×Samyra×
Ela me olha confusa e com um olhar bastante perdido.
_Vem, vamos tomar um banho.
Pego-a no braço e levo até o banheiro. Depois de despida, deixo a água molhar seu corpinho. Lavo bem seu cabelo e os vestígios de sangue em seu rosto. Visto algo leve e coloco-a novamente na cama.
_Quero te perguntar uma coisa, Emi._Olho pro seu rosto._Você promete pra tia Samy que vai responder?
_Prometo, tia Samy.
Ela tem algo de muito diferente no olhar. Não sei ao certo o que é.
_O que você é?_Essa pergunta até pareceu meio estranha, mas eu precisava perguntar.
_Eu sou a Emi, tia Samy._Ela sorri._Não me conhece mais?
_Emilly, você ficou toda estranha no jardim. Ficou meio que meditando e depois apagou._Ela arregala seus olhos._Fica com febre e nada te acorda. E quando você entrou em contato com meu sangue, acordou. Eu sei que você é mais esperta do que aparenta. E então, não vai me contar?
Ela engole seco e fica me encarando bastante séria.
_Eu não posso te dizer nada ainda, Samyra._Sua voz diferente me assusta._Na hora certa você saberá de tudo.
_Meu Deus..._Levo a mão na boca totalmente assustada._Você... Você é uma criança?
A porta é aberta e alguns doadores entram. Emilly se recompõe e coloca seu sorriso meigo no rosto.
Meu Deus, o que essa menina é?
_Ela já está melhor?_Fabricia pergunta passando a mão no cabelo dela.
_Eu tô melhor, tia Fabi._Ela responde._Queria comer. Tem comida?
Fabricia leva Emilly para comer alguma coisa e eu fico com a minha cara de tacho olhando pro nada.
_Samy?
Vera se joga na minha frente estalando o dedo. Fecho minha boca lentamente e olho pra Vera.
_Você viu um fantasma, Samyra?
_Acho que sim._Respondo no automático._Agora eu não sei se é pra temê-lo ou amá-lo.
_O que você disse, menina?
Peço pra ela esquecer esse assunto temporariamente e saio em direção a cozinha da ala. Vejo Emilly rodeada de alguns doadores e todos mimando a garota. Algo pairava sobre a minha cabeça. Falo ou não ao Albert sobre essa garota?
_Samyra?_A voz insuportável da Claire soa da porta._Encomenda pra você e a Vera. Veio da Central de Ajuda.
Pego da sua mão e não me dou o trabalho de agradecer. Ela costuma ser idiota comigo e não vai matá-la se eu for com ela também. A Vera ficou lá no quarto e provavelmente não se importará se eu abrir a encomenda sem ela. Todos pareciam esperar para saber o que tinha dentro daquela chata. Eu sei o que deve ter aqui, mas ninguém mais pode saber.
_Ah, isso são bem os remédios que passaram para purificar ainda mais o nosso sangue._Digo lendo o rótulo._Vou levar pra Vera ver. Com licença.
Volto ao quarto e explico a chegada da tal caixa para Vera. Ela, assim como eu, opinou o que deveria ser. Ao abrirmos, nos deparamos com dois vidrinhos e de cores diferentes. O meu era um vermelho púrpura que me causou maior enjoo. E o da Vera era azul com um tom metalizado. Olhamos meio horrorizadas uma para a outra.
_Por que dessa vez as cores são diferentes?_Vera chacoalha o seu vidrinho.
Olho a caixa e vejo uma carta ao fundo dela. Retiro-a e mostro para Vera.
_O que será que tem aí? Eu tenho até medo de ler.
Vera sempre foi uma medrosa, mas isso não quer dizer que eu também não seja de vez em quando. Sempre que essas mulheres se comunicam conosco é pra nos informar algo que de alguma forma nos amedrontam. Rompo o lacre que veda a carta e abro lentamente.
Olá minhas queridas resistentes, não estranhem a encomenda que enviamos para vocês. Tínhamos que de alguma maneira enviar os vidrinhos até vocês. Não pensem que enviamos algum tipo de veneno pelo fato das cores serem diferentes. Samyra possui um sangue muito precioso e precisa de um tipo de sangue de bruxa diferente do que a Vera precisa. Esses líquidos são permanentes em seus organismos então vocês não precisarão mais tomá-los novamente. Claro que eu preciso esclarecer certas coisas que acontecerão em decorrência disso, mas nada grave. Em breve todos os doadores receberão um aparelho telefônico, mas o meu intuito é deixar vocês em contato conosco. Por isso inventamos essa desculpa. Fiquem alerta a qualquer coisa pois em breve iremos nos falar com mais frequência. Cuidado com os vampiros pois mesmo estando imunizadas aos poderes deles, eles são bastante astutos e principalmente sedutores. Não sejam como essas menininhas bobas que acham os vampiros pessoas sexys e excitantes. Não se deixem levar pela fama que lhe puseram. Lembrem-se da sua cidade que foi tomada e das diversas pessoas que lutam para sobreviver com o pouco que tem. Eles não são humanos! Eles não tem sentimentos!
Um abraço e cuidem-se.
M&M
Termino de ler a carta e olho abismada para Vera. Engulo seco sentindo algo quente em minha mãos. Quando olho para a mesma, vejo a carta pegando fogo. Solto-a no chão e ela queima por inteira.
_Você ouviu bem? Certas coisas acontecerão se bebermos esse líquido._Vera toca no meu braço com sua mão fria._Você vai beber?
Deixo meus olhos pousarem no vidrinho luminoso e meu coração chega a palpitar de dor. São tantas coisas em minha cabeça que eu nem sei mais quem eu sou sem esse líquido. Albert está se apaixonando por mim por causa desse líquido maldito e eu sou uma fraca por me apaixonar por ele também. Eu deveria estar sendo a sedutora, mas estou sendo a seduzida. E estou me amaldiçoando fortemente por isso. Sei que se eu beber esse líquido, não saberei nunca se o que o Albert sente por mim é verdadeiro. Mas também sei que se eu não beber provavelmente estarei fora da Resistência e eles podem me eliminar por saber demais. E eu morrerei sem ver minha cidade voltar ao que era antes. O que eu faço, meu Deus?
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