Não Somos Um

Από felipe_fgnds

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Téo está em busca da Garota Perfeita, uma garota que ele idealizou e com a qual tem certeza de que será feliz... Περισσότερα

1 - Querendo companhia?
2 - O problema de esconder coisas de Mel e Arthur
3 - Caindo na pilha
4 - Deus que me perdoe
5 - Téo? Sou eu, a Victória
6 - Menos língua
7 - Sua namorada é um arraso
8 - Especialista em não ouvir
9 - Adão me disse a mesmíssima coisa
10 - Sex tape?
11 - Sequência desesperadora de alívio e libertação
13 - Tubinho vermelho
14 - O coração era apenas um
15 - Batalha dos Reinos (parte 1)
15 - Batalha dos Reinos (parte 2)
16 - Balacobaco
17 - Bolinhos de maconha
18 - Guerra Fria
19 - Iemanjá
20 - Alucinação de pijama
21 - As vacas viram tudinho
22 - Do jeito do hospício
23 - OMGFUWEFOJK
24 - O pior timing do mundo
25 - Eles sabem, Vic
26 - Deus estava mudo
27 - O último desejo de Melodee
28 - Acabamos?
29 - Não somos um
30 - Tic
31 - Viva-voz
Epílogo
Agradecimentos
História nova!

12 - Verdade ou Cupcake

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Από felipe_fgnds

"A vida nos ensina que as melhores coisas podem ser as mais improváveis"

(A Poesia dos Desafetos, página 227)

A ideia era assistir um filme juntos, enrolados no sofá, mas Melodee tinha certeza de que nenhum dos dois saberia dizer o nome do filme no dia seguinte. Arthur havia apagado não muito depois do início e, agora, ressoava baixinho ao lado dela. Ela não tinha o menor interesse em chegar até o final. Era um filme de pancadaria, explosões e guerra. Provavelmente, todos iriam morrer no final, ela não achava a menor graça nisso. Mas não queria sair do sofá também. Queria ficar ali, olhando para Arthur dormindo ao lado dela.

Ela nem acreditava que havia sido convidada para participar de um cd. E não era qualquer cd. Era o cd da Hashtag! A banda de pop rock era bastante jovem, assim como seus integrantes, mas estavam fazendo um sucesso estrondoso desde o ano passado. Estavam para lançar um segundo álbum e queriam Mel dividindo o vocal no novo single. Era um sonho! E tudo isso por causa de um vídeo que simplesmente se espalhou pela internet.

Arthur se mexeu um pouco, e Melodee suspirou.

"Canadá" era uma palavra proibida entre eles, ela havia assimilado isso com facilidade. Quando Arthur apareceu no ateliê dias atrás pedindo desculpas sobre o comportamento antes do show, Mel achou que tudo ficaria bem, que tinha sido apenas um lapso, uma atitude impensada da parte dele. Achou que eles fossem superar. Porém, ainda que Arthur não falasse, ainda que ele estivesse no sofá com ela de um jeito bem gostosinho de estar, o "Canadá" estava presente também. Ela sentia.

O clima entre eles ficou estranho quando ambos tentaram discutir o assunto. Uma simples menção ao país ou ao emprego gerava momentos que Melodee não queria encarar. Não preciso fazer isso agora, ela pensou, decidida.

E, assim, ela passou a noite. Puxou Arthur para um cafuné no colo dela, enquanto pensava na Hashtag e ignorava o filme que passava na TV.

***

Téo só queria um daqueles sacos de papel para pôr sobre a cara. Com sorte, ele morreria asfixiado e não precisaria ver a cara de Vic mais uma vez nessa sua infame existência. Ignorando a animação exagerada que vinha de dentro de sua casa, Téo fechou a porta atrás de si e foi para fora.

- Caguei tudo, né? – Era bom ir direto ao assunto, ainda que o assunto fosse constrangedor ao extremo.

- Quase literalmente – Victória disse, e Téo teve que se resignar e ouvir a sonora gargalhada da garota – Meu Deus, Téo, o que foi aquilo?

- Olha, eu não faço esse tipo de coisa sempre, foi só que...

- Não, esquece, aquilo não tem uma explicação plausível.

- Me atrapalhei um pouco, ok? Mas no que deu, afinal?

Ele havia feito todo tipo de barganha com Deus após o Incidente, logo após ter fugido da casa de Vic com uma desculpa esfarrapada qualquer, na qual ninguém acreditou. Aparentemente, Deus havia ouvido suas preces nervosas. Talvez ter prometido servir como missionário na África por cinco anos tenha realmente feito a diferença. Os pais de Vic tinham ficado chocados, ela não mentiu, mas relevaram. Não era muito cristão julgar uma pessoa com problemas intestinais. Para o bem do namoro, Téo estava aprovado, ainda que sob intensa observação.

- Mas, olha, se você fizer aquilo em público mais uma vez...

- Foi um acidente! A minha mãe faz uns cupcakes e... Enfim. Vamos ao que interessa.

Ele tinha cumprido sua parte no trato. Apesar de, mas tinha. Agora, Victória deveria fazer a parte dela. Honestamente, era um pouco injusto para Téo. Ele havia decorado perguntas e respostas, versículos e ficado viciado em filmes teen para agir bem perante Sr Nariz e Dona Oncinha, mas Vic só deveria ser ela mesma. Ele só estava levando-a para conhecer a mãe dele. Não era para pedir permissão. Com uma meia dúzia de elogios, sorrisos e algumas falsidades sobre os cupcakes, o namoro estaria oficialmente apresentado à sociedade.

Não tinha reparado nas mãos dela atrás das costas, até que ela mostrou o embrulho colorido.

- Para sua irmã. Também quero a ser a cunhada perfeita.

- Vai ter que trabalhar nisso.

- Se você conseguiu, eu também consigo.

Victória estava muito mais casual do que no dia anterior. Vestia uma blusa branca, com mangas curtas, bem apertada, acompanhada com um jeans. Seus cachos estavam bem demarcados por causa de seja lá o que ela tinha feito com eles. O pingente de pedra azul, preso por uma singela corrente dourada, se insinuava provocante em seu pescoço.

Assim que entraram em casa, Rita, a mãe de Téo, deu grunhidos de felicidade e amontoou-se sobre Vic com beijos, abraços e, por pouco, quase a pegou no colo.

- Que linda! – Victória olhou para o namorado desconfiada quando a mulher segurou sua mão – Olha essa pele! Já estou imaginando as crianças negras correndo aqui pela casa...

Os olhos de Victória quase saltaram das órbitas, mas um sorriso brincou em seus lábios.

- Mãe!

- Não, Téo! Não aceito mais uma daquelas garotas magras e pálidas! Da última vez, eu não me intrometi...

E olha no que deu, Téo completou mentalmente.

- ... Mas, agora, chega! Uma avó quer netos viçosos, saudáveis, com cor! Olha só para a agrura que são você e sua irmã.

- Maria, seus comentários racistas poderiam te levar à prisão em, pelo menos, dezessete estados. Oi, eu sou a Liv – Liv estendeu formalmente a mão para Vic.

- Oi, prazer em te conhecer, sou a Victória – Vic respondeu ao mesmo tempo em que também dava os beijinhos de cumprimento na mãe de Téo - Isso aqui é para você - Victória estendeu o presente para Liv - Téo me disse que você gosta de ler... Não li ainda, mas a internet diz que F.Harquimedes é um autor excelente.

- Uma namorada que dá livro de presente! Acho que Téo acertou dessa vez.

Liv agradeceu e correu para a sala atrás da mãe, já rasgando o embrulho. Vic ficou para trás por um segundo e segurou Téo com ela.

- Essa noite vai ser ótima. Mas aquilo sobre os bebês...

- Relaxa. Sua maior preocupação nessa noite deve ser os cupcakes.

Mas Téo estava enganado. Não existia um filme teen sobre a mãe dele. Liv estava agachada na mesinha de centro com fogo queimando no olhar. As duas deram um jeito de se livrar de todas as bugigangas que ocupavam a mesinha, incluindo o aquário com o peixe, que vivia mudando de lugar. Aquele móvel no centro da sala era um porta-bagunça que, às vezes, durante as raras visitas, virava mesa de centro. Maria Rita entrou com duas tigelas contendo salgadinhos variados e os depositou na mesa.

- Mãe, a gente não vai jantar? – Téo perguntou, já sabendo a resposta.

- Vamos, claro! Mas vai... demorar um pouquinho para sair. Vamos fazer umas atividades enquanto isso, conversar, nos conhecer melhor!

Traduzindo: Vamos enrolar enquanto o jantar que encomendei não chega.

- Me parece uma boa ideia – Não dava para identificar se Vic estava sendo irônica ou não.

- Vou buscar meus novos cupcakes enquanto vocês se preparam para o Verdade ou Consequência.

- Quê? – Mas ela já havia saído saltitando da sala.

- Ideia ótima, não é? – O sorriso na cara de Liv garantia de quem era a autoria dessa ideia genial.

Liv pôs sobre a mesa uma garrafa da Incrível Bombeira Walda. A garrafinha era bem simpática, imitando o corpo de uma pessoa. Os olhos inconfundíveis da personagem brilhavam, e o tom vermelho da roupa de bombeira chamava atenção. Incrível Walda era uma das bonecas preferidas de Liv, da época em que ela ainda brincava de boneca. Era uma daquelas personagens com mil profissões e trazia propostas inusitadas de diversão. Walda se ocupava com as mais variadas atividades, todas aquelas que a Barbie ignorou. Tínhamos a Incrível Astronauta Walda, a Incrível Carpinteira Walda, a Incrível Comentarista de Futebol Walda e, claro, não havia como esquecer da Incrível Mãe Solteira Walda, que, além de trabalhar em três empregos, tirava de letra cuidar dos filhos sozinha (A segunda edição dessa última vinha novamente com o Bebê Waldo e, como novidade, Willow, a filha adotiva). Entre outras.

- Walda será nossa garrafa do jogo. Nunca usei, mas para alguma coisa tinha que servir, né?

A graça da garrafa da Incrível Bombeira Walda era que ela atirava água.

- Vamos ao jogo, crianças! – Rita retornou com a bandeja de cupcakes.

- Gente, vocês são surreais! – Victória exclamou, assim que se acomodaram em volta da mesa, com a garrafa da Walda girando no centro, movida pelas mãos de Liv.

Lívia explicou as regras do jogo, que eram conhecidas de todos, mas ela adorava dar um tom sensacionalista a qualquer coisa. Respondia quem tivesse a cabeça da Incrível Walda apontada para si. A pessoa na outra ponta perguntava. Fizeram um juramento de não mentir, sob a benção dos cupcakes.

- Vocês me deixam mais jovens! Téo, troca de lugar comigo. Quero ficar do lado da minha nora.

- Mãe...

- Sai logo.

Então estavam em volta da mesa: Téo, com a mãe à sua direita, seguida por Vic e Lívia, bem ao seu lado. A diabinha estava se divertindo, e Téo tentava deduzir o tipo de perguntas que seriam feitas.

- Vocês podiam ter apenas montado um questionário direto ao invés de maquiá-lo com esse jogo – Argumentou.

- Cala a boca. Gire, Walda!

A garrafa rodopiou loucamente pela mesa assim que Liv a girou.

- Começamos bem – Vic disse para ninguém em especial.

A garrafa parou com a cabeça apontada para Vic. Na outra ponta, a mãe de Téo.

- Eu pergunto! Humn... Vamos ver...

- Toma, mãe, escrevi perguntas para o caso de te dar um branco – Liv passou um pedaço de papel pela mesa.

- Ei! Isso não é proibido? - Téo perguntou.

Liv apenas deu de ombros. Vic pareceu não se importar. Era incrível como Liv tinha planejado tudo isso com antecedência.

- Vamos lá – Rita leu silenciosamente a pergunta que estava no papel e deu um risinho psicótico – Essa é boa – Trocou um olhar de cumplicidade com a filha – Lá vai: Você é um alien usurpador de corpos...

- Mas que...

- Shhhhh

- ... Você é um alien usurpador de corpos – Ela repetiu – No corpo de que pessoa nessa sala você gostaria de se hospedar enquanto trata da dominação mundial?

- Verdade ou Consequência? – Liv disparou.

- Verdade, com certeza. Mas a resposta... – Ela se deu um tempo para pensar enquanto mastigava bolinhas de queijo.

Enquanto Vic refletia sobre essa pergunta esdrúxula, Téo estava lançando toda a culpa desses vinte e quatro meses de Situação sobre a família. Convenhamos, uma namorada de verdade não teria sobrevivido ao assunto dos bebês e aos comentários racistas. Victória tinha que ser muito mais resistente.

- Vou ter que responder... Liv.

- E eeeeeu? – Rita perguntou, parecendo realmente chocada.

- Mãe, o certo seria ela me escolher! Sou o normal da casa.

- Você dorme de meias, pelo amor de Deus – Liv cortou o irmão - Adorei a resposta. Honestamente, eu também me escolheria. Vocês são entediantes. Com a metade da idade de vocês, tenho o triplo de contribuições para a humanidade – Liv não tinha um pingo de modéstia.

- Não que isso tenha contado na minha importante decisão... – Ponderou Victória - É que seria interessante estar no corpo de uma menina novamente. Além de ninguém desconfiar de uma menina de 11 anos, foi meio que a melhor época da minha vida.

- Me passa o quibe? Mas ter uns, sei lá, 30 anos deve ser muito melhor – Liv refletiu.

- Jennifer Gardner discorda de você. Eu giro a Walda, agora – Téo pegou a garrafa.

A Incrível Bombeira Walda Versão Garrafa deu mais alguns giros até parar com a ponta virada para ele próprio. Vic perguntava.

- Humn... Que interessante – Vic sorriu e o encarou com uma sobrancelha erguida.

- Qualquer branco, eu tenho minhas perguntas extras – Liv se adiantou passando um papel para Vic.

- Não – Maria parou o papel - Pergunta por que ele não lava as próprias cuecas, é um mistério pra mim.

- Isso não é verdade!

Mas, caramba, cadê o filtro dessa mulher?

- Minha pergunta - Vic prosseguiu - Mas, antes, gente, que momento constrangedor, enfim. Minha pergunta: Como terminou seu último namoro, Téo?

Nossa. Vic estava jogando para valer ao invés de simplesmente perguntar algo besta para a brincadeira acabar mais rápido. Por que ela não perguntou, sei lá, sua cor favorita?

- Conseq...

- Nossa, foi horrível esse término – Liv começou a falar com dois quibes na mão – Téo ficou arrasado por semanas.

- Ei! Eu disse Consequência!

- Ai, Kelly era um amorzinho, apesar do manequim 34 – Disse a mãe.

- Mas aí o Téo deu um pé na bunda dela e destruiu nosso sonho americano – Liv terminou.

- Consequência!

Ok, essa foi a versão que ele havia contado para a família. Num dia nada especial, ele acordara e decidira que estava enjoado de Kelly e queria coisas novas, novos horizontes etc. O problema não é ela, sou eu. Sim, essa foi a desculpa esfarrapada que ele dera, o "Estamos cortando despesas" do mundo dos relacionamentos. Era isso ou contar para vizinhança inteira que Kelly havia coroado-o com um belo par de chifres.

Poderia ter contado a mesma mentira para Vic, mas preferia ter menos esse pecado em sua conta quando fosse entrar no Céu.

- Com que tipo de consequência eu posso puni-lo? – Vic perguntou para Liv, a melhor carrasca.

- Cupcake da mamãe. Vai por mim, não tem nada mais degradante.

- Que ofensa! Eu fiz com tanto carinho, amor e dedicaçãoAgora, Rita estava realmente chocada. O que, honestamente, era uma grande bobagem. Nem toda dedicação do mundo salvaria aqueles cupcakes. Todos sabiam que um em cada quatro matava – Retire o que disse, Lívia Andrade!

- Se é tão bom, deixa o Téo comer – Liv presenteou o irmão com seu melhor sorriso angelical.

- Isso, Téo, come. E prove para essa sua irmã degenerada que sua querida mãe faz cupcakes deliciosos – A mãe pegou a bandeja e expôs os cupcakes.

Téo tentou escolher o menos pior, mas todos pareciam ter sido assados na fornalha de Nabucodonosor. Botou um tição na boca e orou secretamente para Deus livrá-lo do câncer.

Da próxima vez, escolheria Verdade.

- O que a senhora fez com esses cupcakes, mãe? – Disse, fazendo força para não cuspir.

- Talvez, eu tenha deixado passar um pouco do ponto – Ela se defendeu.

Com o peteleco que Liv deu na garrafa, e alguns giros depois, a cabeça de Walda ficou na direção da mãe. A própria Liv perguntava. A resposta saciou a curiosidade de todos, porque o que Liv perguntou foi que tipo de ingredientes alienígenas ela usava na preparação dos bolinhos do inferno.

- Verdade ou Cupcake? – Liv perguntou.

Caíram na gargalhada.

- Que maldade! Verdade.

A verdade verdadeira era que nem a mãe queria provar das suas próprias invenções.

- Obviamente, eu não usei nada alienígena, sua exagerada – Não era óbvio – Mas confesso que estou testando receitas não ortodoxas. Eu não vou vencer a vizinha com um cupcake comum!

Nisso, Téo tinha que concordar. Dona Lúcia, a rival-mor, deveria estar aperfeiçoando seus cupcakes maravilhosos, enquanto a mãe de Téo torrava os dela como se não houvesse amanhã.

- Mas que ingredientes a senhora usa? – Vic perguntou. Téo achou legal da parte de Victória se mostrar interessada nas maluquices da mãe dele.

- Olha, já tentei brigadeiro, baunilha, maracujá...

- Aquela coisa vegana – Téo lembrou e estremeceu.

- É, aquele não deu muito certo – A mãe confessou, embora nenhum deles tivesse dado certo, de fato. Téo votaria no ousado em leite condensado como o menos pior, mas... não dava para recomendar.

- E esses de hoje são de quê? – Liv perguntou.

- Bom, esses são... Cupcakes Surpresa da Dona Maria Rita.

- Ai, meu Deus, o que tem aqui? – Téo perguntou, perplexo.

- É surpresa! Não conto.

- Jesus.

Giraram a garrafa da Incrível Walda uma dúzia de vezes. Cada rodada foi uma surpresa. Liv definitivamente tinha as perguntas mais elaboradas, com certeza escritas com dias de antecedência, todas elas envolvendo super poderes, vidas extraterrestres, apocalipse zumbi ou Criminal Minds. A mãe de Téo constrangia a todos com perguntas íntimas como se fossem normais. Téo ficou sabendo a marca do absorvente de Victória e que ela pretendia ter, no máximo, dois filhos. Os Cupcakes Surpresa de Dona Maria Rita continuaram uma incógnita durante todo o jogo, até porque o sabor não era identificável, mesmo depois de Téo ter pedido meia dúzia de Consequências. A menos que o sabor fosse Pedaço de Carvão. O garoto precisou confirmar que nunca tivera uma relação homossexual, que gostava de ir dormir e acordar na mesma hora todos os dias e que salvaria primeiro a mãe caso acontecesse um ataque de mutantes da Marvel.

Conseguiu também extrair de Vic algumas informações interessantes que, até então, não tinham fazido falta. O sobrenome dela, por exemplo. Sua cor favorita era roxo, curtia MPB e gospel americano e não aparecia na igreja uns bons seis meses.

- Como eu nunca te vi por lá? – Téo quis saber.

- Já disse. Não apareço faz um tempo.

Rita até tentou descobrir se conhecia os pais de Vic, mas a mãe da garota não era "a que traía o marido toda terça-feira com o açougueiro", nem "a que cantava feito um gato miando" e nem "a que tinha buço". O pai também não era "o cara que cheirava a cecê e sentava na fileira da frente".

Na última girada de Walda, a pergunta era de Téo, e quem respondia era Victória.

- Manda – Ela disse. Estavam totalmente descontraídos. Vic tinha se encaixado perfeitamente na mesa dos loucos, mas Téo não sabia que parte daquilo era verdade e que parte era encenação.

- Por que você largou a igreja? Não sente falta?

A confiança e descontração de Vic vacilaram, levemente. Ele realmente queria saber, uma vez que não havia motivo plausível. Por que alguém largaria uma igreja? Por que alguém largaria a igreja dele? Era o melhor lugar. Aprendiam sobre a bíblia, sobre Deus, viviam em comunhão, faziam festas comemorativas e celebravam as conquistas de todos. Então, por quê?

- Humn... Cupcake – Vic nem esperou ninguém fazer a pergunta, que nem chateava Rita mais. Em uma das rodadas, a mãe preferiu encarar seus quitutes e quase morreu engasgada. Era o primeiro de Vic, e a única vez que Téo desejava que ela tivesse dito a verdade.

- Não pode ser tão ruim, né? – Ela perguntou, com o bolinho queimado na mão esquerda.

- Pode – Responderam todos. Rita, inclusive.

Téo reparou no bolinho ocupando espaço em sua boca, a primeira mordida. Focar nos lábios de Vic o fez lembrar do beijo roubado na apresentação de Melodee. O beijo em que ele não havia beijado, só participado. Aquilo tinha sido um não-beijo. Quando Vic arrancou um pedaço do cupcake e mastigou, seus olhos arregalaram-se, e ela começou a agitar as mãos. Bom, eles tinham tentado avisar.

- Alguém pega água para ela, por favor – Liv disse, e Rita correu para a cozinha para pegar água. O refrigerante que veio acompanhar os salgadinhos tinha acabado no meio do Verdade ou Cupcake.

Victória engoliu o pedaço e, ofegante, tentava dizer algo. Téo deu umas palmadas em suas costas enquanto Liv olhava preocupada.

- Gente, isso é um ataque epilético?

Vic parou para respirar e sorriu, ainda mastigando resquícios do cupcake traumático em sua boca.

- Vic, você está bem? – Téo perguntou.

- Gente...

Rita retornou para a sala com um copo d'água e o entregou à Victória.

-... É bom.

Coitadinha, estava delirando.

- O cupcake... – Ela ofegava - É bom!

- Vic, sério, não precisa mentir. Minha mãe nem está ligando mais, até brincou com a gente – Téo afirmou. Ela não precisava mentir sobre os cupcakes a essa altura do campeonato.

- Não, é sério. O cupcake é bom. Na verdade, é muito bom. É divino!

Depois de levar uma mordida de cada um, o Último Cupcake chocou a todos os presentes com seu sabor pitoresco, agridoce, incomum e extasiante.

Era muito bom.

- Mãe, sério, o que tem nisso aqui?

- Eu misturei algumas coisas e... - A incerteza percorreu o rosto de Dona Maria Rita - Meu Deus, não lembro.

Era muito bom e, para desespero geral da nação, a mãe de Téo não sabia repetir a receita.

***

Nota do autor: Uma curiosidade é que eu descobri que, em alguns estados fora do Rio de Janeiro, esse jogo se chama Verdade ou Desafio. Outra curiosidade é que este foi um dos capítulos que mais me diverti escrevendo. Eu fui sorteando em cada rodada quem perguntaria pra quem, foi o Random.org que escreveu este capítulo Hahahahah É um dos meus favoritos <3

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