NOTA
Perdão pela demora de publicação que persiste entre um capítulo ou outro, mas vocês não tem ideia do esforço que faço para escrever Novo Remetente diariamente. Entre viagens de ônibus e horários do trabalho.
Faço tudo isso com o coração cheio por amar isso aqui.
Obrigada por estarem aqui e esperem que gostem desse capítulo sem revisão, mas feito com amor e carinho. <3
Os primeiros dias do ano passam de maneira rápida e pragmática. Passo a maior parte do tempo com minha irmã e amigos, emaranhada pelo atual momento. Tento inibir vontades que aparecem sempre que estou em meio ao silêncio.
É dia 6 de janeiro quando volto ao mesmo médico que me deu a notícia que fez meu mundo parar por um instante.
Dessa vez estou sorrindo e com Judith ao meu lado.
Um dos momentos mais importantes para a minha nova vida.
- Isso é novo para mim, irmãs grávidas com praticamente o mesmo tempo de gestação.
Segue uma lista de questionamentos para mim e Judith em uma consulta que deve ser feita mensalmente e que hoje será em conjunto para irmãs e que, após Jud ir embora, passarei a ir sozinha de hoje em diante.
- E como você está se sentindo, Emma? Continua tomando as vitaminas?
- Sim. Estou me sentindo mais revigorada. Apenas com o mesmo enjoo matinal.
- Isso é normal, o enjoo pode seguir até o terceiro mês da gestação e em poucos casos persiste durante toda ela.
Com as suas palavras torço para que eles não durem muito ou não os aguentarei por muito tempo.
Em seguida seguimos para um espaço mais reservado, apenas com uma maca e uma máquina para a ultrassom.
O gel é depositado em Judith inicialmente e assisto, segurando a sua mão, enquanto minha irmã é massageada e o médico encara atentamente a tela a sua frente com meu futuro sobrinho ou sobrinha. Jud tem quase uma semana a mais de gestação que a minha e já é possível vermos o embrião de 5 a 6mm e ouvir o seu batimento cardíaco. Choramos de emoção.
- E os pais, não vieram? - O obstetra pergunta. Imagino que essa seja uma pergunta indelicada para se fazer, mediante a um grande índice de mães solteiras. Mas ele não parece ser dos que julgam se eu disser que sou uma delas.
- Eles estão nos esperando do lado de fora. - Jud sorri e responde antes de mim. Uma mentira, apenas Jimmy está na recepção. - Eu estou de mudança para outro país, como você sabe, então resolvemos acompanhar a primeira ultrassom uma da outra.
- Isso é legal.
Minutos depois, ao ver que está tudo perfeito com Judith e ela poderá viajar tranquila, é a minha vez.
O meu minúsculo borrão de quatro semanas me emociona ainda mais. Um ser que eu darei tudo de mim para que seja imensamente feliz. Com ou sem pai.
Com a notícia que tudo está em perfeita ordem respiro melhor e prometo seguir uma dieta saudável para a nossa saúde.
No dia 7 de janeiro vou ao aeroporto junto com Pacco e Stephan para me despedir de Judith.
Sinto por me despedir dela, uma saudade cresce antes mesmo de vê-la partir. Mas o sorriso largo em seu rosto, apesar das lágrimas, mostra que está imensamente feliz indo realizar o seu sonho ao lado de Jimmy, com quem agora construirá uma família só deles. Me nego a apresentar qualquer tristeza que iniba essa felicidade.
- Eu sentirei tantas saudades. - Me abraça forte. - Vamos acompanhar o crescimento da barriga uma da outra, certo? - Sua feição de choro não me deixa negar.
- É claro que sim, vamos nos falar sempre por chamada de vídeo e escrever e-mails diários. - Seco sua bochecha. - Sentirei saudades infinitas. - E deixo que Pacco e Stephan se despeçam, controlando as lágrimas.
Eu odeio despedidas e estar em uma sala de aeroporto esperando que vá embora para longe de mim sem data de retorno me faz engolir com dificuldade.
- Eu volto para o casamento de vocês. - Ouço quando Jud diz. - Estarei no fim da gestação, mas posso pedir licença antes disso. E estarei aqui sempre que puder ou precisarem.
- É claro que você vem, você estará em outro país, mas não louca. - Sorrimos com a maneira de Stephan expressar que também sentirá saudades.
- Pensemos pelo lado positivo. - Pacco ameniza. - Teremos um lugar para passar as férias na Itália.
- O lugar que ficaremos de imediato é pequeno e ainda precisamos nos familiarizar com a cidade e idioma, mas assim que conseguirmos uma casa grande, com um espaço bom para o bebê, vocês serão meus primeiros convidados.
- Tenho certeza que sim.
Com o anúncio do seu voo, abraço-a novamente, desejando que esse momento retarde.
- Boa viagem, Jud. Amo você.
Mais abraços e choros seguem quando vejo Judith acompanhar seu amado numa fila indiana uma sala onde não podemos acompanhá-los. Minha irmã segue de frente para nós, acenando. Aceno de volta, finalmente percebendo que nunca mais a terei na porta ao lado. Agora eu estou sozinha.
Instantes depois assistimos seu avião decolar. E já estou com saudades.
O dia 15 de janeiro é eleito um dos dias mais importantes da minha vida por dois motivos.
No começo da tarde corro de um lado para o outro dentro da biblioteca. Ansiosa para que tudo saia nos perfeitos conformes.
Na noite anterior não consegui pregar os olhos por muito tempo, diferente do que o médio recomendou, as sete horas de descanso por noite não foram atingidas. A insônia de alguém que está quase entrando em um colapso por ansiedade e expectativas.
- Emma! O que está fazendo aqui? Você precisa ocupar o seu lugar junto com os outros escritores, abriremos em breve. - Michael, o diretor de escrita da editora central e organizador do evento que lançará o meu livro e outros para o mundo da leitura, me chama.
- Mas ainda há bastante coisa para organizar e... - Interrompe-me.
- Hoje você não é funcionária da biblioteca, Emma, você é uma jovem escritora que estamos apostando no potencial, então deixe que os organizadores do evento façam o resto. Apenas sente atrás daquela mesa, dê autógrafos e fale com as pessoas.
- Eu estou tão ansiosa... - Confesso.
- Não fique. Será um sucesso, eu tenho certeza. Temos uma longa lista de possíveis presentes no evento.
Me aproximo de um grupo de oito escritores, mais mulheres que homens e com idades variadas. Cumprimento-os quando Michael retorna, pedindo que pousemos para uma foto em grupo com seus respectivos livros em mãos.
Encaro a capa do meu, um fundo claro, com desenhos que devem representar amor e dor. Uma bela rosa branca no centro, mas com gotas de sangue que escorrem por uma de suas pétalas e atinge o fundo da foto.
Surpreendo-me quando levanto o olhar e noto o fotógrafo por trás da câmera e, com o sorriso mais largo, pouso para alguns cliques.
- Eu não sabia que você seria o fotógrafo do evento. Por que não me disse? - Pergunto.
- Eu não seria, mas me ligaram pela manhã pedindo para que substituísse o fotógrafo que adoeceu. Depois disso eu mal tive tempo para ligar-lhe. - Pelo seu sorriso noto que está feliz com o trabalho de fotógrafo pela segunda vez para a biblioteca.
- Fico feliz que esteja aqui, Steph.
- Eu estou feliz em estar aqui e por receber esse gordo cache - sorri - mas, se me permite, tenho algumas fotos para tirar agora. Acho melhor ocupar seu lugar, em breve chegarei para sua foto individual.
Com um beijo em minha bochecha, se vai.
Estou ansiosa e mexo minha perna inquieta em baixo da mesa larga de Carvalho.
Um grande banner com a logo da editora, a capa do meu livro, uma pequena foto minha e meu nome está pendurado atrás de mim.
Resfolego, temendo desde já as críticas negativas que irei perceber. Impossível seria agradar a todos.
A mesa tem um copo com água, canetas com a logo da editora, alguns dos meus livros para ocupar espaço e bastante marca paginas para presentear os compradores. Temo que não consiga entregar todos eles por falta de público em minha mesa.
Publicar o primeiro livro de maneira rápida e com um grande evento é como estar vivendo um sonho. Minha profissão facilitou em todo o processo, mas numa imaginei que um dia estaria aqui.
Stephan se aproxima com a câmera em mãos e pego um livro, marcas páginas e abro um sorriso nervoso para uma foto.
Não sei quanto tempo se passa, mas instantes depois ouço quando a porta é aberta e pessoas começam a entrar.
O lugar é preenchido por pessoas de diversas idades avaliando o espaço e lendo com atenção o folhetim que explica como funciona o evento e fala um pouco sobre cada obra lançada. Alegro-me quando vejo a primeira pessoa a se a aproximar da minha mesa. Não poderia ser outra pessoa.
- Fiz questão de ser o primeiro. Estou muito feliz por você, Emma.
- Obrigada, Pacco. É muito importante tê-lo aqui - sinto meus olhos arderem de emoção - sei que você e Stephan viajarão hoje à noite e estão com as agendas ocupadas.
- Nada que me impediria de estar aqui.
Com os planos para abertura do seu segundo restaurante Pacco's em San Diego a mil meu amigo mostra a exaustão em seu rosto. Esse ano nos trará muito sucesso.
- Mas então, como gostaria da dedicatória? - Pergunto, sorrindo.
Vejo uma outra pessoa que lê a minha sinopse no verso do livro parar atrás de Pacco.
- Escreva exatamente assim "para o melhor amigo de todos, e o mais bonito, Pacco Rooker".
E escrevo "Para o melhor amigo de todos, e o mais convencido, Pacco Rooker. Com amor, Em."
- Obrigada por estar comprando um volume.
- Na verdade estou levando mais alguns, sabe, presentes para mamãe e parentes.
Escrevo uma dedicatória em especial para sua mãe, que me acolheu de modo especial desde que entrei na vida do seu filho e outra para sua tia, conforme me pede.
- Tenho medo das críticas de Grace.
- Ela será boazinha com você, tenho certeza. - Ao notar que alguém espera a suas costas, se despede. - Muito sucesso, minha irmã, você merece.
- Aqui diz que é baseado em fatos reais. - A jovem que aguardava atrás de Pacco diz, parece ansiosa.
- E é. Não conte a ninguém, mas é baseado na história dos meus pais. - Brinco, em breve isso não será nenhum segredo.
- Oh! - Sua feição é engraçada e me faz sorrir - isso é ótimo, eu adoro histórias reais! Eu espero que eles acabem muito felizes no final.
- Espero que goste desse, então. Tenho certeza que eles acabaram felizes. - Abro um sorriso melancólico. - Qual o seu nome?
- Ah, certo. Meu nome é Marie.
- Foi um prazer conhecê-la, Marie. Espero que aprecie a leitura.
Lhe entrego de volta seu livro junto com um marca página.
- Obrigada.
Olho para a mesa vizinha e noto que ela está um pouco mais cheia que a minha pelo autor já possuir certa fama no mercado literário.
- Eu tenho certeza que a minha esposa gostará desse livro, ela ama coisas melosas. Já posso vê-la sorrindo como uma boba do início ao fim. Ainda mais com um autógrafo da autora.
Sorrio.
- Será presente?
- Sim. Estamos fazendo 30 anos de casados hoje. Irei levá-la para jantar à noite e dar o seu livro.
- Essa é uma missão arriscada, espero que ela goste. Qual o seu nome?
- Somos Marshall e Anna Audren. Pode escrever algo?
E conforme me dita, eu complemento:
"Para Anna Audren, a mulher dos sonhos. Que os seus anos de casados se multipliquem até o fim da vida.
É uma prazer tê-la como leitora em Corações Entrelaçados, Emma S."
Não passo muito tempo sozinha, leitores aparecem sempre que me despeço de algum.
Chego a gargalhar quando se aproxima um grupo de jovens garotas a minha mesa.
Segundo elas são um grupo de leitores que se uniram pela semelhança no fanatismo por livros de romances. Ao todo chegam a quarenta pessoas, mas vieram apenas quatro para o evento de hoje. Quando souberam do evento nas redes sociais não pensaram duas vezes antes de confirmar presença. Agora estou em suas miras.
Assino e escrevo uma dedicatória para cada uma, esperando receber respostas com suas respectivas críticas.
As horas passam depressa.
Em um momento sinto um leve mal estar, talvez pela gravidez, e tomo uns goles de água, trabalhando a respiração.
Os momentos seguintes seguem repetitivos.
"Muito obrigada"
"É um prazer tê-lo(a) como leitor(a)."
"Tenha uma bola leitura."
"Espero que goste."
"Obrigada por prestigiar meu trabalho. Boa leitura."
Mas a felicidade supera todo o cansaço.
Estou feliz por ter recebido em um dia tão especial antigos colegas da faculdade, clientes fiéis da biblioteca e até mesmo Luigi, o senhor que costuma me vender pretzels saborosos carregou consigo um livro.
Adam desculpou-se diversas vezes por não poder comparecer, está em viagem de trabalho e entendo o seu lado, mas prometeu levar um volume assim que retornar. Depois de longos minutos de conversa aceitou que não somos mais um casal que deve estar unido e a sua proposta de casamento soou absurda.
Quando vejo o evento sendo encerrado respiro aliviada, estralando os nós dos dedos.
- Será que ainda dá tempo para um autografo?
Olho para a mulher a minha frente, aparentemente na casa dos quarenta. Seu cabelo é loiro e curto, tem pele clara e olhos verdes. Seu rosto não me é estranho, mas não consigo me lembrar de onde a conheço.
- Claro. Gostaria de uma dedicatória?
- Por favor. Diga que é para Eve.
"Eve, espero que tenha uma prazeirosa leitura de Corações Entrelaçados, Emma S."
- Certo. Desculpe, Eve, mas eu a conheço de algum lugar? Você me parece familiar.
- Não. - Sorri largamente. - Tenho certeza de que ainda não.
Dito isso segue com seu livro em mãos entre as prateleiras altas, rumo ao caixa. Fico em confusão. Se for uma crítica espero que goste e me lance algumas positivas.
Com a sua saída não vejo mais ninguém próximo as mesas e o lugar quase vazio, boa parte dos escritores já desocuparam seus lugares e foram embora.
Muitos dos meus livros se foram e resta apenas um dos diversos marca paginas que foi deixado em minha mesa.
- Hey, Em. Já estamos de saída. Acabamos por aqui. - Pacco e Stephan se aproximam, meu amigo com uma sacola com livros, incluindo o seu e o de Stephan com dedicatórias especiais.
- Mas já? Quando vocês voltam? - Entristeço-me por tê-los longe nos próximos dias e ficar completamente sozinha.
- O mais rápido que conseguirmos resolver os detalhes, em uns três ou quatro dias.
- Mandem lembranças minha para Grace e Robert.
- Mandaremos. Você pode me fazer um favor, Em? - Pacco me pergunta.
- Claro, diga do que precisa.
- Você pode, por favor, ir jantar no Pacco's nos dias em que estarei fora? Quero ter alguém de confiança avaliando o andamento do restaurante com a minha ausência. Seus jantares serão por conta da casa.
- Claro, será com um grande prazer que farei isso. Uma pena que não terei você na cozinha.
Meu amigo sorri.
- Nós voltaremos logo. Prometo cozinhar uma massa para você.
Levanto para dar um abraço apertado em cada um.
- Até logo e boa viagem. Obrigada por estarem aqui hoje.
Depois que passam pelas portas largas checo o meu celular que possui diversas notificações. Entre elas um e-mail de Judith.
"De: Judith Stearns
Para: Emma Stearns
Assunto: lançamento do livro
Por favor, me conta tudo!! Quero saber como foi o lançamento do livro da melhor irmã do mundo <3
Estou triste em Milão (sim, isso é possível) por estar longe de você nesse dia tão especial.
Sinto saudades :("
"De: Emma Stearns
Para: Judith Stearns
Assunto: Lançamento
Oi, Jud! O lançamento foi um sucesso! Pedirei que Stephan lhe envie as fotos.
Também estou triste por não poder estar aqui. Sinto saudades. :(
Estou enviando um volume para o seu endereço. Espero que goste."
Após enviar o e-mail aperto o celular contra o peito. Faz apenas oito dias que Judith se foi, mas a saudade já começa a apertar.
- Com licença, será que você pode...?
Estou de cabeça baixa quando um livro é largado sobre a mesa, abaixo dos meus olhos. Achei que já estivéssemos fechados.
Sentindo a fadiga apertar, pego uma caneta e em modo automático assino o meu nome na primeira folha, sem ao menos encarar a pessoa a minha frente.
- Você deu sorte, está levando o último marca página que restou. Para quem é o livro? - pergunto, sabendo que posso estar soando um pouco rude e a pessoa merece ao menos uma simples dedicatória por estar aqui.
- Hoje é o meu dia de sorte. Para James Schmittel.
Então, agora mais atenta, reconheço a voz da pessoa a minha frente. Meu coração para, junto ao meu poder de raciocínio, e quando retorna a vida, volta a bater desenfreadamente, ameaçando pular do peito em direção ao seu verdadeiro dono.
Mal consigo respirar quando levanto a cabeça para ver James parado em minha frente, encarando-me com atenção.
Oh!
Eu nunca imaginava que um dia iria vê-lo novamente. Penso estar vivendo um sonho.
- Olá, Emma.
Meus olhos ficam presos nos seus, a circunferência esverdeada que me encara, como da última vez, com firmeza, e em seus lábios suaves, que já estiveram pressionados contra os meus e em meu corpo.