Não Somos Um

By felipe_fgnds

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Téo está em busca da Garota Perfeita, uma garota que ele idealizou e com a qual tem certeza de que será feliz... More

1 - Querendo companhia?
2 - O problema de esconder coisas de Mel e Arthur
3 - Caindo na pilha
4 - Deus que me perdoe
5 - Téo? Sou eu, a Victória
6 - Menos língua
7 - Sua namorada é um arraso
8 - Especialista em não ouvir
9 - Adão me disse a mesmíssima coisa
10 - Sex tape?
11 - Sequência desesperadora de alívio e libertação
12 - Verdade ou Cupcake
13 - Tubinho vermelho
15 - Batalha dos Reinos (parte 1)
15 - Batalha dos Reinos (parte 2)
16 - Balacobaco
17 - Bolinhos de maconha
18 - Guerra Fria
19 - Iemanjá
20 - Alucinação de pijama
21 - As vacas viram tudinho
22 - Do jeito do hospício
23 - OMGFUWEFOJK
24 - O pior timing do mundo
25 - Eles sabem, Vic
26 - Deus estava mudo
27 - O último desejo de Melodee
28 - Acabamos?
29 - Não somos um
30 - Tic
31 - Viva-voz
Epílogo
Agradecimentos
História nova!

14 - O coração era apenas um

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By felipe_fgnds

"O coração manda em todo mundo, e só quem não tem juízo obedece"

(A Poesia dos Desafetos, página 78)

Princesa Miúcha não estava online.

Ser Rei tinha perdido a graça desde que sua princesa não dava mais as caras no reino. Poderia reunir um clã e embarcar numa missão suicida qualquer, conquistar um novo continente ou apenas passear com os dragões marinhos, mas não sentia vontade de fazer nada disso. Batalha dos Reinos IV poderia ficar sem seu Rei Nipônico por alguns dias.

O conhecimento era uma praga. Quanto mais sabia, mais sabia que não deveria ter ficado sabendo. A ignorância podia ser uma benção. O dia seguinte seria mais um dia de angústia, dilemas e outras coisas dramáticas. Mel iria para a segunda fase do processo seletivo, e tudo o que Arthur faria se resumia em agonia. Se ele não soubesse do Canadá, iria torcer como um louco para ver Mel passar. Mas ele sabia. E isso significava que... Bom, os sentimentos eram muitos, mas o coração era apenas um.

- Veras – Arthur chamou.

- Sim, Sr Arthur?

Veras era incorrigível. Era amigo da família havia anos, mesmo antes de Arthur nascer, mas ainda agia como um assistente recém-contratado. Ele fazia de um tudo para o pai de Arthur, como organizar as contas, ligar para clientes, vigiar a bolsa de valores e, talvez, dar conselhos paternais.

- Se você gostasse muito de uma garota, assim, acima de tudo...

- Parece bem hipotético.

- Se hipoteticamente você gostasse muito de uma garota, acima de tudo, mas ela te trocasse por outra coisa qualquer... O que você faria?

Consultar Veras foi a única opção que sobrou para Arthur. Téo havia sido sugado para outra dimensão chamada Início de Namoro, e não havia a mínima possibilidade de conversar com Mel a respeito dela mesma. Não era muito produtivo ter apenas dois melhores amigos e namorar com um deles.

- Conhece as leis de Nilton?

- Inércia, princípio fundamental da dinâmica e Ação e Reação. O que isso tem a ver?

- Não esse Newton - Veras revirou os olhos. Arthur nem sabia que ele era capaz disso - Nilton, o açougueiro da rua de trás.

- Ah...

- Um homem nobre e sábio. E corta uns bifes como ninguém. Dá conselhos amorosos nas horas vagas, principalmente depois de uns goles de vodka.

- E quais são as leis de... Nilton? – Arthur estava mesmo curioso, apreciava todo tipo de sabedoria.

- Se você não se mexe, a garota também não se mexe. E, se espera uma reação dela ao seu favor, precisa agir em favor dela.

Parecia ridiculamente familiar para Arthur.

- Só isso? Não está faltando nada?

- Não – Veras respondeu.

- Nada envolvendo a força do nosso amor e nossos pesos?

- Não. De onde você tira esses absurdos?

Foi procurar pelo pai em seu império particular. Pelo menos, dentro daquela casa, o Rei do Enlatado era um rei de verdade. A fortuna do império consistia em salsichas, sardinhas e outros alimentos em conserva, mas não deixava de ser uma fortuna. A família Hayashi tinha enriquecido rapidamente nesse ramo, embora Arthur nem tivesse lembrança do tempo em que não tinham tudo o que tinham. Vender enlatados era um negócio de gerações da família. Seu bisavô tinha começado humildemente com isso, seu avô tinha expandido o negócio exponencialmente e, agora, seu pai comandava com mão de ferro o império dos enlatados. Arthur não sentia nenhuma empolgação ao recordar que era o próximo da fila. Mas era bem capaz de estragar com tudo e ser o último Rei dessa monarquia. Até para vender enlatados era preciso ter talento. No mundo virtual, Arthur era um magnata, uma celebridade, era O Cara... No mundo real, as coisas eram um pouco diferentes.

Empurrou a grande porta do escritório.

- Isso não está certo! Tudo o que vocês devem fazer é mandar os concorrentes enfiarem essas salsichas no...

- Rei?

O Rei do Enlatado estava em seu trono, ditando ordens aos seus súditos furiosamente. Era só uma grande mesa de carvalho e a cadeira giratória mais espaçosa do Rio de Janeiro, com seu pai, mais largo do que nunca, berrando impropérios no celular. Mas Arthur gostava de medievalizar as coisas. Era mais fácil assim.

Todas as paredes da sala eram cobertas com livros de Economia, Administração, Contabilidade e outras áreas que faziam Arthur bocejar só de ver o nome. O Rei incrivelmente se encontrava naquela bagunça onde os livros não respeitavam nenhuma ordem lógica. Se dava para pôr em ordem alfabética, por que não fazer isso? Uma pessoa com TOC morreria de agonia ali dentro.

- Filho! – o Rei olhou para ele e voltou a atenção para o celular por uma última vez – Isso, exatamente, mandem esses idiotas enfiarem tudo lá... No container de volta para a Índia.

De uma coisa, ele não podia reclamar: Da atenção que o Rei lhe dava. Existia um vasto reino para cuidar, mas o Rei do Enlatado se preocupava demais com o futuro do seu filho, o que, indiretamente, era se preocupar com o futuro da salsicha e da sardinha em lata.

- Rei, preciso fazer uma pergunta. Hipotética.

- Manda.

Diziam que Arthur tinha a cara do Rei, mas ele não conseguia se ver no pai. Talvez, por baixo de todo aquela carne sobressalente existisse uma versão adulta de si mesmo, mas tinha certeza de que jamais a veria. O Rei sempre fora gordo e nada saudável. Mel surtava toda vez que vinha jantar na casa, porque o Rei comia feito um porco, sem nenhuma preocupação com a saúde.

- Quais são as chances de eu passar, hipoteticamente, um ano no Canadá?

- Como é que é? – A pergunta não fora no tom mais amigável.

Aparentemente, o Canadá era um dos assuntos mais impopulares do ano. O Rei levantou-se de um salto do seu trono. Na terceira tentativa, porque nas duas anteriores a gravidade fez seu trabalho. O pai apoiou-se na mesa de carvalho.

- Nem pense em largar o Brasil de novo, Arthur! Você sabe o que está em jogo. E Canadá? Estamos abrindo filiais em três estados, já comandamos o sudeste! E você tem que se apoderar disso.

- Mas, Rei... Eu disse hipoteticamente.

Porém, para bom paranóico, meia informação bastava.

- Hipoteticamente! Conheço o filho que tenho. Eu tento te apoiar, Arthur, mas você nunca se engaja! Ano passado você quis retornar às suas raízes orientais indo para o Japão, sendo que você nasceu em São Paulo, tenha dó! – O pai estava bufando – Eu atendi o apelo da sua mãe e...

Dali em diante, tudo o que o cérebro de Arthur computou foi a mesma ladainha. O Rei havia atendido o pedido da Rainha de não afogar o filho nos negócios por enquanto. Deveriam deixá-lo fazer as próprias escolhas e, assim como fora com todos os herdeiros do império, uma hora ou outra ele acabaria sentindo a vocação que estava em seu sangue. Esse discurso seria lindo se a vocação não fosse entupir as pessoas de feijão, salsicha e botulismo. Obviamente, a vocação não tinha batido na porta de Arthur. Ele havia descoberto um mundo totalmente novo na Informática, na internet e nos games. E, às vezes, ele queria dizer isso literalmente, porque Batalha dos Reinos IV era, de fato, um mundo novo e melhor. Onde cada um podia ser o que quisesse, e até um nerd loser podia ser Rei.

O Rei de verdade ainda falava.

- ... Você vai terminar sua faculdade e depois vemos o que será feito! Você já é um adulto – Arthur se sentia um adulto de araque. Em situações em que a presença de um adulto era requisitada, ele sempre procurava por uma segunda pessoa até lembrar de si próprio - Deveria ter ido para Administração, mas agora vai terminar o que você escolheu cursar...

Depois disso, só mais ladainha...

***

Ficar dois anos mofando dentro de casa em todos os finais de semana devia ter adormecido os anticorpos de Téo. Três semanas "saindo" com Victória e ele estava acamado, derrubado por uma virose do inferno. Asofasado, na verdade. Tinha se mudado para a sala a fim de ver TV pela última vez. Era só febre, espirros e dores no corpo, mas se sentia em seu leito de morte.

- Liv, diga à babãe que a abo. Você pode ficar com beu... Atchim... Combutador e com beu quarto.

- Não seja ridículo. Você não está morrendo. E seu computador já é meu. Toma.

Téo engoliu o comprimido que Liv havia dado com a ajuda de um copo d'água.

- Então, Vic vai aparecer por aqui hoje? – Liv perguntou casualmente.

- Dão... Talvez. Dão sei. Ela é buito ocubada – Ele sabia o que ela estava pensando e quase entregou o jogo.

Ele "saía" muito com Vic. Numa frequência muito maior do que o aceitável num Início de Namoro. Mas Victória era uma louca sedenta por diversão, talvez por ficar anos aprisionada entre paredes brancas e frases de autoajuda. Agora que podia sair, usava o recurso sem nenhuma parcimônia. Téo era obrigado a sair também, mas só de mentirinha, não podia correr o risco dos pais de Vic ligarem para a casa dele e ele estar lá. Mas também não tinha nenhuma vontade de acompanhar Victória em suas andanças e achava que o sentimento era recíproco.

- Não precisa vir atrás de mim. Não é meu namorado de verdade. Vai, sei lá, para o shopping.

O final da frase era sempre no mesmo formato.

Juro que volto às 22h.

Estarei de volta às 23h.

Não vou passar da meia-noite.

Uma coisa incrível sobre Victória era que todos seus horários significavam, na verdade, duas ou três horas depois.

Téo já havia decorado todas as lojas do shopping e deveria ser conhecido por todos os vendedores como O Cara Estranho Que Vaga E Nada Compra. Terminava todas as noites numa livraria folheando um livro que nunca iria levar para casa. E ele nem podia falar com Mel ou Arthur, pois estava saindo com Victória. Ficou zangado com ela por causa dessas longas horas de tédio, e a resposta foi lógica e uma só.

- Você também pode se divertir, oras. É livre! Pode fazer o que quiser.

Receber um passe de liberdade incondicional poderia ser tudo o que um namorado gostaria de receber de sua namorada, mas Téo não se animava com essa perspectiva.

O namoro perfeito, fora isso, estava sendo um sucesso. As pessoas o parabenizando no Facebook fora o ápice. Ele tinha uma namorada, não havia mais cobranças, seus amigos o respeitavam, o mundo o respeitava. Téo havia vencido na vida. E sem passar por nenhum dos momentos chatos de um namoro normal. Não havia discussão de relação, não havia brigas por datas que só eram especiais para um dos dois, não havia ciúmes...

Mas Vic precisava aparecer na casa dele. Era sobre isso que a investigadora Livian Hanson estava questionando. Saíam quase todo santo dia, mas nunca ou quase nunca namoravam em casa. Não ocupavam a linha do telefone, não trocavam presentes, não postavam declarações de amor bregas nas redes sociais. Eram coisas a serem trabalhadas. Ninguém havia presenciado os amassos e beijos deles.

Porque eles não existiam.

- Ela ainda nem ligou para cá para saber como você está.

- Ligou, sim. Só que para beu celular. Trocamos bensagens o tembo todo.

- Vasculho seu celular todos os dias e nunca encontrei nenhuma. Aparentemente, a pessoa que mais se importa com você é sua operadora.

Fazia um tempo que ele não recebia mensagens. Havia dias em que a solidão era mais palpável, e Téo sentia vontade de responder as mensagens automáticas da operadora de celular.

- Eu abago. Você sabe, pra liberar bebória.

- Humn...

A noite correu como todas as noites de Téo costumavam correr: com TV e cupcakes. A mãe apareceu com um sorriso de orelha a orelha e uma bandeja com suas novas monstruosidades. Desde o dia em que ela acidentalmente criara o cupcake mais delicioso do mundo, Téo e Liv estavam sendo testados com mais frequência. Foram várias tentativas infrutíferas. Várias. Tinham tentado um milhão de combinações com os ingredientes disponíveis na noite do Verdade ou Cupcake. Tentaram queijo, ovos de codorna, aromatizantes, frutas cristalizadas e um pedaço de presunto fora da validade, mas nada tinha dado certo.

- Eu estava cansada, peguei qualquer coisa, misturei e fiz o recheio – Maria Rita choramingava isso todos os dias.

Mas, dessa vez, ela parecia muito confiante.

- Podem provar.

- Acho belhor deixar só a Liv provar, acho que dão estou sentindo gosto de nada.

- Prove.

- Vamos, Téo, a gente engole no três – Liv o encorajou.

- Ok.

- Bestas – A mãe balançou a cabeça.

- Um...Dois... – Liv inspirou profundamente- Três!

Téo mordeu o cupcake com vontade e arrancou o maior pedaço que pôde. Seu paladar estava realmente afetado pela virose, então ele não iria morrer.

A trapaceira da irmã não tinha mordido nem um pedacinho!

- Você be engadou! – Téo falou de boca cheia – Isso é trapaça! Na próxima vez, você vai ter que cober dois e...

O sabor surreal o surpreendeu. Estalou dentro da boca e despertou todas as papilas gustativas do garoto. Era agridoce. Ou só salgado, ardente. Era um doce salgado... Ou um salgado doce. Era pitoresco.

- É ele – Téo arregalou os olhos.

O cupcake mais delicioso do universo.

Liv mordeu um pedaço do dela imediatamente, e era visível sua sensação de prazer.

- Hummmnnn! É ele! - Ela confirmou.

Rita quase deu cambalhotas pela sala, mas a coluna dela reclamou, e Téo pediu, por favor, para ela se levantar do chão que aquilo era muito ridículo.

- Então, o que tem aqui? Descobriu, né? - Perguntou.

- Sim!

- Fala, mãe! O que é?

- Bom... – A mãe também estava se deliciando com o momento – Além da massa básica de cupcakes e alguns ingredientes óbvios como o chocolate, a baunilha e a pimenta...

- Pimenta? - Os irmãos interrogaram.

- Sim, pimenta, ué - A mãe os olhou confusa - Enfim. Eu descobri que o ingrediente que faltava era... comida de peixe.

Liv engasgou e cuspiu o que tinha na boca.

- Diz que é bringadeira!

- Foi um acidente! Um de vocês deixou a comida do peixe em cima da pia, e eu estava fazendo os cupcakes, e sua namorada estava quase chegando... – Ela deu uma pausa para respirar – Daí eu me confundi. Achei que fosse baunilha, mas...

- Ninguém vai querer cober isso sabendo do que se trata – Téo teve que dizer o óbvio.

- Vou ter que inventar uma nova receita perfeita – A mãe choramingou.

- Mas é claro que não! – A investigadora Livian Hanson interveio - Será o ingrediente secreto, segredo de família. Você será um sucesso na feira, mãe.

Dentro do aquário sobre a mesa, o peixe beta presenciava horrorizado o desenrolar da cena.

***

Arthur não estava presente no estúdio.

Transformar-se numa popstar da noite para o dia tinha perdido um pouco do brilho, desde que seu namorado não dava mais as caras. Ela tinha que arrasar naquela gravação, provar seu talento, conectar-se com seu microfone, com a melodia e com a banda presente, embora não sentisse vontade de fazer nada disso.

Melodee não tinha opção. Queria fugir e trancar-se num mundo só dela e, talvez, apenas talvez, chorar. Fazia tempo que não chorava, mesmo apelando para sua playlist de fossa e para os romances do Nicholas Sparks. Chorar legitimava seus sentimentos, tornava mais autêntica a dor que ela sentia por estar, tecnicamente, brigando com seu namorado, justamente nesse momento tão especial. Mas nenhuma lágrima aparecia para dar o ar de sua graça. Era uma agonia. Quanto mais as etapas do processo seletivo da Honório & Mirla se aproximavam, Arthur ficava mais arisco, mandava mais indiretas. Isso a irritava profundamente.

Bom, os sentimentos eram muitos, mas o coração era apenas um.

- Vamos gravar em cinco minutos – Um dos integrantes da Hashtag veio no camarim avisar. Os garotos da banda eram fofos e simpáticos, do jeito que ela imaginou. Estava vivendo um sonho, mas não conseguia viver o momento, de fato. Sentia-se uma idiota por estar pensando em Arthur. Mais idiota ainda por não ter convidado o namorado para esse momento especial. Era um azar sem fim que Téo estivesse incapacitado de sair de casa. Aparentemente, ele estava morrendo por conta de uma virose inoportuna, e ela até queria consultar umas plantas medicinais para ajudá-lo, mas tinha que se concentrar em si. Seu futuro estava bem ali.

O Brasil inteiro a veria no clipe da banda, e Melodee não fazia ideia do que isso significaria. Ainda era difícil de acreditar que ela estava entre os meninos da Hashtag. Quer dizer, ela! Até outro dia, ela estava em seu quarto com um violão no colo, escrevendo versos estúpidos e desconexos.

Queria apoio no meio dessa loucura toda. Seus pais estavam com ela, mas queria seus amigos por perto. Queria muito... Meu Deus, ela teria mesmo a coragem de largar tudo e viajar para o Canadá? A incógnita assaltou-lhe a mente.

Decidiu que...

Decidiu que não iria decidir nada agora.

Ajeitaram seu cabelo uma última vez para as cenas que seriam gravadas no estúdio. Ela tentou repassar a letra da música mentalmente, mas até esse simples exercício a deixava meio para baixo.

Meu Deus, aquilo estava mesmo acontecendo.

O pessoal da Hashtag e toda a equipe técnica estavam super descontraídos no estúdio, brincando entre si, conversando. Deram várias dicas para ela, que nunca havia pisado num estúdio de gravação e nem sabia como se comportar na frente de uma câmera.

Abraçou Gamesco e Rhonda, seus pais, que estavam curtindo muito, e entrou na sala de gravação.

O momento passou voando, a música percorrendo todo seu corpo, ela sentindo a boa vibração. Repassaram algumas vezes para ficar realmente bom. O violão, a guitarra e a bateria fazendo fundo para a voz dela pairando no ar. O vocalista da banda a inspirava também, com sua voz rouca e encantadora. A melodia encheu seu coração, sua alma e ela só poderia dizer que estava feliz.

Assim que terminou, ela foi ovacionada pela equipe. Muitas, muitas, muitas palmas. Estava rindo para as pessoas no recinto.

Foi demais para ela quando percebeu que estava enganada.

Arthur estava no estúdio, sim. Encostado numa parede, bem ao fundo, olhava diretamente para ela. O tempo todo ele estava ali com ela e agora aplaudia junto com todos os presentes.

Os versos da canção da Hashtag ressoavam em Mel. Era uma música pop melódica, romântica, falava sobre emoções difíceis de controlar, falava de alegria, de choro, de desespero. Era a música certa para ela. Ela sentia a dificuldade de prender as emoções, e o universo bem sabia que ela não derramava uma lágrima havia semanas... Ver Arthur no meio de todo mundo fez seus sentimentos surtarem, oscilarem, não sabia se estava triste ou feliz e nem se atreveria a descrever o que estava sentindo.

Melodee não estava triste. Não, não estava. Era a felicidade de fazer a coisa certa, por isso não chorava, porque garotas que faziam a coisa certa não choravam. Então, chorou. E essa surpresa lavou sua alma. Achou seu estado de espírito bem legítimo.

***

Nota do autor: Ai, ai, esses dois... Meu casalzinho dramático.

Como vocês acham que esse impasse deles pode ser resolvido? Quem está errado?

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