Águas de Março

By gisscabeyo

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Rio de Janeiro, berço do samba, das poesias de Drummond, da Boemia de Chico Buarque, das noites na Lapa, da G... More

Prólogo.
1 - Goodbye, USA. Olá, Brasil.
2 - Coisas que eu sei.
3 - Mais do que oculta.
4 - Não era pra ser tão fatal.
5- Oblíqua e Dissimulada
6 - Ano novo, desejo antigo.
7 - Nosso jogo é perigoso, menina.
8 - Infinito particular.
9 - Boemia Carioca
10 - Quebrando tabus.
11 - Bom dia.
12 - Canto de Oxum
13 - Agradável e lento.
14 - Tempo ao tempo.
16 - Contrapartida
17 - O que é meu, é seu.
18 - Colo de menina.
19 - Meu Pavilhão.
20 - Rua Santa Clara, 33.
21 - Sensações extremas.
22 - Aos pés do Redentor.
23 - Codinome Beija-flor.
24 - Cuida bem dela.
25 - Luz em todo morro.
26 - Queime.
27 - Azul da cor do mar.
28 - Revival
29 - Desague.
30 - Axé!
31 - Vamos nos permitir - part1.
Vamos nos permitir - part2.
32 - Idas e Vindas.
33 - A lua e o sol - part1.
34 - A lua e o sol - part2.
Bônus - Part. 1
Bônus - Part. 2
Spin off - part 1.
AVISO - LIVRO

15 - Menina veneno.

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By gisscabeyo

N/a: Oi, amores. Boa noite! Serei breve, okay? O capítulo ficou enorme, peço desculpas desde já. KKKKKKK Espero que gostem, fiz com carinho, como sempre. Citei algumas músicas no decorrer do cap e se quiserem ouvir para dar um clima melhor, ótimo. É só isso, o próximo é de Hannah, então, encham o saco pra ela não demorar. Comentem, xinguem, nos digam o que acharam e sejam felizes. Qualquer erro, conserto depois. Amamos vocês. <3


Camila POV

"Eu gosto tanto dela a ponto de querer tá perto e pronto, não tem outro jeito de me ver sorrir, é louco o efeito dela aqui."

Eu gosto dela – Emicida.


: - Toma conta da Elis até a irmã voltar, está bem?

Pedi a Sofia com um tom de ternura e melancolia. Não gostava de sair a noite e deixá-la em casa quando o senhor Alejandro não estava. Mas o problema é que meu pai quase nunca estava presente, e deixar minha baixinha nas mãos da babá acabava por ser necessário na maioria das vezes.

: - Pode deixar, Mila, eu vou cuidar bem dela.

Sofia estava esparramada em minha cama, deixando com que Elis, minha pequena gatinha preta, dormisse sobre sua barriga. Eu estava encantada por aquela bola de pelos, queria carregá-la comigo para todos os lugares. Nunca cansaria de agradecer a Lauren por ter me presenteado com ela.

: - Tem comida e água pra ela lá no banheiro. – Me olhei no espelho mais uma vez, ajeitando as alças do vestido preto, soltinho e curto que eu usava. – E a coloque na caminha dela daqui a pouco, não quero que fique muito grudada por causa dos pelos.

: - Eu não vou passar mal, Mila.

Pressionei os lábios um no outro para espalhar o batom vermelho, mandando um pequeno beijinho para a minha imagem no espelho antes de me virar na direção de Sofi.

: - Apenas me obedeça, eu sei o que é melhor pra você. – Calcei rasteirinhas, coloquei meus anéis, uma gargantilha também preta e peguei meu celular sobre a poltrona branca localizada perto da janela. – Estou indo. Se comporte com a María, não a perturbe. Qualquer coisa, me liga.

Me aproximei da cama e beijei sua cabeça, me abaixando para beijar entre as orelhinhas de Elis. Ela esticou as patinhas e se virou de barriga para cima. Eu me derreti inteira.

: - Coisinha gostosa. – Cocei sua barriga peluda.

: - Vai ver a Lolo?

Sofi perguntou curiosa. Eu sorri para ela, fazendo um sinal de positivo com a cabeça.

: - Uhum. Vou jantar na casa da Tay e Lauren está lá.

: - Você está bonita. – Seus olhos brilhavam, cópias perfeitas dos meus. – Mande um beijo pra ela, tá bom?

: - Eu mando sim, pequena. – A beijei na cabeça novamente antes de começar a caminhar para a porta. – Eu te amo! Mais tarde estou de volta. Jante direito.

: - Também te amo, Mila. – Ela bocejou. Sabia que era questão de tempo até pegar no sono. – E Elis também.

Eu sorri, passando os meus olhos amorosos por ela uma última vez, saindo e encostando a porta.

Estava apreensiva, um leve tremor no ventre. Passei o dia inteiro tentando não pensar na confusão em que Lauren e eu havíamos nos metido com Taylor, mas meu esforço foi completamente em vão. Tinha noção de que erramos em não contar a ela desde o começo, mas não conseguia entender a intensidade de sua explosão. Tanto Lauren quanto eu sabíamos o que era melhor pra nossa relação e se decidimos esperar um pouco mais para contar a ela, tínhamos motivos, mesmo não sendo o bastante para fazê-la entender. Eu detestava brigar com Taylor, e detestava mais ainda pessoas dando pitaco na minha vida. Eu só esperava que ela conseguisse entender de uma vez por todas que sim, Lauren e eu estávamos envolvidas o bastante e que nada do que ela fizesse mudaria isso.

Quando parei em frente a porta dos Jauregui's aquela noite, fui recepcionada por mama Drea e seu sorriso enorme. A dei um abraço longo e segui apertando suas dobrinhas para fazê-la gargalhar. Mama Drea ficava ao ponto de enfartar quando eu fazia aquilo com ela, repetindo sem parar a sua frase preferida: "Pare com isso, criança. Pare com isso". Eu só parava quando via que ela estava sem ar e vermelha. Era gratificante fazer aquela mulher sorrir, ela era muito importante pra mim.

Cumprimentei Michael, Clara e busquei com os olhos a CEO americana que havia virado a minha vida de cabeça para baixo desde que a conheci. Lauren não estava presente na sala e imaginei que estivesse descansando no quarto de hospedes. Daria muito na cara se eu fosse até lá?

"Acabei de chegar e queria te olhar antes de ir conversar com Taylor. Por que não vem até a sala?"

Digitei uma mensagem para Lauren no WhatsApp ao me sentar no braço de um dos sofás, observando Clara e Michael em uma de suas partidas de buraco na mesa de jantar. Taylor, com toda a certeza, estava trancada no quarto com a cara emburrada e eu só queria que Oxum me desse muita paciência para ter aquela conversa e não perder a cabeça.

Abri um sorriso quando meu celular vibrou entre as minhas mãos, indicando uma notificação.

"Oi, linda. Acabei de sair do banho, me deixe apenas vestir uma roupa e logo estarei ai ao seu lado."

Mordi o lábio inferior ao imaginar a cena e não resisti em fazer comentários.

"Por que não fica pelada mesmo e me deixa entrar aí? Vou adorar ficar nua com você."

A resposta não demorou mais de vinte segundos e sabia que ela estava fazendo aquela cara de chocada de sempre. Acabei soltando uma risada.

"Camila... Por que me provoca tanto? Meu Deus! Espere um momento, não sai daí."

Não respondi, decidi que esperar era a melhor opção, ou eu acabaria invadindo o quarto em que ela estava sem me importa com a presença de seus pais no mesmo apartamento.

: - Quer beber alguma coisa, minha criança? – A voz de mama Drea se fez presente em minhas costas e eu acabei levanto um pequeno susto. – Tem refrigerante, chocolate quente, suco de melancia, ou eu posso fazer aquela misturinha de vodka com limão e hortelã que você tanto ama.

Ah, mama Drea! Eu abri um sorriso enorme e a beijei na bochecha, vendo-a sorrir de volta.

: - Eu estou sem sede, mama, mas com certeza irei querer aquela vodka depois do jantar.

Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e vi a mulher a minha frente me olhar com nostalgia, erguendo a mão para acariciar o meu rosto.

: - Vocês cresceram tanto, parece que foi ontem que corriam por esse apartamento quebrando tudo e me deixando de cabelo branco. – Ela sorriu triste e eu peguei sua mão, beijando as costas. – Sua mãe teria muito orgulho de você se ainda estivesse entre nós. Sinto falta dela, Sinu era uma grande amiga e uma mãezona.

Suspirei deixando que meus ombros caíssem um pouco. Nunca falava sobre minha mãe, era estranho e doloroso lembrar que ela não estava mais lá para mim, para cuidar de mim, me dar colo quando eu me sentia perdida o bastante para me levantar da cama e seguir o dia. Mama Drea e mamãe eram grandes amigas. As três, somando tia Clara, passavam bastante tempo juntas, compartilhando a criação de Normani, Taylor e eu. Depois que minha mãe morreu, mama Drea e tia Clara se tornaram o exemplo que eu tinha de maternidade e sempre me mostravam que, independente do que a vida havia me tirado, elas estavam ali para mim como estavam para suas filhas. Eu jamais teria como agradecer o suficiente.

: - Tenho certeza que ela está olhando por nós onde quer que esteja. – Eu acreditava nisso com todas as minhas forças. – Mas vamos deixar esse assunto triste pra lá, okay? Me diga onde está Mani, já que não estou a vendo aqui. Ela disse que não iria trabalhar hoje.

Era sempre assim, eu jamais prolongava o assunto "Sinu" por muito tempo para não me sentir abaixo do nível de tristeza que tracei pra mim. Mama Drea suspirou, esfregando as mãos na calça que usava.

: - E não vai mesmo. Mas saiu de tarde e não me disse pra onde ia. – Eu sabia muito bem onde ela deveria ter ido. Neguei com a cabeça. – Eu já estou velha pra ficar me preocupando assim com essa menina, Camila, e ela nem atender o celular, atende. A vontade que eu tenho é de bater. Parece que bati pouco quando ela era criança.

Eu soltei uma gargalhada.

: - Ela está bem, tenho certeza. Já já ela aparece.

: - Ah, Deus te ouça!

: - Drea, por que não vem jogar um pouco conosco?

A voz de Michael nos interrompeu, chamando a nossa atenção. Apesar de trabalhar para os Jauregui's há anos como doméstica, mama Drea era tratada como alguém da família e só continuava em suas funções por insistência dela mesma. Perdi as contas de quantas vezes Normani me contou que Clara e Michael conversaram com sua mãe para que ela se aposentasse, que ofereceram uma enorme quantia de dinheiro como gratidão a ela por todos aqueles anos de dedicação, que a queriam apenas como uma boa e velha amiga e que contratariam outra doméstica para que ela pudesse descansar. Mas mama Drea era orgulhosa demais e sempre dizia que aquele era o lugar dela, e que se tivesse que sair dali, não seria feliz.

A velha mama me pediu licença e foi se juntar aos velhos amigos, me deixando sozinha com os meus pensamentos. A vida sempre iria me surpreender. Conhecia gente de todos os tipos e, os tipos como a mãe de Mani eram e sempre seriam os melhores. Gente humilde, trabalhadora, honesta. Gente do bem. Gente pra ensinar a gente.

: - Demorei?

Me assustei ao ouvir aquela voz, e me virei de frente sobre o braço do sofá para encontrar quem eu procurava. Ah, Deus, francamente... Ela nunca cansava? Ela não ficava exausta de carregar o peso de toda aquela beleza? Meus olhos arderam quando ela abriu um sorriso de ladinho, arrepiando cada pelo do meu corpo.

Lauren estava lá, de pé a alguns passos de mim. Cabelo molhado e recém lavado, e me parecia que ela nem mesmo havia penteado. Os fios estavam uma verdadeira bagunça pós-sexo, deixando-a selvagem e sexy. A pele exalava um cheiro suave de sabonete importado, daqueles que eu costumava usar nas minhas viagens aos EUA. Finíssima, completamente elegante em uma calça jeans apertadinha, blusa de alça na cor verde claro e no tecido de seda. Nos pés, um par de scarpin preto com saltos brancos que a deixavam muito mais alta do que eu. Eu me perguntei, pela milésima vez, como ela conseguia usar saltos em casa. Surreal! Lauren era um luxo, uma mulher de um milhão de dólares. Que sorte a minha.

: - Um pouco... Mas a espera valeu a pena só por ter ver assim.

Eu disse baixinho, fazendo-a espiar os pais na mesa de jantar antes de voltar a olhar para mim.

: - Você está linda. – Ela comentou discretamente, rolando os olhos verdes brilhantes por meu corpo. Me arrepiei. – Amei o vestido.

: - Amei você inteira.

Rebati com o lábio inferior mordido e ela negou com a cabeça sorrindo antes de se aproximar de mim, e me apertar num abraço leve. Tive certeza que aquele ato foi feito apenas para calar a sua vontade de me tocar, de estar perto. Seu cheiro estava delicioso, o que me fez depositar um beijo delicado em seu pescoço. Lauren se contorceu um pouco e se afastou de maneira disfarçada, mantendo uma distância considerável.

: - Se controla.

Ela sussurrou vermelha, me fazendo rir.

: - Um pouco difícil, mas... – Suspirei, umedecendo os lábios. – Acho que vou logo ter essa conversa com Taylor, não adianta nada ficar aqui enrolando.

: - É, acabe logo com isso. – Ela deslizou as mãos para os bolsos de trás da calça jeans, suspirando incomodada. – Vai com calma, okay? Evita brigar e gritar. Tenha paciência com ela. Estarei aqui quando acabar.

: - É a única coisa que me consola. – Confessei frustrada e me levantei, deslizando os dedos pelo cabelo. – Até daqui a pouco, então.

: - Até, sweetie.

Sorri com o novo apelidinho, e me deixei pegar em sua mão direita ao passar ao seu lado. Acariciei seus dedos, vendo seu braço tremer de forma suave. Lauren e eu trocamos um olhar tão cúmplice que fiquei cheia de um sentimento novo, quente, intenso. Sabia que ela estaria comigo independente de qualquer coisa, sabia que o que estávamos vivendo era forte demais para ser quebrado. Quando soltei sua mão, contra a minha vontade, segui em passos lentos na direção do quarto de Taylor, fazendo uma contagem mental até trinta para me acalmar.

Dei três pequenas batidas em sua porta, não iria me atrever a entrar sem bater como sempre, não estava em uma posição muito íntima para isso naquele momento.

Demorou algum tempo até que Taylor abrisse a porta, e eu não pude evitar fechar a expressão quando nos olhamos a primeira vez.

: - Entra!

Ela disse desanimada, me dando passagem para que eu entrasse em seu quarto. Me senti uma estranha, intrusa ou algo parecido. Nossa relação estava estremecida por uma situação que não estava sob meu controle. Eu não podia impor mais limites para os meus sentimentos, muito menos controlar meus impulsos diante de Lauren, e jamais iria me sentir culpada por isso.

: - Por que não senta?

Sua pergunta saiu com um tom de ofensa, como se ela estivesse se sentindo ofendida por eu estar agindo cheia de dedos. Decidi que não iria discutir por aquela bobeira e me sentei na ponta de sua cama, esperando que ela se sentasse ao meu lado. Taylor deixou o corpo afundar sobre o colchão e permaneceu de cabeça baixa, onde ficamos as duas em silêncio por algum tempo. Eu odiava enrolação, mas não sabia como começar aquela conversa, então esperei até que ela começasse a falar.

: - Olha, Camila, primeiro eu gostaria de pedir desculpas pelo jeito que agi com você mais cedo. – Olhei para ela, suspirando. – Me perdoe! Mas eu preciso, por favor, que você veja e entenda o meu lado. Sei que fui rude, estúpida e mais outras coisas e peço desculpas, mas eu fiquei assustada, chateada e me senti duplamente enganada. Não tenho nada a ver com isso, não posso interferir, me meter, eu sei, mas eu acho que merecia saber. Sou sua melhor amiga, nunca mentimos uma pra outra, lembra? Nunca! Nem mesmo quando éramos pirralhas. Por que não me contou? Por que preferiu esconder de mim?

Respirei fundo, mordendo a parte de dentro da minha bochecha esquerda. Sempre fazia isso ao me sentir nervosa ou pressionada.

: - Fiquei com medo de como você iria reagir. – Deslizei a mão pela nuca, estranhamente ansiosa. – Decidi que esperaria até que encontrasse o melhor jeito de te contar, mas acabou que deu em toda essa merda, você descobriu antes.

: - Achou que eu iria fazer um escândalo?

: - Desculpa, Tay, mas sim... E eu estava certa, não? Foi exatamente isso que você fez.

Taylor bufou, negando com a cabeça.

: - Por favor, Camila, você me conhece há anos. Se reagi do jeito que reagi foi por você ter mentido pra mim, não por essa relação em si. – Abaixei a cabeça. – Não vou dizer que estou adorando o fato de você e minha irmã estarem... Eu sei lá o que vocês tem. Mas também eu não tenho que adorar nada, não é? Não importa. Eu só preciso assimilar tudo, digerir. Foi um choque saber disso.

: - Eu sei, Taylor. Sabe o quanto é difícil pedir desculpas, mas... – Suspirei, me virando de frente pra ela. – Desculpa ter te enganado, com sinceridade. Desculpa! Não era a minha intenção causar essa situação pra gente. Mas aconteceu, quando eu vi já estávamos aqui. Você terá o tempo que precisar para se acostumar a isso, assimilar, entender. Tudo bem por mim e por Lauren também.

Ela sorriu sem humor, meio incrédula, me olhando de lado.

: - Você já até fala por ela... Meu Deus! Quando eu ia imaginar isso. Quando? – Estalei meus dedos em um típico sinal de agitação. – O que rola entre vocês, afinal? Quando isso tudo começou?

: - Eu não sei. – Eu disse sincera, desviando nossos olhos e focando o olhar na janela aberta. – Talvez depois do Natal, ou talvez desde o primeiro momento em que a vi. Não sei. O fato é que me encantei de cara, não tinha pra onde correr e eu até que tentei. Gosto disso, gosto de estar com ela, gosto do que ela me causa, gosto dela. Temos uma relação sem rótulos, mas ao mesmo tempo tão intensa que me faz querer rotular o mais rápido possível. Eu descobri que o tempo não representa nada. Ela me faz sentir em pouco tempo o que não me fizeram sentir em anos. Não vou abrir mão disso por nada, não vou mesmo.

A parte final foi um aviso, minha testa franzida e minha expressão séria deixaram claro para Taylor que eu não largaria Lauren nem sob ameaça. Ela soltou um suspiro longo, deixando que os ombros caíssem. Me doía vê-la tão chateada comigo.

: - E ela gosta de você. – Concordei com a cabeça, escondendo um sorriso. – Camila, eu só vou te pedir uma coisa e espero do fundo do meu coração que você nunca esqueça. – Taylor me olhou com os olhos cheios da lágrima, um pouco envergonha e confusa. – Não machuque Lauren, não faça isso com ela. Eu sei que você nunca quis estar sério com alguém antes, te conheço mais que a mim e te vi dispensar todos os homens com quem foi pra cama na manhã seguinte. Não faça dela apenas mais uma, ela não merece. Já foi abandonada uma vez, não quero que ela tenha que enfrentar mais uma perda na vida. Se você quer ficar com ela, dê valor a isso. É só o que eu te peço.

: - Taylor, presta atenção... – Pedi igualmente emocionada, aquela conversa estava tomando um rumo melancólico que eu não queria, mas acabei me deixando levar. Falar de Lauren me deixava daquele jeito, lembrar de seu sorriso, de seu abraço me fazia explodir em um turbilhão de emoções. Peguei suas mãos com as minhas, acariciando. – Alguma vez em todos esses anos, você já me viu caidinha assim por alguém? Já me viu olhar para alguém com tanto carinho? Já me viu bater de frente com você por uma foda qualquer? Você já me viu ficar com a mesma pessoa por mais de uma semana?

Taylor negou com a cabeça, fungando. Eu sorri triste, mas querendo rir do meu passado pesado. Um dia eu ainda pararia para pensar em todas as coisas que já havia feito na vida.

: - Então... Agora é diferente, tudo é diferente. Eu não vou machucá-la, eu não poderia. Eu só quero fazê-la sorrir, rir, cuidar, proteger. Eu gosto dela, Taylor. Olha pra mim... – Ela ergueu seus olhos vermelhos, e eu fiz questão de segurar nossos olhares. – Eu gosto dela. Eu gosto muito, como nunca gostei de outro alguém. Confia em mim.

Eu nem sei dizer o por que queria que ela confiasse em mim, mas de alguma forma, precisava que ela confiasse que eu jamais decepcionaria sua irmã. Lauren passou a ser a minha prioridade silenciosamente, e prioridades a gente não passa para trás.

: - Tudo bem, eu... – Ela tomou uma respiração longa e me encarou. – Confio em você. E me desculpe, mais uma vez. Espero que tenha entendido o meu lado e que não esteja mais brava. Eu vou me acostumar, só preciso de um tempo.

: - Não estou brava, Tay, nós vamos ficar bem. Agora vem cá. – Larguei suas mãos e abri meus braços, convidando-a para um abraço. Taylor soltou uma risada e negou com a cabeça, chocando-se contra mim e me fazendo tombar para trás sobre a cama. Cai de costas no colchão com ela em cima de mim, me deixando rir. A apertei com força, sentindo suas lágrimas molhando a minha clavícula.

: - Para de chorar, sua boba. – Beijei sua cabeça. – Está tufo bem. Passou!

: - Me deixa chorar em paz, que saco! – Ela resmungou, afundando o rosto na curva do meu pescoço. Eu ri, me sentindo em casa de novo. – Te amo, apesar de tudo. Você e Lauren poderiam apenas evitar agarrações na minha frente, até eu me acostumar com vocês juntas?

: - Certo, Tay, sem agarrações.

: - Obrigada!

: - E a propósito, eu também te amo.

Ficamos ali abraçadas por longos minutos, sem dizer nada. Precisávamos daquele momento para restabelecer intimidade, confiança, afinidade. Eu sabia que demoraria um pouco até Taylor se acostumar com a minha relação com Lauren, no lugar dela, talvez passasse pelo mesmo. Não a julgaria, mas também não aceitaria julgamento. Da minha vida cuidava eu, mais ninguém. Eu havia feito a minha escolha e seguiria até o fim. Antes decepcionar os outros do que me decepcionar. Aprendi na vida que o amor próprio vem em primeiro lugar, doar a quem doer.

O jantar foi servido as 20:00 em ponto com direito a três tipos de pratos diferentes. Eu nem preciso dizer que comi os três, e ainda repeti o mousse de chocolate de sobremesa. Quanto mais eu comia, mais Lauren ria, parecia encantada com a fome que eu sentia e eu fiquei me perguntando se ela nunca viu alguém comer tanto na vida. Era bom que ela se acostumasse porque comida era uma das minhas prioridades. Se eu estivesse comendo não havia tristeza. Eu poderia morrer, portanto que fosse depois de comer bastante, tudo certo, sem reclamações.

Depois do banquete que eu devorei, me senti cheia e preguiçosa. Pedi a mama Drea aquela vodka com limão, hortelã e gelo que só ela sabia fazer, e fui para a sacada do apartamento dos Jauregui's tomar um pouco de ar. Mani se juntou a mim enquanto Lauren conversava com Taylor e os pais.

: - Estava com Dinah, né? Sua mãe tava aqui puta da vida.

Comentei debruçada na grade revestida por vidros, bebericando um pouco da minha vodka. O mar de Ipanema estava calmo aquela noite, assim como o fluxo de pessoas no calçadão.

: - Estava. Tenho me encontrado com ela com frequência, não consigo largar o osso.

Mani riu divertida, batendo com seu ombro de leve no meu. Eu soltei uma risada, a olhando.

: - Não consegue largar a carne, né? Porque aquela ali tem de sobra. Gostosa pra caramba!

: - Ei! – Cai na gargalhada quando ela ergueu as sobrancelhas, colocando as mãos na cintura ao me encarar. – Olha lá como você fala do meu caso. Depois que chupou uma boceta quer chupar todas que vê pela frente, é? Toma tento!

Eu não conseguia parar de rir dela, o copo cheio em minha mão chegava a tremer. Dei mais um gole para molhar a garganta, antes de continuar a alfinetá-la.

: - Pensei que pudéssemos fazer um sexo a quatro. – A olhei de cima a baixo e mordi o lábio inferior. – Vai perder a chance de ir pra cama comigo?

: - Quando eu queria te comer, você não quis dar pra mim. Agora que te colocaram um chip na xota, não quero mais. Dorme com essa, fofa.

Normani jogou o cabelo na minha cara, ajeitando os peitos dentro do sutiã. Tinha como não amar aquela preta? Eu só sabia rir.

: - Okay! Fui dispensada. É aquele ditado...

Bebi mais um gole, voltando a me apoiar na grade.

: - Vamu fazer uquê? – Mani completou o meme e soltou uma risada, beijando a minha bochecha. – Você vai superar.

O que eu mais amava na minha amizade com Normani era que, entre nós, não havia tempo ruim. Estávamos sempre brincando uma com a outra, alfinetando, provocando. Nossa irmandade era enorme e nunca, nunca brigávamos. Quando discordávamos uma da outra, eu tacava um "foda-se", ela também e pronto, estava resolvido.

: - Quem sabe um dia. – Retribui seu beijo, oferecendo meu copo a ela, que pegou sem hesitar. – Mas me conta, como Dinah é? Digo, como vocês estão? Ela é romântica?

: - Ah, Mila, ela é as vezes. O que pra mim é bom porque você sabe que não curto muito romantismo. – Mani deu um gole na vodka, deslizando a língua pelos lábios. O vento soprava contra o seu rosto, bagunçando os seus cachos. – Eu gosto é de putaria e Dinah sabe como fazer uma. E ela não é aquela ativa chata, sabe? Em que a gente não pode nem encostar. Não mesmo! Ela me deixa fazer o que eu quiser e nunca conheci uma mulher assim. E aquele corpo, nossa senhora das bocetas molhadas... – Eu quase berrei, levando a mão sobre a boca para poder rir. Normani era hilária. – Só de lembrar eu fico doida. Ai, quero dar pra ela todos os dias e mesmo assim não vou me cansar.

: - Essa nossa senhora aí é nova, né? Tô precisando rezar pra ela também. – Nós rimos juntas, e eu peguei o copo de vodka de volta, bebendo o que restava. – Fico feliz que estejam se entendendo, Dinah parece ser gente boa e é alguém na sua altura de tudo. Vocês fazem um casal de arrombar.

: - A gente faz mesmo. – Ela sorriu convencida. – Você e Lauren também... Sério, Mila, nunca vi alguém se encaixar tanto com você quanto ela. Fico feliz que Taylor tenha entendido, quero ver você e a Jauregui mais velha juntas por muito tempo.

Me peguei sorrindo abertamente, desviando os meus olhos para o mar lá embaixo.

: - Eu tô muito besta por essa mulher, Mani. – Deslizei os dedos livres pelo cabelo, suspirando. – Descobri que amo romantismo. Eu que antes detestava até mesmo essa palavra. Ela é tão linda, doce, carinhosa, sexy, quente, selvagem, insaciável. Você vê o contraste? Ela consegue ser tudo isso ao mesmo tempo. Eu estou...

: - Tá apaixonada.

: - Ai, Normani! – Aquela frase chega me deu um choque, e meu coração disparou na mesma hora. Lá ia começar ela com aquele papo. – Não começa.

: - Não começa você, né monamour! – Ela rolou os olhos, negando com a cabeça. – Mas tá certo, vou esperar tu vir me contar isso e tudo o que eu vou dizer, é "Jura? Só tu não via isso, demente". Pela essa água de Jesus, hein Camila! Haja árvore pra ser cortada e te dar papel pra tu fazer de trouxa.

: - Você é tão delicada. Parece até filha de Iansã.

Ela sorriu de canto, sacudindo a cabeça de forma extrovertida.

: - Tenho certeza que é meu Orixá de cabeça. Isso explicaria tudo. – Mani se virou de frente pra mim, se afastando da grade. – Mas ó, para de enganar a si mesma. Assume logo pra ti o que tu já sabe, Mila. Pra que ficar negando? Vai adiantar de nada.

Eu ia responder, mesmo não querendo, mas ela me interrompeu e acariciou o meu ombro com rapidez.

: - Vou ficar com Taylor um pouco, sua mulher está vindo aí e não quero ficar de vela.

Mani me jogou um beijinho e se afastou, trocando um sorriso com Lauren quando esbarrou com ela na grande porta de vidro que dava para a sacada. Meu estômago revirou, aquela tremedeira que me atingia em todas as vezes em que ela se aproximava me pegou com força. Suas mãos estavam nos bolsos traseiros de sua calça. Seu cabelo, já quase todo seco, voou contra o seu rosto por conta da brisa que vinha da praia. Ela abriu um sorriso doce e cheio de ternura, me rendendo um suspiro.

: - Está frio aqui fora.

Seu tom de voz era baixo e calmo, me passando tranquilidade. Deixei o copo em uma mesinha ao meu lado e voltei a me apoiar na grade, sem conseguir tirar meus olhos dela.

: - Eu gosto, acho gostoso esse ventinho. – Lauren sorriu de canto, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Taylor te contou sobre a nossa conversa?

: Sim. – Um suspiro aliviado saiu de sua garganta. – Agora temos apenas que dar o espaço dela e esperar. Estou feliz por termos resolvido o assunto.

: - Eu também, detesto brigar com ela. A amo muito pra isso. – Pressionei os lábios, observando a forma que seus olhos se moviam enquanto ela olhava pra mim. – Ei, eu tô com saudade da sua boca.

Não consegui segurar o comentário, eu sempre fui tão impulsiva e as vezes sentia medo de assustá-la. Lauren passou os olhos por cima de seus ombros, se certificando de que estávamos sozinhas na sacada. Ela voltou seu olhar para mim, carregado de frustração.

: - Estou começando a me arrepender de não ter ficado em casa. Você poderia ter ido até lá pra dormir comigo. – Ela prendeu o lábio inferior entre os dentes, os ombros baixos. – Mas agora disse para meus pais que vou passar a noite aqui e se disser que vou embora sem mais e nem menos, vão ficar chateados.

: - Podemos resolver isso. – Eu disse quando uma ideia rápida se passou pela minha cabeça. Coloquei nos lábios um sorriso de quem iria aprontar e vi Lauren fazer aquela expressão de "lá vem...". – Vamos pegar quatro horas em um motel aqui perto. Vamos até lá, trepamos até cansar, voltamos e pronto. Seus pais ficam satisfeitos por você dormir aqui e nós também por gozar.

Os olhos de Lauren quase saltaram de sua face, e a vi negar umas duas vezes com as bochechas vermelhas. Ai, como ela era uma graça. Eu só conseguia rir e me encantar mais ainda.

: - Motel aqui no Brasil é aquele quarto em que as pessoas pagam para ter sexo, não é? – Sacudi cabeça em positivo. - Nem pensar, Camila! God damn it! Eu não vou pagar nada e nem ninguém para ter sexo, vou me sentir suja e estranha. Eu...

: - Lauren, ir ao motel é super normal, tão normal quanto a ir em qualquer outro lugar. – Expliquei com divertimento, adorava quando ela ficava envergonhada. – E se não for assim, não teremos como matar a saudade e eu não estou a fim de dormir sem foder bem gostoso com você.

Eu disse a parte final em um sussurro, mordendo o cantinho da boca e deslizando as pontas de meus dedos discretamente por cima de suas mãos, apoiadas no ferro da grade.

Ela respirou fundo e soltou o ar com lentidão, umedecendo os lábios e fechando os olhos de forma breve. Amava o jeito em que conseguia afetá-la, me enchia de tesão.

: - I don't know, Camila.

O nervosismo era visível pelo uso do inglês, e eu já me sentia mais do que agitada só por fazer a proposta.

: - Vai, eu prometo que você vai gostar, vou te deixar bem confortável... E molhada. – Lhe lancei uma piscadela com o olho direito, a fazendo sacudir a cabeça como se tentasse buscar o controle. – Você nem vai lembrar que está no motel.

: - Camila, você... – Lauren riu nervosa, olhando para dentro do apartamento, deslizando os dedos pelo cabelo e me olhando com pupilas dilatadas. Lá estava o desejo que eu queria. – Onde nos encontramos?

: - Isso! – Sorri vitoriosa, me virando de costas para a grade e me apoiando nela. – Me encontra no estacionamento em meia hora, estarei dentro do carro.

: - Okay...

Ela suspirou visivelmente ansiosa, trocando o peso das pernas sobre os saltos.

Me aproximei mais dela de forma discreta e sussurrei, perto de seu ouvido, antes de me afastar.

: - E vou te esperar sem calcinha.

: - You'll kill me.

O gemido que Lauren prendeu na garganta foi a deixa para eu a dar as costas, voltando para a grande sala de jantar com um jogo lento de quadril. Nada melhor do que a cartada final parar bem em suas mãos, não é?

Meia hora mais tarde eu estava trancada dentro do meu carro, me olhando no retrovisor para ajeitar o cabelo e o batom vermelho que havia retocado. Passei em casa e peguei uma pequena bolsa com peças íntimas limpas, para que pudesse trocar depois de tomar banho pra sair do Motel, junto com meu cartão débito. Lauren estava cinco minutos atrasada, e eu suspirei ansiosa ao encostar as costas em meu banco. A calcinha de renda vermelha que antes eu vestia, naquele momento, se encontrava enrolada entre os meus dedos. Abri um sorrisinho de canto imaginando a cara que Lauren faria ao ver que nem mesmo o meu vestido, quando sentada, deixei que cobrisse o meu quadril. Amava deixar aquela mulher enlouquecida, nada me dava mais prazer que isso.

Mais cinco minutos e vi Lauren sair do elevador no estacionamento com uma pequena bolsa de mão, andando apressada a procura do meu carro, olhando de um lado para o outro. Segurei uma risada e quando ela se aproximou, destravei as portas. Cinco segundos e ela estava dentro, ofegante e agitada.

: - Tive que inventar uma desculpara para meus pais de que ia sair para beber. Olha o que você me faz fazer, Camila, não tenho mais a sua ida...

Lauren iria continuar a resmungar, mas parou quando eu joguei com suavidade a minha calcinha em cima do decote dela. O olhar que ela me lançou me fez tremer inteira, e quando seus dedos se embolaram no tecido delicado e levaram a pequena peça até seu nariz, eu gemi. Ela aspirou o cheiro em minha calcinha de olhos fechados, deixando que um chiado baixo saísse de sua garganta.

: - Esse cheiro... – Ela gemeu, abrindo os olhos e me encarando tão intensamente que não pude me segurar. – Me deixa tão molhada.

Me debrucei sobre seu banco e a puxei pela nuca, beijando-a com todo o desejo que ela me fazia sentir. Suas mãos famintas foram para em minhas coxas, apertando e acariciando. Nossas línguas se embolavam desesperadas, e depois de manter aquele beijo por mais alguns segundos, a afastei de mim bruscamente, ofegante.

: - Não! – Ajeitei o cabelo, puxando o ar com força. Lauren me encarava com uma expressão que beirava a dor. As bochechas coradas me indicavam o nível de sua excitação, e aquilo era como um troféu pra mim. – Mantenha suas mãos para você até chegamos no Motel.

: - Você é uma provocadora do caralho. – Ela xingou o palavrão que aprendeu, carregado no seu sotaque americano e me fez acender mais ainda. Me ajeitei no banco e dei partida no banco, vendo-a inalar meu cheiro em minha calcinha mais uma vez. – Ah, quando eu te pegar, Camila... Holy shit!

Eu só esperava que ela acabasse comigo em cima da cama king size daquele motel. Aquela noite eu queria chegar em casa sem saber o meu nome, apenas me lembrar o dela, o qual eu gritaria até dizer chega.

Nós saímos de um motel no Leblon lá pelas duas da manhã, completamente exaustas e satisfeitas. Eu dirigia devagar pela orla vazia, deixando que a voz de Vanessa da Mata cantando "Ilegais" preenchesse o pequeno espaço que dividíamos. Eu não conseguia parar de sorrir, nem mesmo quando me ajeitava no banco e sentia todos os músculos do meu corpo doerem como o inferno. Acho que nunca fodi tanto em tão pouco tempo. Tinha certeza que levaria um tempo bem maior para realizar as minhas tarefas no dia seguinte.

Lauren olhava pela janela, um dos braços atrás da cabeça e a outra mão sobre a minha coxa direita, mantendo uma carícia suave e gostosa. Quando parei no sinal vermelho, descansei minha mão sobre a dela, apertando de leve. Ela me olhou com um sorriso, os olhos cansados.

: - Como se sente?

Perguntei interessada, queria saber o que estava se passando em sua cabeça, o que ela havia achado da nossa noite. Sua opinião importava muito pra mim.

: - Cansada, muito. – Eu ri compreensiva, arrastando o dedão em sua pele. – Mas satisfeita como sempre fico quando ficamos juntas.

Abri um sorriso pequeno, daqueles que eu só oferecia a ela, cheio de emoção e cumplicidade. Puxei sua mão na direção de meu rosto e beijei seus dedos.

: - Viu? Eu disse que você iria gostar. – Coloquei sua mão de volta em minha coxa quando o sinal abriu, acelerando o carro e focando os olhos na estrada. – Não há nada de estranho em pagar para ter sexo em um motel.

: - Isso era um tabu pra mim, Camila. – Ela comentou não muito orgulhosa. – Mas olha só você, novamente, quebrando mais um dos meus tabus.

: - Eu estou aqui pra isso, para quebrar todos os seus tabus. – A olhei de esguelha e vi que sorria. – Não se sentiu selvagem? Eu sempre me sinto quando vou ao motel. Amo aquela áurea sexual, o espelho no teto, a forma em que tudo se encaixa para que a excitação ocorra sem freios.

: - Confesso que sim. – Lauren riu sem graça e eu a acompanhei na risada, virando a direita, mantendo as duas mãos no volante. – No começo fiquei envergonhada e desconfortável, mas depois... Achei maravilhoso, nada como foder com você e nos ver naquele espelho no teto. Eu poderia colocar um daqueles no meu quarto, com toda a certeza.

: - Ótima ideia, eu aprovo. – A olhei rapidamente, piscando um dos olhos. – Vamos fazer do seu quarto um verdadeiro motel para evitar transtornos.

: - Ah, Camila... – Ela ria descontraída, e deu um leve aperto em minha coxa. – Você me deixa leve.

: - E feliz?

Mordi o lábio inferior, avistando o meu prédio mais a frente.

: - E feliz, principalmente. – A olhei. – Muito feliz.

Aquilo sim, aquilo que realmente importava. Nós ficamos em um silêncio confortável até entrarmos no estacionamento do prédio, onde vi Lauren soltar uns palavrões depois de olhar o celular.

: - Oh my God, oh my! – Ela deslizou os dedos pelo cabelo, suspirando. Estacionei em minha vaga e desliguei o carro. – Olha a hora, Camila... Eu trabalho amanhã ainda. Jesus Cristo! Estou parecendo uma adolescente fazendo loucuras.

: - Ei! – Chamei dengosa, me debruçando em sua direção e selando seus lábios avermelhados. – Relaxa! Você pode fazer o que quiser, uh? Desde coisas sensatas, até loucuras. Essa é a parte boa de viver.

Ela acariciou o meu rosto com delicadeza, depositando um beijo casto em minha boca.

: - Obrigada por estar me mostrando isso. – Retribuí o beijo, demorando mais um pouco com o contato. – Mesmo que no final eu sempre lembre das minhas responsabilidades, saiba que sou muito grata por você estar me tirando na minha zona de conforto. Eu acho que precisava disso.

: - Todo mundo precisa disso. – Beijei sua bochecha e acariciei seu cabelo. – E eu farei isso por você enquanto me permitir.

: - Como se você precisasse de permissão para fazer alguma coisa, né garota? – Eu soltei uma risada de suas sobrancelhas erguidas e acabei negando com a cabeça. – E é disso que eu mais gosto em você. Não quer saber de nada, vai lá e faz. E sempre faz com que eu goste e queira repetir. Então, se quer permissão, tem a minha por muito e muito tempo.

: - Eu não esperava menos do que isso.

Suguei seu lábio inferior para dentro da minha boca e nós iniciamos um beijo lento, profundo e com aquele gostinho de saudade antecipada. As mãos de Lauren se perderam entre as minhas mechas de cabelo, e eu saboreava sua língua quente com chupadas demoradas e suaves. Ela gemia baixinho contra os meus lábios, me deixando fazer o que eu queria. Terminei o beijo com uma sequência de selinhos e ela me puxou para um abraço apertado em seguida, inalando o meu cheiro em meu pescoço.

: - Preciso ir, linda! – Ganhei um beijo na bochecha. – Acho melhor subirmos separadas, okay? Algo contra?

: - Não, não. – Me afastei contra a minha vontade. – Acho melhor mesmo pra evitar problemas.

: - Está bem, então... Me avisa assim que chegar, okay? – Concordei com um sorriso, destravando as portas. – Amei muito nossa noite, podemos repetir quando quiser.

: - Muito bem. – Ela riu com as bochechas coradas e eu a dei um selinho rápido. – Agora vai. E tira esses saltos pra não fazer barulho.

: - Pode deixar. – Lauren abriu a porta, pegou sua bolsa no banco de trás saiu, se abaixando para me olhar da janela. – Assim que eu entrar no elevador, você vai.

: - Certo!

A mandei um beijinho e ela retribuiu, se afastando e começando a andar na direção do elevador no final do estacionamento. Fiquei a observando o tempo todo, o sorriso não saía da minha cara. Do jeito que combinamos, eu fiz e logo já estava dentro do meu apartamento, trancada em meu quarto e retirando a roupa para dormir nua, do jeito que eu gostava. Ao me deitar na cama, com Elis do lado, peguei o meu celular para enviar uma mensagem a Lauren.

"Em casa, no meu quarto e segura. Obrigada por hoje, as marcas vermelhas que você deixou no meu corpo com suas mãos não vão me deixar esquecer tão cedo o quão boa você é na cama e fora dela. Boa noite, Lauren! Até amanhã. Não posso parar de pensar em você."

Dois minutos e meu celular vibrou, indicando uma resposta. Sorri antes de ler.

"Há uma música tocando agora no aleatório de uma playlist no spotify e tenho certeza de que foi feita pra você.

'Menina veneno, você tem um jeito sereno de ser, e toda noite no meu quarto vem me entorpecer. '

Talvez eu deva te chamar assim agora. Um veneno é exatamente o que você é pra mim, Camila. E eu amo cada vez mais beber de você.

Boa noite! Também não posso e não vou parar de pensar em você."

Aquela foi, sem sombra de dúvidas, a melhor mensagem seguida da melhor noite de sono que eu já tive em toda a minha vida.

Quase uma semana depois ~

Eu olhei para a grande ladeira iluminada a minha frente e suspirei, pensando na maravilhosa forma de começar aquela noite de sábado.

: - Camila, talvez não seja uma boa ideia.

Ouvi a voz de Lauren ao meu lado e abri um sorriso divertido, pegando em sua mão.

: - Não é uma boa ideia, realmente. – Ela me olhou apreensiva. – É uma ótima ideia, quase perfeita. Hoje sim você vai ver o que é calor humano e diversão.

Sem esperar para uma resposta, a puxei para frente, onde começamos a andar para encontrar Normani e Dinah.

Um taxi havia acabado de nos deixar nos pés do Cantagalo, e eu estava levando Lauren para um famoso baile de favela. Só contei para ela o nosso destino quando estávamos na metade do caminho e não tinha mais como ela esbravejar e fugir. Eu estava tão animada que mal podia me conter. Fazia tempos que eu não subia o morro para ir em um baile funk, e voltar a fazer isso na companhia daquela americana caseira era fenomenal.

No decorrer daquela semana, recebi uma ligação de Normani, me dizendo que a associação dos moradores no morro do Cantagalo iria realizar um baile beneficente, onde a entrada seria paga por um kg de alimento não perecível ou cinco reais em dinheiro, para ajudar uma ONG da favela voltava para crianças carentes. Eu achei uma causa linda e uma ideia super excitante, e prometi a nega que Lauren e eu iríamos sem duvidas. Normani comemorou e disse que levaria Dinah, e que nos esperaria em frente a uma quadra de futebol enorme lá em cima no morro, onde ocorreria o baile. E era pra lá que estávamos indo naquele momento.

: - Anda, Lauren!

Comentei enquanto a puxava, já ofegante pela subida.

: - Meu Deus, Camila! Você não pode estar mesmo me levando para um baile funk. Não quero acreditar nisso. – Eu ri da cara incrédula que ela fazia, ofegando e lutando para acompanhar meus passos. – Você é louca. Eu nem mesmo sei dançar isso, eu...

: - Relaxa, gringa, você vai se acabar na favela.

Nós continuamos a subir as escadas intermináveis, desviando das pessoas, onde eu ia cumprimentando outras.

: - Por que eu deixo você mandar em mim? Eu não sei.

Passamos por uma barraquinha de bebidas e eu decidi parar para comprar uma caipirinha.

: - Para de resmungar feito uma velha e só enche a cara. – Ela me olhou com olhos estreitos e eu gargalhei, pedindo ao moço da barraquinha dois copos de caipirinha com bastante gelo e cachaça 51. Caipirinha com vodka só quem bebe é gente fresca. – Ai, você vai amar isso aqui, Lauren. Se você não gostar, a gente fica sem foder por uma semana.

Ela riu do que eu disse e negou com a cabeça, olhando ao seu redor.

: - Esse seu short não está muito curto não? – Suas sobrancelhas estavam erguidas e ela me avaliou de cima a baixo. – Já contei uns cinco que passaram aqui te comendo com os olhos.

Sabia que ela ia implicar com a minha roupa. Eu usava um short jeans preto, bem curto e justo. Um cropped branco que deixava a minha barriga de fora e tênis branco com três listras pretas nas laterais.

Me aproximei de seu ouvido e sussurrei.

: - Ainda bem que só você me come com os dedos, né?

Sorri maliciosa e ela xingou uns palavrões em inglês, sacudindo a cabeça para espantar pensamentos. Ser hilária era o que Lauren tinha de melhor.

Mais um tempinho esperando e o senhor da barraquinha me entregou dois copos de plástico transparente, de 500 ml, com caipirinha até a borda. Coloquei dois canudos verdes e entreguei um a Lauren, pagando por elas em seguida. Dei "tchau" ao moço e nós voltamos a andar.

: - Porra, que delícia!

Eu saboreei o líquido adocicado e ao mesmo tempo amargo em minha boca, sentindo-o descer queimando a minha garganta por causa da 51.

: - Isso está tão forte. – Lauren tinha seus olhos cheios de lágrimas, e eu sorri enquanto bebia. – Mas é gostoso.

: - Sabia que ia gostar. – Larguei o canudo e peguei sua mão livre com a minha. – Agora vamos logo. Mani já deve estar impaciente.

Mais cinco minutos de caminhada e nós avistamos a quadra coberta. O volume do som lá dentro era enorme e eu podia ver luzes coloridas girando no teto. Eu já queria dançar, não podia ouvir um funk que ficava louca. A vida é muito curta pra gente fingir que não gosta de rebolar a bunda ao som de um batidão, né?

Vi Normani e Dinah paradas perto da entrada e logo acenei animada, puxando Lauren com um pouco mais de pressa.

: - Mila! – Normani gritou e se chocou contra mim, me apertando em um abraço sufocante. – Já estava estressada pela demora, mas te perdoou só por causa dessa roupa. – Mani me afastou pelos ombros e me avaliou de cima a baixo. – Tá gostosa pra caralho nesse shortinho. Deus te crie!

: - Babaca! – Soquei seu ombro com a mão livre, a avaliando também. Ela usava um short como o meu, mas na cor branca. Uma blusa apertada de um ombro só e com um decote generoso, vermelha. – O elogio serve pra você também.

Ela sorriu convencida e me deu espaço para cumprimentar Dinah, que estava um arraso em um tubinho preto que realçava todas as suas curvas. Que mulherão!

: - E ai, Jauregui, tá preparada pra rebolar a bunda até o chão hoje?

Dinah perguntou risonha e enlaçou Normani pela cintura. Olhei para a gringa ao meu lado e ela chega se engasgou com a caipirinha.

: - O quê? – Nós rimos da cara dela enquanto ela tossia, levando a mão ao peito. – Não, não, não mesmo.

: - Ah, que isso, Lauren? – Eu só conseguia rir acompanhada de Normani. – Você tá uma verdadeira carioca nessa calça jeans rasgada e apertada, sem contar nesse decote maravilhoso aí. Só falta rebolar no pancadão.

: - O que seria isso?

Lauren me olhou apavorada e nós gargalhamos, onde fiz questão de acariciar seu rosto para acalmá-la.

: - Você vai ver. – Olhei para as meninas. – Vamos entrar? Tô cheia de fogo já.

: - Vambora!

Mani puxou Dinah e eu puxei Lauren, onde entramos uma por uma na quadra de futebol quase lotada, depois de pagar e de sermos revistadas por dois seguranças.

A voz do Mc Bola em "Descontrolada" preenchia o ambiente e Normani já chegou deixando claro que a música era dela.

: - "DJ solta o tamborzão e deixa o pancadão rolaaaar, deixaaa, deixaaa. A menina tá dançando e não para de rebolaaar, deixaaa, deixaaa."

Ela cantou colocando as mãos para o alto e rebolando, fazendo a gente rir.

As pessoas dançavam e riam por todos os cantos, e nós paramos uma ao lado da outra bem no fundo. Ainda com o copo de caipirinha na mão, pela metade, eu comecei a rebolar na frente de Lauren, assim como Normani fazia na frente de Dinah. Nós sorríamos uma para a outra porque tínhamos noção de que estávamos provocando as mulheres atrás de nós, e aquela era a intenção. Havia uma espécie de palco onde o DJ controlava o ritmo e todo mundo gritava cada vez que ele mudava algo. Eu amava aquele calor humano, amava aquela gente, amava a simplicidade, queria que Lauren conhecesse o outro lado da moeda mais fundo, que se encantasse por ele o tanto que eu era encantada.

Meu corpo começou a suar enquanto eu rebolava, levando as mãos aos joelhos e indo até o chão ao som da batida. Sentia a mão de Lauren me acariciar a cintura vez ou outra, e me virava para ver a expressão em seu rosto. Sob as luzes coloridas do lugar, seus olhos brilhavam em euforia, e eu sabia que o teor alcoólico da caipirinha havia começado a fazer efeito nela. Ela não dançava, ao contrário de Dinah, mas me observava com devoção e me tocava o tempo inteiro, me incentivando a rebolar cada vez mais pra ela. Roçava a minha bunda em sua boceta por cima do jeans, deslizava a mão pelo cabelo, mandava beijo por cima dos ombros, sussurrava em seu ouvido a letra do funk proibidão que tocava. Ela estava louca, e eu vi isso quando seu corpo grudou em minhas costas e começou a acompanhar o ritmo junto comigo.

Normani e Dinah se atracavam enquanto dançavam, praticamente engolindo uma a outra de tanto que se beijavam e se esfregavam. Era quase um pornô. Eu sorri fechando os olhos, perdida naquele momento, sorrindo e me arrepiando ao sentir o nariz de Lauren se arrastando em minha nuca. Mas foi quando o funk atual deu lugar ao funk antigo que o clima naquela quadra passou de erótico para romantico. "Fico assim sem você", nas vozes gostosas de Claudinho & Buchecha tomou conta, e todo mundo se juntou em pares para dançar coladinho. Eu amava aquela música. Que saudade daquela época.

Me virei de frente pra Lauren e ela sorriu pra mim, deslizando as mãos por minha cintura quando eu enlacei seu pescoço com os braços. Encostei meu rosto ao dela e nós nos embalamos ao som da música, fazendo meu coração acelerar.

: - "Eu te quero a todo instante, nem mil alto-falantes vão poder falar por mim".

Cantei em seu ouvido, envolvida o bastante com aquele momento para me controlar, para me envergonhar, para me impedir de dizer o que sentia mesmo que fosse através de uma letra de música. Lauren abraçou a minha cintura com mais força enquanto girávamos lentamente, beijando o meu pescoço com carinho. Fechei os olhos.

: - "Eu conto as horas pra poder te ver, mas o relógio tá de mal comigo."

Continuei cantando, a abraçando pelo pescoço, meu corpo colado ao dela como se pudéssemos nos fundir. Não conseguia entender o motivo de meu coração estar tão acelerado, e nem mesmo como o dela batia da mesma forma contra o meu peito. Suas mãos acariciavam as minhas costas e enquanto a música rolava, nós desfrutávamos do sentimento que passou a nos unir sem pedir permissão. E era bom, muito bom.

: - Camila... – Ela descolou nossos rostos para me olhar, e eu me vi caindo de um precipício ao ver o que ela carregava nos olhos. Lauren umedeceu os lábios e tocou meu rosto com uma das mãos, acariciando. – Eu...

: - Shiii! – Interrompi, negando com a cabeça. – Não diz nada agora.

Senti medo do que ela iria dizer, senti medo do que aquilo significaria para nós, senti medo do amanhã quando ela estivesse sóbria e ciente dos seus atos. Senti medo de que ela esquecesse, de que tivesse dito sem pensar, de que não fosse o momento certo. Então, a beijei, a beijei trêmula e apavorada. Pela primeira vez eu me sentia assustada em relação a nós, e não queria que o que tivesse para ser dito fosse dito sob efeito de álcool ou pressão. Eu estava assustada porque me dei conta do que sentia por ela, e nada me pegou mais desprevenida na vida do que isso, até então.

Nosso beijo durou por todo o resto da música, lento e cheio de coisas novas. Adorava como ela fazia eu me sentir, meu estômago vibrar e a minha cabeça rodar. De olhos fechados, as luzes coloridas refletiam em minhas pálpebras, e aquela letra melosa em minha mente se repetia e repetia me deixando cada vez mais nervosa. Terminei o beijo com uma mordida em seu lábio inferior, e nós nos olhamos profundamente sob o globo espelhado que girava no alto.

Lauren sorriu, sua embriaguez era leve e a deixava ainda mais bonita.

: - Você é linda! – Ela disse um pouco alto por conta da música que começou a tocar, me fazendo abrir um sorriso enorme. – Muito, Camila. Nunca vou cansar de dizer.

Não respondi nada e apenas a abracei, enterrando o meu rosto na curva de seu pescoço. Ficamos ali, abraçadas e sem ligar para o que acontecia ao nosso redor por um bom tempo. O baile rolava a todo vapor, e parecia que havíamos sido abduzidas para outro lugar, um lugar que só existia eu e ela.

Já era quase quatro da manhã quando nós saímos do baile, cheias de fome e extremamente cansadas. Lauren era só risadas e piadas, estava solta como nunca vi. Normani estava bêbada louca, sendo amparada por Dinah que não estava muito atrás. Nós descemos até uma barraquinha para comer um podrão digno e matar a fome, e nos sentamos em uma mesa com quatro cadeiras.

: - Vai querer o que, Camila? Vou fazer os pedidos.

Dinah me perguntou ao colocar Normani sentada ao meu lado, que começou a rir sei lá do que com Lauren. Eu estava achando maravilhoso, não tinha preço presenciá-la curtindo um baile de favela.

: - Quero um x-tudo e uma coca em lata, e... - Olhei para a mulher ao meu lado que falava em inglês com uma Normani que, com certeza, não tava entendendo é nada, mas concordava com tudo. – E você, vai querer o quê?

: - Eu? – Sacudi a cabeça em positivo. – Tem cachorro-quente aqui? – Sacudi a cabeça de novo. – Então eu quero um com todas aquelas coisas dentro.

Sorri animada, mordendo o lábio.

: - Assim que se fala. – Me voltei para Dinah. – Um x-tudo, um cachorro-quente e duas cocas em lata.

: - Certo! Volto já.

Dinah beijou a cabeça de Normani foi na direção do cara da barraquinha, deixando nós três ali.

: - Lauren, tu tem noção que Normani não entende inglês, né? – Perguntei prendendo o riso. – Olha a cara dela de que não está entendendo nada do que você está falando.

: - God! I'm sorry. – Lauren sacudiu a cabeça rindo, levando a mão até a boca e me olhando. Suas bochechas estavam vermelhas e ela parecia tão mais viva, tão mais feliz. – Eu comecei a falar em inglês com ela e nem percebi, e pior que ela estava concordando com tudo o que eu falava. – Ela se debruçou sobre a mesa e olhou para Normani. – Me desculpe, Normani! Você entendeu alguma coisa do que eu disse antes?

: - Porra nenhuma. – Eu gargalhei. – Mas tá tranquilo, eu tava achando lindo. Pode continuar.

Mani mexeu no cabelo, bagunçando seus cachos armados. Ela ficava hilária bêbada, não ia lembrar de nada depois. As pessoas desciam o morro e muitas pararam pra comer onde estávamos, lotando o lugar. Dinah voltou e se juntou a nós, onde iniciamos uma conversa animada sobre curtir uma praia no dia seguinte depois das dez da manhã.

: - Camila? – Ergui as sobrancelhas ao ouvir aquela voz atrás de mim e me virei para descobrir quem era. – Estava pensando se era você ou não, mas não tem mesmo como te confundir.

Ah, não! Quase rolei os olhos, mas abri um sorriso forçado e me levantei da cadeira, fazendo a educada para dispensá-lo logo.

: - Oi, Cadu. Tudo bem?

Perguntei querendo ser rápida e ele me deu um beijo na bochecha, segurando em minha cintura com uma das mãos. Me afastei.

: - Melhor agora, né? Você sumiu, gatinha, me deixou na mão. O que houve?

Puta que pariu, viu! Cadu foi a última foda que eu tive antes de começar a me envolver com Lauren, e como sempre, fui embora do motel logo pela manhã antes mesmo dele acordar. Éramos "amigos" antes de rolar, e depois que rolou, nunca mais o procurei para evitar exatamente o que estava acontecendo naquela hora.

: - Iiiih, vai dar caô.

Ouvi a voz de Normani soar baixa atrás de mim e passei meus olhos de forma rápida pela mesa. A cara de Lauren, meu Deus... Nossa, por Oxum! Se olhar matasse, Cadu já estaria morto a sete palmos embaixo da terra. Sorri amarelo e me virei pra ele.

: - O que houve foi que rolou e eu fui embora depois, ué! Simples! – Cocei a nuca, desconfortável. Ele me comia com os olhos, e eu me sentia enojada com aquele olhar. Cadu era moreno, bem alto, olhos verdes, forte e careca. Ele era modelo e muito bonito, mas aquela beleza, naquele momento, não enchia os meus olhos de forma alguma. Eu só sabia pensar que queria que ele sumisse. – Então Cadu, como você vê, estou com amigas e já estamos indo. Se cuida, hein! E manda beijo para os meninos.

Me referi a nossos amigos em comum e fiz menção de me afastar para voltar a me sentar, mas ele foi mais rápido e me pegou pela cintura, fazendo os meus olhos quase saltarem do meu rosto.

: - Por que tanta presa, amor? – Fechei a cara e empurrei seu peito usando força com as mãos, mas a expressão em seu rosto deixou claro que ele achava que eu estava fazendo charme. – Você tá gostosa demais nessa roupa e aquela nossa sacanagem foi ótima. Por que não repetimos?

: - Cadu, me solta!

: - Com licença. – Ouvi a voz de Lauren atrás de mim, tão rouca que chamou não só a minha atenção, mas a dele também. – Você vai soltar a minha mulher agora, ou teremos que resolver de outra forma?

Eu ouvi Dinah e Normani repetindo "Uow uow uow" sem parar e meu coração queria sair pela boca. O empurrei de novo, dessa vez mais forte e ele me soltou, encarando Lauren como se não acreditasse no que ela estava dizendo. Que nojo eu estava de ter ido pra cama com ele. Primeiro arrependimento da minha vida.

: - Mulher, é? – Ele perguntou chocado, passando seus olhos entre eu e ela. – Okay, okay, não quero arrumar confusão aqui na favela.

Lauren passou um braço pela minha cintura com possessividade, me puxando para ela e me encarando com a expressão séria.

: - Você está bem?

Ela perguntou preocupada, alisando o meu rosto.

: - Agora sim. – Sorri para confortá-la.

Cadu tinha as mãos na cintura, e Lauren selou os meus lábios antes de se dirigir a ele.

: - Se algum dia você ver Camila andando na rua, atravessa para o outro lado para não esbarrar nela. – Seus olhos estavam furiosos, nunca a tinha visto daquele jeito. Dinah estava de pé atrás de Lauren, e eu tinha certeza que era por precaução. – Caso contrário, eu vou fazer questão de te ensinar que não se sai agarrando a mulher dos outros. Estamos conversados?

Seu nariz empinado e a expressão fechada deixaram claro para Cadu que ela falava sério, e ele apenas soltou uma risada um pouco embriagada, levando as mãos ao ar.

: - Ei, tudo bem, gata. – Lauren torceu o nariz para o jeito em que ele a chamou. – Sem agressão. Tô caindo fora, okay? Tchau, Camila!

Não retribui o sorriso que ele me ofereceu, e apenas o observei andar na direção de um grupo de amigos que o esperava.

: - Puta que pariu, Jauregui! – Dinah caiu na gargalhada junto com Normani. – Tu colocou o cara pra correr com o rabo entre as pernas. Isso que eu chamo de poder.

: - Segura essa marimba aí, monamour!

Normani gritou para um Cadu que já estava distante, e eu só conseguia encarar Lauren incrédula, assim como as outras pessoas presentes naquela barraquinha. O que foi aquilo? Eu estava surpresa e ao mesmo tempo maravilhada. Que mulher!

: - Está tudo bem, Lauren!

Acariciei seu rosto, a vendo desfazer a ruga entre as sobrancelhas

: - Não vou deixar ninguém mexer com o que é meu, nunca.

: - E eu sou sua?

Ela sorriu convencida, mas sabia que estava falando sério.

: - É!

E eu era mesmo.

E você aí, ainda possui dúvidas de que eu passei a ser dela, somente dela?

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