larguinho que eu estava usando, estar sentada daquela forma, com meus joelhos flexionados, fez o tecido dobrar um pouco e expôs um pouquinho da minha coxa. Depois da primeira e da segunda vez, eu nem tentei mais arrumar meu vestido. Eu sabia que Quinn tinha notado. As vezes em que tentei arrumar meu vestido, o olhar dela seguiu meu movimento. Então, quando parei de arrumar o vestido, ela se aproveitou o fato de eu estar envolvida no filme, ou então ela achou que eu estava, e seu olhar se fixou na minha perna.

Sua mão na minha frente não estava parada, seu dedão acariciava o tecido do meu vestido, gentilmente afagando meu quadril; sua outra mão, em um movimento similar, tinha subido até meu cabelo e mexia em algumas mechas castanhas.

Logo, eu sentia meu corpo escorregando pelo sofá, então eu retornei posição original, a minha parte traseira acidentalmente colidindo com o colo de Quinn. Eu tentei voltar a posição que eu estava, sem me afastar dela, mas, depois de tanto me mover, minha bunda estava praticamente no seu colo e eu estava recostada no seu tronco.

Houve mais um sinal que indicou que ela estava confortável naquela posição.

Eu estava a sentindo contra minha perna já há algum tempo, mas até aquele momento, eu não tinha sentido ela tão... dura. A pressão contra sua ereção fez com que Quinn tossisse, como se ela estivesse engasgando na respiração que segurava. E eu murmurei "desculpa" sem nem pensar sobre isso.

– Você fez isso de propósito – ela sussurrou para mim fingindo irritação.

Eu virei meu rosto 45 graus para olhar para ela de maneira apropriada. Seu rosto estava muito próximo do meu, tão próximo que eu podia identificar cada tonalidade nos seus olhos. Da esmeralda ao azul, com traços de cinza, seus olhos eram um quebra-cabeça por si só.

Seu olhar recaiu sobre meus lábios.

Ela apertou minha cintura.

Seus olhos encontraram os meus e por um breve segundo eles voltaram a encarar meus lábios.

A mão de Quinn subiu da minha cintura para minha nuca, seus dedos roçando meu abdômen e seios em sua jornada.

Ela inclinou-se para frente em direção aos meus lábios.

Um segundo antes de nosso primeiro beijo e nós estávamos hesitantes.

Valia a pena o risco?

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Nota da tradutora: Aiiii, como eu amo esse capítulo. O próximo, então, amo mais ainda.


Minhas Notas: Sem palavras sobre esse capitulo... *------------*.. Sobre o próximo.. Tenho certeza que iram amar!! Hehehe

Ps: Obrigada a preocupação de todos, as mensagens, as pessoas que vieram me procurar para saber se estava bem!! Já estou melhor... agora é me cuidar para não ficar manchar em meu rosto. Se não usarei a mascara do fantasma da opera J

Até sexta, Kids!!


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