Iracema (JOSÉ DE ALENCAR)

By DeborahBacelar

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Uma história de José de Alencar. Com 33 capítulos. O livro narra a história da índia Iracema, a virgem dos l... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33

Capítulo 7

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By DeborahBacelar

Iracema passou entre as árvores, silenciosa como uma sombra; seu olhar cintilante coava entre as folhas, qual frouxos raios de estrelas; ela escutava o silêncio profundo da noite e aspirava as auras sutis que aflavam.
Parou. Uma sombra resvalava entre as ramas; e nas folhas crepitava um passo ligeiro, se não era o roer de algum inseto.
A pouco e pouco o tênue rumor foi crescendo e a sombra avultou. Era um guerreiro.
De um salto a virgem estava em face dele, trêmula de susto e mais de cólera.

- Iracema! exclamou o guerreiro recuando.

- Anhangá turbou sem dúvida o sono de Irapuã, que o trouxe perdido ao bosque da jurema, onde nenhum guerreiro penetra sem a vontade de Araquém.

- Não foi Anhangá, mas a lembrança de Iracema, que turbou o sono do primeiro guerreiro tabajara.

Irapuã desceu de seu ninho de águia para seguir na várzea a garça do rio.

Chegou e Iracema fugiu de seus olhos. As vozes da taba contaram ao ouvido do chefe que um estrangeiro era vindo à cabana de Araquém.

A virgem estremeceu. O guerreiro cravou nela o olhar abrasado:

- O coração aqui no peito de Irapuã ficou tigre. Pulou de raiva. Veio farejando a presa.
O estrangeiro está no bosque, e Iracema o acompanhava. Quero beber-lhe o sangue todo; quando o sangue do guerreiro branco correr nas veias do chefe tabajara, talvez o ame a filha de Araquém.
A pupila negra da virgem cintilou na treva e de seu lábio borbulhou, como gota do leite cáustico da eufórbia, um sorriso de desprezo:

- Nunca Iracema daria seu seio, que o espírito de Tupã habita só, ao guerreiro mais vil dos guerreiros tabajaras! Torpe é o morcego porque foge da luz e bebe o sangue da vítima adormecida!...

- Filha de Araquém, não assanha o jaguar! O nome de Irapuã voa mais longe que o goaná do lago, quando sente a chuva além das serras. Que o guerreiro branco venha, e o seio de Iracema se abra para o vencedor.

- O guerreiro branco é hóspede de Araquém. A paz o trouxe aos campos do Ipu, a paz o guarda. Quem ofender o estrangeiro, ofende o Pajé.
Rugiu de sanha o chefe tabajara:

- A raiva de Irapuã só ouve agora o grito da vingança. O estrangeiro vai morrer.

- A filha de Araquém é mais forte que o chefe dos guerreiros, disse Iracema, travando da inúbia. Ela tem aqui a voz de Tupã, que chama seu povo.

- Mas não chamará! respondeu o chefe escarnecendo.

- Não, porque Irapuã vai ser punido pela mão de Iracema. Seu primeiro passo é o passo da morte.

A virgem retraiu d'um salto o avanço que tomara, e vibrou o arco. O chefe cerrou ainda o punho do formidável tacape; mas pela vez primeira sentiu que pesava ao braço robusto.
O golpe que devia ferir Iracema, ainda não alçado, já lhe trespassava, a ele próprio, o coração. Conheceu quanto o varão forte é, pela sua mesma fortaleza, mais cativo das grandes paixões.

- A sombra de Iracema não esconderá sempre o estrangeiro à vingança de Irapuã. Vil é o guerreiro que se deixa proteger por uma mulher. Dizendo estas palavras, o chefe desapareceu entre as árvores.
A virgem, sempre alerta, volveu para o cristão adormecido e velou o resto da noite a seu lado.
As emoções recentes, que agitaram sua alma, a abriram ainda mais à doce afeição que iam filtrando nela os olhos do estrangeiro.
Desejava abrigá-lo contra todo o perigo, recolhê-lo em si como em um asilo impenetrável. Acompanhando o pensamento, seus braços cingiam a cabeça do guerreiro e a apertavam ao seio. Mas, quando passou a alegria de o ver salvo dos perigos da noite, entrou-a mais viva inquietação, com a lembrança dos novos perigos que iam surgir.

- O amor de Iracema é como o vento dos areais: mata a flor das árvores, suspirou a virgem. E afastou-se lentamente.

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