7. Sintomas

138 25 116
                                    

 Uma ventania anunciava a chegada de um grande temporal que se aproximava. O céu, iluminado pela Lua e as estrelas ia desaparecendo aos poucos por baixo de um enorme cobertor de nuvens cinzentas. As árvores e os coqueiros balançavam de um lado para o outro, como se estivessem dançando.

 Dennis se dispôs a fechar todas as janelas. Assim que ouviu o chuveiro do banheiro de Anna cessar, deduziu que ela tinha terminado de tomar seu banho.

  — Anna — Dennis batia na porta do quarto dela —, posso falar com você, por favor?

 Em alguns instantes, Anna abriu a porta do quarto, Dennis quase esqueceu o que queria falar quando viu o pijama que sua prima vestia; uma calça de algodão rosa de patinhos e uma camisola laranja com uma estampa do pato Donald.

 — Mas o que...? — Dennis segurou o riso — Que roupa é essa?

 — É o meu pijama — respondeu Anna, sorrindo —, mamãe deu pra mim.

 — É claro que sim. Anna, sobre o que aconteceu agora pouco...

 — Dennis, por favor — Anna suspirou angustiada —, essa noite foi demais pra mim. Nunca me meti em uma briga na minha vida e também, nunca menti pra minha mãe e nessa noite... mentimos até pro Capitão Mendes sobre uma coisa que eu nem sei explicar!

  — Sobre isso. — Dennis se adiantou — Sobre o que fomos fazer na casa do Janderson, você se lembra de como fomos parar naquelas macas?

 Anna sacudiu a cabeça.

  — Não me lembro de nada. Só me lembro de... — Anna soltou outro suspiro, dessa vez estressada — Dennis, eu tô cansada e confusa, podemos falar sobre isso amanhã?

  — Anna, eu sei que não está gostando disso. Eu também não, mas alguma aconteceu com a gente dentro daquele apartamento. Não sei o que foi, mas precisamos descobrir.

 Anna olhou pra baixo.

  — Tudo bem.

 — E... será que eu posso dormir com você, no seu quarto?

 Anna levantou os olhos.

  — Por quê?

 — Por favor! — Dennis suplicou — Não quero dormir naquele sofá de novo!

 Antes que Anna respondesse, João respondeu enquanto saia do seu quarto.

  — Pode ficar no meu quarto. 

 Dennis sorriu aliviado.

  — É sério?

  — Claro cara, não só pra dormir, enquanto estiver aqui, este quarto é seu!

 Ao ouvir isso, Claudina gritou lá de dentro do seu quarto:

  — EU OUVI DIREITO?! — Ela abriu a porta e pôs a cabeça pra fora do quarto com rolos no cabelo — Você vai deixar esse pestinha dormir no seu quarto?

 Naturalmente, João respondeu:

  — Vou.

  — Ah, não acredito! E se alguma coisa sua for roubada? 

 João forçou um sorriso para Dennis e disse:

  — Boa noite, Dennis. Durma bem.

 Dennis olhou de João para Claudina e correu para dentro do quarto e trancou a porta, a tempo de ouvir uma breve discussão de seu primo e sua tia do lado de fora.


 E veio o temporal. Todos já estavam dormindo quando raios, relâmpagos e trovões começaram a despencar do céu, acompanhados de uma chuva incessante.

Feras Noturnas e a Chuva Mutante (Livro Um)Where stories live. Discover now