No dia seguinte, passei o dia todo junto com a Alana e o Soren arrumando meu quarto. Meu pai não curtiu muito a ideia do Soren estar aqui em casa, eles nunca se deram muito bem na verdade, mas eu o tranquilizei dizendo que ele já tinha namorada, pois sabia muito bem o que estava passando pela cabeça dele.
- Nossa quanta coisa. - O Soren reclamou.
- Se ta achando ruim a porta esta logo ali.
- Nossa não precisa ser grossa Alana. - Retruquei.
- Vai se virar contra sua melhor amiga?
- Pera! Quem disse que você é minha melhor amiga?
- E não sou?
- Não. Não tenho melhor amiga.
- Pause. - O Soren nos interrompeu.
- O que foi? - Dissemos juntas.
- Espera que eu vou pegar a pipoca, quero ver o circo pegar fogo. - E fez uma risada maléfica.
- Nós não vamos brigar. - Confessei e a Alana concordou.
- Mas por que você não tem uma melhor amiga? - Ela quis saber.
- Porque isso é coisa de criança.
- Não creio que ouvi isso. É sério mesmo?
- Sim. Eu te considerava minha melhor amiga até os 13, depois percebi que só crianças tinham melhores amigos.
- Com quem foi que você andou nessa cidade? - O Soren entrou no meio. - Até eu tenho um melhor amigo.
- Nossa isso magoou. E eu que sempre guardei um lugar especial aqui. - Ela disse apontando para seu coração. - Mesmo que nós tenhamos ficados anos sem se falar uma com a outra, eu sempre te considerei minha melhor amiga e agora que você voltou eu descubro que, pra você, eu sou apenas uma amiga. - Após isso ela foi embora sem dizer nada.
Eu e o Soren nos olhamos.
- O que foi isso? - Questionei.
- Eu não sei. Mas nem eu acreditei nisso que você disse. Heiley, todos precisam de um melhor amigo. Isso não é coisa de criança. Isso significa que temos alguém com quem contar, alguém em que podemos confiar, contar tudo, que quando precisamos ele sempre estará lá, não importa a hora, o dia ou o lugar.
Pensei bem no que ele disse. Por fim decidi conserta a merda que eu havia feito.
- Vamos! - Disse saindo do quarto.
- Onde vamos?
- Me desculpa com a minha melhor amiga.
Ele abriu o sorriso que eu tanto amo. Se eu fosse um sorvete teria me derretido toda.
Toquei a campainha da casa dela. A própria atendeu.
- Sorry? - Abri um sorriso envergonhado e abri os braços na espera de um abraço.
- Por que eu deveria aceitar suas desculpas?
- Porque o Soren me fez perceber que eu estava errada. - Olhei e sorri pra ele. - Todos precisam de amigos e todos precisam ter um em especial para chamar de "melhor amigo" e tenho certeza de que eu não escolheria ninguém melhor que você.
- Merda! - Ela disse. - Esqueci como você é boa em argumentos. - Abriu um sorriso e me abraçou.
- Ai que bunitinho. - O Soren debochou da gente.
- Ah cala a boca. - Rimos e voltamos pra minha casa. É tão bom voltarmos a fazer as coisas como antigamente, só nós três e mais ninguém.
No dia seguinte assim cheguei na escola a Malu, que já havia chegado também, pediu para conversar em particular comigo. Eu não queria, mas fui só por curiosidade. Olhei para a Alana pra saber o que ela achava disso, mas ela estava concentrada no que a Laura estava falando para ela.
Fomos para uma parte mais afastada de onde as meninas estavam.
- O que foi? - Falei sem expressão.
- Fique longe do meu namorado. - Ela disse com raiva.
Hoje acordei inspirada e resolvi cutucar o bicho com vara curta.
- Ou o que? - Um sorriso sínico se formou em meu rosto.
- Ou você vai se arrepender.
- Em outras palavras você vai mandar seu pai dar um jeito em mim? Por que a princesinha não consegue resolver seus próprios problemas.
- Quem disse que não?
- Ah não? Então ta. E quando você quebrou a unha na semana passada e ligou para o seu pai vim te buscar? E quando você pagou para aquele garoto da sala fazer seu trabalho? - Então me lembrei de uma coisa. - E quando você roubou aqueles sapatos só por que seu pai se recusou a pagar por eles? - Bingo! Ela ficou pálida com essa minha última acusação.
- Como você soube disso?
- Tenho meus contatos. - E elas se chamam Laura e Paula. - O que será que o Soren faria se ele soubesse disso? - Uma das únicas coisas que ele não admitia era roubo, há menos que seja os docinhos antes do parabéns em uma festa de aniversario.
- Você não ousaria!
- Tente. Apenas tente.
- Você realmente seria capaz de deixa-lo triste? - Vai começar, mas antes que ela continuasse eu a interrompi.
- Me mudei não faz nem três semanas e umas das coisas que percebi é que ele não te ama tanto assim a ponto de namorar com você. Alias nem sei como é que ele esta namorando você, já que quando pequenos o assunto preferido entre eu, a Alana e ele era falar de você. E vai por mim não era boa coisa.
- Sabia que você não era "boazinha". - Me acusou.
- Eu sou. Só não sou com as pessoas que não merecem. E advinha? Você esta no topo da lista.
- Achei você. - A Alana veio em minha direção. - O que esta fazendo aqui? E com ela?
- Nada. Só vim resolver uns assuntos. Mas já terminei.
- Ah então vem. - Ela me puxou.
Assim que nos afastamos a Laura e a Paula nos encontraram e a Alana perguntou:
- Agora diz a verdade. O que você estava fazendo lá com ela?
Então eu expliquei a história toda.
- Me lembre de nunca te deixar brava. - A Laura me notificou.
- É. Quero morrer em paz com você. - Afirmou a Paula.
- Ainda bem que esse seu jeito não sumiu. Ele sempre é útil em determinada situação. - A Alana sorriu.
- Sério? Você sempre foi assim? - A Paula perguntou.
Afirmei com a cabeça.
- Nossa vocês precisavam ver ela na pré-escola. Ela botava o terror. E até hoje me pergunto como é que você sabia os segredos deles.
- Ser tímida tem suas vantagens. - Concluir.
Depois da escola eu e a Alana fomos dar uma volta pela cidade. Aproveitei que precisava gastar o vale presente que meus pais haviam me dado de aniversário e fomos às compras. Estávamos saindo de uma livraria quando encontramos com uma pessoa.
- Olha só quem vem lá? - A Alana disse.
- Quem? - Perguntei olhando em volta. Então segui o olhar da Alana. Foi ai que vi a Nanda.
- Ela nos viu. - Ela falou frustrada.
- Oi Alana! - A Nanda acenou caminhando em nossa direção. - Quanto tempo.
- É mesmo. - A Alana abriu um sorriso falso. - Lembra da Heiley?
A Nanda olhou pra mim e abriu um sorriso.
- Claro! - Respondeu e me abraçou. - Nossa como você esta diferente.
- Você também não continua a mesma. - Respondi.
Por alguns minutos ficamos jogando conversa fora. Ou melhor, ouvindo a "Amanda" falar sobre a vida dela (que em minha opinião era super desinteressante). Ela não fechou a boca um minuto se quer. Isso já estava me dando nos nervos. Foi ai que a Alana disfarçadamente me ligou e sussurrou para que eu fingisse que era meus pais. E quando "atendi" o telefone inventei uma conversa de que era para eu estar em casa em dez minutos. Nos despedimos dela e assim que nos afastamos o suficiente falei:
- Agora entendi por que você se afastou dela.
- Você não viu nada. Ainda bem que ela estava sem as amigas dela. Elas são super irritantes, se acham a última bolacha do pacote, e quando você esta vestindo algo que elas não gostaram começam a debochar de você e elas nem disfarçam ou acham que estão disfarçando quando na verdade não estão.
Resolvemos para tomar um sorvete. Assim que entramos na sorveteria vemos o Soren. A Alana vai pedi os sorvetes e eu fui falar com ele.
- Oi.
- Ah. Oi. - Ele abre aquele sorriso dele.
- Eu e a Alana podemos sentar aqui ou você esta com sua namorada?
- Podem sim. Eu estou sozinho.
Sento-me e percebo que ele esta meio pra baixo.
- O que houve? - Pergunto.
- Ã? Nada.
- Então por que você esta triste?
- Eu não estou triste.
Então a Alana chegou com os sorvetes e se sentou ao meu lado.
- Oi Soren. Por que você esta triste? - Ela pergunta.
- Viu? - Afirmei.
- Tudo bem. É por causa da Malu.
- O que tem ela? - Digo.
- Há dez minutos ela me pediu pra escolher entre ela e vocês.
- Por que isso? - Perguntei, já sabendo o motivo.
- Sei lá. Ela disse que não se sente confortável em me ver andando ou falando com vocês.
- Nossa que idiota. - A Alana disse meio alterada.
- Olha! - Comecei. - Eu não sei como é o namoro de vocês e nem quero saber, não conheço vocês como antigamente, já que fiquei cinco anos longe e nós amadurecemos de lá pra cá, mas de uma coisa eu sei. Quando se esta namorando e a pessoa faz você escolher entre ela ou os amigos é porque essa pessoa não te merece. Não merece ninguém na verdade.
- A Heiley tem razão. Se eu tivesse um namorado eu nunca o faria escolher entre eu ou os amigos. Assim como não gostaria que ele me pedisse para fazer a mesma escolha.
- É acho que vocês estão certas. - Ele abriu um meio sorriso. - Mas eu gosto dela.
- Tai! - A Alana quase gritou. - Você disse que gosta dela e não que a ama.
- Sim, mas me apeguei a ela. Não sei se...
- Como é que vocês começaram a namorar pra começo de conversa? - O interrompi.
- Já faz quase um ano. A professora de Português nos pediu para fazer um trabalho em dupla e para não ter confusão ela escolheu as duplas e eu fiquei com a Malu. Enquanto fazíamos o trabalho eu percebi que ela era muito bonita, que ela era divertida e gostávamos de coisas em comum. Depois que terminamos o trabalho começamos a sair, depois de um mês eu a pedi em namoro e ela aceitou.
- Entendi. Mas então o que você vai fazer? - Perguntei.
- Vou pensar mais um pouco.
- Posso fazer uma pergunta?
Ele fez que sim com a cabeça.
- Só pra me atualizar. O que você acha sobre roubar?
A Alana me olhou com uma cara de surpresa.
- Sou contra a menos que seja docinhos antes do parabéns. Mas isso você já sabe. - Ele respondeu.
- Como eu disse "só pra me atualizar"
- E falando em roubar. Como vai meu parceiro de roubo de brigadeiro? Mais conhecido como Luiz.
Fiquei triste, mas não estava com vontade de chorar.
- O que foi Heiley? - A Alana me perguntou já me abraçando.
- Aconteceu alguma coisa com ele? - O Soren perguntou em seguida.
Balancei a cabeça afirmando.
- O que? - Os dois disseram ao mesmo tempo.
- Ele... ele morreu. - Pela primeira vez eu não chorei ao me lembrar disso. Isso é bom.
- Oh my God!
- Deus do céu!
Os dois ficaram espantados.
- Como foi que isso aconteceu? - O Soren perguntou. - Se você estiver à vontade pra falar, é claro.
- Não. Tudo bem.
Então contei à eles a história toda. E acrescentei no final:
- E esse foi o motivo de termos nos mudado de volta.
A tia Magda tinha razão, com o tempo isso só seria uma lembrança ruim. E foi isso que se tornou " apenas uma lembrança ruim".
- Você não tem vontade de chorar quando você fala sobre isso? - A Alana me pergunta.
- Na verdade essa é a primeira vez que eu falo sobre isso sem chorar.
- Então não vamos mais falar sobre isso. - Soren disse se levantando.
- Onde você vai? - Pergunto.
- Já volto. - E foi em direção ao banheiro.
- Ok. Mudando completamente a vibe. Que história foi aquela do "O que você acha sobre roubar?". - Ela disse tentando imitar minha voz, mas de um jeito irritante.
- Sei lá. Eu estava pensando em perguntar quando percebi já tinha dito.
- Digo nada.
Ela abriu a boca para falar algo, mas o Soren, que estava meio empolgado, a interrompeu.
- Vocês tem algum podre para que eu possa jogar na cara da Malu quando eu terminar com ela?
- Você vai terminar com ela! - Quase gritamos.
- Sim. Eu pensei bem e percebi que nem meus pais dizem com quem eu devo andar ou não, então por que ela me diria?
- Tem razão. - Alana afirmou.
Contamos a ele a história do roubo. Como de se esperar ele não gostou.
- Ela não fez isso.
- Pior que fez. - Afirmei.
Ele se levantou.
- Então até depois, vou resolver isso agora.
- Posso ir com você?
- Alana! - A repreendi.
- Que foi? Quero ver a cara dela quando o Soren disser: "esta tudo acabado, vadia".
- Eu não vou chama-la de vadia.
- Tem razão. Isso é coisa de mulher.
- Pensando bem, também quero ver a cara dela. Posso ir também?
Ele riu.
- Se eu disser que não, vocês vão do mesmo jeito.
- Exatamente. - Dissemos em uníssono.
Oie gente,
Desculpe por não ter postado semana passada, mas fui atingida pelo pior pesadelo de um escritor. O tão maldito "bloqueio criativo". Mas já passou e já escrevi quatro capítulos e vou posta-los todo domingo. E para compensar esse tempo que fiquei sem postar amanhã ou terça postarei outro capítulo e junto publicarei o prólogo do meu próximo livro chamado "Anjos não tem tamanho".
Bjs e até amanhã ou terça. 😘