Acorrentado

By lietains

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Gabriel Salazar é um advogado muito bom no que faz. Trabalha para seu pai em uma grande empresa que reúne os... More

Cafeteria
Primeiro Contato
Primeiro Erro
Ressaca
Segredos
Experiência
Desastre
A Primeira Queda
Gabriel
Pedro
Preconceito
Fazer valer a pena
Dois dias
Apenas um dia
As Correntes
Crimes perfeitos não deixam suspeitos
Devaneio
Confidencial
Espelho
Catarina
Ruir
Mãos de Vingança
Aconteceu naquela noite
Uma confissão a mais
Reviver
Seguir em frente

Reamar

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By lietains




Acordar todos os dias de manhã era um tormento. Assim que abria os olhos sentia o choque da realidade cair como um balde de água gelada em seu corpo morno. Não se importava com os minutos que avançavam sem esperar por ele e permaneceu deitado na cama inerte em tantos pensamentos que toda a noção de atualidade fora perdida.

Pedro pensava e se perguntava se sua alma era um imã que atraía a morte para todos aqueles que amava. E se perguntava aquilo porque depois do flerte com Marcos, tinha medo de desenvolver algo por ele, tentar seguir a vida e meses depois perdê-lo assim como perdeu Lucas e Gabriel. Se perguntava também se era algum tipo de carma ou dívida de alguma vida passava. Por não obter respostas, se contatava apenas na ideia de não se aproximar de ninguém e mergulhar em uma vida solitária só com as idealizações do amor como se algum dia fosse se bastar.

Levantou quando se deu conta de seu atraso. Foi para a faculdade de cabeça baixa e ao chegar não esbanjou a simpatia que costumava. Isso fez as pessoas notarem que ele não estava bem e a encherem de perguntas a respeito de sua vida quando tudo o que ele mais queria era ficar sozinho e em paz.

Passou a manhã rabiscando folhas de caderno como se ainda fosse um adolescente do ensino médio entediado com as aulas de cálculo e nunca havia se sentido tão feliz ao anunciarem o fim das aulas daquele dia. Ele amava assistir as aulas. No caminho para a saída da faculdade recebeu uma ligação. Não sabia se sentia desanimo ou conforto ao ver quem o ligava.

- Marcos. - Atendeu cansado.

- Ei, Pedro. Está bem?

- O de sempre.

- Entendo.

- Eu não. - Pedro suspirou e Marcos fez o mesmo do outro lado da linha.

- Escute, talvez você queira dar uma volta para se distrair, o que acha? Ontem você disse que seria uma boa ideia sair para conversar. - Pe ouviu as palavras de Marcos atentamente e se amaldiçoou por ter dito tais palavras. Era completamente absurdo que Marcos Silva quisesse se aproveitar da ausência eterna de Gabriel para se aproximar dele. Era mais absurdo ainda acusar o garoto que ao menos sabia que ele possuía algo com Gabriel e que o mesmo havia morrido. Foi então que sentiu que deveria sair com Marcos. Não por flerte e sim pela necessidade de ter alguém para conversar.

- Você está certo. Posso te encontrar agora?

- Sim, claro! Pode ser perto da estátua de Carlos Drummond de Andrade na orla da praia? Vou de bicicleta. - Pedro suspirou com a animação na voz do outro.

- Sim. Estarei lá. - Sem esperar uma resposta, desligou e pegou o primeiro ônibus massacrantemente lotado para o local. O aperto não permitia que ele pensasse e decidiu pegar mais ônibus lotados dali em diante.

Ao chegar na orla da praia, avistou a bicicleta encostada no chão e Marcos sentado ao lado da estátua mexendo no celular. Se aproximou em passos vagarosos e incertos até ser notado e recebido com um sorriso radiante.

- Ei, finalmente chegou!

- O trânsito do Rio de Janeiro não é um dos melhores.- Marcos riu e levantou sua bicicleta do chão.

- Vamos. - Começaram a andar em silêncio por não saberem o que dizer, foi quando Pedro decidiu ir direto ao ponto.

- Marcos, lembra quando nos encontramos no Increidible e aquele cara me beijou e depois vomitou o chão todo?

- Lembro. Fiquei chateado porque você não me deu atenção naquele dia. Espera, você estão namorando? Meu Deus, e eu aqui tentando investir em você de novo. - Pe não pode evitar uma risada e um certo encanto pela forma exagerada e rápida que Marcos falava.

- Se acalme. O que eu quero dizer é que nós estávamos... Bem, como eu poderia dizer? Juntos. Não completamente oficial, mas estávamos.

- Entendi. Não estão mais?

- Ele foi assassinado. - Marcos parou de andar e olhou para Pedro sentindo dor.

- O que? - Perguntou sem qualquer resquício de incompreensão e automaticamente se lembrou de Lucas.

- É. É uma longa história. Sabe o advogado que foi morto recentemente?

- Você não pode estar falando sério. - Marcos interrompeu.

- É ele. - Pedro suspirou e olhou para o céu cinzento. Marcos estava perplexo e se sentindo envergonhado porque não tinha conhecimento de nada daquilo e estava a agir como bobo.

- Eu sinto muito, Pedro. Eu não fazia ideia que essas coisas estavam acontecendo.

- Você não tem de se desculpar. Eu nunca contei nada. E é bom poder falar com alguém sobre isso, era tudo tão secreto, ninguém podia saber, suspeitar. - Suspirou e olhou para Marcos e possuía os olhos exalando compreensão. Sorriu em mostrar os dentes e aquele brilho no olhar do outro o fez lembrar dos momentos quase nunca lembrados em que andavam juntos, antes mesmo de Lucas entrar em sua vida.

Marcos foi seu primeiro amor homossexual, na época ainda estava descobrindo muitas coisas sobre a vida e sua imaturidade e medo fizeram Pedro se afastar e manter apenas uma amizade casual. Sabia que era o primeiro amor de Marcos assim como ele fora o seu, mas ao contrário do outro havia superado e se apaixonado outras vezes mais.

Os dois sentaram-se próximo a uma sorveteria e Pedro olhou para Marcos sentindo um nó se formando em sua garganta. Contou tudo o que sabia e as palavras se atropelavam, saiam de maneira errada, as explicações eram confusas. Só queria despejar tudo aquilo em outro alguém que não fosse ele mesmo, não estava fácil suportar o peso de toda aquele situação sozinho. Marcos ouvia tudo atento e em silêncio, sorriu quando Pe pediu segredo absoluto e tocou o ombro do outro em sinal de compreensão e cumplicidade. Não sabia se podia confiar cegamente em Marcos, mas a partir daquele momento precisava confiar já que o atacou com as palavras.

- Eu quero te ajudar a resolver isso, eu quero achar o assassino de Gabriel. Pedro, meu tio é policial e você sabe que é.

- Não! Ninguém pode saber do que te falei dessa maneira ou o próximo a morrer sou eu e logo depois você por saber demais.

- E como você pretende seguir com isso? Implantando provas? - Pedro olhou para Marcos e sorriu. O outro ficou sem entender e suspirou.

- Você é brilhante. Como eu não pensei nisso antes?

- Isso não é ilegal? - Retrucou.

- Acredito que se as provas forem verdadeiras não é ilegal.

- Não é mais fácil fazer uma denúncia anônima? Ou testemunhar de forma anônima?

- Eu pensei nisso, mas podem me descobrir antes de a polícia começar a agir.

- E o que te faz pensar que seria diferente implantando provas? - Marcos perguntou e Pedro ficou em silêncio. Se lembrou de José Carlos e Fernando, eles ajudariam muito.

- Eu sei exatamente o que fazer e vou precisar do seu tio, Marcos. E vou precisar principalmente confiar em você.

- Alguma vez eu já te decepcionei? - Perguntou tão inocentemente que nem se deu conta que a resposta daquela pergunta era positiva. Pedro não respondeu, desviou o assunto.

- Certo. Então eu falarei com algumas pessoas e se elas concordarem eu sei exatamente como começar a fazer tudo.

- Até onde eu entendi isso é para acabar com a empresa do Álvaro. Onde o assassino de Gabriel entra? - Pedro explicou toda a sua teoria que fazia sentindo para ele e que passou a fazer para Marcos também. Alguém ascenderia se Álvaro caísse, e era aí que estava a oportunidade perfeita para saber quem estava por trás do assassinato, se é que estava e se a teoria de Pedro estivesse correta.

- Você é maluco, Pedro.

Se olharam e sorriram como se fossem cúmplices de muitos anos. Eram sem ao menos saber e agora estavam voltando a se conectar. Pedro não havia se dado conta do quanto gostava da presença de Marcos até passar aquela tarde com ele. Sentiu que havia ganhado um amigo que podia confiar e que o traria distração de seus pensamentos e da tristeza que sentia.

Planejaram a queda de Álvaro juntos como se fossem crianças planejando a próxima brincadeira, mas havia uma grande seriedade em todo aquele assunto. Pe deu todas as coordenadas e explicou com exatidão o que aconteceria e como precisaria do tio de Marcos naquele momento. Só precisariam torcer para tudo dar certo dali em diante.

Voltou para casa apenas no fim da tarde com uma sensação de leveza que não sentia há semanas e que, por não senti-la, acreditou desconhecê-la. Atirou sua bolsa contra o sofá e pegou o celular pronto para discar o número de José Carlos ou de Fernando, o que aparecesse primeiro nos contatos. Ligou e entrou no banheiro para tomar um banho, espantar todo o calor que sentia e esperar pela visita que colocaria em prova tudo o que havia pensado e planejado até o momento. Só precisava de duas confirmações e a partir daí as coisas começariam a acontecer.

Ao terminar o banho, Pedro sentou-se no sofá de sua sala para esperar a chegada de José Carlos e Fernando. Cada minuto que passava sozinho sentia ainda mais saudade. Chegou a conclusão de que não poderia viver sozinho porque sua mente se perturbava com o silêncio, com a calmaria, forçava-o a ter lembranças dolorosas, a lidar com ausências, com a saudade e com a tristeza que o consumia. Mas isso só acontecia quando estava sozinho, não havia com o que se distrair, com quem conversar, com quem compartilhar toda aquela angustia que sentia. Não havia quem o consolasse, quem o abraçasse e dissesse que estaria ali apenas para suportar vê-lo em prantos. Talvez houvesse Marcos, mas não o queria para aquilo no momento, queria Gabriel. Queria o que jamais poderia ter de volta.

As lágrimas se acumularam e avançaram de seus olhos para sua pele. Respirou fundo, suspirou e deixou que elas caíssem. O alivio que sentia ao chorar era tanto que às vezes até ansiava por tais momentos. Só limpou a água de seus olhos quando o porteiro ligou para seu apartamento informando que ele tinha visita. Deixou-os subir e respirou fundo algumas vezes antes de abrir a porta. Parou diante dela, olhou para trás dando falta de um vaso decorativo antigo quebrado por Gabriel, desejou que o homem estivesse o quebrando naquele momento. Aplaudiria e imploraria para destruir sua casa e sua vida com a única condição de não partir para sempre.

- Entrem. - Abriu a porta e deu passagem para o casal. Ambos entraram em silêncio e sentaram-se no sofá em que Pedro estava há poucos minutos. Estavam tensos, evitavam olhar para Pedro e vez ou outra se entreolhavam. Pedro não conseguiu atribuir outra denominação para tais gestos a não ser segredo. Queriam falar algo e esperavam encontrar o momento certo e a maneira apropriada de dizer.

- O que foi? - Perguntou irritado com aqueles olhares. José Carlos o olhou assustado como se tivesse sido pego em uma travessura.

- Você que nos chamou aqui. - Disse.

- Chamei, mas pelas expressões de vocês é notável que não sou o único que tem algo a dizer. - J.C. e Fer se olharam de novo e soltaram um suspiro no mesmo momento.

- Você não está sabendo? - Fernando falou e um frio arrepiante congelou a espinha de Pedro. Não estava preparado para mais uma notícia que destruiria sua vida emocional e paulatinamente a social também em tão pouco espaço de tempo. Olhou para Fer, olhou para José Carlos, olhou para o teto e respirou fundo tentando encontrar qualquer força que o fizesse suportar o que estava por vir.

- Não. - No apartamento se fez silêncio e ausência de som irritou Pedro profundamente. - O que eu não estou sabendo? Será que vocês poderiam me falar logo?

- Catarina foi assassinada ontem à noite. - José Carlos falou sem mais cerimônias e Pedro sentiu um baque estranho ao tentar associar as palavras da frase. Ouviu o suspiro de Fernando, viu José Carlos colocar as duas mãos no rosto e naquele momento sua teoria fora reforçada. Não sabia com quem e com o que estava lidando, todavia a disposição e a vontade de descobrir o que estava acontecendo era maior que qualquer medo que ousasse sentir.

- Como isso aconteceu? - A resposta foi o silêncio. - Eu estou farto de silêncios! Me digam, por Deus ou por qualquer outra entidade, como isso aconteceu? - Berrou a pergunta assustando Fernando e José Carlos. Mais um assassinato misterioso que reforçava ainda mais tudo o que Pedro imaginava fazer sentido.

Catarina não queria ser vista e tampouco se meter na confusão armada por Pedro por saber que corria perigo. Sua cautela, ainda assim, não fora o suficiente. Além de descoberta, foi tirada de jogo de maneira cruel.

- A encontraram em casa, no quarto, toda ensanguentada. A polícia falou que ela levou vinte facadas na barriga e que foram tão brutais que o assassino só parou quando a ponta quebrou. Carlos Norberto a encontrou, teve uma parada cardíaca ao ver a cena e ainda está no hospital. - José Carlos explicou e Pedro sentiu suas costas pesarem, a cabeça doer e um longo suspiro esvair na tentativa falha de trazer algum alívio.

Pedro Donatto ficou completamente sem fala diante de tal situação. Sentiu mais que nunca que precisava descobrir o autor, ou autores, dos assassinatos e seus motivos. Sentiu no coração um desejo imenso de abandonar sua faculdade de literatura para se tornar investigador criminal para acabar com todos aqueles que possuíssem o mínimo de culpa por transformar a história que deveria ser um romance um em um mistério sangrento e dramático.

- Agora que você já sabe e que já ficou chocado o suficiente já pode nos dizer o motivo que nos trouxe até aqui a essa hora da noite. - Fernando falou de maneira fria sentindo-se exausto de todos aqueles conflitos.

- Catarina me entregou umas coisas. - Buscou as cópias em cima da mesa da sala de jantar e as jogou no colo de Fer. Ele olhou para elas confuso e José Carlos também parecia curioso.

- O que é isso? - Perguntou.

- Abra para ver. - Pedro se sentou na mesa de centro encarando os dois homens em sua frente esperando por reações e conclusões. Liam os documentos juntos e a cada parágrafo ambos os olhos se arregalavam mais. Talvez por surpresa, desgosto, os dois.

Cansou de esperar e contou para os outros tudo o que acreditava ter acontecido e o que planejava fazer. Não era nem um pouco seguro confiar à pessoas que não possuíam 100% de sua confiança informações tão sigilosas, comprometedoras e mortais. Que escolha tinha senão arriscar? Não admitiria ficar em silêncio observando de longe o trabalho lerdo e repleto de burocracias da polícia. Queria obter as respostas que procurava por si só e quanto mais adeptos sua loucura possuía, crescia sua garantia de que tudo daria certo pelo mesmo desta vez.

Começariam no dia seguinte e para Pedro, já começavam tarde. Foi fácil ganhar a confiança e apoio de José Carlos e Fernando, esperava ter a mesma facilidade na resolução de todos os problemas que o atormentavam.


n/a: SETE MIL LEITURAS! Gente, que mágico! Será que conseguimos chegar em 10K antes do fim? Tomara! Bom, espero que vocês estejam gostando e preparem os corações que a partir do próximo capítulo as tretas ficam bem loucas! Beijos e até o próximo ♥

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