A Eremita

229 29 11
                                    


"Diante da fogueira, diante das estrelas, somos apenas espíritos buscando evolução. Iguais, assustados, maravilhados."

...

Às vezes eu fico pensando... por que tenho esse caminho tão solitário?

Vejo meus amigos encontrando pessoas para conversar, brincar, descobrir coisas novas... e praticar sua magia. Em grupo. E eu... bem, eu não tenho isso.

Sempre encontro alguém sim, mas sempre vai embora. Assim. De repente. Algumas nem se preocupam em dizer adeus.

É dolorido, sabe?

Então acabo me fechando em meu universo, com minhas ideias, sensações e... meus deuses?

Talvez... talvez eles sejam apenas minhas invenções. Fruto de uma solidão antiga, intocável? Talvez minha imaginação tenha criado asas demais.

Alguém poderia, por favor, corta-las? Poderia me dar a mão e me puxar desta sala escura?

Eu nunca fui do tipo convencional, eu sei. Nunca me enturmei muito, apesar de dizerem que sou carismática. Apesar de dizerem que sou espontânea. "Legal". Sei me adaptar a qualquer situação ou espaço. Bem, aparentemente faço isso muito bem, já que ninguém nunca enxerga como me sinto por dentro.

Seria isso tão difícil?

Eu vejo nos olhos, na palavra não dita, como os outros se sentem...

Não vêem nos meus?

No sorriso "social"?

É...tão... triste.

Sinto saudade de pessoas que nunca vi, lugares que nunca visitei. Coisas que nem sei o que são. Seria eu um viajante no tempo, que se perdeu? Seria eu um errante que está aqui, neste planeta, como prisioneiro?

Vejo a vida passar e parece que já sei tanto.

Sei que aquela mulher é traída. Que ela sabe e mesmo assim leva o casamento adiante.

Sei que aquele homem vive apenas pelo status, e que é um infeliz no amor.

Sei do resultado de muitas ações, mesmo sem nunca tê-las feito.

Consigo sentir a dor de alguém mesmo sem estar ao lado dela. E sei que a dor é dela. Sei porque dói. Mas... mesmo se eu confessar, fogem de mim. Como se eu fosse destruí-las por saber seus segredos.

Lembro-me, claramente, de certa que vez que me propus a mudar.

Ouvi os conselhos de uma moça que, na época, se dizia amiga minha. Ser aberta. Comparecer quando fosse convidada para qualquer passeio. Contar piadas e falar dos meninos.

Foi uma sensação de invasão tão intensa... Mas ao mesmo tempo...Senti-me tão vazia.

Era como se eu falasse de alguém que não era eu. Era como se eu me traísse. Aquilo não me agradava. Surreal. Surgiam perguntas das quais eu via os outros responderem tranquilamente. E eu... eu...

GrimórioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora