Grimório

By RoseaBellator

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Um livro que conta histórias de bruxas. Algumas reais, algumas criadas pelo imaginário daqueles que não as co... More

Noite de Samhain
O Segredo da Anciã
O Corvo na Floresta
O Nascimento da Deusa do Amor
Musa Feérica
Filha da Lua, Bruxa Ela é
O Segredo
A Eremita
Filha da Lua, Bruxa Ela é
Uma Canção Solitária
Amizade Espiritual
Noite de Hécate
Cada Onda do Mar
A Noite Escura
Sempre ao Seu Lado
Sinais
Oh! Minha Deusa...
Intuição
Halloween
O Oráculo
O Gato Preto
"Sempre Contigo"
Debaixo dos Véus da Noite

A Neófita

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By RoseaBellator

"...Adicione um pouco de canela em pó, em seguida coloque de volta ao pilão e soque com um 1 colher de sobremesa de noz-moscada e as pétalas de uma rosa branca."

Mais uma receita simples para um óleo mágico.

Estava farta daquilo.

Quando é que ia ver bolas de fogo? Levitar? Ver espíritos?

Terminou a receitinha e guardou tudo. Não tinha vontade alguma de continuar aprendendo aquilo. Falaria com a amiga que a ensinava há alguns meses esse lance de bruxaria. Pra ser sincera, até estava mesmo fascinada por tudo aquilo. Os cristais, o poder das ervas, como a mente tinha poder com as palavras... mas não tinha visto resultado nenhum.

Frustrante!

Fechou e guardou os livros. Talvez desse um tempo? Bem, só tinha começado há alguns meses... mas...

Sabia que estava sendo apressada. Sabia que aprender a bruxaria não seria como buscar termos no Google. Que inferno! E se não for tudo isso? E se for só brincadeira das meninas?

Desligou a luz do quarto. Tinha que fazer umas coisas que a mãe tinha pedido.

...

- Aí eu sei lá, sabe? Estudo, estudo, estudo... Vejo uns feitiços e umas receitas de uns óleos e tals... mas não sei não. Não vejo efeitos!

E já estava se lamuriando para Hilde, a amiga que a apresentou para a magia.

- Entendo, Irene... - ela só balançava a cabeça, concordando. Não falava mais do que uma palavra ou duas, afinal, em diversas outras vezes, sobre o mesmo assunto, falou que o começo é assim mesmo...

- Poxa, eu estudei ontem e fiz um óleo. Não senti nada. O que era para acontecer?

Hilde só a mandava continuar. Só.

- Hilde? - ela só levantou o queixo - Você vê efeito na sua magia?

Sim. Ela via sim. Algo dizia que Hilde não falaria mesmo muito mais do que aquilo. Em seguida, a menina se despediu e disse que precisava sair. Era urgente. Estava na cara que foi só uma desculpa, e ela nem tivera a decência de disfarçar.

Por que isso?

Hilde não poderia apenas responder?

Num ímpeto infantil, e sabendo que não deveria pensar isso, Irene fechou a cara e abriu as portas para a raiva. Que chegou inundando o coração, cortando o fino laço com Hilde.

- Que seja! Aprenderei com gente melhor!

As horas passaram voando. Não demorou para estar novamente em casa, enfurnada no quarto, fuçando no celular. Ah, a internet. Pesquisou sobre covens, ordens, grupos de bruxos e grupos de estudos. Alguns pediam para pagar uma taxa. Alguns a ridicularizavam. Alguns não respondiam. E... havia ainda uns 2 que chegaram a fazer perguntas sobre os estudos dela, que perguntaram qual o nível de dedicação e há quanto tempo ela estudava. Mas Irene não tinha paciência e acabou descartando tudo.

Bando de gentinha! Pra que esconder o conhecimento?

Perdeu cerca de 6 meses com essa birra. Perdeu tempo e energia atrás de pessoas que sequer lhe deram uma indicação do caminho certo.

Tentou se enfiar novamente nos livros, pdf's, blogs... só que ela queria mesmo era alguém a auxiliando. Ali, do lado, orientando...

Poxa, ninguém poderia fazer bondade de separar todo dia um tempinho para lhe orientar?

Bem, o jeito seria ir atrás de Hilde novamente. Que saco. Enfim, se Hilde poderia ser falsa, ela também seria. Só para descobrir o que queria, depois cairia fora.

...

Hilde nunca a cobrou por qualquer coisa, mas se falava que teriam que gastar 5 reais com velas e incensos, Irene se sentia roubada.

Se Hilde falasse que tal livro custava tanto, Irene acha o fim. Se Hilde dissesse que não poderia ajudar pois estaria no trabalho...

- Poxa, Hilde! Fala logo que não quer ajudar! Eu estou tentando aprender! Tudo você diz ter um preço ou então não pode me acompanhar de perto porque toda vez tem um compromisso. Duvido que você trabalhe de verdade!

A situação que já estava difícil desde muito antes, virou uma catástrofe. Hilde trabalhava sim, como auxiliar do restaurante da família. Só tentou novamente ensinar Irene porque sentia-se no dever de ensinar a magia... Porém, um dia a paciência acaba.

E esgotada, atirou tudo que tinha nas mãos ao chão. Chorou alto, mas findou aquela amizade absurda. Sabia sim que Irene só estava de volta porque não achou ninguém mais que a ajudasse, e sabia também que era uma ingrata. Não via o esforço das pessoas.

Pela segunda vez, foi embora. Dessa vez, não pretendia fingir que estava tudo bem e nem acolheria mais Irene.

Que aliás, Irene ficou em choque... contudo, depois, o orgulho a fez se por como vítima e difamou Hilde para todos os amigos. Não disse bem o que aconteceu, apenas que Hilde virou-lhe as costas e a abandonou no meio de projetos importantes.

As pessoas, no começo, se viraram contra Hilde também. Irene só não lembrou de que o Tempo é um duro senhor, justo e sábio. Aos poucos as pessoas começaram a ver quem era o verdadeiro escorpião...

Com isso, Hilde conheceu outras bruxas e juntas começaram a florescer.

Irene não entendia porque aquelas falsas cresciam e faziam feitiços, e viviam reunidas, e... e... e estavam se desenvolvendo com os anos e se tornando mulheres maravilhosas.

Irene se perdia nos livros e em suas relações... nada parecia andar. Mesmo depois, como adulta, ela não conseguia achar sua trilha, não sentia a magia de forma alguma...

Porém...

Sempre havia fotos de coisas mágicas em redes sociais. Estava sempre por cima. Dizia ter que se proteger das "invejosas"...

...

Irene cresceu, passou anos assim, até um dia que acordou assustada, de um sonho muito ruim, bem no dia antes de sua viagem. Ela tomou alguns remédios contra enjoo e um cujo efeito faz a pessoa não se preocupar com nada. Nesse dia ... sofreu um grave acidente de carro.

E tudo escureceu...

...

Quando abriu os olhos, estava num salão escuro. Uma mulher a observava. Usava uma capa com capuz negro. Olhos severos.

- Onde estou? - disse ao perceber que estava sentada numa cadeira grande e bonita.

A mulher olhou para os lados, e então mais duas mulheres vieram. Uma jovem e uma velha.

- Irene, quantas chances você teve de evoluir? Quantas você acredita que teve?

Aborrecida por ser questionada por sabe-se-lá-quem, levantou a voz:

- Eu quero ver meu marido e minha filha agora! Onde estou? Como vim parar aqui?

A mulher mais jovem apenas balançou a cabeça. A velha suspirou. A do meio apenas continuou olhando, severamente, calada.

Irene vociferou, gritou, pediu para ver os advogados. E ela mal percebia que não conseguia levantar da cadeira...

- Irene...

E ela se calou.

- Vou perguntar pela segunda vez: quantas chances de evoluir você acredita que teve?

Tomada pela raiva, ela bufava olhando para as três. Só aí caiu a ficha: tinha sofrido um acidente de carro e ali estava diante da deusa de 3 faces! A deusa que tinha cultuado a vida toda! E estava no salão do julgamento!

Em lágrimas, pediu desculpas.

Começou dizendo que não teve chances. As pessoas não se dispunham a ajudar. As coisas que deveriam ser compartilhadas eram cobradas. Que isso e aquilo e...

Sem paciência para mais choramingo, a Donzela se levantou, batendo o martelo na mesa:

- Minha sentença está decidida! - e saiu furiosa.

Irene chorou mais, e disse que não mentia. Falou de toda a infância, da adolescência, falou de como cresceu, de como as pessoas a perseguiam, falou de como o casamento atrapalhou, de como ter uma filha dificultou e...

Sem dizer uma palavra, a Anciã bateu o martelo de leve na mesa e se retirou.

A Mãe, o aspecto Mulher Adulta da Deusa, encarou Irene.

- Algo mais dizer em sua defesa? Talvez... alguma verdade?

Sentiu todo o corpo tremer...

- Mas eu... - e foi cortada.

- Irene, nós acompanhamos você a vida toda. Poupe-nos das mentiras. Aproveite que eu, a Mãe, a ouvirei. E perguntarei pela última vez: quantas chances de evoluir você acredita que teve?

Desconfiada, Irene ficou muda por alguns minutos...

Sim, cultuou a A Deusa, sem nunca especificar um nome, nem cultura... apenas A Deusa de 3 Faces. Mas... nunca teve assim tanta fé. Duvidou diversas vezes, se afastou e voltou... E amaldiçoou a magia e a deusa tantas e tantas vezes! Quase nunca dava certo, e só continuava por ser fascinada por todas aquelas coisas bonitas, como cristais, chás, etc...

Como a Deusa poderia saber de toda sua vida?

Em vez de responder, decidiu perguntar:

- Se me acompanharam a vida toda, então por que perguntam? Por que me deixaram viver sem achar o caminho verdadeiro?

A Deusa sorriu.

Sentou-se confortavelmente e se pôs a falar:

- Irene, nós a vimos nascer. Nós lhe mostramos a magia desde menininha e você ficou fascinada. Nós lhe demos de tudo e botamos pessoas para te ensinar no caminho... mas você não aceitava aprender. Você queria apenas o resultado. Você nunca se entregou de verdade e nunca ouviu sem se sentir criticada. Você sempre viu tudo como um ataque pessoal e deixava a raiva e o ego falarem mais alto. - após uma pequena pausa, ela prosseguiu - Irene, nós não queríamos que você morresse nesse acidente de carro, mas você foi teimosa. Mandamos um sonho que mostrava o acidente e você foi mesmo assim, afinal, você queria tirar fotos e postar nas "redes sociais". Seu casamento aconteceu por pressão sua. O marido a traía e você ficou assim mesmo, sempre o ameaçando de sumir com a filha. A filha vivia com medo de você, pois você desconta toda sua raiva nela. Irene, ambos sobreviveram ao acidente. E vão viver esta vida melhor sem você, infelizmente.

A força do ódio foi tão grande, que conseguiu se levantar da cadeira que tinha uma força mágica para segurar o "réu".

- Mentira! - podia mentir o quanto quisesse, mas o medo e o conhecimento de o que o que a deusa falava era verdade estavam estampados no rosto.

A Mãe se levantou, bateu o martelo com força e deu a sentença:

- Esta foi a sua última chance de se redimir. Seu corpo está em coma, mas morrerá em 24 horas. Irene, você está sentenciada a ser apenas uma estudante pelas próximas 3 encarnações. Não virão pessoas lhe ajudar como nesta vida. Não terá facilidades e não vamos te acompanhar de perto, somente quando nos procurar e for uma grande urgência. Espero que aprenda algo e evolua. Espero que supere esse ego e essa raiva, pois são energias baixas que só podem ser transformadas se você permitir. É uma punição sim, mas também é para o seu bem.

Num grito de desespero, Irene se jogou de joelhos e pediu perdão.

Sentiu quando o corpo morreu no plano material... e sentiu quando foi sugada para uma luz. Onde seria curada para renascer.

A Mãe se reuniu com a Donzela e a Anciã.

- E então? Ela entendeu no último minuto? - a Donzela estava com um sorriso de esperança. Havia encenado aquela raiva para ver se dava um jeito no ego de Irene.

Cabisbaixa, a Anciã murmurou:

- Ou foi teimosa até o final?

Suspirando, cansada, a Mãe então disse:

- Não só foi teimosa, como tentou mentir para si mesma. Não reconheceu nada de bom da vida.

Mais um espírito que tinha cedido para a inércia, a preguiça, ao ódio, à vitimização...

Mais uma vida que demoraria gerações até evoluir...

Bem, mas os deuses estariam ali. Firmes e fortes, guiando, ensinando.

Que venham os próximos neófitos!

...

Fim

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