― Yoongi! Ei! Yoongi!
Após um bom tempo o chamando, Namjoon conseguiu que o amigo o notasse. Yoongi andava cabisbaixo, dando passos lentos e afundando seus pés na neve aos arredores do ginásio. Não era algo comum, ainda mais depois de uma vitória como aquelas.
― Que cara é essa? ― Namjoon o alcançou, os dois estavam próximos a um banco de concreto e lá se sentaram. ― Nem parece que acabou de ganhar um jogo! Isso foi pela Mi-Cha ter te beijado na frente da galera toda?
― Talvez... ― Yoongi bufou, revirando os olhos e apoiando o cotovelo nos joelhos enquanto olhava para o pátio vazio.
― Sabe que Jin não tem mais nada com ela, não precisa se preocupar por causa dele. Mas... Não parece que está assim pela Mi-Cha ou por Jin. ― Namjoon cerrou os olhos, analisando os trejeitos do amigo ― Seja lá o que tenha acontecido, não é hora para isso. Ganhamos o jogo! Merecemos comemorar! Qual é! Vamos. ― levantou-se ― Estão te esperando.
Ao se levantar, Yoongi viu mais ao longe Taehyung e Hoseok saindo do ginásio de patinação. Acompanhou com os olhos os dois caminhando descontraídos no sentido oposto, em direção à saída do colégio.
― Namjoon... Alguma vez já sentiu perder alguém que nunca teve a oportunidade de ter?
― O quê?! ― Namjoon deu um riso soprado, debochando do que havia acabado de ouvir ― Que conversa maluca é essa? ― riu.
― Não é nada... Esquece.
― Uou! Não tem nada disso. Pode ser o capitão do time, mas ainda sou seu amigo. ― Namjoon envolveu os braços no pescoço de Yoongi. ― Vamos... O que tá te deixando maluco? Não está se drogando, está?
― Qual é! ― Yoongi tirou os braços de Namjoon. Olhou de relance para Taehyung que se distanciava ainda mais com Hoseok ao lado.
― É aquilo? ― Namjoon havia acompanhado o olhar de Yoongi e viu um casal caminhando juntos, mas ele não reconheceu quem era. ― Tem algo a ver com aqueles dois?
― Eu já disse. Esquece. Podem comemorar vocês. ― Yoongi ajeitou o casaco, se preparando para deixar Namjoon ali. ― Foi só o primeiro jogo, ainda temos um campeonato inteiro para se preparar. Não há nada para comemorar.
― Claro... Yoongi sendo o Yoongi... ― Namjoon bufou, vendo o amigo ultrapassá-lo e dando as costas a ele. ― Ei, cara... Foi um bom jogo!
O capitão parou de caminhar. Virou-se para Namjoon, que ergueu seu dedo polegar, fazendo um "joinha" com as mãos.
― Jogamos em equipe. ― Namjoon continuou. ― Há um bom tempo não jogávamos assim. Você confiou em Jin mesmo correndo o risco dele não conseguir fazer os três pontos. Sinceramente... ― riu baixo ― Foi muita coragem sua. Sabemos que ele não é tão bom em cestas de três pontos como você...
― Se ele perdesse, eu o mataria. ― Yoongi também riu fraco. ― Eu sei... Foi um bom jogo. Tenho sorte em ser o capitão de um bom time.
― Escuta Yoongi, não sei o que está havendo com você. ― Namjoon novamente caminhou até o amigo, apoiando uma das mãos no ombro dele. ― Mas saiba que ponde contar com seu amigo para qualquer coisa. ― olhou para o lugar onde Taehyung e Hoseok anteriormente estavam depois voltou a fitar Yoongi. ― Sei que é complicado gostar de alguém.
― Não estou gostando dele.
― E eu disse que estava? ― Namjoon piscou, dando algumas tapas no ombro do amigo ― É como uma partida de basquete. Você tem aqueles minutos emocionantes, mas quando passar acabou. Aí você esquece até que apareça outra partida. Você vai esquecer...
― E se for uma partida final, que valha o campeonato? Não esquecemos algo assim.
Namjoon se assustou com uma conclusão daquelas, ele realmente não esperava isso de Yoongi. Desconcertado, tentou disfarçar, mas antes que abrisse a boca, o capitão resolveu cortá-lo:
― Quer saber... Vou para casa. ― Yoongi terminou. ― Podem comemorar vocês.
― Tem certeza?
― Tenho, Hyung. Só preciso passar no vestiário e trocar de roupa.
Enquanto Namjoon via o capitão ultrapassá-lo, andando rumo à porta dos vestiários, refletiu nas últimas palavras do amigo. Yoongi tinha razão quando se tratava de uma partida final. Por mais que houvesse outros campeonatos, nunca se esquece duma vitória.
"... Nem uma derrota..." Namjoon concluiu sozinho.
XXX
Estava quase anoitecendo quando Taehyung saiu do hospital depois de ter visitado Jimin pela segunda vez. Novamente Hoseok insistiu em acompanha-lo. A cada minuto que passavam, ele se mostrava mais e mais próximo de Taehyung. Era uma boa companhia; excelente na verdade. Mas a proximidade aumentava tanto que Taehyung começava a ficar preocupado, ainda mais por causa do beijo que ele tinha roubado de si.
- Quer bolinho de arroz?
Os dois atravessaram um parque quando Hoseok apontou para uma barraca de rua vendendo bolinhos de arroz.
- Não... Está tudo bem. Irei comer quando chegar a minha casa.
- É só um bolinho! - insistiu - Sente-se nesse banco, eu vou lá rapidinho e já volto. Não pode recusar comida quando oferecem a você.
Hoseok piscou, deixando-o sentado em um dos bancos do parque. Ele quase saltitava enquanto caminhava até a barraquinha e isso o fez sorrir. Hoseok ficava lindo daquele jeito, sorrindo como um moleque travesso. Nada parecido com aquele que viu certa vez naquele mesmo parque, quando perguntou a ele sobre Jimin.
- Cuidado, está quente. - o garoto retornou com dois bolinhos embrulhados em sacos de papel.
- Valeu, Hoseok.
- Jimin parecia bem hoje, não acha? - ele se sentou ao lado de Taehyung, olhando um pouco para o céu que escurecia.
- É... - Taehyung sorriu. - Acho que sim. - mordeu um pedaço do bolinho.
- Sabe... - mastigou a comida e, depois de engolir, continuou - Nunca achei que um quarto de hospital pudesse ficar tão animado com vocês. - riu.
- Isso porque Jimin não estava acordado. Você tem que ver como ficamos quando estamos todos juntos, amuleto.
- Eu verei, Hoseok. Tenho certeza disso.
- Tivemos sorte dos enfermeiros não nos expulsarem de lá. - o garoto deu sua primeira mordida no bolinho - Uou! Esse bolinho de arroz... -falou de boca cheia - É um dos melhores que já comi!
- Percebi! Está quase comendo o papel. - Taehyung quase se engasgou com o bolinho ao rir de Hoseok.
- Já que estamos aqui, amuleto, queria te pedir desculpas mais uma vez. Fui um pouco impulsivo ao te beijar daquela forma...
- Eu já esqueci. Não esquenta, Hoseok. Está tudo bem.
- Eu não costumo beijar os garotos assim, tão de repente. É que você... - ele tirou os olhos do bolinho de arroz para fita-lo. - Eu não sei como explicar... Você é você. Entende?
- Hoseok... - falou sem jeito.
- Eu sou um idiota. - ele abaixou a cabeça novamente, balançando-a negativamente.
- Não! Você não é um idiota, Hoseok. - Taehyung colocou sua mão nos ombros dele, fazendo com que o garoto o admirasse novamente. - É o cara mais gentil que já conheci.
- Acha mesmo?
- É claro! Eu não mentiria para você.
Hoseok deu aquele sorriso maravilhoso que só ele poderia dar. Naquele momento, jurou a si mesmo que não faria nada que o fizesse chorar. Ele era legal demais para magoá-lo.
- Eu posso ir sozinho daqui. - disse se levantando.
- Amuleto... - Hoseok também se levantou, ficando frente a frente com Taehyung. - Se eu te fizesse uma pergunta... Diria sim?
- Depende da pergunta. - disse desconfiado.
- Quer ir a um encontro comigo nesse final de semana?
"Encontro?" repetiu algumas vezes a palavra 'encontro' em pensamento. Taehyung tentava ter certeza de que havia mesmo ouvido certo. Era coisa da sua cabeça ou Hoseok estava mesmo perguntando aquilo?
- Não deveria estar tão surpresa. - Hoseok disse humorado. - Pelo menos dessa vez eu perguntei... Não foi como o beijo que dei de surpresa.
- Ah...é que eu...Bom, para falar a verdade, nunca me convidaram antes para um encontro...
O garoto ergueu as sobrancelhas. Taehyung dizia a verdade, até porque desde criança sua dedicação era exclusiva aos estudos e tudo que envolvia patinação. Cresceu treinando com Yuju e por mais que tivesse rodeado de amigos, nunca deu atenção para outras coisas que não fosse treinar.
O mais perto que chegou de coisas ligadas a relacionamentos foi receber um pedido de namoro do antigo colega de patinação... Um pedido que Taehyung nunca pôde dar uma resposta.
- Não quero te pressionar, amuleto. Tudo bem se não aceitar... Mas saiba que se aceitar, irei fazer de tudo para que seja o melhor dia da sua vida. Bom, não o melhor, mas um dos melhores.
Hoseok e seu bom humor. Quem em sã consciência poderia dizer não a ele?
- Sem querer me pressionar, não é mesmo?! - Taehyung riu. -Tudo bem... Eu aceito, Hoseok.
- Espere... - o garoto beliscou o próprio braço. - Estou sonhando ou disse que aceita ir a um encontro?
- É, eu disse. - mais risadas. - A proposta de fazer do encontro um dos melhores dias da minha vida foi tentadora. Então espero que cumpra, senhor Hoseok!
- Ei! Está falando com o cara que organiza as festas da escola! Não duvide de minha capacidade em entretê-lo e deixa-lo feliz!
- Está bem. Está bem! Obrigado pelo bolinho de arroz. - Taehyung ergueu o pouco da comida que sobrava, levando o restante à boca. - Agora tenho que ir antes que meus pais pensem que fui sequestrado.
- Não quer mesmo que te leve até sua casa?
- Posso ir sozinho, não precisa desviar do seu caminho para me acompanhar. É sério.
- Ok. - Hoseok sorriu - Mal posso esperar para fim de semana. Nos vemos amanhã no colégio, amuleto.
- Até.
Taehyung acenou, fazendo uma reverência singela com a cabeça e dando a volta. Depois de alguns passos, olhou para trás. Hoseok já caminhava em sentido oposto.
De fato, ele era um ótimo amigo. Porém, Taehyung não sabia ao certo qual era o tipo de carinho que tinha por ele. Temia que o carinho que sentia, pudesse ser totalmente diferente pelo que Hoseok sentia. Se fosse para fazer um comparativo, seu coração não havia batido tão rápido como bateu quando Yuju lhe pediu em namoro. A verdade é que aceitou ir ao encontro pelo fato de Hoseok ser alguém que lhe fazia bem ter ao lado; só por isso.
"Será que fiz certo?" pensativo, caminhou em passos lentos pela calçada. "E se eu magoar Hoseok de alguma forma? Não... Eu não quero isso."
Se já não bastassem seus pensamentos indecisos, deparou-se com uma loja cuja vitrine tinha vários objetos decorativos, entre eles, um globo de neve. Naquele instante, parou de caminhar. Sentiu um frio na barriga, similar àquela sensação de nervosismo que se tem quando está em uma montanha russa.
O boneco de neve dentro do globo parecia olhar para Taehyung.
Flashback on
- Patinador! Posso te fazer uma pergunta?
- Faça...
- Está mesmo agradecido pelo que fiz? De verdade?
- É claro! Que tipo de pessoa acha que eu sou? Eu sei quando devo agradecer pelo que fizeram por mim.
- Quer dizer que me considera uma boa pessoa?
- Age como um idiota...Mesmo assim é uma boa pessoa. Se não fosse alguém bom, não teria feito o que fez.
- Obrigado, patinador. Não se esqueça do que disse... Que eu sou uma boa pessoa.
Flashback off
"Boneco de neve..." falou consigo mesmo, suspirando fundo e voltando a caminhar. Não era um momento propício para pensar em Yoongi. Por que teve que ver justo algo que o fizesse se lembrar dele?
- Yoongi... - Taehyung reclamou baixinho quando o viu escorado no muro da sua casa.
Para aqueles que acreditam em destino, até diriam que era uma dessas coisas já escritas nas estrelas, que traçam um destino antes mesmo de nascer. Mas quem sabe fosse só coincidência...
Ele estava cabisbaixo e segurava alguma coisa em suas mãos.
- O que faz aqui? - perguntou quando estava relativamente próximo a ele.
O garoto não havia se dado conta da presença do garoto até que ele se pronunciasse, por isso levantou a cabeça subitamente, um tanto assustado e arrependido por estar ali.
Olhar para Yoongi lhe fez lembrar imediatamente da cena na quadra de basquete. Por alguma razão sentiu seu rosto queimar. Um ódio absurdo tomou conta de Taehyung quando o visualizou recebendo um beijo de Mi-Cha.
Não que isso fosse da conta dele... Claro...
- Vim te devolver isto... - ele ficou em uma posição ereta, entregando-lhe seu cachecol dobrado. - Eu ia devolver depois do jogo, mas...
- Estava ocupado beijando Mi-Cha, eu sei. - falou sem pensar e logo se arrependeu. Por que estava falando sobre o beijo em Mi-Cha? Não era da sua conta! - Obrigado. - pegou rapidamente a peça, tentando esconder o constrangimento, o que não era nada fácil.
Yoongi deu um espirro e isso lhe fez se dar conta de que fazia muito frio.
- Não precisava ter vindo aqui essa hora...Pode ficar doente. - disse sem graça. - Poderia devolver amanhã no colégio.
Perguntou a si mesmo por quanto tempo ele estava ali, esperando que Taehyung aparecesse.
-Eu não gosto de ficar com as coisas dos outros.
Taehyung odiava o fato de seu coração bater mais rápido toda vez que Yoongi estava perto.
- Além do mais... - ele continuou - Queria agradecer por ter ido ver o jogo.
- É...foi...Legal...Parabéns pela vitória. - disse fraco. - A gente se vê.
Ameaçou seguir até o seu portão e entrar em casa. Não queria ficar por muito tempo perto de Yoongi, tudo por temer que seu corpo fizesse algum movimento brusco involuntário, sem obedecer a seu cérebro.
- Eu não quis beijá-la. - Taehyung se virou assustado para o garoto. - Não quis beijar Mi-Cha. Ela que veio até mim. Só queria que soubesse.
- Você pode beijar quem quiser... Não precisa me dar satisfação...
- Acha que posso mesmo beijar quem eu quiser?
Os olhos de Yoongi refletiam a luz da lua que brilhava no céu. Taehyung até queria não ter entendido o que ele estava dizendo; mas entendeu o recado.
- É melhor ir pra sua casa, antes que realmente adoeça. - cortou o silêncio.
- Não se esqueça de que amanhã te levarei a um lugar. - Yoongi disse antes de ir embora. - Esteja na frente do colégio depois da aula... Às 3 horas. Leve os patins. - ele apontou para a bolsa que Taehyung segurava na mão direita.
- O que está aprontando?
- Esteja lá. - o garoto deu um sorriso de canto, virando as costas e se afastando de Taehyung.
Com certeza tinha algo a ver com patinação. Taehyung havia confirmado que iria, então não poderia simplesmente não aparecer no horário combinado. Enrolou o cachecol cinza em seu pescoço e se dirigiu ao portão de casa.
- Conversou com o seu amigo?
- Boa noite pra você também, mãe. - disse ao atravessar o portão e ver sua mãe escorada na janela perto da varanda. Aparentemente ela estava acompanhando tudo de longe.
- Ele é bonito, não é? - ela disse sorridente.
Taehyung deu de ombros, caminhando até a porta. Não precisou girar a maçaneta, pois sua mãe já abria, aparecendo curiosa na sua frente.
- Mãe! Nem me olhe assim... Aquele garoto nem é meu amigo. Somos só colegas de classe... E de punição... - sussurrou a última palavra para que ela não ouvisse.
- Mas ele ainda é bonito. - ela olhou por cima de seus ombros para tentar ver Yoongi na rua, mas ele já havia ido embora. - Ele ficou te esperando lá fora por um bom tempo.
- Ficou? - franziu o cenho, tirando seus sapatos antes de entrar em casa.
- O convidei para entrar, mas não quis. Eu disse que você ia demorar, mas parece não ter feito diferença... - ela olhou pensativa para a varanda. - Ficou ali por umas duas horas.
"Puta que pariu, duas horas!", Taehyung pensou, olhando para o cachecol em seu pescoço. "Por que ele teve o trabalho de ficar tanto tempo nesse frio me esperando, só para devolver um cachecol?"
- Mas ele parece ser saudável, acho que não vai ficar doente por isso - sua mãe fechou a porta, passando ao seu lado e indo em direção à cozinha. - O jantar está pronto.
"Duas horas..." Taehyung continuou parada e pensativa. "O que deu na cabeça desse garoto para ficar tanto tempo me esperando? Ele é louco?"
XXX
03h00min da manhã - Hospital
Ala de internações - setor vip
- Sim, eu já estou terminando meu plantão... - a enfermeira caminhava pelo corredor apressada, falando ao celular. - Só preciso visitar um paciente, coisa de rotina... Espere...
A mulher segurou o celular no ouvido com os ombros, enquanto procurava o cartão-chave nos bolsos do jaleco. Ao encontrar, inseriu em uma das portas.
- Não... Eu não vou demorar. Esse paciente está dormindo há seis meses. - ela encostou a porta, abaixando o volume da música clássica. Virou-se para a cama, olhando para o paciente. Após dar um suspiro, continuou a falar no telefone. - Sim, é aquele que te falei. Só está vivo graças à família rica. O doutor disse que é dinheiro jogado fora, até porque ele não tem chances de acordar. O quê? Tá me chamando de sem coração? - a mulher riu, caminhando em direção ao paciente acamado - Limpe fezes dos pacientes todos os dias e verá quem é a sem coração! Espere um pouco... - a enfermeira parou de rir. Ficou com a boca entreaberta e o olhar fixo nas mãos do garoto. - Meu Deus!- ela exclamou - Olha... Eu te ligo depois, vou me atrasar... O garoto... Ele... - pausou a fala ainda assustada, até voltar a falar no celular. - Ele mexeu a mão...