Águas de Março

By gisscabeyo

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Rio de Janeiro, berço do samba, das poesias de Drummond, da Boemia de Chico Buarque, das noites na Lapa, da G... More

Prólogo.
1 - Goodbye, USA. Olá, Brasil.
2 - Coisas que eu sei.
3 - Mais do que oculta.
4 - Não era pra ser tão fatal.
5- Oblíqua e Dissimulada
6 - Ano novo, desejo antigo.
7 - Nosso jogo é perigoso, menina.
8 - Infinito particular.
9 - Boemia Carioca
10 - Quebrando tabus.
11 - Bom dia.
12 - Canto de Oxum
13 - Agradável e lento.
14 - Tempo ao tempo.
15 - Menina veneno.
16 - Contrapartida
17 - O que é meu, é seu.
18 - Colo de menina.
19 - Meu Pavilhão.
21 - Sensações extremas.
22 - Aos pés do Redentor.
23 - Codinome Beija-flor.
24 - Cuida bem dela.
25 - Luz em todo morro.
26 - Queime.
27 - Azul da cor do mar.
28 - Revival
29 - Desague.
30 - Axé!
31 - Vamos nos permitir - part1.
Vamos nos permitir - part2.
32 - Idas e Vindas.
33 - A lua e o sol - part1.
34 - A lua e o sol - part2.
Bônus - Part. 1
Bônus - Part. 2
Spin off - part 1.
AVISO - LIVRO

20 - Rua Santa Clara, 33.

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By gisscabeyo

N/A: Oi, pessoa! Eu sei, eu sei.. deveria ter atualizado ontem, mas fiquei corrigindo e trocando algumas coisas até cinco da manhã e preferi postar hoje. Esperamos que vocês curtam bastante, como em todos os capítulos HAHAHAHA

Tiveram um gostinho da nossa carioca, agora fiquem com a gringa >

Enjoy(:

LAUREN POV

Durante minhas férias na faculdade, um grupo de amigos decidiu se juntar para viajar até Nova Orleans e aproveitar o carnaval. Era um ambiente divertido, pessoas jogavam cordões coloridos, mulheres mostravam os seios, havia jazz em cada esquina e eu achava que jamais veria tanta animação em algum lugar depois de lá. Quando pisquei os olhos algumas vezes para focalizar a minha bela carioca sambando ao lado da porta-bandeira, como Camila anteriormente havia me explicado, me lembrei daquele carnaval de Nova Orleans e neguei com a cabeça. Eu estava completamente enganada quando pensei que não existia lugar mais divertido, o Rio de Janeiro me mostrou o oposto.

As cores azul e branco se misturavam em meio a bandeirinhas e roupas, nos instrumentos musicais da chamada bateria, nos papeis que se espalhavam na multidão que dançava sem preocupações. Meus olhos acompanhavam Camila enquanto ela dançava com um homem e tomei um gole de cerveja, me controlando para não ter um acesso de ciúmes. Quando me viu e percebeu, talvez pelas minhas feições, que eu não estava gostando nem um pouco da aproximação dele, ela revirou os olhos e veio sambando até mim com um sorriso no rosto.

- Cenho franzido, narinas infladas, olhar concentrado... deixe-me adivinhar, você está com ciúme. Estou errada? – dei de ombros e ela suspirou, sentando no meu colo para tomar um gole da cerveja. – Ele se chama Claudinho, é o mestre-sala da Escola. Junto com a Selminha, eles formam o casal mais querido da Beija-Flor, estão há vinte anos juntos.

- São casados, é? Assim fico mais tranquila.

- Não, sua boba. – ela colocou um chapéu branco na minha cabeça e me deu um beijo, sugando o lábio inferior, finalizando com um selinho. – Selminha é casa com o Falcon, presidente de outra Escola, a Portela. Rivalidades à parte, eles são maravilhosos juntos.

- Well... voltei a me preocupar.

- Não tem a menor necessidade, Lauren, eu sou só sua e homem nenhum desse mundo me tira de você. Além disso, não trocaria todo esse seu gingado... – ela fez aspas com as mãos e revirei os olhos, sorrindo para o sarcasmo dela. – Por nenhum rebolado masculino, fica tranquila.

- Olha, eu posso ser americana, mas isso não quer dizer que eu não saiba sambar.

- Ah, é mesmo?! Então por que não mostra o que sabe fazer?

- Ham... well.. eu ia pedir pra você me ensinar, depois mostraria o que sei fazer.

- Conheço uma pessoa que vai te ajudar a sambar como ninguém, vem comigo.

Camila me puxou pela mão e ainda dançando ao som do samba, chegou até a tal Sorriso. Sem dúvidas era uma mulher exuberante e segurava o pavilhão da Beija-Flor com tanto cuidado que me lembrava a paixão dos americanos pela bandeira do nosso país. Fiquei um pouco afastada enquanto Camila gesticulava sem parar, arrancando risadas da mulher. Enquanto esperava por uma resposta, tirei o chapéu da cabeça e reparei nos detalhes da faixa azul que o circulava. Era uma cor bonita e só parei de admirá-lo quando senti a mão de alguém me puxando.

- Muito bem, vamos colocar o esqueleto pra sambar. Siga os meus passos, não tem como dar errado. O segredo é também mexer o quadril, desse jeito. – Selminha ficou do meu lado e observei seus pés se movendo, tentando fazer igual. – Isso, siga o ritmo da música, também ajuda. Um, dois, três. Um, dois, três. Muito bom, estou gostando de ver.

Não era muito difícil, mas também nada fácil. Reparei que Camila estava filmando, provavelmente para espalhar pra quem quisesse ouvir que eu estava sambando em uma quadra de Escola de Samba. Normani com certeza colocaria à prova o que estava aprendendo e Dinah faria piada, mas nada como uma intimidação não resolva. Selminha aumentou gradualmente a velocidade e tentei acompanhá-la, mas quase embolei as pernas, arrancando risadas de Camila e algumas pessoas que estavam próximas. Ergui as mãos em rendição e dei um abraço de agradecimento na porta-bandeira. Com uma cara divertida e um sorriso de iluminar um país inteiro, Camila abriu os braços para me receber.

- Pra que essa vergonha? Foi muito bom!

- Me sinto uma pateta, quase caí de cara no chão quando ela começou a ir mais rápido.

- Isso é normal no início, mas daqui a pouco você está melhor do que eu. Essa bunda vai te ajudar bastante. – me afastei um pouco dela e vi seus dentes mordendo o lábio inferior. – Quer mais uma cerveja? A noite está só começando e temos muito o que aproveitar.

- Contanto que no final de tudo você durma na minha casa e não na sua, posso sambar por horas.

- Temos um acordo, senhora Jauregui.

Camila se afastou de mim, piscou o olho e correu para buscar outra cerveja. Enquanto o samba-enredo explodia na quadra graças a bateria, meus lábios se moviam tentando cantar a melodia, que em pouco tempo consegui acompanhar. O carnaval do Rio mal tinha começado e todas as lembranças do quanto Nova Orleans era o melhor lugar do mundo foram varridas da minha cabeça. Naquela quadra, no meio de tanta gente feliz e animada, eu só pensava no quanto tive sorte de ter encontrado Camila.

- Boa noite! Está sozinha por aqui?

Ergui a cabeça e encontrei uma mulher negra e muito bonita, me lembrava Normani. O vestido branco com detalhes em azul desenhava suas curvas e ela sorriu ainda mais, passando as mãos pelo quadril. Me mexi com incômodo na cadeira e torci para Camila não aparecer ou não saberia explicar. A moça parecia ser do tipo que não desiste tão fácil e continuou parada na minha frente esperando por uma resposta.

- Eu... estou com alguém. Desculpa.

- Meu nome é Luisa, sou passista da Beija-Flor. É a sua primeira vez na quadra?

- Ah.. muito prazer, meu nome é Lauren. – estendi a mão pra ela, que me forçou a levantar, abraçando meu corpo com um aperto. – So... ham... você é passista? O que é isso?

- Um dia vou chegar à rainha de bateria, é meu grande sonho. Digamos que ser passista é uma preparação pra isso. Ninguém nessa quadra samba melhor que eu, quer ver?

Luisa começou a se mexer e meus olhos automaticamente seguiram os seus movimentos, ela realmente dançava muito bem. Senti meu rosto esquentar quando encostou a bunda em mim e tentei me afastar, mas ela virou de frente segurando minhas mãos, me obrigando a dançar com ela. "Holy fuck, help me..." pensei comigo mesma enquanto olhava para todos os lados tentando encontrar Camila, mas me arrependi na mesma hora de ter sequer levantado da cadeira.

- Que bonito, hein?! Estou perdendo alguma coisa? – Suei frio. - Mas olha só, pelo visto a gringa caiu no carnaval. Está sambando que é uma beleza.

Aquela voz carregada de sarcasmo fez os pelos da minha nuca se eriçaram e virei nos calcanhares pra encarar uma Camila com um sorriso no rosto, segurando duas garrafas de Heineken e um olhar assassino em direção a Luisa e eu. Dei um jeito de me afastar da passista e fui até Camila, mas a garota me segurou, puxando meu corpo de volta para onde eu estava. Pensei que aquela quadra estava prestes a desabar quando escutei a risadinha da minha carioca se aproximando pelo meu lado direito. Luisa, percebendo a aproximação de Camila, parou de sambar e colocou as mãos na cintura.

- Camila Cabello, que surpresa! Faz tempo que não te vejo na quadra, só desce da tua cobertura na Zona Sul no carnaval, patricinha?

- Você sabe que não vou cair nas suas provocações, Luisa, e nada do que você faça vai me fazer perder a linha hoje. Mas eu vou te dar um aviso, e é bom você não esquecer... – ela empurrou um pouco no peito da mulher com o dedo indicador e sorriu. – Não mexe com o que é meu.

Comecei a sua frio e segurei uma das cervejas que Camila trouxe, virando um gole que me fez engasgar. As pessoas ao redor não pareciam ver que uma guerra silenciosa estava começando a estourar no meio da quadra. As duas se encaravam de igual para igual, mas ambas com um sorriso intocado no rosto.

- Mas eu adorei essa gringa, estava até ensinando essa branquinha a sambar. Por que você não vai procurar outra pessoa? Tem tantas por aqui.

- Deixa eu te falar uma coisa, lindinha. – meu corpo tensionou com o tom de voz de Camila, parecendo tão firme como de uma pessoa prestes a arrancar o pescoço de alguém. – Não estou aqui pra arrumar confusão com ninguém, muito menos na quadra da minha Escola, porém...

- Porém o que, patricete?

- Porém, se você encostar de novo na minha mulher, vou descer do meu salto e juro por Deus que não vai ter entidade que me tire de cima de você. Entendeu? – Camila aproximou o rosto de Luisa e a mulher deu dois passos pra trás. Como última forma de provocação, mandou um beijo pra mim e se afastou. – Não posso sair cinco minutos que as mulheres já caem matando em cima de você, não é, Lauren Jauregui?!

- But... I wasn't... não fiz nada. Estava sentada aqui na cadeira como você me pediu.

- Foi só a mulherzinha começar a rebolar a bunda que você logo levantou, né?! Sua safada. – ela tentou me dar um tapinha no braço, mas a puxei pela cintura. – Me solta, sua sem-vergonha, vai lá roçar naquela passista de quinta.

- Eu só vou roçar em você, mais ninguém. Acha mesmo que eu estava adorando? Só não sabia como tirá-la de perto de mim.

- Faz tempo que Luisa e eu não nos bicamos, ela tem essa birra porque meu lugar aqui dentro está acima do dela. Pouco me importa posições, o que eu gosto é de vir aqui e mostrar amor ao pavilhão. Não faço do carnaval ou da quadra da Beija-Flor um lugar de disputa, mas também não vou abaixar a cabeça pra ninguém. – ela pegou o celular e verificou a hora, jogando o aparelho dentro da bolsa. – Está na hora de irmos, estou morta de cansaço e vou pedir pro Uber parar em Ipanema.

- Você não ia dormir na minha casa hoje?

- Só vou passar em casa pra pegar algumas roupas e o carro. Acha mesmo que eu vou perder a chance de dormir contigo? Só se eu fosse muito louca.

Camila e eu nos despedimos de algumas pessoas e quando passamos por Luisa, a mulher me mandou um beijinho no ar. Engoli em seco e mesmo sendo ateia, rezei para os orixás pra que Camila não tivesse visto, mas não deu certo. A carioca segurou meu pescoço e quando seus lábios chocaram-se contra os meus, senti meu corpo formigar com aquele beijo. A língua dela passava com tanta leveza pela minha que era impossível não ter uma pontada de tesão. Camila quebrou nosso contato puxando meu lábio inferior e encarou Luisa, que estava de braços cruzados e cara de poucos amigos.

- Muito bem, provocadora, vamos embora.

- Isso é pra ela não esquecer quem é Camila Cabello.


Passar a noite com ela era sempre a melhor sensação que meu corpo experimentava. Sentir a pele dela com meu toque me dava calafrios, eram sentimentos inexplicáveis e cada vez que Camila sorria, pensava no que tinha feito pra ter alguém com aquela aura. Nunca na vida imaginei que conheceria uma pessoa tão maravilhosa, que me daria vontade de viver fora de um ambiente de trabalho. Quando pensava nisso, me sentia mais tranquila e menos culpada pelo fim do meu primeiro relacionamento. Camila mostrou que não importa quanto tempo você trabalha, contanto que sempre encontre uma maneira de se divertir para não cair em uma rotina cansativa. Agora, olhando pra ela enquanto dorme um sono tranquilo, percebo que minha paixão está acima de qualquer sentimento que já tive.

Um raio de sol entrava pela fresta da cortina e desenhava uma linha dourada que subia por suas coxas, atravessando a bunda coberta pelo lençol branco. Aproveitei a oportunidade e apanhei minha velha Polaroid no armário para tirar uma foto que eu guardaria de recordação, não importa pra onde nossas vidas fossem. Joker, que até então dormia em sua caminha, abriu os olhos e abanou o rabo pra mim. Peguei o cachorro no colo e saí do quarto para dar a ela mais algum tempo de sono até ter que acordá-la de verdade.

- Vem, Joker, vou colocar sua ração e preparar um café da manhã pra levar na cama.

Liguei a vitrola e deixei o último disco que Camila colocou. Uma música animadinha começou a preencher o apartamento e fui dançando até a cozinha, começando a preparar o café da manhã. Estava com vontade de acordá-la da maneira que merecia, com mimos e surpresas. Enquanto me aguentasse, eu estaria disposta a mostrar o quanto ela era importante pra mim.

Arrumei tudo que encontrei de gostoso na cozinha em uma bandeja e caminhei com cuidado até o quarto, abrindo um sorriso ao vê-la meio acordada, cantarolando a música que aos poucos chegava até nós pela porta aberta. Coloquei a bandeja no meu lado da cama e dei a volta, chegando perto do rosto dela para roçar nossos narizes, vendo seus olhos abrirem devagar. Seu sorriso era tão bonito que fiquei admirando-a por um tempo até que ela escondeu o rosto no travesseiro.

- É tão bom acordar com você do meu lado, ouvindo Fullgás da Marina Lima e vendo esse rostinho lindo. – sua voz rouca e sonolenta me fez rir e ela esfregou o rosto. – Achei que fosse te ver na cama e não no chão.

- Trouxe o café pra você.

- O que? Como assim me trouxe café?

- Está bem do seu lado. – levantei e fui me deitar ao lado dela, que abriu um sorriso enorme, escondendo novamente o rosto no travesseiro. – Oh, come on, não fica com vergonha. Trouxe tudo que você gosta... quer dizer... I guess.

- Humm... nutella, torradinhas, iogurte, frutas frescas, suco de laranja. Em uma análise geral eu diria que...

Engoli em seco e ela engatinhou na cama para sentar no meu colo, completamente nua. Pegou um morango, mergulhou na nutella e colocou na minha boca, dando um beijo em seguida. Passei as mãos pela lateral do seu corpo e ela mordeu o lábio inferior, se ajeitando para pegar um pouco de suco.

- Isso quer dizer que você gostou?

- Você sempre me surpreende com sua educação, nunca pensei que fosse encontrar alguém capaz de me trazer café na cama. Está tentando me conquistar mais ainda, Lauren Jauregui?

- Você descobriu o meu plano. – ela gargalhou e eu me afoguei naquela risada gostosa que me deixava flutuando. – Seu sorriso é lindo, sabia? Você é muito linda.

- É difícil me acostumar com tantos elogios vindos de uma única pessoa. Você também é muito linda, Lauren, e estou completamente apaixonada. Posso dizer isso o tempo todo.

Nosso momento só foi quebrado pelo som do meu celular explodindo na sala. Camila até tentou me impedir de atender, mas as coisas na empresa estavam em uma loucura total por causa da chegada do carnaval, que ela não me segurou por mais de um segundo. Quando segurei o aparelho e vi o nome de Taylor no visor, franzi o cenho, atendendo com receio.

- Lauren?

- Hey, Taytay, como você está? Por que perguntou se era eu?

- Nunca se sabe, hoje em dia outra pessoa pode atender seu celular. – revirei os olhos e ela riu do outro lado da linha. – Estou brincando, sua besta. Queria te chamar pra almoçar, faz tempo que nós duas não passamos um momento juntas por causa de vários assuntos, incluindo Camila e Beto. Acho que precisamos botar o papo em dia.

- Claro, acho essa ideia maravilhosa. – Camila apareceu atrás de mim e me deu um beijo na ponta da orelha, me fazendo arrepiar, mas seu celular também tocou. – Onde quer que te encontre? Já sabe de algum lugar?

- Eu te busco aí onze horas, okay? Temos muito chão pra percorrer. O restaurante que quero te levar fica em Niterói, do outro lado da ponte.

- Niterói?! Nunca ouvi falar.

- Claro que não ouviu. Bem, são nove horas agora. Aproveita um pouco com a Camila porque hoje você não vai vê-la de novo, domingo é dia das irmãs e vai dormir lá em casa, nossos pais sentem sua falta.

- Sem objeções, pequena. Nos vemos mais tarde. Te amo.

Minha irmã encerrou a ligação e procurei Camila pelo apartamento, encontrando aquela carioca de tirar o fôlego terminando de tomar o café enquanto falava no celular. Mordi o lábio inferior enquanto analisava suas curvas e ela, ao perceber, revirou os olhos sorrindo e cobriu o corpo com um lençol. Bateu com a mão no colchão ao seu lado e levantei a bandeja para deixá-la no meu colo. Quando encerrou a chamada, Camila suspirou.

- Minha irmã me pediu um dia especial hoje, quer ir ao cinema e dar uma volta comigo. Não vai se importar se hoje não passarmos a noite juntas, né?

- O que?! Não, claro que não, você precisa dar atenção pra Sofia. Além disso, Taylor me pediu a mesma coisa, vai me levar pra Nit... Nite... algum lugar do outro lado da ponte, segundo ela.

- Niterói, mais conhecida como Cidade Sorriso. É um lugar bem legal e bonito, você vai gostar. Provavelmente a Tay vai levar você ao restaurante Seu Antônio do Bacalhau na Região Oceânica, tem o melhor bolinho de bacalhau do Rio. Espero que ela tenha feito reserva, hoje é domingo e aquele lugar fica completamente lotado.

- Ela deve ter planejado alguma coisa. Hey, quase me esqueci, tenho um presente pra Sofia. – levantei da cama com pressa e corri para o closet, procurando entre as estantes um embrulho grande com o papel de presente do Xbox. – Essa semana recebemos os lançamentos do mês, sempre testamos antes de lançar na loja online. Sabe como é... para fazer uma boa sinopse e capturar imagens do jogo. Trouxe pra Sofia.

- Meu Deus, ela vai surtar. Duvido muito que vá querer sair de casa se eu entregar a ela agora, prefiro fazer isso quando voltarmos do nosso dia de irmãs, aproveito pra jogar junto.

- É uma boa ideia. Sabe o que eu pensei? – Camila fez um som de afirmação enquanto mastigava um morango e eu passei o dedão em cima de seus lábios para tirar o excesso. – Acho que as duas combinaram isso, seria possível? Taylor e Sofia ligarem quase ao mesmo tempo foi meio estranho.

- Se fizeram isso, é porque estamos realmente muito ausentes da nossa família. Não podemos culpá-las, nossa lua-de-mel de brincadeira está durando bastante.

- Não tenho do que reclamar e você? – ela mordeu o lábio e me puxou pela nuca para selar nossos lábios. Respirei fundo e esfreguei nossos narizes. – Você me faz muito bem, Camila. Seu sorriso me deixa viva e sou apaixonada pelas sensações que você me dá. Obrigada por me dar uma chance de viver coisas novas.

- Obrigada você por me dar uma chance de conhecê-la, de quebrar barreiras e mais barreiras. Todas as vezes que me permitir, estarei aqui com uma marreta para derrubar seus muros. – Camila verificou a hora no celular e a encarei um pouco confusa. – Temos duas horas até a Taylor chegar e eu ter que ir embora buscar minha irmã. O que acha de um pouco de diversão?

Ela deixou que o lençol caísse sobre a cama, ficando novamente com o corpo nu diante de mim, e abriu aquele sorriso safado que era sua marca registrada.

- Uma das suas melhores ideias. Vem aqui, vem.


O relógio marcava uma da tarde quando Taylor e eu finalmente conseguimos chegar ao Seu Antônio do Bacalhau, em Piratininga. Minha irmã foi inteligente em reservar a mesa e fiquei fascinada pela arquitetura do lugar. Era em um bairro residencial e muito aconchegante. Uma fila enorme esperava do lado de fora pela chance de conseguir almoçar antes das quatro da tarde e suspirei aliviada quando sentamos na parte com ar-condicionado, o calor do lado de fora estava me matando. Um garçom com sotaque português se aproximou de nós e fez algumas brincadeiras com Taylor, pelo visto ela deveria vir com muita frequência.

- Onde está o Beto, senhorita? Hoje decidiu trazer uma amiga?

- Ele está com os pais, seu Carlos, essa é minha irmã mais velha que morava nos Estados Unidos. – o garçom segurou minha mão e apertou com um sorriso. Correspondi e Taylor o entregou o cardápio. – Pode trazer uma porção de bolinho de bacalhau e dois chopps só pra abrir? Depois queremos um camarão na moranga. Quer outra coisa, Laur? O mignon daqui é muito gostoso.

- Não, eu como o que você quiser, Tay. Só que acertou em cheio pedindo esse chopp, estou morrendo de calor e agora só quero cerveja gelada.

O garçom anotou na comanda e se afastou para pegar nossos pedidos, voltando pouco tempo depois com a entrada. Taylor e eu engatamos em um assunto sobre o pouco tempo em que ela morava nos Estados Unidos e eu fiquei admirando o quanto minha irmã estava crescida. Segurei sua mão por cima da mesa enquanto ela falava e Taylor suspirou, apertando de volta. Sentia falta de ter esses momentos com ela e estava louca para me abrir de verdade.

- Então... você quer me perguntar alguma coisa, Laur? Está me encarando há tanto tempo. Acho até que estou falando demais.

- No, no... I mean... é que... nós duas ficamos tanto tempo afastadas e te ver desse jeito, tão adulta, ainda me deixa sem palavras. Se tornou uma mulher maravilhosa e estou orgulhosa de você. – vi as bochechas de Taylor corarem e ela tomou um gole do chopp. – Você e o Beto assumiram de vez esse relacionamento? Quer dizer, passa tanto tempo com ele que imagino que já namoram.

- Você não pode falar muita coisa, não é? Parece que se tornou uma única pessoa junto com a Camila. Se ligo pra ela, você está junto e vice-versa. Enfim... Beto e eu começamos a namorar no mês passado e me sinto muito bem. Ele tem sido um cara tão legal e educado, respeita meu espaço e meu tempo. Demorei pra encontrar, mas acho que é o certo.

- Fico muito feliz por você, baby sis. É muito bom termos uma pessoa que cuida de nós e se preocupa com nosso bem. Nada nos deixa mais realizados do que ter a certeza de que encontramos o que tanto procurávamos.

- É isso que sente em relação a Camila? Acha que ela é a pessoa certa?

- Sim, eu acho. Na verdade, tenho total certeza que Camila é a pessoa que eu sempre procurei. – tomei um gole do chopp e Taylor continuou a me encarar com um olhar ansioso. – Sabe, as situações que passei na mão de Valerie foram completamente varridas da minha vida desde que Camila chegou. É tudo muito mais fácil quando estou com ela, parece que minha cabeça funciona em uma velocidade impressionante. Conheci tantas coisas boas, pessoas animadas, lugares maravilhosos que jamais imaginei conhecer. Camila pode ser mais nova que eu, mas tenho a impressão que isso é completamente ignorado quando estamos juntas. Tudo é melhor com ela; os sorrisos, abraços, beijos e, desculpa falar, o sexo.

- Não precisa pedir desculpa, eu entendo completamente tudo isso. – olhei para Taylor com um misto de surpresa e confusão e ela suspirou, encostando na cadeira com os braços cruzados. – Eu vejo a maneira que você olha pra ela, como fala dela, a devoção e o carinho e fico pensando que jamais vi ou conheci alguém que fizesse o mesmo. Camila sempre teve o que quis, isso vai de pessoas a coisas materiais, mas nunca foi esnobe em relação a isso. Infelizmente, muitos que passaram pela vida dela não souberam valorizar quem a garota era por dentro, só por fora. Os meninos olhavam pra Camila e enxergavam um pedaço de carne valioso, daqueles que a gente exibe em uma prateleira pra todo mundo ver. Eu sei que ela nunca gostou de nenhum deles, nunca teve aquela sensação de paixão, vontade de fazer tudo por alguém, mas ai você chegou. Sou amiga de infância da Camila e aquele brilho que aparece nos olhos dela quando fala seu nome eu nunca vi com ninguém. Confesso que no início fiquei com um puta ciúme de vocês, mas depois percebi que seria uma idiota se continuasse com isso. Por isso te convidei pra almoçar, precisava falar tudo isso pra que entendesse que não estou com o mesmo pensamento de antes.

- Eu sou louca por ela, Tay. Nunca me senti assim em relação a ninguém, ter vontade de faltar o trabalho só pra ficar deitada ao lado dela fazendo nada... ou tudo. – Taylor gargalhou e negou com a cabeça. – Quero ficar com ela por muito tempo, baby sis, isso é real. Parece que comecei a viver só quando cheguei ao Rio. É muito bom estar com você e nossos pais, mas ficar com a Camila é o que realmente me faz caminhar. Amo olhar enquanto ela faz as coisas que gosta, é tão bonito e inspirador. Você tem uma amiga maravilhosa e fico muito feliz que tenha mudado seu pensamento. Saiba que não sou criança e que não precisa se preocupar comigo, mas se eu ou ela machucarmos uma a outra, você está liberada pra chutar nossa cara. Estamos combinadas?

- Jura?! Ah... agora está melhor, ia propor isso mesmo. – nós gargalhamos juntas e lhe dei um beijo na testa no momento em que o garçom colocou a comida na mesa. – Agora vamos comer que estou azul de fome, mas pode continuar falando se quiser.

- Nem pensar, eu só quero experimentar isso que está com uma cara maravilhosa. Inclusive, acredita que fui à quadra da Beija-Flor? É muito bonita.

- Hmmm... jura?! Graças a Deus você agora torce pra minha escola.

- Não falei que torço pra Beija-Flor. – minha irmã me encarou com uma expressão assassina enquanto segurava alguns camarões com o garfo. – Vou esperar até o desfile das escolas pra decidir qual eu gosto mais. Sabe que sempre fui assim e não quero ninguém fazendo minha cabeça, mocinha.

- Com uma namorada como a Camila, você rapidinho vai se arrepender de ter falado que não torce pra Beija-Flor.

- Ham... well... she's not...

- Ela não é o que? – Taylor pareceu receber um choque e largou o garfo. – Você não pediu a Camila em namoro?! Como assim?! Não, isso está errado! Você não é apaixonada por ela?!

- Yes, but... you know.. she...

- Está nervosa por quê?! Olha, Lauren Michelle Jauregui Morgado, você não faz a minha amiga de trouxa não, hein?! Eu vou unhar sua cara.

- No! No! No! Wait, wait... – tomei um gole do chopp e respirei fundo tentando formular as palavras e evitar que Taylor enfiasse o garfo na minha jugular. – Eu sou apaixonada por ela, isso você não pode duvidar.

- Então por que ainda não fez o pedido?

- Estou esperando mais um pouco, okay? Quero fazer tudo certo.

- Acho bom você não me enrolar, entendeu?! Ou arranco o seu grelo.

- O que é grelo? – um cliente do restaurante passou na hora e nos olhou com espanto, fazendo Taylor e eu gargalharmos. Cobri o rosto com as mãos e respirei fundo. – Você só me faz passar vergonha.

- Eu, né?! Aprenda a fazer essas perguntas mais baixo. Grelo é o que você tem no meio das pernas. De qualquer maneira, confio em você e sei que está fazendo a coisa certa. Agora vamos nos concentrar nessa comida maravilhosa porque ainda temos que voltar pro Rio. Papai vai fazer uma noite de pôker e se recusa a perder pra nós duas, até apostou aquela última garrafa de Green Label fechada.

- Acho que vamos ter que fazê-lo perder. – abri um sorriso e beijei a mão de Taylor. - Agora chega de conversa, vamos comer de uma vez que está uma delícia e não quero que esfrie.

O almoço com Taylor me fez pensar em muitas coisas, inclusive na minha relação com Camila. Estávamos dando um passo de cada vez e eu esperava que fosse a coisa certa a fazer, mas teria que ser paciente. Era de extrema importância que Camila conversasse com o pai para colocar tudo nos trilhos, não tinha nenhuma intenção de atrapalhar a relação dos dois. Outra coisa que eu precisava fazer era sentar com meus pais e expor meus sentimentos em relação a Camila. Eu tinha certeza que os dois estranhariam de início, mas ficariam muito mais preocupados onde essa relação nos levaria e no grau de seriedade de ambas. Na cabeça deles, Camila era a melhor amiga de Taylor, que cresceu com ela. Espero que meus pais não achem estranho que além de melhor amiga da minha irmã, Camila poderia ser muito mais que uma paixão pra mim.


Segunda-feira é sempre o pior dia da semana; trânsito caótico, pessoas estressadas e algumas de ressaca graças ao domingo. Uma delas era eu. A noite de pôker com meus pais nos rendeu três garrafas de vinho e pouco tempo para dormir. Troquei algumas mensagens com Camila e quase fui até sua casa pra lhe dar um beijo, mas com Alejandro por lá seria estranho. Aceitei minha derrota e fui dormir sozinha aquela noite, esperando que o dia passasse rápido para que pudesse encontrar com ela de novo. Mal prestei atenção na reunião via videoconferência sobre o novo Windows Phone e tentei me segurar para não dormir com aquele escurinho parcial da minha sala. Só consegui esticar as pernas quando a reunião acabou e pude caminhar pela empresa atrás de Dinah. Parei em frente à sua sala e fui surpreendida por uma Normani ajeitando a saia e o cabelo.

- Bom dia, chefia, como você está? Nossa, sua cara está péssima, a Camila não tem dado descanso, hein?!

- Bom dia, Normani, infelizmente não foi esse o motivo da minha falta de sono. Só bebi demais com meus pais e estava até agora em uma videoconferência. Desculpa atrapalhar vocês, mas preciso falar com a Dinah.

- Ah... com certeza. Vou deixar vocês duas a sós. – ela se aproximou de Dinah e lhe deu um beijo. – Nos vamos mais tarde, meu amor.

- Vai, minha nêga, te busco em casa pra sairmos. – Normani passou por mim e eu arqueei as sobrancelhas pra Dinah, que me lançou uma bolinha de basquete miniatura que ela usava para acertar numa cestinha. – O que te traz até aqui, senhora presidente? Temos algum problema com o Xbox?

- Não, problema nenhum. Queria saber se está com vontade de almoçar fora daqui.

- Tem um restaurante ótimo na Avenida Atlântica, em Copacabana. O Arab. Eu tenho que fazer umas coisas em Copa mesmo, podemos aproveitar a viagem.

- Vou só pegar minha bolsa, nos encontramos no estacionamento. Não vai levar a Normani?

- Já convidei, mas ela vai sair com a Camila e a Taylor pra ir a algum lugar. Coisas de faculdade. Não me pergunte o que. Tudo bem, deixaram as coroas de lado. – Dinah levantou e fechou o notebook. – Vamos, eu te acompanho até sua sala e saímos juntas.

Estar com Dinah era sempre uma diversão à parte, a maneira que eu conseguia me libertar aos poucos com ela me deixava bem, somente duas pessoas no mundo no quesito amizade me faziam tão bem e ela era uma delas. Quando sentamos no Arab para almoçar, aproveitamos o buffet e engatamos no assunto Normani e Camila. Montamos alguns programas para discutir com as duas depois e quando terminamos de almoçar, já aproveitando a sobremesa, toquei em um assunto delicado.

- Dinah, posso te fazer uma pergunta um pouco... pessoal?

- Nossa, agora estou até assustada. Pode perguntar, sem problemas.

- Você e Normani... como estão? O que você sente por ela?

- Bem... essa é uma pergunta simples de ser respondida. Amo estar com aquela mulher, de verdade. A nêga me pegou de jeito e eu não faço a menor questão de me soltar. Sabe, passei por muitas coisas ruins nos meus últimos relacionamentos, que encontrar alguém como Normani fez eu chutar as portas mesmo. Conheci a mãe dela e a mulher é um encanto, mas confesso que me borrei quando fui a casa dela. Não por ser no Cantagalo, mas porque a dona Andrea estava com um rolo de macarrão na mão quando abriu a porta. Vai que ela não gosta de mim e bate na minha cabeça com aquilo? Foi completamente diferente do que eu imaginava e hoje estamos aqui, como pode ver, juntas e felizes. Por que a pergunta? Você e Camila não estão...

- No, no. Nós estamos bem, fique tranquila. Eu perguntei por pura curiosidade, é que escutei vocês falando daquele jeito, achei muito fofo. Vocês combinam, sabia? Mas preciso pedir, mais uma vez; nada de sexo durante o expediente.

- Opa... sabia que ia acabar recebendo um puxão de orelha uma hora ou outra. – ela coçou a nuca e joguei uma bolinha de papel em cima dela. – Fica difícil resistir quando Normani entra na minha sala pra entregar algum relatório ou parte de um projeto gráfico. É muito difícil.

- Eu imagino que seja, mas tente controlar um pouco mais esse tesão, mulher.

- Ah... falando em tesão, você vai comigo em um lugar agora mesmo antes de voltarmos pra empresa. – o garçom chegou na hora e limpou a garganta, me fazendo esconder a cara no guardanapo. – Cartão de débito, por favor.

- Ér... o meu também.

- Então, Jauregui, vamos caminhando pela praia, onze minutinhos até a rua Santa Clara. Se você quiser, pegamos o carro, mas eu acho desnecessário.

- Tudo bem, vai ser uma boa esticar as pernas.

Depois de pagar a conta e fingir que nunca tinha visto o garçom que nos olhava com uma cara faminta, nós duas caminhamos lado a lado pela orla, parando para comprar um coco gelado no quiosque. Levantei as mangas da camisa social e agradeci mentalmente por Camila ter me dado a ideia de vir com uma saia ao invés de calça. Dinah, que sempre manteve as mangas levantadas, abriu um pouco os botões de cima e colocou uma mão no bolso. O vento bagunçava o nosso cabelo e abri um sorriso para um grupo de jovens que brincavam com um cachorro, lançando uma bolinha para ele pegar.

- Não tenho explicações pro quanto eu amo o Rio de Janeiro, lugar abençoado por Deus e bonito por natureza.

- Não me arrependo nem um pouco de ter largado Washington pra vir, melhor troca da minha vida. Sem contar que conheci a Camila aqui. – suguei um pouco da água com o canudo e consultei o relógio. – Não podemos demorar muito, Dinah, preciso estar na empresa no máximo três horas.

- Fica relaxada e curte a brisa que vem do mar antes de voltar a ficar presa no escritório em um dia maravilhoso de sol como esse. Se eu estivesse de biquíni, daria um mergulho. Vamos atravessar naquele sinal e depois seguir por dentro, é no segundo quarteirão da Santa Clara. Você vai ver o quão maneiro é esse lugar.

Terminamos o nosso coco e me senti melhor, a ressaca já havia me abandonado e aquele líquido refrescante a espantou de vez. Dinah e eu seguimos juntas pela rua e quando entramos no número trinta e três, descobri o motivo de tanta afobação. Tentei dar meia-volta, mas a mão dela se fechou ao redor do meu braço, me puxando para dentro da loja.

- Vamos, Lauren, eu não poderia fazer isso sozinha.

- Você está brincando comigo, não é?! O que estamos fazendo aqui?

- Você vai adorar, deixa de palhaçada.

Quando passamos pela porta da Airumã Sex Shop & Lingerie Erótica, minhas bochechas estavam tão queimadas que algumas pessoas provavelmente estavam rindo da minha vergonha. Dinah olhava tudo com muita curiosidade e quando a vendedora nos levou até uma área reservada da loja, meus olhos arregalaram. A quantidade de objetos sexuais era tanta que não sabia para onde ir primeiro. Fiquei junto de Dinah e a acompanhei enquanto a vendedora, que provavelmente pensou que éramos um casal, disse que nos deixaria à vontade.

- Ela provavelmente pensa que viemos comprar um brinquedinho pra nós. – Dinah falou entre risadas e eu respirei fundo, morrendo de calor. – Que vergonha toda é essa, Jauregui? Nunca esteve em uma dessas?

- No...

- Não sabe o que está perdendo. Vem, vou te mostrar algumas coisas pra comprar e aproveitar com a Camila.

- What?! No! No! Dinah, eu não sei usar nenhuma dessas coisas e não quero passar um vexame com a Camila. Ela vai acabar rindo da minha cara e não sei se gosta disso.

- Bobagem! Normani já me contou que ela e Camila cansam de vir nessas lojas comprar algumas coisas. – olhei pra ela de cenho franzido e Dinah engoliu em seco. – Acho que não era pra contar, mas não tem problema, agora você tem carta banca pra comprar alguns brinquedinhos. Dê uma boa olhada, aproveite, imagine a quantidade de coisas que pode fazer com a Camila usando algum desses.

- Mas... eu não sei o que comprar. Holy fuck! Olha o tamanho disso! – segurei um enorme pênis de silicone azul brilhante e Dinah gargalhou. – Quem aguenta uma coisa dessas?! Wow, tem esse outro com uma mão na ponta.

- São os preferidos dos gays, tem um cara lá na Microsoft que deve ter uns três.

- Ele enfia tudo ao mesmo tempo?!

- Claro que não, né?! Haja bunda pra aguentar isso tudo. – soltei uma risada alta e Dinah pegou uma cestinha que estava empilhada junto com outras. – Vamos, pegue uma dessas que te ajudo no que levar. Ah.. com certeza vou querer isso.

- O que é?! Parece um pregador de folha.

- São clipes de mamilo, Jauregui. Você coloca desse jeito. – Dinah se aproximou de mim e tentou colocar os tais clipes, mas me encolhi. – É uma delícia, eu adoro e tenho certeza que a Normani vai amar.

- O que são esses frascos? Gel excitante, adstringente, gel anestésico... wow.

- As joias da coroa. Te aconselho a levar pelo menos um de cada. O excitante faz os vasos sanguíneos da vagina dilatarem e o clitóris incha, de forma que a sensibilidade aumenta. Ao espalhar um pouco do produto sobre a mucosa genital, logo ela vai sentir um calorzinho subindo pela barriga. O adstringente você vai espalhar dentro do canal vaginal e em instantes as paredes internas vão dilatar, deixando ela mais apertadinha. Sem contar que o aumento na circulação também ajuda a deixar a garota cheia de vontade.

- O último serve pra que? Anestésico é pra não deixar ela sentir que parte? – Dinah fez uma cara de quem acaba de cometer um crime e se orgulha disso. Correu os olhos pelo lugar, pegando um objeto que parecia um pequeno pênis. – O que é isso?

- Plugue anal, você já deve imaginar pra que serve. Aconselho a levar o gel anestésico porque facilita a penetração, principalmente durante o sexo anal, porque diminui a sensação de dor, sem cortar o prazer. Leva os dois também, tenho certeza que a Camila vai curtir.

- Como sabe que ela vai curtir?!

- Ela é a melhor amiga da Normani e vou te confessar, Jauregui, os chás de boceta que essa mulher tem me dado não estão no gibi. Hoje à noite ela vai dormir lá em casa e planejamos loucuras. Você precisa perder um pouco dessa vergonha, tenho certeza que na hora que está transando não é assim encabulada.

- Não é isso, é que... eu nunca usei e...

- Pelo menos não está levando o Big Black, esse sim faria um estrago. Vamos lá, é só um pluguezinho anal, vai ser gostoso. Dê sensações novas pra sua garota. – minhas bochechas queimaram e coloquei os produtos na cestinha junto com os outros. – Viu mais alguma coisa que te interessa? Vou ali na sessão de chicotes.

- Ham... acho que vou andar por ai, nos encontramos no caixa em alguns minutos?

- Tudo bem, quer um pouco de privacidade, não é? – concordei com a cabeça e me detestei por sentir tanta vergonha. – Sem problemas, Jauregui, nos encontramos no caixa. Divirta-se.

Uma música sensual saía das caixas de som penduradas e as paredes estavam enfeitadas de objetos sexuais. Fiquei sem palavras ao ver as outras coisas que a loja oferecia; diferentes tamanhos de pênis, bonecas infláveis, cordões com bolas para colocar no ânus. As pessoas tinham prazeres sexuais estranhos. Parei na sessão intitulada Sado e vi Dinah tentando decidir entre um objeto que lembrava uma coleira e outro que não consegui ver. Me aproximei dela e dei uma boa olhada nas opções, me distraindo por alguns segundos. Sem aviso prévio, ela bateu com um chicote na minha bunda com tanta força, que soltei um gritinho, fazendo a vendedora vir olhar o que estava acontecendo.

- Está tudo bem aqui? Precisam de ajuda?

- Ah, não, obrigada. Nós estamos testando os produtos. Adorei os chicotes. – a vendedora fez uma cara de maníaca sexual e mordeu o lábio inferior olhando para nós duas, saindo depois de Dinah recusar outra ajuda. – Acho que se a gente pedisse pra testar nela, arrancava a roupa sem pensar duas vezes.

- Dinah... você ainda vai me matar de vergonha.

- Ah sim, claro. Deixa eu ver o que você pegou.

- No! Wait!

- Meu Deus do Céu, que mulher safadinha, hein?! – Dinah começou a mexer nas minhas coisas e eu quis enfiar a cabeça na primeira parede que encontrei. – Essas bolinhas aromáticas são uma delícia, onde encontrou? Quero levar também. Opa, opa... um conjunto de chicotes e uma calcinha comestível? Parece que alguém está se libertando.

- Fuck you... estou morrendo de vergonha, para com isso, Dinah! – ela começou a passar o chicote em mim e meu rosto pegou fogo. – Vamos, vou acabar devolvendo tudo se você não parar de me sacanear!

- Alguém vai ser punida em grande estilo. Minha nossa, amarras! Você pegou amarras! Te admiro muito, Jauregui, puta merda!

- Dinah Jane, se não parar agora eu vou te demitir. – ela soltou uma gargalhada e colocou tudo de volta na cestinha, me entregando. – Nunca fiquei com tanta vergonha, não sei como vou mostrar isso pra Camila se já estou morrendo com você.

- Tenho certeza que ela vai adorar. Agora vamos pagar tudo e ir embora antes que você decida levar a loja toda.

- Shut up!

Quando passamos para a parte da frente da loja, percebi que estava cheia de clientes e alguns olharam pra nós com grande curiosidade. Pensei em dar meia volta para devolver tudo, mas Dinah me empurrou em direção ao caixa. A vendedora, que antes tentou nos ajudar, nos olhava de uma maneira sedutora e reparei quando ela colocou dentro da sacola de Dinah seu número de telefone. Até pensei em avisar, mas nem precisei.

- Você deixou cair esse papel na minha sacola, mocinha. Desculpa, mas já tenho quem me satisfaça e não preciso de ajuda. – a garota se encolheu atrás do balcão e eu engoli uma risada. – Obrigada pelo atendimento, tenha uma boa tarde.

- Dinah, você é sensacional. A garota teve vontade de se jogar da ponte, passou mais vergonha que eu. – ela sorriu pra mim enquanto caminhávamos em direção à orla. – Você está muito quieta, o que aconteceu?

- Sabe, eu não gosto dessas pessoas descaradas. – ela comentou comigo enquanto atravessávamos a rua para pegar o calçadão. – Será que aquela garota não percebeu que não estávamos afim?! E se a gente fosse um casal? Isso é até falta de educação. Não vou nem comentar isso com Normani, senão é capaz dela querer aparecer nessa loja e enfiar aquele Big Black em todos os buracos da menina.

- É... eu não duvido que ela faria realmente isso.

- Está preparada pra usar tudo isso com a Camila? Você comprou muitas coisas interessantes, nem me deixou ver tudo. – ela fez menção em puxar a sacola, mas eu me joguei um pouco para o lado, escapando por pouco de se atropelada por um patinador. – Não precisa ficar com tanto medo, criatura, isso não tem nada demais. Apimentar o sexo com brinquedinhos e produtos é a coisa mais normal do mundo.

- Só que eu nunca fiz nada disso, Dinah, por isso estou com muita vergonha. Não sei como a Camila vai reagir quando eu mostrar tudo pra ela. Aliás, como vamos entrar na empresa com essas sacolas?! Os chicotes estão aparecendo.

- Fala sério, Jauregui, você é a presidente da empresa, pode muito bem andar pra cima e pra baixo com um cintaralho na cintura.

- O que?! Cintaralho?!

- Eu chamo assim, mas é um consolo que fica preso no cinto e parece que a mulher tem um pênis, sacou? É outra coisa muito normal, capaz da Camila querer que use um desses com ela. – nós duas paramos em um quiosque e comprei uma garrafa de água, o calor estava insuportável. – Ainda não se acostumou com as temperaturas muito altas, não é?

- Sinto vontade de arrancar a roupa. Como está aguentando usando calça?! As pessoas que passam por nós pensam que somos aliens; caminhando de salto alto e roupa social na orla.

- É normal aqui no Rio, Lauren, só você parar pra observar. Muita gente sai dos escritórios pra dar uma volta na hora do almoço, não é muito saudável passar a vida toda dentro de um cubículo e com a cara em frente ao computador.

- Preciso concordar com você. Não está muito longe do seu carro, não é?

- Aproveita a paisagem, daqui a pouco vamos voltar aos nossos cubículos. Quando pretende mostrar suas compras pra Camila? Ainda hoje?

- Vou ligar e chamá-la pra dormir no meu apartamento, sinto falta de sentir o corpo dela do lado do meu na cama ou a voz dela tagarelando pelos cômodos enquanto brinca com Joker.

- Faça isso mesmo, Jauregui, ter uma pessoa que nos faz feliz é bom pra caralho. Ah, olha o carro, finalmente.

Enquanto Dinah dirigia de volta para a empresa, imaginei em todos os momentos simples que tive com Camila no apartamento e fora dele. Eu era apaixonada por cada detalhe dela, até mesmo quando cismava comigo tentando fazer com que eu aceitasse que suas explicações sobre certos assuntos estavam certas. Alguns dias atrás, entramos em uma discussão sobre a Primeira Guerra Mundial que só acabou quando eu desci para relaxar a cabeça e voltei com um pote de sorvete e flores amarelas pra ela. Era bom ter alguém com quem discutir certos assuntos, mas quando são duas pessoas cabeça-dura como nós, era complicado e divertido. Minha distração foi quebrada pelo meu celular, apitando que tinha uma nova mensagem.

[14:23] "Sabe, eu realmente odeio quando você não me manda uma mísera mensagem na sua hora de almoço. Fico muito frustrada. Espero que tenha uma boa explicação pra isso, Lauren."

[14:25] "Você é muito nervosinha, sweetie. Eu fui almoçar com a Dinah em Copacabana e saímos pra dar uma volta pelo calçadão, nada que fosse necessário colocar a polícia atrás de mim. Estou bem e você?"

[14:26] "Foi almoçar tão longe da empresa por que?! Coloco até o FBI se você sumir o dia todo. Estou bem, saí pra almoçar com as meninas e agora estamos aqui na casa dos seus pais curtindo uma piscina. Comprei um biquíni novo, quer ver?"

Ela me mandou a foto do pescoço pra baixo e senti uma pontada no meio das pernas. Deitada em uma espreguiçadeira e com o corpo molhado, o Sol dava ao bronzeado dela ainda mais brilho. Mordi o lábio inferior e respirei fundo, imaginando de quantas maneiras diferentes eu poderia arrancar aquele biquíni.

[14:30] "Deve ser uma das coisas mais sexys que eu já vi. Já comentei o quanto você é má? Não fique mandando essas fotos perto das meninas, daqui a pouco a Normani pega seu celular de novo. Aliás, era pra essa mocinha estar na empresa. O que ela está fazendo na piscina?"

- Dinah, você liberou Normani depois do almoço dela?

- Ah, putz, esqueci de avisar. Ela já terminou de catalogar os últimos gráficos e mandou os designs por e-mail, não tinha mais o que fazer hoje. Se você quiser eu posso ligar pra ela e pedir...

- Não, fica tranquila, só queria saber mesmo. Ela está com a Camila e Taylor na casa dos meus pais, estão curtindo uma piscina.

- Invejo as três, não vou mentir.

[14:33] "Mani falou que vai dar na cara da Dinah, e que não era no sentido de sentar, por não ter te avisado. De qualquer maneira, não quero falar dela, quero saber de nós duas. Quando vou te ver? Estou com saudade."

[14:35] "Manda ela ficar tranquila, Dinah me avisou, eu tinha esquecido. Era sobre isso que eu queria falar com você. Que tal dormir lá em casa? Podemos pedir alguma coisa, pode ser pizza se preferir e assistir qualquer coisa na televisão. Nada de documentários, já nos rendeu uma discussão."

[14:40] "Quando chegar em casa, me avisa e eu vou pra lá, prometi pra Taylor e Normani que passaria a tarde com elas. Tudo bem pra você? Prometo levar o biquíni pra que veja pessoalmente."

[14:51] "Estamos combinadas. Saio oito horas da empresa, quero você às nove lá em casa. Beijos, baby girl"

[14:55] "Até mais tarde, linda."

- Que sorrisinho de otária é esse, Jauregui? Gracinha. – Dinah apertou minhas bochechas e eu me afastei dela, rindo alto. – Uma fofurinha sorrindo para a namoradinha. Espero que continue assim amanhã.

- Não sei se vamos usar essas coisas hoje, estava planejando uma noite calma com ela, pelo menos até a hora de irmos dormir. Na cama a história pode ser diferente e acho que até Camila vai curtir esse programinha tranquilo que tenho em mente.

- Você é quem manda, Jauregui.


Passei o resto do dia com a cara enfiada no notebook resolvendo mil problemas e outros dois mil que apareciam. Volta e meia pegava alguns dos produtos que tinha comprado para analisar e testei um dos cremes, sentindo uma necessidade desesperada de experimentar em Camila. Amanda, minha secretária de quem minha carioca não gostava nem um pouco, saiu para comprar uma caixa para que eu pudesse arrumar os presentinhos sem deixar na cara o que eram. Organizei tudo e fechei o embrulho com um laço vermelho.

Quase chorei de emoção quando o relógio central da empresa anunciou que o expediente tinha terminado. Dinah e eu saímos juntas e minha surpresa foi demais para não sorrir ao caminhar até o estacionamento. Lá estava ela, encostada em seu Mini, girando as chaves no dedo indicador e sorrindo de canto. Me aproximei de Camila e lhe dei um beijo cheio de saudade, segurando seu rosto para fazer carinho com o polegar em suas bochechas. Quando nos afastamos, ela me abraçou.

- Você está me deixando mal acostumada, sabia? Me buscando todo dia, vou sentir falta quando suas aulas começarem.

- Não precisa me lembrar disso, sabia? – ela revirou os olhos, mas reparou na sacola que eu carregava além da bolsa. – O que é isso? Alguma coisa da empresa?

- Oh... ham... eu prefiro te mostrar lá em casa, tudo bem?

- Nossa, pra que tanto mistério? – ela destrancou o carro e de longe, vi Dinah agarrando Normani e a erguendo no ar enquanto lhe dava um beijo. – Mani me pediu pra vir junto, queria fazer uma surpresa pra Dinah. Elas fazem um casal lindo, não acha?

- Não mais do que eu e você.

Vi as bochechas dela corando e fiz carinho em seu rosto enquanto Camila nos levava para Copacabana. Eu amava olhar seu perfil enquanto ela dirigia; tão concentrada, cantarolando as músicas do rádio e sorrindo quando percebia que eu a analisava. Mordia o lábio, sorria, suspirava e não conseguia evitar os tapinhas que ela me dava pra que eu parasse. Camila não fazia ideia do quanto meu mundo parava só pra vê-la passar. Um dia ela saberia, muito mais do que eu já tento dizer.

Quando colocamos os pés no apartamento, Camila nem me esperou falar nada, puxou o embrulho da minha mão e sacudiu um pouco. Dei de ombros e ela viu que estava tudo bem em abrir. Peguei Joker e fingi fazer carinho nele enquanto Camila rasgava a caixa. Meu rosto pegou fogo quando ela finalmente viu o que tinha dentro. Seu olhar alternava entre eu e os produtos. Com um sorriso safado no rosto e mordendo o lábio, começou a ver um por um.

- Gel Excitation... esse aqui eu ainda não tinha comprado. – ela me olhou e sorriu enquanto lia a embalagem. – Facilitador de orgasmo para mulheres, que provoca aquecimento, contração e pulsação.. Você definitivamente me deixou orgulhosa. Nossa, essas bolinhas são uma delícia e de sabor misto! Estou impressionada. Creme de massagem, chicotes, amarras. Lauren Jauregui, você vai sofrer.

- Camila, por favor... – escondi o rosto atrás de Joker e ouvi a risada dela. – Estou morta de vergonha de te mostrar isso.

- Por quê?! Foi a melhor ideia que teve desde que nos conhecemos, estou louca pra testarmos tudo e... espera um minuto. – ela puxou uma embalagem do fundo da caixa e arregalou os olhos em surpresa, sorrindo. – Um plugue anal? Uau, isso é... Excitante. Você, definitivamente, vai dominar isso.

- Ah... você acha? - Camila levantou de onde estava e sentou no meu colo, colando Joker no chão. – Pensei que você talvez não curtisse a ideia, sabe... a Dinah deu a dica.

- Claro que eu curti a ideia, sendo com você, posso fazer qualquer coisa.

- Sério? Ah... estou um pouco mais tranquila agora. Você não faz ideia da vergonha que eu passei naquela sexshop com a Dinah. Além disso, tinha uma vendedora que pensou que nós estávamos juntas e ofereceu até ajuda.

- Ela não vai poder oferecer ajuda se estiver em coma. – Camila franziu a testa e eu gargalhei, segurando seu rosto para lhe dar um beijo. – É impressionante o quanto essas mulheres são descaradas. Duvido que a Normani vai gostar de saber que deram em cima da mulher dela.

- Por favor, não conta! Dinah disse que ela ia enfiar o Big Black em todos os buracos da menina.

- Ai, meu Deus. – Camila gargalhou tão alto que eu não resisti e ri junto com ela, inundada por aquele som gostoso. – Sim, com certeza ela é dessas. Espero mesmo que a Dinah não comente ou a tal mulher vai andar de cadeira de rodas por um bom tempo. Posso ser ciumenta, mas a Mani é mil vezes pior. Bom, vamos falar de nós. O que tem planejado?

- Você escolhe o restaurante, nós pedimos comida e vemos um filme aqui na sala, juntinhas. Comprei nutella e morango, sei o quanto você gosta, estão na geladeira. Na hora de dormir é outra história. – sorri pra ela, que fez um carinho no meu rosto e ficou ma analisando em silêncio. – O que foi? Não gostou da minha ideia?

- Não, não é isso. Eu amei sua ideia, gosto de saber que você não quer só transar comigo. Como eu já te falei uma vez, nunca tive uma relação assim. Você é linda.

- Quero te oferecer muitas coisas, Camila, mostrar que você merece o mundo. Sou uma mulher mais feliz e só devo isso a você, sweetie. Poderia passar a noite toda falando sobre isso, mas aposto que você está azul de fome.

- Hunf, você me conhece tão bem. – ela jogou a cabeça pra trás e lhe dei um beijo no pescoço. – Posso mesmo escolher qualquer restaurante?

- Qualquer um, só pegar o telefone e pedir. Vou tomar um banho e trocar de roupa.

- Prefiro ver pelo iFood, um aplicativo maravilhoso que serve exatamente pra isso. Coloca nossos brinquedinhos no quarto, quem sabe mais tarde a gente já não aproveita algum deles? – ela piscou o olho e eu concordei, tentando levantar. – Ai, não, vou ter que sair do seu colo. Esquece, fica aqui.

- Como vou tomar banho com você assim?

- Me leva junto, sou uma ótima companhia.

- Quer tomar banho comigo? Acho a ideia excelente. – segurei Camila no colo e a carreguei em direção ao banheiro. – Já aviso logo, minha mão anda muito boba ultimamente.

- Contanto que ela seja boba só comigo, não vejo problemas. Se for no geral, só me diga se é canhota ou destra pra eu cortar a que não me favorece muito.

- Sua boba. Vamos tomar esse banho pouco comportadas e pedir algo pra comer.

Não preciso dizer que a palavra comportadas passou longe do nosso banho, mas foi como tomar uma garrafa de água gelada depois de andar meses no deserto. Eu estava morrendo de saudade dela, do corpo, dos beijos de sentir sua pele na minha. Camila estava me completando em tantos aspectos que eu achava difícil ficar mais do que algumas horas longe dela. A presença dela no meu apartamento já era fundamental pra que eu dormisse e acordasse bem, mas sabia que nem sempre poderia ser assim. Ela tinha Sofia esperando em casa e um pai que não sabia de nada sobre nós.

- Que tal comida japonesa? – ela estava rolando a tela do celular enquanto eu buscava algo na Netflix para vermos. – Tem um que vem um boa quantidade de peças e ainda podemos pedir um Yaksoba.

- Tudo que você quiser, babygirl.

- Pronto, agora é só esperar. Decidiu o filme?

- Que tal esse? O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. É francês e bem aclamado pela crítica. – Camila observou a sinopse por alguns segundos e ela mesma apertou o play. – Acho que isso foi um sim.

- Agora que me lembrei, tenho um convite pra te fazer. – ela se aconchegou no meu peito e se cobriu graças a temperatura baixa graças ao ar-condicionado. – Amanhã você sai do trabalho que horas?

- Não sei, mas se for algo muito importante que você queira me levar, posso não ir. – Camila levantou tão rápido que bateu sem querer no meu queixo. – Okay, essa doeu.

- Me desculpa, deixa eu dar beijo... então, é que eu gostaria que você fosse em um lugar especial comigo. Eu gosto muito de ir até lá e seria legal se você pudesse vir.

- Claro, que lugar seria esse? O seu centro?

- Não, isso nós vamos em outro dia. Eu sou madrinha de uma garotinha muito linda de uma ONG do Cantagalo, morro onde a Mani mora. Amanhã é aniversário dela e vou levar alguns presentes pra ela e claro, para as outras crianças. Gostaria que você viesse comigo pra conhecer o projeto. É um lugar muito legal, as moças que cuidam das crianças sempre recebem todos de braços abertos. Essa ONG cuida de crianças especiais e a minha afilhada tem autismo. Você vai ver que são todas muito amorosas e vão ficar loucas com você, adoram gente nova. O que acha? Acha que pode faltar o trabalho amanhã pra me acompanhar?

- Não precisa nem perguntar, vou mandar uma mensagem pra Dinah e avisar que não vou amanhã. Qualquer problema posso resolver de casa mesmo. Preciso levar alguma coisa? Comprar algo? Sua afilhada gosta do que?

- Lauren, calma, deixa de ser afobada. – ela sorriu e me deu um beijo, acariciando meu rosto. Como eu amava aquele toque. – Eu fico muito feliz que você tenha tido vontade de subir o morro e ir comigo. Aquelas crianças são muito boas, uns amores e fico muito triste quando as pessoas as tratam mal por serem especiais. Nenhuma criança deveria receber um tratamento ruim só porque não é considerada normal. – Camila fez aspas com os dedos e começou a brincar com a coberta. – Todos os pequenos merecem um tratamento igual, amor é uma coisa tão bonita de se dar a eles, é tudo que alguns querem. Um abraço, um sorriso, você vai ver o quanto eles vão te oferecer abraços.

- Vai ser uma honra conhecer todos eles, tenho certeza que são crianças maravilhosas. Já levou Sofia alguma vez a essa ONG?

- Muitas vezes, mas amanhã ela não vai poder porque tem uma festinha de aniversário de uma amiguinha e não posso impor que ela troque suas coisas pelas minhas, mas Sofia sempre é a primeira a pedir pra ir. Enche a boca pra dizer que a madrinha da Julinha é ela, sendo que a menina tem a idade dela. – Camila revirou os olhos e eu sorri, fazendo um carinho no seu rosto. – Estou tão ansiosa pra te levar, parece manhã de natal. Espero mesmo que você goste de lá.

- Tenho certeza que vou gostar.

Como sempre, aquele sorriso dela me iluminou por inteiro e eu a beijei com todo sentimento que consegui colocar. Quando Camila sentou no meu colo e as coisas começaram a esquentar, o interfone tocou na cozinha e eu bufei de frustração. Só a risada dela pra me fazer relaxar um pouco e sua dancinha comemorando a chegada da comida me deixou ainda mais animada por tê-la ali.

Enquanto esperávamos o entregador subir, pensei no que Camila tinha me falado sobre a ONG e percebi que estava tão ansiosa quanto ela pra conhecer o lugar. Em Washington eu lembrei que a Microsoft ajudava projetos sociais e como uma lâmpada acendendo acima da minha cabeça, tive uma ideia. Eu guardaria meus planos até amanhã e falaria quando tivesse uma brecha. Quando ela recebeu o entregador só de calcinha e uma blusa pequena, revirei os olhos e levantei do sofá, pedindo que fosse arrumar a mesa. O olhar dele tentou segui-la, mas tampei sua visão.

- Seus olhos gostam do que vê?

- Ah... é...

- Então se quiser continuar enxergando alguma coisa, mantenha os dois nessa máquina de cartão. – o garoto abaixou a cabeça, colocou o valor na máquina e fez todo procedimento sem levantar. – Tenha uma boa noite.

- Boa...

Bati a porta com força e Camila colocou a cabeça para fora da cozinha, rindo como uma criança que acaba de aprontar alguma coisa. Seu corpo veio até mim com sua habitual mania de me atrair e ela abraçou meu pescoço, me dando um beijo no canto da boca. Respirei fundo para não abrir a porta e jogar o entregador da minha varanda, mas meus olhos encontraram os dela e pisquei algumas vezes.

- Sabia que você com ciúme me deixa com muito tesão?

- Eu com ciúmes sou um perigo pra sociedade. Precisava atender a porta desse jeito?! – coloquei as mãos na cintura e ela riu, dando uma mordidinha na minha orelha. – Aquele virgem estava te comendo com os olhos!

- Como eu já te falei uma vez, ele pode me comer com os olhos, mas só você me come com outras coisas. Vem, acho que todo esse mau humor é fome. Depois de experimentar esse yaksoba, te deixo provar outra coisa.

- Ah é? Que tipo de coisa?

- Temos tantos sabores que você trouxe, é só escolher.

Ela virou de costas pra mim e voltou para a cozinha. Revirei os olhos e neguei com a cabeça, ela era realmente impossível. Camila me deixava no limite e convenhamos... quem ela não deixava?

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