Pronta para Casar - Degustação

By LKWiatrow

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Isabel tem uma vida rotulada por muitos como perfeita. Linda, rica e com o casamento marcado com o príncipe e... More

Pronta para Casar
Prólogo
Parte I
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Comunicado

Capítulo 4

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By LKWiatrow


Cumbuco é pequeno, parece uma vila de pescadores desenvolvida. Na verdade, acho que é isso mesmo que ela é. Têm muitos restaurantes, bares e lojinhas com produtos regionais abertas até mais tarde para os turistas. Caminhamos entre uma rua e outra sem falar nada, apenas caminhamos. Vejo uma loja com chinelos Havaianas, corro como uma criança. Sempre quis ter um.

— Preciso de um desses!

— De um chinelo?

— SIM! Sempre quis ter um!

— Você não tem um chinelo de dedo?

Beto deve estar achando que sou algum E.T.. Não sei como justificar que tenho chinelos de dedo, mas eles não são Havaianas. Como explicar que minha mãe não considera eles femininos o suficiente? Todo mundo, no mundo inteiro, tem ou quer ter um chinelo Havaianas, minha mãe acha muito popular para uma princesa como eu.

— É difícil explicar — falo, escolhendo o mais chamativo. Cansei de roupas em tom pastel e nude. — Meu Deus! Olha esse que lindo! É xadrez! E esse de bolinhas, não é lindo?

Não espero ele responder, separo os dois. Nunca fiquei tão feliz na minha vida escolhendo sapatos Jimmy Choo, Miu Miu, Roger Vivier, Gianvito Rossi ou qualquer outro considerado apropriado para mim.

— Você foi rápida. Normalmente as mulheres são tão indecisas. — Beto comenta quando sentamos em uma mesa de plástico em um bar qualquer. — Vai querer cerveja?

— Eles têm aquelas canecas de cerveja de um litro?

— Que porra é essa? Claro que não. Eles vendem em garrafa e servem em copo americano.

Não sei o que quer dizer copo americano, mas isso vai ter que servir. O bar não tem garçom, temos que ir até o balcão buscar o pedido. Quando vejo o copo começo a rir, isso não pode ser americano, com certeza americanos não bebem nesse tipo de copo.

Estava em dúvida se o convite do Beto para dar uma volta era tipo um encontro. Em menos de meia hora decido que isso não pode ser um encontro. Saímos a pé, ele não puxa a cadeira para eu sentar, não paga a conta sozinho e arrota, sem cerimônias, após tomar a segunda cerveja.

— Tá se sentindo melhor? — Ele pergunta.

Fico assustada, não imaginei que ele havia percebido que não estava bem.

— Um pouco — confesso. — Devo alertá-lo que amanhã não será um bom dia.

— Posso ajudar com isso, se quiser. A limpeza lá de casa ficou boa pra caralho, não quero perder minha faxineira. Você trocou meus lençóis!

Sorrio com a parte da troca de lençóis.

— Os que estavam na cama estavam criando vida própria.

— Estavam mesmo. Vale o esforço em tentar ajudar.

— Desculpa, não quero desapontá-lo, mas acredito que você não conseguirá me ajudar.

— Posso tentar. Com o que estou lidando?

Penso em dizer para ele deixar para lá. Nada vai diminuir a triste e a dor que vou sentir no horário que seria para eu estar entrando na igreja para aceitar o Ricardo como meu marido. Por outro lado, se decidi que quero ser uma pessoa diferente, preciso fazer coisas diferentes.

— Quero aprender a assobiar, ir à um pub estilo irlandês, com música folk e cervejas em canecas de um litro. Quero dançar até perder a ponta dos meus dedos, quero comer um hambúrguer cheio de gordura. Quero fazer tudo isso, usando uma calça jeans e um All Star.

— Não era isso que eu imaginava ouvir.

Sei que ele esperava que eu contasse o motivo de amanhã não ser um bom dia, mas não quero falar sobre isso com ele, nem com ninguém. Ele analisa meu rosto e seu sorriso acaba aparecendo no final.

— Fechado! Chego do trabalho às duas da tarde.

Ficamos no bar por mais algum tempo e voltamos para casa pela areia da praia. Beto tinha razão, a noite está linda!

Mesmo tendo tomado algumas cervejas, ter dormido pouco na noite anterior e ter me movimentado muito durante o dia, meu sono não vem. Levanto duas vezes para ir ao banheiro e o desconforto do sofá me irrita. A única coisa em que consigo pensar é no Ricardo. Será que ele está triste? Preocupado? Será que um dia ele vai conseguir me perdoar? Sinto saudades dele, dos seus olhos brilhantes, do seu jeito calmo de falar. Sinto falta dele.

Vejo os primeiros raios de sol, entrando pela pequena janela da cozinha antes de finalmente cair no sono.

Acordo com a porta sendo triturada contra a parede. Beto chega do trabalho e entra em casa como um hipopótamo de patins entraria em uma loja de cristais.

— Foi mal — ele diz quando vê que eu ainda estava dormindo. — Achei que estaria pronta para a gente sair.

— Vamos sair agora?

— Vou tomar um banho antes.

Ele vai para o quarto e começo a pensar que roupa vou vestir. Não tenho calça jeans e muito menos um All Star, nunca usei tênis. As roupas que eu trouxe comigo não servem para nada. Onde vou usar saias lápis, camisas de seda, vestidos de linho e blusa de cashmere?

Ontem para sair com Beto, coloquei uma saia com uma camiseta dele, até que não ficou tão ruim, mas não posso ficar usando as camisetas que pego emprestada para sempre.

Confiro o dinheiro que tenho, a soma é um pouco menos que dois mil reais, mas tenho que pensar que preciso comer e ter uma reserva, caso o Beto canse de mim na casa dele, e roupas são caras.

— Ainda está sentada aí?

Me assusto com a voz do Beto. Tento esconder o dinheiro e ele revira os olhos.

— Não vou roubar sua grana, se é isso que está pensando — diz, indo até a geladeira. — Se eu quisesse já teria pego.

Faz sentindo.

— Preciso comprar roupas para sair hoje.

— Quanto quer gastar?

— O mínimo possível.

— Dou um jeito nisso. Agora toma um banho e coloca outra camiseta minha.

Ele é estranho, fechado e não sorri sempre. Às vezes parece que ele não gosta da minha presença na casa, nem de emprestar suas roupas, mas aí ele vai lá e oferece.

— Pega uma que não esteja passada, assim vou ter mais camisetas limpas e passadas.

Ele não é estranho, ele é muito estranho.

— Não sei se vou conseguir comer tudo isso — falo quando meu pedido chega. — É o maior hambúrguer que já vi, ainda tem as batatas fritas e os anéis de cebola.

Ele não responde.

Estamos sentados em um bar perto do Dragão do Mar, na Praia de Iracema em Fortaleza. Dragão do Mar é um centro cultural e de arte. Conheci o lugar com o Ricardo, por isso pedi para não sentarmos nos bares que tem no local. Definitivamente, não é um bom dia para lembrar as horas que passei aqui com a pessoa com quem eu deveria estar casando hoje.

Beto me trouxe para fazer compras em uma loja de uma amiga dele. São roupas de segunda mão com um valor inacreditável. Comprei uma calça jeans, um All Star, várias camisetas, dois shorts e dois vestidos leves por menos de trezentos reais. O meu antigo chinelo de dedo, sozinho, custou mais do que tudo isso.

— O gosto disso é ótimo, muito melhor do que eu imaginava.

— Você nunca comeu um hambúrguer?

Dessa vez, quem não responde sou eu. Como explicar que minha mãe não aceitaria eu comer uma bomba gordurosa como essa?

Eu sei, soa estranho, tenho idade suficiente para escolher minha comida, mas sempre tive que escolher quais seriam minhas batalhas, comparado com o meu futuro, um hambúrguer não parecia algo importante.

Beto faz um movimento para a garçonete e uma caneca gigantesca de cerveja surge na minha frente.

— Oh Deus! Era disso que eu estava falando!

Preciso segurar com as duas mãos a caneca, bebo com tanta vontade que me engasgo um pouco.

— Desculpa — falo, quando consigo parar de tossir. — Você não vai beber?

Ele está sentado na minha frente apenas me observando. Não comeu nada, não bebeu nada, não falou muito e frequentemente mexe no celular.

— Estou dirigindo. — Ele olha para os dois lados, coça a cabeça e faz um coque frouxo nos cabelos. — Ainda quer dançar até perder a ponto dos dedos?

— Com certeza!

— Só dançar? Apenas diversão?

— Sim, apenas diversão.

— Vou te levar ao melhor lugar para isso. Tente manter a mente aberta, gata.

Termino de beber toda a cerveja e sinto um leve formigamento no corpo, não estou acostumada a beber tanto.

Vamos caminhando até o lugar que o Beto quer me levar. A boate parece animada e um pouco chique demais. Estou usando uma calça jeans, camiseta e os tênis que comprei mais cedo, nunca fui vestida assim para uma boate.

Já estive em boates, mas sempre impecavelmente vestida, maquiada e com um camarote reservado. Beto não parece o tipo de cara que reserva uma área privativa.

— Não estou muito malvestida?

— Antes você queria vestir isso, agora está preocupada — resmunga. — Ninguém vai se preocupar com o que está vestindo.

O lugar é fabuloso. Lustres com cristais gigantescos pendem do teto, há muito brilho, luzes e animação. Todos estão dançando e ninguém parece preocupado com o que estou vestindo. Beto tinha razão, aqui o importante não são as roupas.

— Vou comprar uma cerveja para você, te encontro na pista — Beto diz.

A pista está lotada, corpos se movimentam, se encostam e se misturam. É fascinante. A música que está tocando pulsa junto com meu coração e os corpos me empurram para um lado e outro, a sensação é extasiante.

Nunca estive numa pista, junto com todos. Quando fui a boates, ficava apenas na área vip com os amigos do Ricardo. Eles sempre falavam como era horrível sentir as pessoas suadas encostando umas nas outras. Não estou achando horrível. É contagiante! Vibrante! Feliz!

Não sei como dançar. Observo um pouco as pessoas ao meu redor, depois esqueço isso. Fecho os olhos e deixo fluir. Deixo o som penetrar na minha pele, no meu corpo, na minha alma.

Não sei quanto tempo passa até o Beto me entregar uma cerveja e eu tomar a metade. Estou suada, com sede e realizada. Parece uma coisa tão simples a ser feita, mas para mim é libertador. Tudo o que estou fazendo é como se estivesse marcando uma nova fase da minha vida, um recomeço.

— Vou estar no bar — grita no meu ouvido. — Fique à vontade. Quando estiver sem as pontas dos dedos, vamos para casa.

Bebo o restante da cerveja, entrego a garrafa para ele e volto a dançar. Não sei quanto tempo passa, até o Beto me trazer outra cerveja, isso se repete até as luzes se apagarem e gritos ensurdecedores começarem.

— Está tudo bem, o show vai começar. — Beto fala e me puxa para um lado.

Luzes iluminam o palco e homens lindos, musculosos e vestidos com muito couro, surgem. Eles dançam, rebolam e atiçam o público. Homens e mulheres enlouquecem na plateia.

Quando eles começam a tirar peça por peça entendo onde estou.

— VOCÊ ME TROUXE PARA UMA CASA DE STRIP-TEASE?

— Não seja besta. Eu te trouxe na melhor casa LGBT de strip-tease.

— LGBT?

Ele tampa minha boca com sua mão.

— Olha o que você vai falar, podemos ser expulsos.

— Você é gay?

Ele revira os olhos e solta uma gargalhada.

— Claro que não.

— E por que me trouxe aqui?

— Você queria apenas dançar, achei que seria melhor uma boate como essa. Nenhum homem iria ficar te assediando.

— Preciso de outra cerveja!

De outra cerveja ou algo mais forte, penso. Nunca tive preconceito com homossexuais, mas também nunca estive tão perto de um. Minha mãe iria enlouquecer se soubesse onde estou.

Beto sai em busca de outra cerveja e começo a prestar atenção no show. Tento manter a mente aberta como ele havia pedido. Os movimentos são sensuais, sincronizados e bem estudados. Nada parece vulgar ou de mau gosto. Nunca imaginei que iria pensar dessa forma, mas é um belo espetáculo. Um belo espetáculo gay!

Não tenho certeza de quantas cervejas tomo e de quanto tempo ficamos no lugar. Estou amando cada minuto do show, me sinto Priscila, a Rainha do Deserto.

Quando, finalmente, Beto consegue me convencer de ir embora, o sol está começando o seu espetáculo.

— O que está faltando fazer da sua lista?

— Aprender a assobiar.

— Está muito bêbada para isso, vai se babar toda.

— Amanhã aprendo. Obrigada por essa noite, foi interessante. Na verdade, foi sensacional! Nunca vi um show tão espetacular como o de hoje. As luzes, os movimentos, a pulsação da música, a plateia...

— Sabe dançar?

— Ballet.

Ele ri.

— Eu deveria ter imaginado.

— O que quer dizer com isso?

— Nada, apenas entre no carro. Está muito bêbada para ter uma conversa normal.

Ele fica falando o tempo todo que estou muito bêbada para isso, muito bêbada para aquilo. Beto pode ter razão, me sinto extasiada, em outro mundo, porém não é apenas pela bebida.

Entro no carro e uma tristeza me atinge. A noite foi uma das coisas mais divertidas que já fiz, queria que fosse o Ricardo ao meu lado, não um cara que mal conheço. As lágrimas começam a acumular nos meus olhos, respiro fundo e forço para que elas voltem para o lugar de onde que nunca deveriam querer sair.

Esse não é o momento de ser fraca, preciso mostrar toda minha força, estar pronta para as consequências da minha decisão.

Mas não posso negar, daria qualquer coisa para poder ouvir a voz do Ricardo agora, sentir o calor do seu abraço, sentir seus dedos carinhosos deslizando entre meus cabelos, sua respiração contra minha pele.

— Poderia me emprestar o teu celular? — pergunto.

— Não.

— Prometo não demorar muito.

— Não.

— É rapidinho.

Beto nem se dá ao trabalho de responder.

Quem sabe seja melhor assim, não sei as bobagens que iria falar, ou fazer, se ouvisse a voz do Ricardo.

Quando desisto da ligação e estou quase dormindo no nosso caminho de retorno para casa, a voz fria e calma do Beto me desperta.

— Podemos fazer uma troca.

Meus olhos abrem tanto que tenho medo de nunca mais conseguir fechar.

— Que tipo de troca?

— Você quer o celular, quero algo em troca.

Fico preocupada com o que ele vai pedir, mas a vontade de ouvir a voz do Ricardo, fala mais alto.

— O que você quer?

— Uma longa e boa noite de cama.


Estou amando os comentários de vcs! Não estou conseguindo responder um a um, mas quero que saibam que leio todos (TODOS mesmo!) e adoro!

Obrigada por todo carinho e apoio!

Bjocas, com carinho

LK


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