Águas de Março

By gisscabeyo

5.7M 215K 747K

Rio de Janeiro, berço do samba, das poesias de Drummond, da Boemia de Chico Buarque, das noites na Lapa, da G... More

Prólogo.
1 - Goodbye, USA. Olá, Brasil.
2 - Coisas que eu sei.
3 - Mais do que oculta.
4 - Não era pra ser tão fatal.
5- Oblíqua e Dissimulada
6 - Ano novo, desejo antigo.
7 - Nosso jogo é perigoso, menina.
8 - Infinito particular.
9 - Boemia Carioca
10 - Quebrando tabus.
12 - Canto de Oxum
13 - Agradável e lento.
14 - Tempo ao tempo.
15 - Menina veneno.
16 - Contrapartida
17 - O que é meu, é seu.
18 - Colo de menina.
19 - Meu Pavilhão.
20 - Rua Santa Clara, 33.
21 - Sensações extremas.
22 - Aos pés do Redentor.
23 - Codinome Beija-flor.
24 - Cuida bem dela.
25 - Luz em todo morro.
26 - Queime.
27 - Azul da cor do mar.
28 - Revival
29 - Desague.
30 - Axé!
31 - Vamos nos permitir - part1.
Vamos nos permitir - part2.
32 - Idas e Vindas.
33 - A lua e o sol - part1.
34 - A lua e o sol - part2.
Bônus - Part. 1
Bônus - Part. 2
Spin off - part 1.
AVISO - LIVRO

11 - Bom dia.

196K 6.7K 19.4K
By gisscabeyo

N/a: Oi, amores! Olha só quem foi resgatada do churrasco em que foi esquecida. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK Desculpem a demora, mas as vezes falta inspiração. Mas estamos de volta, teremos mais esse capítulo da Camila porque Hannah tá com a mente em branco no momento, sem inspiração e bem ocupada. Então, vamos de Camila de novo. Tá ai, espero que gostem e qualquer erro eu conserto depois. Me digam o que acharam e se divirtam. Amo vocês. <3


Camila POV

"No caminho da rua sambei meia hora em cada esquina, entrei em boteco, fiz doze amigos do peito e da pinga. Eu bebi, ri, subi em cima da mesa dizendo: Seu moço, traz mais uma gelada que a nega aqui hoje teve alforria!"

Roupa do Corpo – Filipe Catto.

Dançar era uma das minhas coisas favoritas nesse mundo, ocupava o segundo lugar da minha lista. Mas havia algo para se confessar aquela noite, dançar sendo observada por Lauren era melhor ainda.

Meus pés descalços ditavam o meu ritmo, onde o meu quadril quebrava lentamente no molejo daquele samba que eu conhecia muito bem. O álcool me deixou risonha, e eu deixei a melodia enfeitada pela voz de Filipe Catto me levar, me enchendo de prazer e uma euforia viva.

Estávamos na varanda do apartamento dela, Copacabana completamente acessa e animada lá embaixo. As ondas quebravam calmas na borda da areia e aquele cheiro maravilhoso de maresia me deixava ainda mais desinibida. Girei sobre os meus pés, apoiando as costas de meus dedos em minha cintura, sambando de costas enquanto a encarava por cima dos ombros. Lauren sorriu de canto, sorvendo com suavidade o vinho presente na taça de cristal, sentada com as pernas cruzadas em uma espreguiçadeira ao lado da piscina. Seu olhar era felino, me rasgando de baixo para cima. Sua língua deslizava sobre seus lábios de segundo a segundo, e cada vez que eu lhe lançava uma piscadela, ela jogava a cabeça para trás, suspirando. Eu ria da cara que ela fazia, segurando na barra do meu vestido, o erguendo as vezes para que ela visse minhas coxas e a minha calcinha. Mordia o lábio inferior, a mandava beijinhos, deslizava minhas mãos por meu cabelo, sentindo o suor crescer em minha nuca e gelar a pele por conta da brisa fresca. Lauren havia me feito um pedido, para que sambasse para ela ao som de uma das minhas músicas favoritas, e eu fiz daquele momento um completo jogo de sedução, como tudo em minha vida.

: - "Quando a noite chegou subi no bonde correndo..." – Cantei sorrindo, me aproximando mais de onde ela estava sentada. Joguei o cabelo para lado e deixei os dedos da mão direita entre as mechas. Lauren sentou-se, bebendo o resto do vinho em sua taça, me espiando com o canto dos olhos quando eu deslizei por trás dela, indo para o outro lado. – "Eu não olho pra trás, não, não, não me arrependo. Vou com a roupa do corpo, não sei bem pra onde, mas não paro não."

Deslizei as mãos pelo corpo enquanto meus pés me embalavam naquele samba gostoso. Meu quadril balançou de um lado para o outro e eu quebrei devagarzinho enquanto descia alguns palmos, fazendo com que Lauren batesse palmas no ritmo da música, que chegava ao final. Ela ria encantada, adorando o showzinho particular que proporcionei a ela. Quando terminei, curvei minha coluna e levei o braço direito para a frente do meu corpo, agradecendo. Lauren explodiu em uma risada, e me puxou para o seu colo quando cheguei perto o bastante.

: - Você é maravilhosa. – Sua voz soou mais desleixada por conta do álcool, aquele sotaque gringo de sempre. Envolvi seu pescoço com os braços, sentada de lado sobre suas coxas. – Samba como ninguém.

: - É o meu gingado carioca que corre nas veias. – Mexi as sobrancelhas convencida e ela sorriu, beijando-me o queixo. – Te deixei babando, afinal.

: - Existe alguém nesse mundo que não babaria por você, Camila?

: - Hmmm! – Ergui o queixo, olhando para o céu, fingindo pensar. Sacudi minhas pernas no ar, entortando a boca. – Não, realmente não.

Nós rimos juntas, trocando um beijo rápido.

: - Está ficando frio aqui fora. – Ela comentou com um tom de preocupação, esfregando minhas coxas com a mão direita de forma rápida. – Quer entrar?

: - Não, está bom aqui. – Coloquei uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha. – Você pode começar me esquentando.

: - Olha...

Ela estreitou os olhos, abrindo um sorriso tímido. Eu joguei a cabeça para trás, gargalhando.

: - Você é hilária, Lauren. – Neguei com a cabeça, saindo de seu colo. – Fica maldando o que eu digo. – Me fiz de desentendida, a empurrando para trás na espreguiçadeira, até que suas costas deitassem no encosto. – Eu só ia dizer que podemos ficar abraçadinhas aqui, o que tem de mal nisso?

Fiz beicinho e me coloquei de quatro sobre a espreguiçadeira, me arrastando para o meio das pernas dela, que abertas, esperavam para que eu me acomodasse entre elas.

: - Ainda me impressiono com a sua capacidade de ser cínica, sabia? – Sua voz estava um pouco mais agitada, e ela me envolveu em seus braços com ternura quando deitei minhas costas em seu peito. – Parece que quanto mais me mostra sobre você, mais há para se ver.

: - Há muita coisa em mim para ver. – As pontas de seus dedos acariciavam meus braços, me arrepiando. Lauren depositou um beijo perto da minha têmpora direita, e eu fechei os olhos para me concentrar melhor naquele calor. – E eu quero te mostrar tudo.

: - Tudo?

Mordi o lábio quando seu hálito quente tocou minha orelha através de seu sussurro. Me acomodei melhor em seu corpo, começando uma carícia em seus braços, que me rodeavam. Ela se arrepiou.

: - E mais um pouco.

Abri os olhos, fitando o mar ao fundo e o céu negro, que parecia tocá-lo no horizonte. Tentei lembrar a última vez que me senti tão em paz comigo mesma e não consegui. Tinha tantas coisas que eu não sabia dizer.

Nosso jantar havia sido recheado de flertes e beijos, e depois de muitos amassos no sofá da sala, sentamos na varanda para admirar Copacabana e beber mais vinho. Não conseguia manter minhas mãos longe dela, vez ou outra eu fazia carícia mais íntimas, recebendo olhares de advertência da mulher mais velha que me enlouquecia, e só me fazia querê-la mais ainda. Ela recuava, eu avançava, tirava sua mão das minhas coxas, eu colocava, cheguei a pedir para que ela me deixasse ficar de joelhos ali mesmo na varanda, entre suas pernas, devorando-a como a minha vontade exigia no momento. Lauren me respondeu com uma risada excitada, o rosto vermelho por conta do desejo e do álcool, e me prometeu que eu poderia fazer o que quisesse mais tarde, no quarto. Informei a ela, depois de beijá-la intensamente, que mais cedo ou mais tarde ela iria implorar por mim em qualquer lugar, na varanda ou no quarto, na rua ou em casa. Iria parar de se privar, se conter. Eu disse, com todas as letras, que eu seria aquela que a faria enlouquecer e viver.

: - Quando vai voltar a faculdade? – Ela perguntou depois de permanecermos um tempo em silêncio, apenas nos acariciando e olhando o mar. – Ainda falta muito?

: - Era pra voltar em Fevereiro, mas como estamos em greve, como sempre... – Rolei meus olhos. – Deve voltar no meio de Março.

: - Isso te atrasa, não? Ou eles possuem um plano de estudo para não prejudicar os alunos?

: - Plano de estudo? – A olhei rapidamente, a fazendo erguer as sobrancelhas. – Você tá brincando. – Soltei uma risada e deitei minha cabeça em seu peito de novo. – Isso aqui é Brasil, Rio de Janeiro. Depois da greve começamos normalmente, estudamos até Janeiro e se ficamos de férias um mês é muito. Vai atrasar tanto a minha formatura que já me dá preguiça só de imaginar.

: - Ao menos você não tem dificuldade com a matéria, então pode sair na frente dos outros. Poderia ser pior. – Ganhei um beijo demorado na cabeça, e senti entre alguns arrepios a ponta de seu nariz se arrastando entre as mechas do meu cabelo. Adorava aqueles carinhos, ainda que eles fossem mais presentes quando ela estava um pouco embriagada, eu me deliciava, me sentia especial de alguma forma e só esperava que fosse. – Porém, é estranho para uma faculdade Federal não possuir um plano B para emergências como essa. É um absurdo essas greves, nunca vi disso nos Estados Unidos.

: - Lauren, aprende uma coisa, aqui no Brasil tudo é possível. – Ela riu incrédula, me apertando com mais força. – Desde greves em faculdades até um bandido chamado Eduardo Cunha como presidente da Câmara dos Deputados.

: - E eu que achava que ter mais Mc Donald's do que farmácias era um problema muito sério lá na América.

Eu ri de sua indignação, imaginando o quanto ela se assustaria e pensaria em ir embora se descobrisse metade das merdas desse país.

: - Você não sabe de nada.

: - Nem sei se quero saber. - Dobrei os joelhos sobre a espreguiçadeira, sentindo meus pelinhos da coxa se arrepiarem quando a barra do meu vestido caiu para o meu quadril. – Camila, estive pensando muito sobre Normani.

: - Pensando sobre Normani?

Perguntei séria, estreitando meus olhos. Lauren soltou uma risada no alto da minha cabeça.

: - Não dessa forma, Camila. God damn it! – Ah, não! Inglês a àquela altura do Campeonato não, chega me estremeci todinha, esquecendo até mesmo Normani. – Pensando no assunto em que comentei com você, sobre ajudá-la de alguma forma.

: - Hmmmm! – Ronronei, me virando de lado e me encolhendo entre suas coxas abertas, acomodando melhor minha cabeça em seus seios. Lauren esfregou minhas costas com a mão esquerda. - O que você pretende?

: - Quero oferecer um emprego a ela. Tenho uma vaga no departamento de Dinah e achei perfeito para Normani.

: - Do departamento de Dinah, é? – Comentei com malícia, soltando uma risada empolgada. – Acho que Mani vai adorar isso. E eu gostei, me parece uma boa ideia. Fora que assim, finalmente, ela vai poder sair daquele lugar onde trabalha e parar de ser assediada a madrugada inteira.

: - Dinah precisa de uma assistente urgentemente, anda muito sobrecarregada e bem, é a minha melhor funcionária, não quero enlouquecê-la. – Lauren ia falando com empolgação e admiração, o que me fazia sorrir e me sentir encantada. Ela era um exemplo de profissional, e só me fazia ter mais vontade ainda de começar a minha carreira. – O salário é muito bom, com certeza três vezes maior do que ela ganha nesse bar em que trabalha, contando com passagem, cesta básica e plano de saúde. E eu vou acrescentar mais alguns benefícios para ela e a mãe, como disse, realmente quero ajudá-las. Quero conversar com Andrea e pedir permissão para custear um curso de línguas para Normani, Inglês e Francês, assim ela pode subir na empresa enquanto não se forma na faculdade, e quando formada, vai poder usufruir disso na profissão. O que você acha?

O que eu achava? Suspirei! Aquela mulher era surreal demais e eu só conseguia pensar que tinha uma sorte enorme por estar ali, entre os braços dela. Me sentei, ainda no meio de suas coxas, a encarando nos olhos. Eles brilhavam em um verde bem claro, um pouco avermelhados por causa da nossa bebedeira. O cabelo bagunçado por causa do vento, as bochechas coradas. Linda! Como ela podia? Neguei com a cabeça, sorrindo.

: - Eu acho que é maravilhoso. Eu acho que você é incrível. – Ela sorriu de canto, erguendo a mão para acariciar a minha bochecha. – E esse é um gesto tão lindo que eu não consigo não me sentir emocionada diante dele. Normani vai ficar louca, tia Drea então nem se fala. E elas merecem tanto, e só por saber que você, alguém que não tem obrigação de nada, vai simplesmente oferecer isso a elas por pura e infinita bondade me deixa vibrando, Lauren. Isso diz muito sobre quem somos, sobre quem queremos ser. Vem de dentro, sabe? Como dizemos na minha religião, você é cheia de axé.

Eu ia dizendo enquanto sorria, a fazendo rir baixinho, um riso cheio de alegria e sentimento. Pela primeira vez a senti inteiramente ali para mim. Rodeei uma de suas mãos com a minha e beijei as costas, as pressionando daquela forma contra o meu peito. Abaixei a cabeça em reverência a ela por alguns segundos, e logo voltei a olhá-la.

: - Esse gesto significa algo?

Ela perguntou tímida, mas ao mesmo tempo impressionada.

: - Sim! – Ainda com as nossas mãos enroladas contra o meu peito, a respondi. – Ele diz que eu respeito você por quem és e pelo o que faz, e que reverencio a sua sabedoria. Tratamos assim os mais velhos, aqueles que possuem experiência e sempre sabem mais.

: - É lindo e doce. Me sinto honrada. – Sua seriedade me mostrou a verdade em suas palavras, não havia dúvidas de que ela me respeitava, respeitava a minha crença e mais do que isso, admirava. Soltei sua mão com delicadeza, e senti seus dedos tocarem a minha nuca. – Vem cá!

E eu tinha como não ir? Curvei mais meu corpo para frente, apoiando uma mão de cada lado de seu quadril. Lauren segurou meu rosto entre as suas mãos, acariciando minhas bochechas com os dedões com suavidade. Nossa troca de olhares era intensa, e eu tentei expulsar todos os pensamentos da minha cabeça. Quando seus lábios tocaram os meus, eu afundei a minha mão esquerda entre suas mechas de cabelo, intensificando o nosso contato. Nossas línguas se encontraram com calma, não havia pressa. O atrito molhado e quente me deixou completamente arrepiada. A brisa fresca que batia contra nós misturava nossos fios de cabelo, trazendo aquele cheiro delicioso do shampoo que ela usava para o meu nariz. Nossos lábios fizeram um som gostoso quando trocamos as posições de nossas cabeças, aprofundando mais ainda o beijo. Lauren me puxou mais contra si, ofegante, e eu deslizei a mão livre por sua coxa macia, por dentro da saia. Arranhei com as unhas, a fazendo gemer baixinho na minha boca. Chupei com calma a língua que ela me ofereceu, me deliciando naquele sabor de mulher que descobri amar tanto. Quando seus dentes morderam meu lábio inferior com leveza, nós trocamos uma sequência longa de selinhos entre sorrisos, rindo de tudo e de nada ao mesmo tempo. Os pensamentos voltaram a me alfinetar, e então eu pude me lembrar de algo que havia me esquecido desde que cheguei ali, naquela noite. Como não gostava de enrolar, fui direta.

: - Vamos pegar a serra no próximo final de semana e subir para Petrópolis, eu, você e Sofia.

Disse enquanto a encarava, observando seus lábios avermelhadas por conta do beijo demorado. Lauren arregalou os olhos, e eu já esperava aquela reação vindo dela.

: - Como assim? Viajar? Não podemos viajar sem um planejamento antes, Camila, eu trabalho. – Revirei os olhos, suspirando. Comecei a rir quando ela começou e me encher de argumentos. – Fora que, como vamos sair em viagem sem Taylor ficar sabendo? Ela vai enlouquecer e nos encher de perguntas, não quero criar essa situação entre nós.

: - Se estou propondo que a gente vá é porque sei que Taylor estará fora, Lauren. – Selei seus lábios, me ajeitando para sentar de frente para ela na espreguiçadeira. – Taylor vai viajar com o beto no próximo final de semana, vai sexta e volta segunda. Vão para Búzios, região dos lagos aqui no Rio.

: - Taylor vai viajar com esse cara e nem me disse nada?

Lauren bufou com aparente preocupação, o cenho franzido.

: - E ela lá precisa dizer? Ela tem vinte anos já, é bem grandinha e sabe se cuidar.

Ela me encarou enfezada, me fazendo dar de ombros. Parecia meu pai quando queria se meter demais onde não era chamado. Tive vontade de rir.

: - Sou a irmã mais velha dela, Camila, tenho o direito de saber.

: - Não tem não. – Rebati. – Vai querer controlar quem ela beija e com quem fode até quando? Me poupe!

: - Camila...

: - Não vem com esse "Camila" em forma de advertência, não tenho medo desse seu tom. Vai perder tempo. – A provoquei, a vendo ficar vermelha. Lauren perdia a linha fácil, e eu adorava fazer com que ela descesse do salto. – Para de ser chata. Nem seus pais pegam no pé dela desse jeito, não seja você a rabugenta da história.

: - Eu...

: - "Eu" nada, Lauren. – Repreendi, dando um beijo rápido em sua boca. – Deixe Taylor viajar, beijar e dar pra quem quiser. Beto é um cara legal e é só o que você precisa saber.

Ela rosnou por trás dos dentes, virando a cara irritada. Seus olhos verdes tinham as pupilas dilatadas, e eu imaginei que ela queria me dar uns tapas. Beijei seu pescoço enquanto ria, acariciando suas coxas.

: - Francamente... – Resmungou.

: - Francamente digo eu. – Virei o rosto dela pra mim, sorrindo. – Vamos viajar no próximo final de semana, você vai adorar Petrópolis, aquele lugar é a tua cara.

: - E enquanto ao meu trabalho? Não posso largar tudo e me dar a esse luxo. – Lauren esticou suas costas, deitando a cabeça na espreguiçadeira. – Sou responsável por uma empresa, Camila. Já lhe disse isso muitas vezes, não posso ficar fazendo aventuras.

: - Pode sim e deve. Você trabalha em casa final de semana e trabalha porque quer, são suas folgas, pelo o que eu saiba. – Ela fechou os olhos, respirando fundo. – Deixe tudo pra lá e vamos viajar, você precisa descansar um pouco, relaxar. Além do mais, existem vários lugares para você conhecer lá, e é tão o seu estilo... Vamos, por favor! – Choraminguei. – Sofia vai gostar tanto, faz tempo que não a levo para passear.

: - Você só inventa, Camila. – Ela negou com a cabeça e eu sorri, sabendo que ela não iria negar. – Por que te dou ouvidos?

: - Porque você me adora. – Me curvei para frente, depositando um beijo molhado na pele nua de sua barriga. – E porque você quer isso o tanto que eu, só é muito cabeça dura.

: - Eu sou responsável, é diferente.

: - Não, é chata mesmo. – Me sentei novamente e ela me encarou com olhos estreitos. Amava aquela cara de brava. – Deixe de ser velha e vamos.

: - E onde ficaríamos lá? Não há nenhum planejamento. Odeio viajar de última hora.

: - Lauren! – Briguei, sendo minha vez de fazer cara feia e apertar os olhos para ela. – Pare de arrumar obstáculos. Temos onde ficar lá, não precisamos nos preocupar. Meu pai é dono de dois apartamentos no Palácio Quitandinha, há espaço de sobra para você, Sofia e eu.

: - E se ele não gostar da ideia de irmos para o apartamento dele? Prefiro ficar em um hotel, não quero me sentir inconveniente.

: - Você é minha convidada e vai ficar onde eu ficar. E ele vai adorar a ideia, gosta que eu passe a maior parte do meu tempo com Sofia. Não há espaço para reclamações.

: - E onde fica Petrópolis? É longe?

Comecei a massagear suas coxas, vendo-a colocar os braços atrás da cabeça para me olhar melhor.

: - Uma hora e meia daqui, mais ou menos. É região serrana, rapidinho chegamos se não tiver trânsito. Podemos aproveitar e parar em Itaipava para almoçar. Há um clube de Golf maravilhoso lá e algo me diz que você gosta.

: - Amo golf, faz tempo que não jogo. – Apertei os músculos de sua coxa direita, concentrando a massagem acima do joelho. Lauren suspirou, fechando os olhos. – A última vez foi um mês antes de embarcar para o Brasil.

: - Então... Mais um ponto. – Subi mais um pouco, massageando perto da virilha. – Só quero que relaxe e se divirta, faça coisas que goste e que esteja em boa companhia.

: - Está certo! – Eu quis dar um berro, mas me segurei e apenas mordi o lábio inferior eufórica. – Você venceu, garota.

: - Eu sempre venço. – Comentei animada, tirando minhas mãos de suas pernas e me colocando de quatro, deitando meu corpo sobre o dela. Lauren abriu os olhos e me encarou, descendo a mão direita por minhas costas. – Você vai amar, eu prometo.

: - Não sei porque deixo você me influenciar desse jeito. – Ela negou com a cabeça, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. – Eu devo ter batido com a cabeça em algum lugar desde que te conheci.

: - O que aconteceu na verdade foi que você gamou. – Pisquei um dos olhos com um sorrisinho de canto e ela riu, umedecendo os lábios com a língua. – E eu não posso te culpar por isso.

: - Ah, Camila... O que é que eu faço com você?

Abaixei a cabeça e levei minha boca de encontro ao seu ouvido, deslizando meus lábios em sua orelha antes de responder.

: - Me leva pra sua cama e me fode. – Mordi o lóbulo e Lauren gemeu, apertando com força a minha bunda. Foi um tiro mais do que certeiro, e eu senti meu corpo vibrar inteiro sobre ela. – Mas fode muito porque eu já estou morrendo de saudade de você dentro de mim.

Eu resfoleguei quando ela levantou da espreguiçadeira comigo no colo em dois segundos, me fazendo envolver sua cintura com as pernas. Eu soltei uma risada banhada de sensualidade e ela me beijou sem hesitar. Lauren foi me apertando contra as paredes daquele apartamento até que estivéssemos em seu quarto, nuas, molhadas o suficiente para encharcar os lençóis da cama. O resto da madrugada foi preenchia por gemidos, gritos, tapas e orgasmos, muitos orgasmos. Eu me lembrei, mais uma vez, que Lauren fodia como ninguém, e se existia uma mulher capaz de dar para ela do jeito que ela merecia e queria, essa mulher era eu.


1 semana depois~

: - Sofia, anda logo que ainda precisamos conversar antes de irmos e estamos atrasadas. – Eu afastei o celular do ouvido para poder gritar, ouvindo-a me responder de seu quarto. Neguei com a cabeça e larguei a grande bolsa que eu levaria para a viagem sobre a poltrona ao lado da cama. – Então, Mani, como eu estava falando, estamos indo hoje e voltamos segunda.

: - Você não tem jeito mesmo, hein Mila? – Mani riu divertida, me fazendo rir também. Sentei na beirada da minha cama e coloquei uma almofada no colo. – Deus queira que Taylor não descubra isso.

: - Ela só saberá se você contar. – Resmunguei.

: - Minha boca é um túmulo e você sabe. – Por isso que era uma das minhas melhores amigas. – Vê se não deixa a Jauregui mais velha enlouquecida, Camila, você não é mole não.

Fiz uma careta me sentindo ofendida, passando os olhos por todos os cantos do meu quarto e verificando se não tinha esquecido nada.

: - Só se for louca daquela forma, né... – Maliciei e Normani caiu na gargalhada. – Você sabe que sou responsável quando tenho que ser, jamais faria com que ela se sentisse desconfortável. A convidei para ir porque quero que ela relaxe, que pense em algo que não seja trabalho, que se divirta. E quero estar junto.

: - Tá gostando mesmo dela, né? Te conheço. – Não pude impedir um sorriso de nascer nos meus lábios, e abaixei a cabeça em um movimento de negação. – Tá gamadona na CEO americana. Ela te pegou de jeito mesmo, deve ser muito boa de cama.

: - A mulher é fogo puro, Normani. – Me deixei cair de costas sobre o colchão, encarando o teto com um sorriso besta no rosto. – Você sabe pra eu confessar que estou de quatro por alguém é quase impossível, e eu confesso, estou de quatro por ela sim, os quatro pneus arriados.

: - Sabia! É só olhar pra tua cara quando fala dela, e não é só carnal isso não, tu tá gostando dela mesmo, tá ficando apaixonada.

: - Não me vem com esse papo de paixão, sabe muito bem que não gosto de rotular as coisas.

: - Não é rótulo, Mila, é sentimento. Você nunca ficou assim com cara nenhum, sempre cagou pra todos eles, só trepava e acabou, no outro dia era cada um na sua casa. – Rolei os olhos, suspirando. – Agora está até propondo viagem, querendo o bem-estar dela e tudo mais. Isso é papo de gente apaixonada, branquela.

: - Ai, me deixa, Mani. – Sacudi a cabeça para me livrar de pensamentos, voltando a me sentar. – Odeio quando você começa com os papos cabeça, só sai merda que não quero saber.

: - Sabe que tenho razão, mas se prefere ficar nessa... – Sabia que ela estava rolando os olhos. – Tá de boas! Mas depois não diz que não avisei.

: - "Já acabou, Jéssica?"

Soltei o meme e ela gargalhou. Apesar de sempre me dizer o que eu não estava afim de ouvir, Mani me deixava extremamente relaxada durante uma conversa, era sempre fácil conversar com ela, fácil e leve.

: - Já acabei sim. Mas só por enquanto.

: - Chata pra caralho! Por isso odeio ter amizade com Taurina. – Ela mandou eu ir me foder, detestava quando eu falava mal do signo dela. Mas fazer o quê? Era a verdade pura. Encerrei uma risada e decidi matar minha curiosidade. – Mas me diz, vai sair com Dinah esse final de semana?

: - Marcamos uma baladinha em uma boate Open bar no Leblon. Mandei logo a real de que não tenho verba o suficiente pra bancar a entrada lá, né, fora comida e essas coisas.

: - Te deixo dinheiro se quiser, sabe que pode me pedir sempre que precisar.

Peguei uma outra bolsa pequena que eu levaria, abrindo para verificar se os remédios de Sofia para asma estavam lá, junto com os meus da rinite.

: - Não precisa, Mila, mas obrigada! – Acabei sorrindo com a voz fofa com a qual ela respondeu. – A mulher disse que vai bancar tudo, que nem louca me levaria para sair e me deixaria gastar dinheiro. Tô achando é lindo, né gata? Achando lindo o gesto, achando linda a mulher. Tô até considerando um motelzinho depois, vai que ela me leva no vip's? Não é todo dia que se pode ir no melhor motel do Rio de Janeiro. O babado é certo.

Eu comecei a rir enquanto andava pelo quarto, pegando mais alguns objetivos que estava esquecendo. Normani era maravilhosa, aquela sinceridade a levaria longe.

: - Bicha, é sucesso. – Abri minha gaveta de lingerie e peguei minha cinta-liga vermelha favorita. Será que Lauren gostaria de mais um showzinho particular, dessa vez com direito a espartilho e tudo no friozinho de Petrópolis? Mordi o lábio inferior. – Dinah é linda demais, fora que é a melhor funcionária de Lauren, é de confiança. Tem futuro, coloco força.

: - Tô animadíssima, vou até comprar calcinha nova. – Ela riu toda safada, e imaginei que estava ajeitando os peitos no decote como sempre fazia quando ficava eufórica. Eu não conseguia parar de rir. – Sou dessas, vou dar um pouquinho de moral pra ela, mas como já dizia a rainha da putaria, Valesca Popozuda, só não pode gamar.

: - Normani... – Eu respirei fundo para tentar parar de rir. – Quando tu sentar nela, dou o cu na esquina se ela não gamar em você. Tem jeito não, amiga. Tá no sangue.

: - Se ela foder bem, capaz da gamação cair em mim, né? Ai eu que me fodo. Deus tenha piedade.

: - Amém!

Coloquei o celular entre o ombro e o ouvido, mexendo na bolsa maior para guardar o que havia pego. Tinha iniciado mais um assunto aleatório com Normani quando vi Sofia entrar no quarto, carregando a mochila que eu havia arrumado para ela levar na viagem.

: - Tô pronta, Mila.

Ela disse animada, ajeitando as alças da mochila nos ombros. Sorri para ela, fazendo um sinal de espera com a mão.

: - Preta, tenho que desligar agora e terminar de arrumar as coisas. Eu aviso quando chegar em Petrópolis, mando fotos e todas aquelas coisas que você adora ver.

: - Tá okay, Mila! Vou esperar. Manda um beijo pra pequena, pra Jauregui e juízo, não faça nada do que eu não faria.

: - Pode deixar. Te amo e até! Divirta-se com Dinah e depois me conte tudo.

: - Todos os detalhes, até os íntimos. – Rimos juntas. – Beijos, branquela. Te amo muito.

Desliguei o celular e o taquei sobre o colchão, abrindo os braços na direção de Sofia.

: - Vem cá! – Quando ela estava perto o bastante, a abracei com força, depositando um beijo em sua cabeça. Sofia vestia um short jeans branco e uma blusa branca. Havíamos ido ao ilê na primeira hora da manhã, e ela não trocou de roupa depois que chegou. – Vamos sentar ali um pouquinho pra gente conversar, okay?

Sofia me encarou curiosa, pelo meu tom sabia que eu falaria algo sério. Suas sobrancelhas se ergueram.

: - O que aconteceu, Mila? Papai brigou por estarmos indo?

: - Não, nada disso. – A guiei pelos ombros para a minha cama, me sentando e esperando que ela fizesse o mesmo. – É outra coisa.

: - E o que é?

Perguntou-me receosa, tirando a mochila das costas quando se sentou ao meu lado. Respirei fundo e deslizei os dedos pelo cabelo, sem saber ao certo como tocar naquele assunto com ela. Mas eu não podia deixar que ela viajasse comigo e Lauren sem saber de certos pontos.

: - Então, amor, não estamos indo sozinha para Petrópolis, Lauren vai conosco.

Vi um sorriso enorme rasgar o rosto de Sofia, e me deixava feliz o fato dela gostar tanto de Lauren, mesmo tendo convivido pouco.

: - Que legal! – Ela balançou as pernas animada, e eu acariciei seu cabelo sorrindo. – Gosto dela, ela é inteligente, e sabe tudo sobre Xbox. Vai ser divertido.

: - Sim, vai. Mas tem mais algumas coisas... – Suspirei e me virei de frente para ela, fazendo-a me encarar séria. – Sofi, a irmã gosta da Lauren e quero que saiba disso antes de irmos viajar.

: - Eu também gosto dela, Mila.

: - Não, amor, não é desse jeito. – Sofi ergueu as sobrancelhas, confusa. – É do jeito que namorados se gostam. Consegue entender?

Sofia ficou um tempo em silêncio, me encarando. Seus olhinhos não me mostravam nenhum tipo de rejeição a notícia, mas sim que ela talvez não soubesse o que dizer. Ela coçou a nuca e suas bochechas coraram, meu coração se aqueceu na mesma hora. Ela tinha dez anos, mas ainda era o meu bebê e era difícil falar sobre certas coisas com ela.

: - Tipo namorados? – Afirmei com a cabeça. – Isso significa que vocês estão juntas, tipo o papai e a mamãe eram? Igual novela?

Eu ri de suas comparações, confirmando.

: - É, tipo isso, amor. Não estamos juntas, juntas, mas o que você precisa saber é que nós temos uma espécie de relacionamento, e que vamos ficar bem grudadas nessa viagem e não quero que você se sinta incomodada. E o mais importante, não pode contar isso para ninguém. Será um segredo nosso.

: - Vocês vão se beijar?

Sofia estreitou os olhos, naquela típica cara de criança quando vê um casal aos beijos.

: - Sim, vamos.

: - Eca! – Ela suspirou, fazendo careta. Eu cai na risada. – Eu acho nojento beijar, eu não gosto quando algum menino tenta me beijar no colégio. Eu só tenho dez anos, né?

: - Isso mesmo, você só tem dez anos e é nojento beijar nessa idade. – Ela concordou, me deixando mais aliviada. – Como você está se sentindo com o que eu acabei de dizer? Sobre Lauren e eu.

: - Eu gosto da Lauren, ela é legal e muito bonita. Eu não queria que você arrumasse um namoro feio e burro mesmo, então já que você arrumou uma namorada bonita e inteligente como ela, eu fico feliz e animada.

Ela deu de ombros, fazendo pouco caso daquilo. Meu queixo quase caiu do rosto, e eu pisando em ovos para tocar naquele assunto com ela. Ninguém merece.

: - Não tem perguntas para fazer? – Perguntei.

: - Só uma.

: - Faça, amor. – Acariciei seu rosto, suspirando.

: - Lauren e eu podemos jogar Xbox juntas por pelo menos uma hora enquanto estivermos lá?

A pergunta... Eu crente que ela me perguntaria algo sério sobre Lauren e eu. Sofia não cansava de me surpreender.

: - Vou pensar no caso de vocês. – Avisei, pulando da cama. – Agora vamos, temos que buscar Lauren em casa ainda. Pegou tudo?

: - Peguei.

: - Já sabe as regras, né? – Peguei o celular na cama. – Seja educada com a Lauren, não seja inconveniente e o mais importante, me obedeça e a obedeça. Entendeu?

: - Entendi, Mila. – Sofi bufou, odiava aquele papo. – Agora podemos ir?

: - Vamos! Vai se despedindo do papai que eu já vou.

Ela saiu correndo na minha frente, deixando a mochila pra eu carregar. Bufei me sentindo sobrecarregada, estava parecendo um burro de carga. Mas o que eu não fazia por aquela criança? Até mesmo me virava em trinta. Antes de pegar as malas, mandei uma mensagem para Lauren no whatsapp.

"Estou saindo de casa agora, indo praí. Esteja na portaria quando eu chegar, Lauren, não me faça esperar. Estou louca para te ver e te beijar.

Até daqui a pouco!"

-

A serra estava tranquila, sem trânsito nenhum, o grande problema foi o caminho até ali. Rio de Janeiro é o inferno, demora duas horas para chegar em um lugar que levaria meia. O dia ensolarado ajudava a minha visibilidade, e eu dirigia sem transtornos. No banco de trás, Sofia estava concentrada na leitura de um livro que Lauren havia dado a ela, um conto infantil, como me disse. Ao meu lado, no banco do carona, a mulher mais velha estava concentrada na paisagem do lado de fora da janela. Vestia calça jeans, uma blusa decotada vermelha com a manha curta, ray-ban preto sensualmente encaixado na frente de seus olhos e uma sapatilha confortável nos pés, que eu muito insisti para que ela colocasse, porque se fosse por ela, teria ido de salto. Que mania horrível era aquela.

No som do carro, a voz dos integrantes da banda "3030" preenchiam o ambiente em volume baixo, me fazendo cantar a letra de "Bom dia" enquanto acompanhava a batida com os dedos no volante. Meus óculos escuros seguravam o meu cabelo no alto da minha cabeça, e eu troquei um sorriso com Lauren quando ela colocou seus olhos em mim.

: - Você canta bem. – A olhei rapidamente, logo voltando meus olhos para a estrada. – Mesmo que seja rap.

: - Você é a primeira que me diz isso. – Comentei com um sorriso, concentrada no volante. – Se nada der certo na minha vida, quem sabe eu não vire cantora?

Lauren deu uma risada, mordendo o cantinho da boca. Inferno! Ela me deixava louca. Se eu me concentrasse naquele lábio mordido por mais dois segundos, bateria o carro.

: - Eu compraria todos os seus CD's, pode ter certeza disso. – Abri um sorriso maior do que o meu rosto. Não tinha como aquele dia ficar melhor, era mesmo um bom dia, um ótimo dia. – Faria sucesso.

: - Considerando o meu desempenho em cantar pagode, eu faria sucesso mesmo cantando música de corno.

Eu disse debochada, fazendo Lauren negar com a cabeça, um sorriso lindo no rosto.

: - Se concentra nesse volante. – Ela me advertiu pela quantidade de tempo em que eu desviava meus olhos para ela. – Olha a responsabilidade.

: - Poderei te olhar bastante quando chegarmos lá?

Perguntei em um tom mais baixo, segurando com as duas mãos no volante, chegando o corpo um pouco mais para frente. Lauren deslizou os óculos para cima, sobre as mechas escuras de seu cabelo, me encarando com olhos arregalados.

: - Camila, olha Sofia...

Ela brigou baixo, indicando Sofia com os olhos. Aquele era o problema, sério?

: - Ela sabe. – Informei, dando umas olhadas rápidas para ela enquanto me concentrava nas curvas. – Contei para ela essa manhã, está tudo bem.

Lauren ainda olhou Sofia mais algumas vezes, parecendo se certificar de que eu falava a verdade. Conformada, ela relaxou o corpo no banco.

: - Relaxa, gringa! – Estiquei a mão para o lado, sem tirar os olhos da estrada e acariciei sua bochecha com as costas dos dedos por alguns segundos. – Somos apenas nós, não há nada que tenhamos que esconder por aqui.

: - Certeza?

: - Absoluta!

Confirmei, vendo portaria do município se aproximar. Os muros rosas se estendiam mais acima, parecendo a fachada de uma casa, havia um letreiro enorme que dizia:

"Petrópolis Cidade Imperial"

: - Chegamos?

Lauren perguntou com um tom de voz animado, aposto que havia se encantado de cara com aquela entrada.

: - Estamos perto, mais alguns minutos e chegaremos onde vamos ficar.

: - Foi construída para o Império?

Afirmei com a cabeça, diminuindo a velocidade do carro para passarmos pela grande portaria.

: - Aqui você vai encontrar a maior parte de toda a história do meu país. O museu, popularmente conhecido como Palácio Imperial, que nada mais é que o Palácio de Verão do Imperador Dom Pedro II.

: - Que excitante tudo isso.

Lauren parecia deslumbrada enquanto me ouvia falar e via as casas pelo lado de fora da janela. Eu me sentia bem, afinal, vê-la feliz me fazia feliz.

: - Eu amo o museu, Lauren. – Sofia disse animada no banco detrás. – Temos que andar de pantufa para não sujar nada, e é lá que está a pena de ouro em que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Eu nem sei o que significa Lei Áurea, mas a Mila disse que foi algo muito importante, então eu gosto dela.

Lauren e eu soltamos uma gargalhada, e trocamos um olhar caloroso antes da americana se virar para Sofia, sorrindo.

: - Foi muito importante mesmo, se quiser, lhe conto essa história assim que chegarmos.

: - Eu quero, eu gosto de saber de tudo.

: - E como gosta. – Alfinetei, rindo.

: - Saberá, pequena.

Lauren tocou sua bochecha com o dedo indicador e Sofia beijou o local, me deixando derretida. Não havia nada mais bonito do que vê-la daquele jeito com a minha irmã, que era a coisa mais preciosa para mim nesse mundo.

: - Bem, estão prontas para viverem o final de semana mais legal do ano?

Perguntei enquanto estacionava o carro na frente de um restaurante, estava louca para almoçar.

: - Eu estou, mais do que tudo. E você, Lolo?

E aquele apelidinho? Estavam intimidas mesmo. Tirei o cinto, destravando o carro. Lauren fez o mesmo que eu, e abrimos as portas para sairmos.

: - Animação é tudo o que me domina agora, princesinha. – Sofia riu empolgada, abrindo a porta. – Animação e fome.

Nós rimos juntas e saímos do carro, onde verifiquei mais de uma vez se ele estava realmente trancado e o contornei, encontrando Lauren e Sofia de mãos dadas. Conferi dinheiro e celular no bolso da calça, coloquei a chave do carro junto e estiquei minha mão direita para a mulher dois passos atrás de mim, fazendo-a me olhar.

: - Vamos?

Perguntei. Lauren olhou para a minha mão esticada, olhou para mim, mordeu o lábio inferior entre um sorriso e sacudiu a cabeça em negação, pegando minha mão e entrelaçando nossos dedos.

: - Vamos!

Apertei sua mão com força, sorrindo tanto que minha boca doía. O dia estava lindo, o céu azul, o sol presente, mas o clima fresquinho como de costume em Petrópolis. Eu não poderia querer nada mais. Me estiquei para o lado e selei seus lábios de forma rápida, lhe arrancando um riso antes de puxá-la pela mão, para que começássemos a andar na direção do restaurante. Sofia estava toda saltitante, contando para uma Lauren interessada tudo o que ela sabia sobre aquele lugar. E eu andava ao lado delas com o coração batendo forte, um sentimento gratificante e prazeroso. Não havia dúvidas de que aqueles dias ali fariam bem para nós, nos uniria ainda mais. Estávamos parecendo uma pequena família, e eu não me importaria nenhum pouco de que parecêssemos uma ao menos naquele final de semana.

Continue Reading

You'll Also Like

1.7M 145K 121
Exige sacrifício, não é só fazer oração Ela me deu o bote porque sabe que eu não sei nadar Eu desci o rio, agora ficou longe pra voltar Tem sangue fr...
155K 14.9K 23
Camila Cabello uma médica não muito sucedida, mas boa médica. Em uma noite chuvosa voltando do seu trabalho, ela encontra um lobo no meio da pista e...
5.7K 531 8
Camila Cabello é uma mulher bem comum , Vive na Cidade de Miami, está passando por um divórcio tenebroso e trabalha na biblioteca municipal. A vida p...
3.3K 144 37
*contém omegaverso** essa fic e mais pra quem gosta de barraco de família digo bagunça de família* Bom como todo clichê de aposta tem aquelas coisas...