Carol - Ao seu lado encontrei...

Mikalves19 द्वारा

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LIVRO REGISTRADO- PLÁGIO É CRIME. Carol perdeu a família em um acidente de carro aos dez anos de idade e desd... अधिक

Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5- Parte 1
Capítulo 5- parte 2
Capítulo 6
NOVA HISTORIA
Capítulo 7
Capítulo 8
AVISO
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capitulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23- parte I
Capítulo 23- parte II
Capítulo 24
Capítulo 25
Bônus Camila
Capítulo 26
capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 28-parte II
Capítulo 29
Bônus Cristiano
Capitulo 30
Bônus Jonas
Capitulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Pausa temporaria
Capítulo 34 - FIM
Epílogo
Nova Historia -Prólogo

Capítulo 1

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Mikalves19 द्वारा

Oi queridxs leitorxs!!

Estava com saudades de vocês.
Então, esse é o meu segundo livro e contará a historia da Carol e do Heitor( filho da Camila e do Cris, nosso casal apaixonado de "A cura no amor", quem ainda não leu e quiser ler dá uma olhadinha no meu perfil).

Espero que gostem.
Não se esqueçam de votar e deixe seu comentário.

Bjinhos, boa leitura e até mais :).
Capítulo dedicado a NATI GUIMARÃES que fez essa capa fantastica me ajudou com o nome da historia.

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Carol.

Antes mesmo que eu abrisse os olhos, senti dois bracinhos envolvendo a minha cintura. O Cauã dormia abraçado comigo e eu sorri satisfeita. Com certeza ele tinha passado para a minha cama durante a madrugada, porque eu não havia o visto deitar comigo. Quando abri os olhos e vi aquele emaranhado de cabelos castanhos, eu passei a mão pelos seus cachos e o apertei contra mim. Eu gostava quando o Cauã dormia comigo, aquilo me fazia sentir menos sozinha.

Ainda era cedo e para não acorda-lo, desvencilhei-me do seu abraço e levantei-me da cama com cuidado. Meu celular já havia despertado. Era hora de me arrumar para o trabalho.

Eu fui até o guarda-roupa, escolhi um par de roupa mais novo que eu tinha e fui para o banheiro tomar um banho.

Aquele era o único momento do dia que eu tinha para relaxar. Aproveitei que todos estavam dormindo e fiquei um pouco mais do que o costume debaixo do chuveiro.

Vesti minha calça jeans e camiseta branca no banheiro e quando voltei para o quarto encontrei minha tia ainda dormindo na sua cama, mas o Cauã já estava acordado e  brincava na minha cama que ficava ao lado da dela.

Ele ainda tinha o rosto amassado de sono, mas se divertia com dois bonecos dos vingadores que eu o havia dado de presente de aniversário. O Cauã não desgrudava daqueles brinquedos,  até mesmo dormia com eles e eu achava uma graça.

Ele ainda estava distraído com os bonecos, quando eu pulei na cama ao seu lado.

-Bom dia Hulk.- eu falei e beijei seu rosto.

-Não mamãe, eu sou o homem de ferro o hulk é verde.- ele me corrigiu e soltou uma gargalhada.

"Mamãe..." eu pensei e sorri fracamente. Bem que se eu pudesse escolher, seria mãe dele. Eu já me sentia, mas era mãe só no coração.

-Cauã,  você lembra do nosso combinado? Eu te amo muito, mas você tem que me chamar de Cacau. Se sua mãe ouve você me chamando assim, vai brigar com nós dois igual aquela vez na escola.

Ele suspirou insatisfeito e abaixou a cabeça.

-Mas a Sablina...

-Você quer dizer sua mãe.- eu o corrrigi.

-É. Ela nem gosta que eu durmo na cama dela igual você. Ela chegou com o Yuli ontem e mandou eu ir embola do qualto na hola que eu tavo dolmino.- ele falou chateado.

Yuri...quer dizer que a Sabrina estava com o Yuri no quarto. Então era por isso que o Cauã passou para a minha cama durante a madrugada.

Eu abri a boca para dar uma desculpa para o Cauã,  quando a minha tia se remexeu na cama.

-Dá para vocês dois calarem a merda da boca. Eu estou tentando dormir.- ela resmungou e virou para o canto.

-Desculpa tia.- eu pedi.

Peguei o Cauã, sai do quarto e o levei para a sala. Liguei a TV e deixei ele assistindo desenho enquanto eu fazia o café da manhã.

Quando terminei de fazer as panquecas e o leite com achocolatado eu fui para a sala e me sentei com ele no sofá. O Cauã comia com vontade e eu o observava com um sorriso.

Quem poderia dizer que um dia eu amaria tanto aquela criança?

Quando a minha prima engravidou eu nunca imaginei que teria esse sentimento por ele. Para ser sincera eu pensei que não conseguiria nem olhar no rosto dele direito.

Cauã tinha três anos e era o filho da minha prima com o meu ex namorado. Tinha descoberto a traição dos dois da pior forma ao encontrá-los transando no sofá da sala.

Na época fiquei arrasada, ainda era uma adolescente apaixonada e tinha acabado de perder a minha virgindade com o Yuri, mas o pior de tudo foi descobrir que a Sabrina nunca havia sido a minha amiga como eu acreditava.

Quando veio a notícia de que ela estava grávida, ela fez questão de esfregar na minha cara. Tive que suportar ela e o Yuri namorando durante treze longos meses e eles faziam questão de jogar na minha cara o filho que teriam juntos.

Aquela foi a época em que eu me senti mais sozinha na vida. Já tinha perdido meus pais e irmão, e tinha que lidar com o fato de o unico homem até entao que dizia me amar, havia mentido para me levar para cama e engravidado minha prima. Eu não sabia dizer o que sentia quando via a barriga da Sabrina, só sei que era um sentimento ruim, uma mistura de tristeza, raiva e angustia.

Quando ela foi ganhar o menino, eu nem fui ao hospital. Nem mesmo quis ve-lo quando ela voltou para casa. Eu evitava de todo jeito ver a criança, até um dia que não teve como.

Foi em uma noite de sábado,  a Sabrina havia acabado de sair do resguardo e decidiu sair para beber com as amigas no bar da loira. Minha prima tinha deixado o menino dormindo na cama dela sozinho.

Eu, como sempre naquele tempo,  estava trancada dentro do outro quarto sozinha. Mexia no celular quando o choro de bebê começou. No começo foi um choro baixo e eu fiquei quieta na esperança de que ele voltasse a dormir, mas o choro aumentou. O menino se esguelava e eu fui obrigada a sair do quarto e ir até ele para ver o que tinha acontecido.

Confesso que fui até o quarto a contragosto. O menino chorava tanto que estava até vermelho, mas quando eu me aproximei e ele me viu, diminuiu o choro na hora. Eu o peguei no colo e quando olhei seu rostinho de perto pela primeira vez, senti uma coisa tão forte e boa no peito. Ele tinha os olhinhos dourados e os cabelos castanhos, lembrava minha falecida mãe. O Cauã focou os olhos em mim por alguns segundos e seu choro diminuiu.  Eu fiquei parada olhando para ele no meu colo, até que ele parou de chorar e sorriu. Naquela noite a Sabrina não voltou para casa e fui eu quem esquentei a mamadeira que ela deixava pronta para madrugada e dormir com o Cauã na minha cama. Desde então a gente não se desgrudava. Eu o amava tanto, mas tanto, que me sentia mãe. Eu fazia de tudo por aquele menino. Ele era a minha família.

Eu passei uma mão pelos seus cabelos enquanto ele comia e sorri.

-Você gostou da panqueca que eu fiz?- eu perguntei.

-Uhum, gostei muitão.-ele respondeu.

-Então come tudo rapidinho se quiser que eu te dê banho antes de eu sair para o serviço.- eu falei.

Nesse momento o Cauã enfiou tudo na boca de uma vez só.

-Plonto, cabei.- ele respondeu de boca cheia.

Eu gargalhei e baguncei seu cabelo.

-Não precisava ser tão rápido menino. Nem o Hulk come assim.-eu brinquei e o peguei no colo. .

Eu levei o Cauã para o banheiro,  tirei seu pijama e dei um banho nele. Depois disso eu peguei seu uniforme no guarda-roupa. Era eu quem cuidava das roupas do Cauã,  porque se fosse depender da Sabrina, o menino andava imundo, então as roupas dele sempre ficavam junto com as minhas. Eu estava vestindo-o com o seu uniforme quando minha prima saiu do quarto dela gargalhando junto com o Yuri.

Pois é, os dois ainda namoravam, ou ficavam, ou transavam... Enfim, eles tinham um relacionamento bem estranho. Depois que o Cauã fez uns dois meses, eles separaram oficialmente, mas sempre tinham umas recaídas.

Os dois saíram abraçados, mas o Yuri soltou a Sabrina e se agachou em frente o filho.

-Oi filhão.- ele falou e bagunçou os cabelos do Cauã.

O Cauã se escondeu parcialmente atrás de mim e segurou minha perna.

-Oi.- ele respondeu baixo.

O Cauã não era um garoto muito aberto e o Yuri não era bem um exemplar de pai. Ele custava aparecer para ver o filho e não tinha nenhum jeito com crianças. Em compensação com mulheres ele não tinha problema nenhum para se entrosar, porque olhou para mim e piscou.

-Oi Carol.-ele cumprimentou com um sorriso.

-Oi- eu respondi de má vontade e me virei para minha prima- Sabrina, eu já dei o café da manhã e um banho no Cauã.- eu avisei.

Olhei as horas no meu celular e peguei a minha bolsa. Meu ônibus ia sair em dez minutos.

Dei um beijo no Cauã e quando estava saido pela porta a minha prima me chamou.

-Carol, leva o Cauã para creche.- ela pediu e se sentou no colo do Yuri no sofá.

- Não dá tempo, meu ônibus sai daqui a pouco.

-Que pena.- ela falou para mim e se virou para o Cauã.

Ele já segurava sua mochilinha dos vingadores na mão e olhava para mãe.

-Cauã, vai para o quarto. Hoje você não vai para escola.- ela falou para ele.

O Cauã continuou parado e quando a Sabrina percebeu que ele não sairia da sala, ela se levantou do sofá e o pegou pelo braço.

-Anda garoto, você não está vendo que eu quero ficar sozinha com o seu pai.- ela falou enquanto o arrastava em direção ao quarto.

Eu respirei fundo, fechei a porta e fui até eles.

Ás vezes eu tinha vontade de esmurrar a Sabrina, não suportava ver o jeito como ela tratava o Cauã e o pior era que o Yuri assistia a tudo calado.

-Solta ele Sabrina.- eu falei me segurando para não estapear a cara dela na frente da criança.

-Dá licença que o filho é meu.-ela respondeu irritada.

Eu já estava no limite. Comigo eu até suportava,  mas quando ela maltratava o Cauã eu não conseguia engolir. Eu puxei o Cauã da sua mão e peguei o menino no colo. Sai sem falar uma palavra e sem olhar para trás.  Levaria ele para creche. Eu chegaria atrasada no serviço, mas era melhor do que ficar preocupada o dia inteiro.

Não gostava de deixá-lo em casa quando a Sabrina estava com algum homem, ela sempre deixava o menino preso no quarto e minha tia, apesar de gostar do Cauã, não tinha muita paciência com crianças.

O Cauã também não gostava de ficar em casa sozinho com as duas, tanto que estava todo contente enquanto seguíamos para a Umei.

Durante o caminho o Cauã não parava de falar dos amiginhos e das professoras.  Dez minutos depois eu estava entrando no portão da creche. Eu me agachei na sua frente e ajeitei seu uniforme.

-Se comporte e obedeça a professora.- eu falei.

Ele assentiu com a cabeça e eu dei um beijo no seu rosto e me levantei para ir embora. Não dei nem dez passos e ele correu atrás de mim.

-Cacau, espela.- ele pediu.

O Cauã vivia trocando o r pelo l, igual o cebolinha da turma da Mônica.

-O que foi meu amor?- eu perguntei e peguei ele no colo.

-Você vai pala a escola hoje de novo?- ele perguntou.

-Vou.

Assim que eu respondi o Cauã olhou para baixo tristemente e suspirou frustrado.

-Todo dia você tem escola de noite. Eu gostava quando você não estudava.- ele falou

-Eu também sinto falta de ficar com você de noite, mas amanhã é sábado e eu vou ficar o dia inteiro com você.- eu falei para animá-lo.

-Plomete?- ele perguntou com tanta seriedade que me deu vontade de rir.

-Prometo, mas só se você obedecer a sua mãe quando chegar em casa.

-Tá bom.- ele respondeu sorrindo.

-Então está combinado. Agora vai para sala, que eu tenho que ir senão meu chefe vai puxar minha orelha-eu respondi e o coloquei no chão.

O Cauã deixou um beijo na minha bochecha e correu de volta para a Umei. Eu esperei ele entrar e segui para o ponto de ônibus. Cheguei no trabalho mais de meia hora atrasada.

Eu trabalhava como ajudante de cozinha em um dos bufês mais luxuosos da cidade, o salario não era grandes coisas, mas eu amava o que fazia.

Meu sonho era abrir um restaurante especializado na culinária brasileira e eu estava lutando para concretizar o meu sonho, já tinha dado um passo importante ao conseguir uma bolsa integral para estudar gastronomia em uma das faculdades mais renomadas do Brasil, e se fosse da vontade de Deus em cinco anos eu estaria abrindo o "Cada canto do Brasil".

Assim que cheguei no serviço eu peguei meu avental e fui para meu posto.

Não demorou muito para a Luna aparecer.

-Chegou tarde Carol. Passei na sua casa para te chamar, mas sua prima falou que você tinha saído.- ela comentou.

- Tive que levar o Cauã na creche.

- De novo? A Sabrina já está passando dos limites, está para nascer uma pessoa mais folgada que ela.- minha amiga reclamou por mim.

-Nem me fale.- eu falei enquanto derretia o chocolate para fazer a calda de um bolo.

A Luna era daquele jeito mesmo: sempre pegava as dores dos amigos para ela. Ela era a única amiga que eu tinha.

Eu conheci a Luna aos dez anos de idade quando me mudei para morar com a minha tia. Ela morava no mesmo conjunto habitacional que nós. Eu me lembrava nitidamente a primeira vez que a gente conversou. A Luna me viu sozinha no balanço que ficava na pracinha e correu para me chamar para pular corda, desde aquele dia nós eramos como irmãs.

Havia sido ela que tinha me arrumado aquele emprego no buffet e também tinha me convencido a tentar uma bolsa de estudos na faculdade. A Luna era a unica que acreditava no meu sonho.

- Sabia que tem gente que acha que você que é mãe do Cauã?- ela falou enquanto comia as raspas do chocolate

- Não exagera Luna.

-É serio Carol. Eu gosto muito dele, mas você trata esse menino como se fosse seu filho, até ir para o hospital sozinha com ele de madrugada você já foi. Eu nunca vi a Sabrina fazendo isso.

- A Sabrina não estava em casa no dia. - eu argumentei.

-Eu sei. Ela estava no baile funk dando para metade do conjunto enquanto a trouxa da prima estava perdendo a noite de sábado em uma fila de hospital com o filho dela. - ela falou irritada.

A Luna nunca gostou da Sabrina e eu não tirava a razão dela, a minha prima já tinha dado de cima do namorado dela e eles quase terminaram por causa disso.

- Eu não sou trouxa. Cuido do Cauã porque gosto dele, não é nenhum sacrificio para mim.- eu falei.

Ela bufou e balançou a cabeça em negativa.

-Eu desisto. Vamos falar de outra coisa porque esse assunto me irrita. Me fala, como está indo na faculdade?Já arranjou algum sarado para tirar o atraso? - ela perguntou sorrindo

-Luna!- eu exclamei e joguei um pano de prato nela.

-Que foi? Vai me dizer que lá não tem homem? - ela perguntou se fazendo de inocente-

Homem bonito era o que mais tinha na universidade, mas em compensação as mulheres, diferentes de mim, pareciam modelos de tão bonitas. A grande maioria eram filhos de empresários e políticos, resumindo, nenhum deles sequer sonharia em olhar para mim.

- Tem até demais.- eu falei e até suspirei sem querer.

- Então. Já faz mais de um mês que você está estudando, já deu tempo de conhecer algum gato.

"Se pelo menos eles olhassem na minha cara, já estava de bom tamanho." eu pensei.

Naquele tempo em que eu estava estudando na Universidade Premium eu só tinha feito amizade com o porteiro, com uma mulher de meia idade que trabalhava na faxina e com apenas uma garota na minha sala. O restante dos alunos passavam por mim sem nem notar a minha presença.

- Luna, eu não estou na faculdade para namorar. Meu foco é passar nas matérias.- eu falei enquanto tirava o bolo do forno.

- Qual é Cacau. Uma noite de sexo sempre faz bem.- ela falou, começou a gargalhar e eu não pude deixar de rir com ela.

A Luna sempre me fazia rir. Isso era uma das coisas que eu amava nela. A Luna tinha um astral que contagiava a gente.

Nós ficamos conversando por um tempo e depois cada uma foi fazer uma tarefa.

O dia passou rápido e quando meu expediente acabou eu corri para o vestiário. Nunca dava tempo de passar em casa então eu sempre me arrumava no serviço mesmo e ia direto para a faculdade.

Entrei no banheiro e assim que me olhei no espelho suspirei desanimada. Eu estava horrível. Meu cabelo escovado estava cheio de fios arrepiados, minha pele oleosa tinha derretido a pouca maquiagem que eu tinha passado e eu estava parecendo um panda com aquelas olheiras.

Abri a minha bolsa á procura do pó compacto e do óleo de cabelo. Comecei a pentear os fios com os dedos, mas acabei perdendo a paciência e fiz um coque.

-Melhor do que isso só fazendo milagre.- eu falei para o meu reflexo e sai do banheiro.

Eu tinha duas opções de trajeto: ônibus ou metrô. Naquele dia o transito estava agarrado, então eu decidi pelo segundo. O metro estava lotado e abafado naquela noite. Eu fiquei meia hora de pé e ainda andei uns três quarteirões até chegar na portaria principal da faculdade.

Universidade Premiu: uma das melhores instituições de ensino superior do país e eu, Carol Souza, estudava ali. Já fazia um mês que eu entrava e saía por aqueles portões, mas ainda pensava que estava sonhando. Alguns anos atrás eu nem mesmo tinha perspectiva de estudar, agora estava em uma das melhores faculdades.  Era tão surreal e um mundo tão diferente do meu, que eu ainda não conseguia acreditar. 

Eu passei pela porta de vidro  com o peito batendo de alegria e o porteiro sorriu para mim.

-Boa noite Carol.- o porteiro desejou.

- Boa noite Chico.- eu respondi sorrindo.

Eu rodei a catraca da portaria e subi para a sala correndo. Eu poderia estar achando que estava sonhando,  mas meu atraso era real. Quando entrei na sala o professor já estava explicando a matéria.

-Com licença. Posso entrar?- eu perguntei.

O professor sorriu para mim e assentiu. Acho que ele não importava muito quando eu me atrasava, porque sabia que eu trabalhava o dia todo.

Eu ajeitei a minha bolsa surrada no ombro, entrei na sala sob os olhares e comentários dos alunos e sentei-me no fundo. Eu gostava de estar ali por causa das matérias,  porque se fosse depender do povo, eu não tinha voltado para o segundo dia de aula. Ninguém ali parecia propenso a se tornar meu amigo. As vezes eu tinha a impressão que eles olhavam para mim e viam algum bichinho de zoológico.

Eu tentei ignorar como sempre e tirei meu único caderno de dez matérias da mochila. A aula foi tão boa que passou rápidamente.

Quando o sinal bateu todo mundo começou a se levantar e sair da sala.  Eu coloquei meu caderno de volta na bolsa e me levantei da carteira. Assim que sai da sala eu passei por um grupo de meninas e elas começaram a rir. Eu parei e olhei para trás. Ou eu estava ficando paranóica ou então ela estavam rindo de mim.

Eram três: uma ruiva, uma loira e uma morena. Todas com cabelo escorrido e com um risinho irônico de canto de boca. Elas olharam para mim com um ar de deboche e quando eu me virei e voltei a andar, elas começaram a gargalhar. Foi ai que eu tive certeza de que eu era a piada.

Eu senti uma dorzinha no peito, mas levantei a minha cabeça e continuei andando. Aquelas patricinhas estavam muito enganadas se achavam que iam me intimidar com risadas.

Dei poucos passos, até que uma voz feminina me chamou.

-Carol, espera.- era a Lauanda.

Eu me virei para trás e ela estava correndo em minha direção. Seus cabelos ruivos bagunçados e seu rosto sem nenhuma maquiagem a diferenciavam da grande maioria das meninas dali. A Luanda foi a única pessoa da sala que puxou conversa comigo e desde então nós andávamos juntas. Ainda era muito cedo para dizer, mas eu tinha certeza de que nós nos tornariamos grandes amigas.

-Oi Lauanda.- eu falei quando ela chegou ao meu lado.

-Por que você não sentou do meu lado? Eu tinha guardado um lugar para você.- ela disparou.

-Me desculpa, eu não te vi quando cheguei.

-Você está indo para a sala já? -ela perguntou.

-Sim. Quero ver se consigo um lugar na frente- eu respondi.

-Eu também. Na última aula a gente pegou um lugar péssimo.- a Luanda completou.

Nós voltamos a andar e fomos conversando até chegar à sala onde seria a próxima aula. Eu deixei a minha mochila na carteira para reservar o lugar e peguei meu dinheiro no bolso de fora.

-Eu vou até a lanchonete, você vem?- eu perguntei para a Luanda.

-Não. Tenho que terminar de fazer um exercício. Você traz um capuccino para mim?- ela perguntou.

-Claro.

A Lauanda pegou uma nota de dez na carteira e me entregou.

-Com chantili por favor.

-Está bem.- eu respondi.

Eu sai da sala faltando uns dez minutos para o intervalo acabar. Eu desci pela escada e quando cheguei na lanchonete a fila estava enorme. Gastei os dez minutos que faltava só esperando para ser atendida. Tomei o meu café com leite lá mesmo e em menos de três minutos e pedi o capuccino para levar.

Estava andando pelo corredor com o capuccino em uma mão e o troco e o celular na outra. Minha calça era do tipo que não tinha bolso e eu estava me virando do jeito que dava. Meus passos eram rapidos, mas no meio do caminho meu celular escorregou da minha mão e se espatifou no chão.

-Merda- eu xinguei baixinho e me abaixei para pegar o aparelho deixando o dinheiro cair também.

Comecei a catar os pedaços do telefone e o dinheiro pelo chão. Eu  estava com pressa, não prestei atenção  e assim que me levantei uma coisa se chocou em mim. Eu tomei um susto quando senti o liquido quente sendo despejado na minha blusa, e quando olhei para frente dei de cara com as calças molhadas de um homem.

Tinha derramado o capuccino em um cara e digamos que quem olhasse para as calças dele não teria duvidas de que ele tinha se mijado. Eu juro que tentei me conter,  mas não consegui evitar o riso.

- Me desculpe. Eu sou desastrada demais, não te vi.- eu pedi e meu riso tímido se transformou em um crise de riso.

Eu estava morrendo de vergonha,  mas não conseguia me controlar.

-Não tem problema. A culpa é minha, eu estava distraido.- ele falou visivelmente sem graça.

-Espera só um segundo.- eu pedi ainda rindo.

Corri até o banheiro que estava a um metro de distância, peguei quase meio rolo de papel higiênico, molhei na torneira e voltei até ele. Não podia deixar o cara com aquela mancha nas calças. Acontece que eu era tão sem noção que tive uma idéia que só eu mesmo era capaz de ter.

Voltei até o homem com o papel na mão e fiz como sempre fazia quando o Cauã se sujava: me ajoelhei na sua frente e esfreguei o papel molhado no lugar.

-Eu vou tirar essa mancha.- eu falei enquanto passava o papel com força pela sua calça.

O papel ajudava a tirar a sujeira, o problema era que o Cauã era uma criança, já o homem em questão estava longe de ser um menino e lá estava eu, esfregando minh mão perto da sua virilha. Eu notei uma coisa começar a apontar na sua calça e caí em mim. Senti meu rosto queimar de vergonha, mas antes mesmo que eu tivesse tempo de tirar a mão do lugar, ele a segurou em meu pulso.

-Eu acho melhor você parar de fazer isso.- sua voz saiu rouca.

Eu engoli em seco e senti meu coração acelerar.  Eu levantei meu rosto para ele sem nem ver e quando me deparei com aqueles olhos verdes me encarando eu senti um arrepio bom percorrer pela espinha.

-Lindo.- eu deixei escapar baixinho.

-O que?- ele perguntou

-O que?- eu perguntei de volta.

Ele riu do meu embaraço e eu senti todo o meu corpo vibrar quando ele me pegou pelos ombros e me ajudou a levantar do chão. O homem era lindo, mas lindo de um jeito que eu nunca tinha visto pessoalmente. Ele tinha os traços fortes, bem masculinos, o seu rosto era quadrado, nariz adunco, a pele era bronzeada e os cabelos castanhos claros assim como a barba curta. Devia ter pouco mais de 1,80 de altura e o porte de atleta. E o que mais me chamou atenção foi a forma que ele me olhou. Ele não parecia com nojo, nem tinha o ar debochado que a maioria do povo daquela faculdade tinha quando olhavam para mim.

Ele me olhou como se eu fosse como alguém do meio deles. Eu vi curiosidade, mas não era um olhar de quem me julgava inferior. Confesso que até fiquei meio desconfortável quando ele varreu os olhos pelo meu corpo e parou na minha blusa branca que estava pregada no meu corpo e transparente por causa do capuccino que tinha derramado.

-Desculpa.- eu pedi e cruzei os braços na frente do meu peito.

Ele sacudiu a cabeça de leve e voltou a me olhar nos olhos. Eu pensei que ele fosse xingar pela bagunça, mas ele simplesmente sorriu.  E que sorriso lindo.

- Não tem problema. As pessoas vivem derramando capuccinos em mim.- ele brincou.

Eu ri e para não ficar olhando para ele, eu me abaixei para pegar meu celular que tinha voltado a cair no chão. Suspirei frustada quando notei que ele estava lambuzado de capuccino também.

-Você sempre é desastrada assim ou está em um mal dia?- o homem perguntou e eu ri.

Se ele soubesse o quanto, tinha agradecido por eu ter sujado só a sua calça.

-Digamos que eu derrube as coisas com frequência.- eu respondi.

-Você estuda aqui?- ele perguntou.

Aula! Meu Deus, eu estava atrasada para a aula do Pierre!

-Sim, e por falar nisso eu já estou atrasada. O intervalo já acabou.- eu respondi afobada.

Não podia atrasar para a aula do Pierre. Aquele professor era o cão chupando manga.

-Eu nunca te vi. Onde você mora?- o rapaz continuou a perguntar, mas eu não podia conversar mais.

-Me desculpe, mas eu preciso mesmo ir.- eu falei e já comecei a andar.

-Espera. Você não me falou o seu nome.- ele falou.

-Carol.- eu falei me virando para ele, mas sem parar de andar.

-Prazer. Eu sou o Heitor.

-Nome bonito, combina com você.- eu comentei.

Ele abriu um sorriso, levantou uma sobrancelha questionadora e eu percebi o tamanho da mancada que eu tinha dado. Tinha acabado de admitir que achava ele bonito.

-Obrigado.- ele agradeceu com um sorriso.

Eu comecei a andar mais rápido. Eu não tinha jeito mesmo. Era uma mancada atrás da outra. Pelo amor de Deus.

-Tchau Heitor- eu me despedi para esconder a minha falta de jeito.

Eu escutei ele rir e quando eu estava quase virando no corredor, ele gritou.

-ATÉ MAIS CAROL.- ele falou para que eu ouvisse.

Eu sorri e continuei o caminho. Subi as escadas correndo e para a minha sorte o professor não tinha chegado ainda. A Lauanda me esperava e arregalou os olhos assim que viu meu estado.

-O que aconteceu com você?- ela perguntou quando me sentei ao seu lado.

-Esbarrei em um cara e derrubei o seu capuccino. Depois eu te pago outro- eu resumi.

-Não precisa. Quem foi o azarado?-ela perguntou.

-Um tal de Heitor, nunca vi por aqui.

-Heitor...acho que eu já ouvi esse nome em algum lugar. Qual é o sobrenome?

-Não faço ideia.-eu respondi.

-Como ele é? Talvez eu me lembre.- ela perguntou mas quando eu fui responder o professor chegou na sala fazendo todo mundo se calar.

O Pierre era até bonito, devia ter uns quarenta e sete anos, branco com os olhos castanhos, porem era o professor mais insuportável que eu tinha. Podia até ser cisma minha, mas eu sempre ficava incomodada com jeito como ele me olhava e eu não conseguia prestar atenção em nada do que ele falava.

-Abram o livro na pagina quarenta e oito.- ele ordenou e começou a escrever no quadro.

Depois de ficar uma hora e quarenta tendo que aturar a aula do Pierre, eu peguei as minhas coisas, me despedi da Lauanda e sai em direção ao ponto de ônibus.

Quando passei pela catraca eu vi o Heitor. Lá estava ele na recepção com as meninas da minha sala que haviam feito piadinhas comigo.  Eu podia até ser lerda, mas não tinha como não notar que aquelas patricinhas estavam dando de cima dele.

"Talvez, se você fosse rica e bonita iguais a elas, teria alguma chance com um homem desses" eu pensei e abaixei a cabeça.

Não queria que eles me vissem, porque se as meninas fizessem chacota comigo na frente dele, eu morreria de vergonha. Eu tentei passar despercebida.  Coloquei a minha bolsa na frente da blusa para esconder a imundice que ela estava e virei o rosto para o outro lado, mas quando estava passando pela porta de vidro escutei uma voz grave me chamar.

-Tchau Carol.- o Heitor se despediu.

Eu me virei para ele no automatico. Estava surpresa por ele não ter me ignorado e se lembrado do meu nome. Olhei para ele sem ver e ele tinha um sorriso tão grande e sincero no rosto que me fez sorrir também.

-Tchau.- eu respondi.

Eu sai pela porta de vidro ainda olhando para ele. O Heitor tinha alguma coisa diferente e mesmo depois de correr para pegar o ônibus e viajar duas horas para chegar em casa,isso não tinha saído da minha cabeça.

Cheguei em casa com o sorriso ainda estampado no rosto. O Cauã estava deitado na minha cama e eu fui tomar um banho. Vesti uma blusa do meu irmão que ainda deixava guardada, fiz uma oração e me deitei ao lado do Cauã.

Heitor... era um nome lindo e combinava perfeitamente com ele.

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