Capítulo 4

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Cumbuco é pequeno, parece uma vila de pescadores desenvolvida. Na verdade, acho que é isso mesmo que ela é. Têm muitos restaurantes, bares e lojinhas com produtos regionais abertas até mais tarde para os turistas. Caminhamos entre uma rua e outra sem falar nada, apenas caminhamos. Vejo uma loja com chinelos Havaianas, corro como uma criança. Sempre quis ter um.

— Preciso de um desses!

— De um chinelo?

— SIM! Sempre quis ter um!

— Você não tem um chinelo de dedo?

Beto deve estar achando que sou algum E.T.. Não sei como justificar que tenho chinelos de dedo, mas eles não são Havaianas. Como explicar que minha mãe não considera eles femininos o suficiente? Todo mundo, no mundo inteiro, tem ou quer ter um chinelo Havaianas, minha mãe acha muito popular para uma princesa como eu.

— É difícil explicar — falo, escolhendo o mais chamativo. Cansei de roupas em tom pastel e nude. — Meu Deus! Olha esse que lindo! É xadrez! E esse de bolinhas, não é lindo?

Não espero ele responder, separo os dois. Nunca fiquei tão feliz na minha vida escolhendo sapatos Jimmy Choo, Miu Miu, Roger Vivier, Gianvito Rossi ou qualquer outro considerado apropriado para mim.

— Você foi rápida. Normalmente as mulheres são tão indecisas. — Beto comenta quando sentamos em uma mesa de plástico em um bar qualquer. — Vai querer cerveja?

— Eles têm aquelas canecas de cerveja de um litro?

— Que porra é essa? Claro que não. Eles vendem em garrafa e servem em copo americano.

Não sei o que quer dizer copo americano, mas isso vai ter que servir. O bar não tem garçom, temos que ir até o balcão buscar o pedido. Quando vejo o copo começo a rir, isso não pode ser americano, com certeza americanos não bebem nesse tipo de copo.

Estava em dúvida se o convite do Beto para dar uma volta era tipo um encontro. Em menos de meia hora decido que isso não pode ser um encontro. Saímos a pé, ele não puxa a cadeira para eu sentar, não paga a conta sozinho e arrota, sem cerimônias, após tomar a segunda cerveja.

— Tá se sentindo melhor? — Ele pergunta.

Fico assustada, não imaginei que ele havia percebido que não estava bem.

— Um pouco — confesso. — Devo alertá-lo que amanhã não será um bom dia.

— Posso ajudar com isso, se quiser. A limpeza lá de casa ficou boa pra caralho, não quero perder minha faxineira. Você trocou meus lençóis!

Sorrio com a parte da troca de lençóis.

— Os que estavam na cama estavam criando vida própria.

— Estavam mesmo. Vale o esforço em tentar ajudar.

— Desculpa, não quero desapontá-lo, mas acredito que você não conseguirá me ajudar.

— Posso tentar. Com o que estou lidando?

Penso em dizer para ele deixar para lá. Nada vai diminuir a triste e a dor que vou sentir no horário que seria para eu estar entrando na igreja para aceitar o Ricardo como meu marido. Por outro lado, se decidi que quero ser uma pessoa diferente, preciso fazer coisas diferentes.

— Quero aprender a assobiar, ir à um pub estilo irlandês, com música folk e cervejas em canecas de um litro. Quero dançar até perder a ponta dos meus dedos, quero comer um hambúrguer cheio de gordura. Quero fazer tudo isso, usando uma calça jeans e um All Star.

Pronta para Casar - DegustaçãoWhere stories live. Discover now