Feras Noturnas e a Chuva Muta...

By detetive085

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Dennis, Anna, Alice, Pedrinho e Carolina acordam em um laboratório no subterrâneo da casa do misterioso Jande... More

Prólogo
2. Um Encontro Desagradável
3. Revelações sobre Alice
4. Os Espiões
5. Um Passo ao Desconhecido
6. Confusão
7. Sintomas
8. "O que está acontecendo com Dennis?"
9. O Dispositivo R.N.G.
10. Exame Prático no Morro
11. Juntando as Peças
12. Cicatrizados
13. A Desertora
14. Detonando a Festa
15. Obtendo Algumas Respostas
16. A Tempestade Contaminada
17. Epílogo: O Mal Realmente Foi Vencido?
Agradecimentos
Capa Alternativa
NOVIDADES!!!
Desvende os novos mistérios do próximo capítulo da saga!
Faça o Teste de DNA Feras Noturnas!

1. As Cinco Crianças

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By detetive085

  Dennis foi o primeiro a acordar.  —  Seus olhos estavam bem abertos, ele tinha certeza disso, mas nada enxergava, escutava ou sentia. Sua visão estava embaçada, mas Dennis tinha certeza que uma luz muito forte estava sobre seu rosto. Sentia-se estar acordando de um sono que havia durado uma eternidade. Então conseguiu mover seus pés, voltou a sentir suas mãos e a sua visão se reajustou. Se deu de conta que estava deitado numa maca, uma luminária cirúrgica estava ligada sobre seu rosto e um aparelho preso ao seu polegar estava medindo seus batimentos cardíacos.

 Alguma coisa grave deveria ter acontecido, ele pensou. Se sentia em um hospital, mas ainda usava suas próprias roupas. Olhou em volta e à sua direita viu uma garota bonita com mechas loiras no cabelo e um garoto negro, pequeno e gordinho vestido com um moletom branco, Alice e Pedrinho, ele os reconheceu e à sua esquerda, duas garotas, uma de cabelos castanhos compridos e a outra era mais nova com cabelo mais curto, sua prima Anna e a mais nova, a amiga dela, Carolina.

 Ver seus amigos também deitados em macas fez as perguntas surgirem: "O que realmente, aconteceu?", "Como viemos parar aqui?" e "Que lugar é esse?".

 Ele estava sonolento demais para se levantar, mas tentou observar o ambiente a sua volta. Não era um hospital, ele concluiu. Dennis viu um teto alto com lâmpadas fluorescentes, penduradas por fios elétricos, paredes cinzentas com rachaduras e manchas de infiltração, estantes de livros, caixas de metal que mais pareciam jaulas e bancadas com utensílios de laboratório. E havia também, outra pessoa acordada por perto, uma adolescente familiar, vestida com um jaleco, alta e com longos cabelos ruivos cacheados e Dennis também se lembrou do nome dela, Priscilla.

 Estava sentada lendo uns papéis sobre uma das bancadas, ouvindo música nos fones de ouvido. O volume devia estar no máximo, pois mesmo estando longe, Dennis podia ouvir a música muito bem... ou será que ele estava ouvindo bem até demais?

Ele não sabia, mas se sentia indisposto, não sabia o que fazer e queria ficar ali até o sono passar, mas algo lhe dizia que precisava pensar rápido. Ele olhou para o lado, Alice estava apagada, Dennis tentou acordá-la chacoalhando seu ombro.

 Alice desacordada gemia:

— Sai, mãe... hoje não tem aula não!

 Dennis chacoalhou o ombro dela mais uma vez.

— Ei... esse sapato é meu, devolve! — Murmurou a garota.

 Dennis sacudiu o ombro dela com força e Alice acordou atordoada.

— Estamos mortos?! — Alice franziu a testa — Onde nós estamos?

 Dennis pôs um dedo entre os lábios e fez:

— Shhhh, fale baixo — Dennis sussurrou e apontou para Priscilla — temos companhia aqui.

Aqui? — Alice sussurrou de volta — Onde nós estamos?

— Eu não sei, mas não estamos em um hospital, temos que sair daqui.

— E os outros?

— Aqui com a gente, desacordados ainda.

 Alice murmurou:

— Que ótimo — ela puxou uma parte de seus cabelos que estavam desgrenhados sobre o rosto  —, minha chapinha já era e o meu cabelo tá fedendo a vinagre!

— Acorde o Pedrinho, ele está bem aí do seu lado e...

O quê?! — Alice queria chorar — Por que tinham que me colocar logo do lado do asqueroso do Pedro?

— Acorda logo ele, vamos tentar ir embora desse lugar, enquanto só tem a Priscilla por aqui.

 Alice sorriu.

— Isso eu gostei de ouvir.

 Do outro lado de Dennis, estava sua prima, Anna. Ele teve menos dificuldade em acordá-la.

— O que aconteceu? — Perguntou Anna ainda de olhos fechados.

— Sobrevivemos a... seja lá o que tiver acontecido com a gente, agora, acorde Carolina e façam silêncio.

 Alice cutucou o ombro de Dennis, Pedrinho queria falar com ele.

— Ei, Dennis — Pedrinho sussurrou —, cara, me diz que você tem um plano.

 Antes que Dennis respondesse ouviram um ranger de metal, alguma máquina atrás deles estava trabalhando.

— Escutem — disse Dennis — finjam que ainda estão dormindo, ao meu sinal, fiquem de pé! Ok?

 Os cinco fecharam os olhos e ficaram quietos. Dennis ouvia a máquina trabalhar, algo estava se aproximando, identificou o som de polias girando e cabos de aço sendo içados. Era um elevador, ele chutou. O barulho parou e sentiu um calafrio na espinha ao ouvir a voz daquele que provavelmente era o responsável por ele e seus amigos estarem ali, Janderson.

— Então, eles sobreviveram à simulação? — Perguntou Janderson.

— Sim — Priscilla murmurou.

— E quais foram os resultados?

— Geneticamente modificados... funcionou.

 Ao ouvir isso, Carolina abriu os olhos, mas logo voltou a fechá-los. Queria perguntar sobre o que estavam conversando.

— E agora? — Ouviram a voz de outra garota, Julie — Eles vão se juntar a nós, vão obedecer às suas ordens?

— Bom, eles não participaram da Chuva Mutante — Priscilla respondeu —, estão à frente do tempo. Isso... é ruim.

— Claro que sim! — A voz de Janderson sibilava como uma serpente — eles vão acabar com os nossos planos se não dermos um jeito neles agora.

— Sua mercadoria chegou — Priscilla falou —, que aquele seu contato do exterior enviou...

— Excelente! São microchips de controle cerebral, uma nova invenção chinesa. Basta instalar no local exato do encéfalo e poderemos implantar memórias falsas na mente deles, vão me obedecer e não faram ideia do que lhes aconteceu.

— Eu queria saber o que foi que você viu de tão importantes neles — Julie murmurou. — Por que escolher logo eles?

— Por que toda inovação científica requer uma cobaia, minha cara. Agora, façam o que eu disse! Apaguem as memórias deles.

 Dennis gritou:

— Agora!

 E os cinco pularam de suas macas e surpreenderam Janderson e seus subordinados.


 48 horas antes...


 Era uma bela manhã de sol do dia primeiro de Julho. Dennis acordou ouvindo a voz de sua mãe do outro lado da porta de seu quarto lhe chamando e lembrando-lhe que sua prima estava o esperando. Ele se levantou em um pulo com muita empolgação, pois estava planejando há meses passar as férias de Julho na casa de sua prima, Anna Beatriz, a qual não via desde os 7 anos.

 Ele pôs em sua mochila todos os seus conjuntos de roupas e calçados favoritos e inclusive, o seu caderno de desenhos, onde havia um em particular que queria dar de presente a sua prima e seus amigos que havia conhecido brevemente pela internet. O desenho era uma paródia dos Cinco Animais do Kung Fu, nele mostrava um morcego, a lendária ave fênix, um porco-espinho branco, uma pantera cor-de-rosa e um golfinho azul. Todos andando, voando seguindo um ao outro, formando um círculo. Dennis destacou a folha do desenho, pretendia guarda-lo, mas na pressa o deixou dentro do caderno.

 Dennis também pegou sua caixa de bugigangas, onde colecionava tralhas que acreditava serem úteis em momentos de necessidade. Como por exemplo, um tubo de caneta vazio e um elástico. Inútil, mas em um momento apropriado, um excelente lança flechas.

 Francisco, o pai de Dennis, foi deixá-lo na casa de sua prima de carro. No caminho, eles passaram pelos lugares favoritos de Dennis, partindo pela Avenida Beira Mar e seguindo pelas avenidas do litoral da cidade de Fortaleza, assim, Dennis podia ter uma vista das praias e dos prédios de seu bairro ao mesmo tempo enquanto rabiscava sem eu caderno de desenhos. Não foi uma viagem demorada, meia-hora depois de terem deixado o bairro Aldeota para trás, quando se deu de conta, já estavam na comunidade da Barra do Ceará. Olhando para o alto, não via mais edifícios e grandes prédios, as construções mais altas que podia ver eram casas de três a quatro andares, mas no geral, somente pequenas e simples casas de famílias humildes.

 Crianças de todas as idades brincavam nas ruas, vizinhos conversavam uns com os outros nas calçadas e músicas de todos os gêneros vinham de todas as direções. Uma realidade totalmente diferente do seu condomínio no Aldeota, onde não se ouvia nada e nem ninguém. As pessoas não paravam para conversarem umas com as outras e as crianças viviam trancadas em seus apartamentos na frente da televisão ou de computadores, jogando vídeo games ou na internet. A pobreza na Barra do Ceará era clara, mas Dennis achava cativante a felicidade e a simplicidade daquele lugar.

 O pai de Dennis entrou numa rua subindo o alto de um morro de onde o garoto podia ver um pouco do mar, o brilho do sol refletindo nas águas no horizonte. Francisco estacionou na frente de uma lanchonete e com um entusiasmo forçado anunciou que já haviam chegado. Dennis duvidou se era mesmo aquele lugar, pois aquela não era a casa que se recordava de sua infância. A casa de sua prima, Anna, havia se transformado em um restaurante-cassino. Na calçada havia duas palmeiras plantadas ao estilo Las Vegas.

— É esse mesmo o lugar? — Indagou Dennis.

 E então, uma senhora de avental com cabelos castanhos avermelhados e encaracolados com maquiagem borrada e rugas de expressão num rosto familiar abriu o portão e foi para a calçada junto com uma menina semelhante a ela, porém mais bonita e tinha um laço vermelho em seu cabelo. Era sua tia, Claudina e sua prima, Anna.

 O pai de Dennis disse:

— É isso aí, chegamos!

 Desde os sete anos, Dennis não pisava naquele lugar, agora aos 13 anos se sentia nostálgico, era um momento de reencontro. Dennis pegou sua mochila e saiu do carro, podendo observar melhor a fachada da lanchonete, viu um enorme letreiro rodeado de lâmpadas, onde se lia: "Lanchonete & Cassino Srta. Claudina".

— É, só pode ser aqui mesmo — Dennis riu.

— Até que enfim vocês chegaram! — Disse Claudina da calçada com entusiasmo ainda maior do que o de Francisco — Anna e eu estávamos morrendo de saudades de vocês, faz tanto tempo que tu não trás o Dennis pra passar uns dias aqui em casa, Francisco. Olha só como esse menino cresceu!

 Dennis não havia notado, mas enquanto ele saia do carro de seu pai, seu desenho destacado escapou de seu caderno e foi arrastado pelo vento.

 Indiferente, Francisco perguntou:

— Pode ficar de olho no meu menino até o fim do mês, como combinado?

— Mas é claro que vou, com todo prazer! Não quer entrar?

— Não, fica pra outro dia, estou atrasado, tenho que ir. — Francisco olhou para seu filho com um leve sorriso e disse: — Até mais filho, divirta-se.

 E ele acelerou o carro, deu uma curva cantando os pneus.

 VRUM!

 O carro passou por cima de uma possa de lama, molhando Claudina da cabeça aos pés.

— Tchau pai! — Disse Dennis, mas seu pai já sumia de vista na primeira esquina.

 Assim que ele se foi, Claudina mudou de expressão e falou:

— Ô moleque, concordei com os seus pais de cuidar de você durante as férias e é o que eu vou fazer, mas agora se tá achando que vai ficar de moleza aqui e que eu vou dá uma de babá, tá muito enganado! Anna, leva logo ele pra guardar as coisas lá em cima e depois, vão se lavar, o almoço tá quase pronto.

 Claudina saiu andando em direção à cozinha.

— Você vai dormir no sofá! — Gritou ela.

 O barulho de seus tamancos batendo no chão ecoavam por toda a lanchonete ainda fechada.

Aproveitando o lugar ainda vazio, Anna chamou Dennis para sentar em uma das mesas da lanchonete e conversarem um pouco.

— Não me lembro da sua mãe ser tão simpática.

— E eu não me lembro de você ser sarcástico — Dennis e Anna riram um pouco. — Essa foi a forma dela de te dar as boas-vindas. Logo ela se acostuma com você.

 Dennis jogou sua mochila pesada em cima da mesa.

— Anna, desde quando vocês abriram esse... cassino... lanchonete?

— Faz alguns meses. A decoração tema foi ideia da mamãe. Tudo foi ideia dela. Ela estava desempregada e então, encontrou um emprego em que toda a família pudesse ajudar a pagar as despesas. No começo estava dando tudo certinho, mas infelizmente de uns tempos pra cá, o movimento caiu muito, estamos quase falindo. As pessoas não querem mais nem vir jogar.

— Então, vocês vão fechar?

 Anna sorriu.

— Claro que não! A mamãe teve mais uma brilhante ideia de mandar construírem aquele palco ali e fazer algum evento para atrair fregueses.

 Dennis olhou para trás e viu um pequeno palco de um metro e meio, nos fundos.

— Legal! E sobre o que vai ser esse evento?

— Ainda não sabemos. Talvez um show de humor ou chamar algum cantor. Mas me conta sobre você, o que te fez querer vir pra cá depois de tanto tempo? Aliás, eu fiquei sabendo que foi os seus pais que pediram pra mamãe deixar você ficar aqui. Por quê?

 As perguntas de Anna fez o sorriso de Dennis vacilar, mas ainda sim, ele o manteve.

— Meus pais vão sair em mais uma viagem de negócios pro Rio de Janeiro e antes de ficar largado em casa mais uma vez com a empregada, pedi que deixassem eu passar as férias aqui. Que nem como antigamente.

 Anna percebeu a infelicidade na voz de seu primo e disse:

— Olha pelo lado bom, Dennis, pelo menos seus pais tem um emprego. Eles podem dar o melhor pra você.

— É, eu sei, é que ser filho de advogados tem suas desvantagens.

— Agora — Anna se levantou —, que tal, você deixar a sua mochila aí e vir comigo bem ali, rapidinho? Quero te apresentar os meus amigos.

— Que amigos? Pelo que sei, você não tem nenhum!

 Anna ficou séria e então, Dennis começou a rir.

— Engraçadinho!

— Mas e a sua mãe?

— Não vai demorar muito, eles estavam loucos pra conhecer você. Lembra da Alice do Pedrinho e da Carolina, né? Quero te apresentar pessoalmente a eles.

— E onde eles estão?

— Devem estar na casa Alice, ensaiando para o número musical.

— Musical? — Dennis perguntou.

— Desde que montaram o palco, Alice vem perturbando a mamãe pra deixar ela se apresentar aqui e ainda, convenceu a Carolina e o Pedrinho de serem os back-vocal dela.

— E o que ela vai cantar?

— É uma música internacional, Alice é boa no inglês... pelo menos cantando.

 Dennis sorriu.

— Nossa! Eu não sabia que até as pessoas da favela gostam de ouvir música internacional, geralmente as pessoas daqui não preferem o funk?

 Anna não percebeu o tom da piada e olhou para Dennis como se ele tivesse alguma deficiência.

— Ahm... não! — Dennis começou a vasculhar sua mochila — Favela é apenas uma região urbana onde pessoas com baixas condições moram, isso não influencia no que apreciamos.

— Um hum... — Dennis murmurou.

— O que você tá procurando aí?

— Poxa! Acho que perdi meu desenho.

— Que desenho?

— Um que eu tinha feito, queria dar pra vocês, mas parece que eu perdi.

— Tá tudo bem. Vamos lá?

— Vamos! Antes que eu diga mais alguma coisa errada e você me estrangule até a morte.

 Depois de concordar com o que ele disse, Anna o levou para a casa de Alice.

 Anna Beatriz era a menina mais doce que Dennis conhecia, ela tinha 12 anos e sempre estava auxiliando sua mãe dentro de casa e no que quer que fosse. Com uma bandana enlaçando os seus cabelos castanhos, Anna deixava gentileza e carinho por onde passava.

***

 Alice estava no meio de um ensaio, cantando "When Love Takes Over", música de David Guetta em parceria com Kelly Rowland. Carolina e Pedrinho cantavam como cantores de coro, estando no meio da canção, Alice pausou a música e com arrogância, disse:

— Será que dá pra fazerem direito? Isso aqui é sério!

— Mas nós fizemos certo. — Respondeu Carolina.

— Não fizeram, não! Vocês nunca fazem e eu já estou cansada de aguentar vocês! Agora, mais uma vez do começo.

 E essa é Alice, uma garota talentosa, porém metida, tinha 12 anos de idade, delicados olhos verdes e um cabelo que estava sempre mudando de cor e estilo, assim como a aparência de uma diva pop. Naquele mês seu cabelo castanho possuía mechas californianas, duas mechas loiras cacheadas se destacavam contornando o seu rosto. Suas "mechas da sorte", como Alice as chamava.

— Por que você não para de ficar dando ordens? — Questionou Pedrinho — Você nem sabe se vai cantar na lanchonete da Dona Claudina.

 Alice respirou fundo e falou um pouco mais calma.

— Eu vou cantar naquele palco, isso é apenas uma questão de tempo. Se não querem me ajudar, podem ir, mas fiquem sabendo que quando um produtor musical me descobrir e... — Alice se perdeu — e eu ficar internacionalmente famosa, não venham atrás de mim pedindo um autografo!

 Pedrinho e Carolina olharam um para o outro. Pedrinho perguntou:

— Tá a fim de ir lá na lanchonete? — Carolina respondeu:

— Estou sim.

— Bóra lá?

— Vamos.

 Quando os dois deram um passo a frente, Alice começou a forçar um choro.

— Não, por favor! Vocês não podem ir, precisam me ajudar! Eu só sou uma pobre garota, mas muito linda que quer realizar os seus sonhos!

 Ouviram alguém bater na porta do quarto e ela se abriu, era Anna.

— Alicinhaaaa?

 Assim que Pedrinho a viu, correu em direção a Anna e lhe abraçou bem forte, dizendo:

— Anna, meu amorzinho, você veio me ver!

— Pedrinho, me solta, por favorzinho e eu não sou o seu amorzinho, quantas vezes eu tenho que te dizer que somos só amigos?

— Até você mudar de ideia.

— Ô amiga — falou Alice —, eu já falei que o nome é Alice e o que você quer? Eu tô ocupada.

— Não precisa se preocupar, vai ser rapidinho. Eu só vim avisar que o meu primo... — E ela puxou Dennis para dentro do quarto — Chegou de viagem e vai passar as férias lá em casa.

 Quando Carolina viu o menino entrar, suas bochechas começaram a formigar e seu coração palpitou. A pele dele era clara, como alguém que nunca houvesse tomado um banho de sol. Seu cabelo era tão preto quanto uma mancha de graxa, era liso e com um penteado comportado, seus olhos eram castanho escuro, como os de Anna.

— Dennis, esse aqui é o pessoal, pessoal esse aqui é o Dennis — disse Anna.

 Antes que Dennis pudesse dizer "oi", Alice deu um grito histérico que deixou Dennis assustado.

— Então é você o primo da Anna que mora no Aldeota?

 Anna confirmou.

— Dennis, essa é a minha melhor amiga, Alice

— Muito prazer — disse Dennis.

 Ele estendeu a mão para cumprimentá-la, mas ela o agarrou com beijos e um abraço.

— O prazer é todo meu! — Alice virou-se para Anna e sussurrou: — Menina, ele é mais gato pessoalmente!

 Dennis pôde ouvir tudo e por um momento, ficou envergonhado. Carolina também ouviu o que Alice disse e não gostou, mas não reclamou.

— Esse é o Pedrinho.

 Anna lhe apresentou um menino negro, baixinho e gordinho, os seus cabelos deviam ser lisos, Dennis imaginou, mas eles estavam todos endurecidos, apontados pra cima com vários litros de gel de cabelo.

— E aí cara, beleza? — Pedrinho estendeu sua mão.

— Beleza — Dennis apertou a mão dele.

 Anna lhe apresentou Carolina e Dennis apertou a mão dela.

— E essa é Carolina.

 Dennis percebeu que Carolina era a mais baixa de todos ali e aparentava ser a mais nova também. Ela devia ter entre sete ou nove anos, concluiu Dennis, sendo que na verdade ela tinha 10. Seu cabelo era preto e curto em um perfeito corte chanel, sua pele era morena, seu rosto angelical era tão delicado, Dennis a achou semelhante a uma pequena índia. Principalmente, quando reparou em suas bochechas cor de caramelo... que estavam assumindo um tom avermelhado e preocupante.

— Oi Carolina  —  disse Dennis com uma sobrancelha levantada.

 E de repente, Carolina desaprendeu a falar e começou a gaguejar.

— A-a-ah... é... Olá! — Ela sorriu para disfarçar o nervosismo.

— Não liga não, ela faz isso sempre... — Anna franziu a testa e ficou observando o comportamento de Carolina — na verdade, nem sempre.

— Dennis, vem cá — falou Alice —, já esteve em um show, em cima de um palco?

— Ahm, não...

— Bom é que eu vou dar um show na lanchonete da mãe da Anna e... eu já tenho uma equipe de apoio vocal, mas eles são tão afinados quanto um bando de bêbados numa noite de karaokê e te conhecer, me fez ter vontade de abrir testes de seleção, então o que acha de fazer coro pra mim?

— Cantar? — Dennis ficou pálido — acontece que música não é bem o meu forte.

— Então, qual é? Ah, não importa! Alguém tão bonito como você tem que estar no palco comigo, nem que seja só como figurante.

— A única coisa que eu sei fazer é desenhar e olhe lá...

— É isso! — Anna teve uma ideia.

— Pensou no mesmo que eu, não foi? — Alice perguntou — Dennis, o que você acha de desenhar um figurino fabulosérrimo pra mim?

— Não é isso! — Anna discordou — Já que a minha mãe ainda não contratou ninguém e que ela não é a favor do show da Alice, o que vocês acham de nós mesmos criarmos uma galeria de artes?

— Galeria de artes? — Indagou Pedrinho — O que é esse negócio?

— O Dennis sabe desenhar e vocês lembram das esculturas que a Carolina fez para a feira de ciências da escola? A gente podia fazer uma exposição no restaurante, feita com materiais recicláveis.

— O meu trabalho sobre reciclagem! — Carolina lembrou-se — Eu topo, além de ser um projeto super ecológico é uma ótima oportunidade de conscientizar as pessoas do bairro sobre a limpeza das ruas.

— Podem contar comigo — Pedrinho também concordou — Topo qualquer coisa pra não bancar um mané em cima de um palco. Mas eu também só vou se tiver comida no fim do expediente!

 Alice falou:

— Anna, queridinha, que ideia é essa? Essa é a minha chance de mostrar todo o meu talento para o mundo! Por que você acha que eu vou concordar com isso?

 Anna fez um sorrisinho inocente.

— Porque você é a minha melhor amiga?

 Alice suspirou e a encarou.

— Ah vai, Alicinha! — Anna suplicou — Por favorzinho.

— Tá, tá bom, garota! Mas para com esses diminutivos... — Alice murmurou — e lá se vai a minha chance de ser famosa.

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