Reamar

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Acordar todos os dias de manhã era um tormento. Assim que abria os olhos sentia o choque da realidade cair como um balde de água gelada em seu corpo morno. Não se importava com os minutos que avançavam sem esperar por ele e permaneceu deitado na cama inerte em tantos pensamentos que toda a noção de atualidade fora perdida.

Pedro pensava e se perguntava se sua alma era um imã que atraía a morte para todos aqueles que amava. E se perguntava aquilo porque depois do flerte com Marcos, tinha medo de desenvolver algo por ele, tentar seguir a vida e meses depois perdê-lo assim como perdeu Lucas e Gabriel. Se perguntava também se era algum tipo de carma ou dívida de alguma vida passava. Por não obter respostas, se contatava apenas na ideia de não se aproximar de ninguém e mergulhar em uma vida solitária só com as idealizações do amor como se algum dia fosse se bastar.

Levantou quando se deu conta de seu atraso. Foi para a faculdade de cabeça baixa e ao chegar não esbanjou a simpatia que costumava. Isso fez as pessoas notarem que ele não estava bem e a encherem de perguntas a respeito de sua vida quando tudo o que ele mais queria era ficar sozinho e em paz.

Passou a manhã rabiscando folhas de caderno como se ainda fosse um adolescente do ensino médio entediado com as aulas de cálculo e nunca havia se sentido tão feliz ao anunciarem o fim das aulas daquele dia. Ele amava assistir as aulas. No caminho para a saída da faculdade recebeu uma ligação. Não sabia se sentia desanimo ou conforto ao ver quem o ligava.

- Marcos. - Atendeu cansado.

- Ei, Pedro. Está bem?

- O de sempre.

- Entendo.

- Eu não. - Pedro suspirou e Marcos fez o mesmo do outro lado da linha.

- Escute, talvez você queira dar uma volta para se distrair, o que acha? Ontem você disse que seria uma boa ideia sair para conversar. - Pe ouviu as palavras de Marcos atentamente e se amaldiçoou por ter dito tais palavras. Era completamente absurdo que Marcos Silva quisesse se aproveitar da ausência eterna de Gabriel para se aproximar dele. Era mais absurdo ainda acusar o garoto que ao menos sabia que ele possuía algo com Gabriel e que o mesmo havia morrido. Foi então que sentiu que deveria sair com Marcos. Não por flerte e sim pela necessidade de ter alguém para conversar.

- Você está certo. Posso te encontrar agora?

- Sim, claro! Pode ser perto da estátua de Carlos Drummond de Andrade na orla da praia? Vou de bicicleta. - Pedro suspirou com a animação na voz do outro.

- Sim. Estarei lá. - Sem esperar uma resposta, desligou e pegou o primeiro ônibus massacrantemente lotado para o local. O aperto não permitia que ele pensasse e decidiu pegar mais ônibus lotados dali em diante.

Ao chegar na orla da praia, avistou a bicicleta encostada no chão e Marcos sentado ao lado da estátua mexendo no celular. Se aproximou em passos vagarosos e incertos até ser notado e recebido com um sorriso radiante.

- Ei, finalmente chegou!

- O trânsito do Rio de Janeiro não é um dos melhores.- Marcos riu e levantou sua bicicleta do chão.

- Vamos. - Começaram a andar em silêncio por não saberem o que dizer, foi quando Pedro decidiu ir direto ao ponto.

- Marcos, lembra quando nos encontramos no Increidible e aquele cara me beijou e depois vomitou o chão todo?

- Lembro. Fiquei chateado porque você não me deu atenção naquele dia. Espera, você estão namorando? Meu Deus, e eu aqui tentando investir em você de novo. - Pe não pode evitar uma risada e um certo encanto pela forma exagerada e rápida que Marcos falava.

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