Quarenta

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×Alícia (Bônus

Acordo com certas batidas na minha porta. Pelo jeito desesperado eu aposto meu frio coração que é o Albert. Levanto sonolenta e abro a porta.

_Você vai comigo né?_Ele pergunta.

_Eu não acredito que você está me acordando a essa hora pra sair com você. Não sabe mais andar sozinho, irmão?_Respondo esfregando os olhos.

_Vai, Alícia!_Ele choraminga de mentira._Prometo deixar você dirigir.

_Então espera pelo menos eu tomar um banho e me ajeitar._Fecho a porta vagarosamente._Me espera aí fora.

Termino de fechar a porta, pego a toalha e vou até o banheiro. Ligo o chuveiro e me coloco debaixo dele. A água escorre calma pelo meu corpo mandando embora toda preguiça que eu estava. Por breves segundos meu pensamento vai até a Vera. Por que será que ela não olha pra mim do mesmo modo que eu a olho? Por que ela não sente o mesmo que eu sinto?
Esse período de aceitar que eu sou homossexual está me deixando cada vez mais confusa. Eu sei que eu a amo, mas parece que ela faz questão de demonstrar que é só amizade. Talvez seja isso mesmo. Eu não vou obrigá-la a mudar sua opção sexual por minha culpa, mas também não vou deixar ninguém se aproximar dela. A Vera vai ser minha. Uma hora ou outra.
Visto a roupa especial que nós vampiros sempre usamos em missões contra a Resistência e termino de me arrumar. Abro a porta e encontro Albert encostado na parede.

_Nem vem dizer que eu demorei._Falo rapidamente._Vamos.

Acho que era umas 5:40am quando saímos de casa. Albert me garantiu que deixou o tio Inácio sobre aviso, mas não disse o motivo certo dessa nossa saída. Apenas que será uma inspeção nas terras mais escondidas de Neshville. Essa cidade é realmente enorme e de fato deve ter muitos lugares em que a Resistência tem usado para esconder-se. Já dentro do carro, olho para o Albert que parece um pouco inquieto.

_Está acontecendo alguma coisa?_Pergunto prestando atenção na pista.

_Estou apenas sedento pela Samyra novamente. Um certo descontrole, nada demais._Ele responde observando a paisagem pela janela do carro.

Apenas eu sei desse poder secreto do Albert, mas nunca o vi reclamando de descontrole. O Albert pra mim é o cara mais controlado que eu já conheci. Mas reconheço que desde nossa vinda até aqui muita coisa mudou. Até eu mudei e muito.

_Você gosta da Samyra, não é?_Pergunto dando a curva com o carro.

_Assunto complicado._Ele me olha de relance._Por que pergunta isso?

_Por que eu sei que gosta dela assim como eu gosto da Vera._Digo sem temor._É claro que essas duas tem alguma coisa que nos prenderam de forma surreal.

_Quem sabe fomos nós que nos deixamos ser levados pela beleza delas._Sinto desdém na sua voz._Posso até amá-la, mas não vou me entregar a isso. Eu sei que eu posso ser mais forte que isso, Alícia. E por favor, dirige mais rápido.

Acelero um pouco o carro apenas para dar sossego a essa agonia que ele deve estar sentindo. Aliás, eu já estou em altíssima velocidade.

_Você só está me dizendo isso porque não quer sentir o que sentiu pela Bruna no passado._Afirmo de uma vez._Você está sendo fraco pensando assim, Albert.

_Fraco seremos nós se irmos contra as regras da sociedade vampírica._Ele diz em um tom amargo._Eu não quero perder você e também não quero morrer. Você entende perfeitamente isso não é, Alícia?

Afirmo de contra gosto e volto a prestar atenção na estrada. Já estávamos bastante longe do centro de Neshville, mas eu só irei parar quando o Albert pedir. Ele precisa se sentir a vontade para liberar um pouco do seu poder. Essa é a segunda vez que eu irei presenciar isso e é realmente assombroso. Tentamos achar uma resposta para esse poder todo, mas não existe nenhum relato de um vampiro com esse poder. O Albert sente-se envergonhado por possuir esse tipo de "dom". Pra ele seria motivo de desonra e vergonha no meio da sociedade vampírica se caso eles soubessem. Ele sempre zelou pela sua boa imagem e assim preferiu deixar isso em segredo.

_Pare aqui!

Paro o carro no meio de uma estrada em que do outro lado tem uma floresta densa e escura. Desço do carro logo atrás do Albert. O lugar é realmente ideal para o que ele quer fazer.

_Você sente-se pronto? Não quero ter que carregar você desacordado pro carro depois.

_Sem gracinhas, Alícia.

Ele caminha um pouco mais adentro da floresta e eu o sigo. A última vez que eu presenciei isso, o Albert desmaiou e só acordou quase 12hrs depois. Tive que dizer ao nosso pai que ele tinha levado uma forte pancada na cabeça. Mas na verdade o Albert alimentou-se de quase uma vila inteira. O nome da mamãe sempre foi um assunto muito delicado para ele e a atual mulher do nosso pai não é lá um amor. Parece que tem prazer em cutucar o Albert...
Vadia!

_Aqui está bom._Ele para perto de um rio bastante fechado pelas árvores._Procure um lugar pra você ficar.

Afirmo com a cabeça e sento um pouco longe em cima de uma pedra. Vejo o Albert tirar suas botas e encostá-las ao canto. Ele se aproxima do rio e toca levemente suas mãos nele. Logo a água começa a movimentar-se com força. Sinto um leve tremor na terra, mas mantenho-me tranquila. Logo algumas pedras começam a flutuar em volta do meu irmão. A água do rio levanta-se e começa a cercá-lo. Olho atentamente para o rosto do Albert e sei que ele já não está em si. A terra começa a tremer violentamente e algumas árvores começam a cair sozinhas. Levanto-me um pouco assustada com o nível do poder dele que está se elevando. Ele mantinha os braços abertos mexendo apenas os dedos os quais movimentam a água. Era tudo muito surreal, incrível. Parece até mentira dizer que um vampiro consegue controlar elementos da natureza. Eu mesma não acreditaria se ouvisse. O estranho é que isso nasceu com ele e não foi herdado pelos nossos pais.

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Cercada por eles (POSTANDO NOVAMENTE POR TEMPO LIMITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora