Iracema (JOSÉ DE ALENCAR)

By DeborahBacelar

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Uma história de José de Alencar. Com 33 capítulos. O livro narra a história da índia Iracema, a virgem dos l... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33

Capítulo 25

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By DeborahBacelar

A alegria ainda morou na cabana todo o tempo que as espigas de milho levaram a amarelecer.

Uma alvorada, caminhava o cristão pela borda do mar.
Sua alma estava cansada.
O colibri sacia-se de mel e perfume; depois adormece em seu branco ninho de cotão até que volta no outro ano a lua das flores.

Como o colibri, a alma do guerreiro também satura-se de felicidade e carece de sono e repouso.
A caça e as excursões pela montanha em companhia do amigo, as carícias da terna esposa que o esperavam na volta, e o doce carbeto no copiar da cabana, já não acordavam nele as emoções de outrora.
Seu coração ressonava.
Quando Iracema brincava pela praia os olhos do guerreiro retiravam-se dela para se estenderem pela imensidade dos mares.
Viram umas asas brancas, que adejavam pelos campos azuis. Conheceu o cristão que era uma grande igara de muitas velas, como construíam seus irmãos; e a saudade da pátria apertou-lhe o seio.
Alto ia o sol, e o guerreiro na praia seguia com os olhos as asas brancas que fugiam.
Debalde a esposa o chamou à cabana, debalde ofereceu a seus olhos as graças dela e os frutos melhores do campo.
Não se moveu o guerreiro, senão quando a vela sumiu-se no horizonte.
Poti voltou da serra, onde pela vez primeira fora só. Tinha deixado a serenidade na fronte de seu irmão e achava ali a tristeza.

Martim saiu-lhe ao encontro:

- A igara grande do branco tapuia passou no mar. Os olhos de teu irmão a viram que voava para as margens do Mearim, aliados dos tupinambás, inimigos de tua e minha raça.

- Poti é senhor de mil arcos; se é teu desejo, ele te acompanhará com seus guerreiros às margens do Mearim para vencer o tapuitinga e seu amigo, o pérfido tupinambá.

- Quando for tempo, teu irmão te dirá.

Os guerreiros entraram na cabana, onde estava Iracema.
A maviosa canção nesse dia tinha emudecido nos lábios da esposa. Ela tecia suspirando a franja da rede materna, mais larga e espessa que a rede do himeneu.

Poti, que a viu tão ocupada, falou:

- Quando a sabiá canta, é o tempo do amor; quando emudece, fabrica o ninho para sua prole; é o tempo do trabalho.
- Meu irmão fala como a rã quando anuncia a chuva; mas a sabiá, que faz seu ninho, não sabe se dormirá nele.

A voz de Iracema gemia.
Seu olhar buscou o esposo. Martim pensava; as palavras de Iracema passaram por ele, como a brisa pela face lisa da rocha, sem eco nem rumores.
O sol brilhava sempre sobre as praias do mar e as areias refletiam os raios ardentes; mas nem a luz que vinha do céu, nem a luz que refletia da terra espancaram a sombra n'alma do cristão.
Cada vez o crepúsculo era maior em sua fronte.
Chegou das margens do rio das garças um guerreiro pitiguara, mandado por Jacaúna a seu irmão Poti.
Ele veio seguindo o rasto dos viajantes até o Trairi, onde os pescadores o guiaram à cabana. Poti estava só no copiar; ergueu-se e abaixou a fronte para escutar com respeito e gravidade as palavras que lhe mandava seu irmão pela boca do mensageiro.

- O tapuitinga, que estava no Mearim, veio pelas matas até o princípio da Ibiapaba, onde fez aliança com Irapuã, para combater a nação pitiguara.
Eles vão descer da serra às margens do rio em que bebem as garças e onde tu levantaste a taba de teus guerreiros.
Jacaúna te chama para defender os campos de nossos pais; teu povo carece de seu maior guerreiro.

- Volta às margens do Acaracu, e teu pé não descanse enquanto não pisar o chão da cabana de Jacaúna.
Quando aí estiveres, dize ao grande chefe: "Teu irmão é chegado à taba de seus guerreiros". E tu não mentirás.
O mensageiro partiu.
Poti vestiu suas armas e caminhou para a várzea, guiado pelo passo de Coatiabo.
Ele o encontrou muito além, vagando entre os canaviais que bordam as margens de Aquiraz.

- O branco tapuia está na Ibiapaba para ajudar os tabajaras a combater contra Jacaúna.
Teu irmão corre a defender a terra de seus filhos e a taba onde dorme o camucim de seu pai.
Ele saberá vencer depressa para voltar à tua presença.

- Teu irmão parte contigo. Nada separa dois guerreiros amigos quando troa a inúbia da guerra.

- Tu és grande como o mar e bom como o céu.

Abraçaram-se e partiram com rosto para as bandas do nascente.

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