Convergência Sombria | Bonkai...

By Dark_Siren4

124K 7.6K 3.9K

Depois de fugir do Mundo Prisão de 1994, Bonnie acha que pode ter uma vida normal ao lado de seus antigos am... More

1. Eu me caso com um sociopata
2. O Ritual de União das Almas
3. Enfrento a fúria da minha esposa
4. Deixo Kai me tocar
5. Bonnie me dá um perdido
6. Acordando com Kai
7. Meu novo emprego e um cadáver
8. Canção de Ninar
9. Meus sentimentos e Minha sogra
10. Meu novo colega de quarto
11. Incêndeio um Espectro folgado
12. Um coração partido
13. O meu e o seu coração
14. Entre dois idiotas e minhas descobertas
15. Eu? Apaixonado? Quem diria
16. E o tiro saiu pela culatra
17. Um velho me ataca
18. Sou dele
19. Sem ele
20. Visito o cemitério
21. Sou flagrado
22. Ela me domina
23. Férias forçadas
24. A Revanche
25. Amigos e Respostas
26. A Flora e o Mar
27. Um lago de verdades
28. Para Sempre
29. Reunião de família
30. Nas Sombras
31.Conhecendo o inimigo
32. Possessão
33. Supernova
34. Em casa
35. O que falta em mim
36. Nós dois
37. Um pedaço de mim
Capítulo 38: Minhas Prioridades
Epílogo:
Antes que eu me vá...
Capítulo Bônus: Linhas de Sangue
Livro Novo!

Capítulo 39: O homem em chamas

2.7K 134 101
By Dark_Siren4

Para AndressaDrey que é uma pessoa maravilhosa :)

O mundo era um lugar escuro, onde a dor ainda prevalecia, mesmo em minha inconsciência. Me sentia enregelada, cansada e dolorida. Todas as células do meu corpo gritavam que havia algo que eu precisava fazer. Algo que...Não. Alguém.
Ele precisava de mim.
Bonnie.
Ele dependia de minha vida, do meu ar, de meus cuidados. Porém, a necessidade de me afundar nas trevas, para que a dor não viesse, parecia maior.
Bonnie.
Estava quase deixando a inconsciência me levar, quando senti, o sacolejar.
Eu estava tremendo? O que era aquilo?
A vontade de dormir era quase dolorosa e predominante. Me irritava o fato, de não poder descansar.
Bonnie.
Eu queria dormir, mas o sacolejar não deixava. Cansei de lutar e comecei a ceder ao sono, para longe da dor.
E algo me chutou.
Não foi forte, e não veio de qualquer outra direção que não fosse de dentro de mim. Eu senti, aquilo dentro de mim.
O bebê.
Era por ele, que eu tentava me agarrar a consciência. Ele precisava de mim.
Meu filho precisava nascer.
BONNIE!

- Bonnie! Acorda!- ouvi alguém dizer, com a voz extremamente distante.
Havia um som abafado de trovões e chuva ao longe.
Me remexi, um pouco molenga.
- Bonnie, acorda, por favor!- ele ainda chamava.
O som da chuva tornou- se mais intenso, com trovões tão altos que pareciam estar ao meu redor.
Alguém me sacudia levemente, delineando os dedos de forma cuidadosa por minha face.
- Bon, amor?- chamou, com a voz incrivelmente frágil.
Soltei um som esquisito, como um muxoxo ou um gemido.
- Kai?- perguntei, abrindo os olhos devagar. Minha voz estava rouca.
O quarto estava muito escuro, ora clareando por causa dos raios que ressoavam no céu noturno. Eu ainda estava caída com metade do corpo dentro do closet, no chão frio.
E pude vê- lo.
Kai estava completamente encharcado, com os cabelos escuros pingando e sua camisa colando- se ao corpo.
Seus olhos, pareciam mais cinzentos em meio a falta de luz, quase como chumbo líquido. E a escuridão neles, se intensificava por causa de sua preocupação evidente.
- Kai- comecei rapidamente, me dando conta- Minha bolsa se rompeu...
Eu parecia desesperada, com minhas mãos se agarrando ansiosamente na manga de sua camisa molhada.
- Eu sei, Bonnie- murmurou me avaliando para ver se eu não havia sofrido nenhum ferimento grave- Por que não me ligou?
- Eu tentei...meu celular descarregou e eu queria contatar você pelo pager, mas acho que desmaiei- falei, quase chorando de alívio por ele estar comigo- Eu estou com tanto medo.
Ele me levantou com cuidado, fazendo com que eu me sentasse. Suas mãos apoivam minhas costas.
- Eu estou com você, não se preocupe- sussurrou, acariciando meu rosto, tirando os fios grudados pela leve camada de suor em meu corpo.
E naquele momento, tudo pareceu tão menos assustador. Kai era minha força, e com ele não precisava temer nada. Ele me protegeria.
- Vem, temos que ir para o hospital- disse, fazendo a menção de me tirar do chão.
Me encolhi, ao sentir uma contração intensa.
- Ah! Kai, isso dói!- chorei, envolvendo minha barriga, com uma mão e agarrando mais o tecido da camisa dele.
Meu marido, me olhava desesperado, como se minha dor o estivesse fazendo sofrer tanto quanto eu.
- Inspira e expira, Bon- sussurrou, acariciando meus cabelos- Isso vai ajudar.
Ele encostou sua testa contra a minha, fazendo o que me mandou.
Tentei imitá- lo, me concentrando para que a dor não parecesse tão intensa.
Minha respiração ainda era ruidosa, mas aquilo ajudou. A contração logo se foi, como veio.
- Qual é o intervalo das contrações?
Ergui os olhos, vendo- o me olhar de forma séria.
Sabia, o quanto o fato de eu estar sofrendo o afligia, podia ver em seu olhar, mas Kai tentava dominar seu medo e ser prático.
- A-Acho que... cerca dez minutos ou menos... - disse, com incerteza.
Ele assentiu, não falando mais nada. Seus braços contornaram, sob meus joelhos e seguraram minhas costas com firmeza, me erguendo com facilidade.
Transpassei um braço em seu pescoço, enquanto repousava a mão em minha barriga redonda.
Kai caminhou rapidamente, até a porta, parando apenas, para pegar uma bolsa de branca, com cavalos coloridos de rosa e azul.
Há uns dois meses, resolvi preparar aquelas bolsa de bebê, para o caso de eu precisar ir às pressas para a maternidade. Tinha coisas que talvez, eu e nosso bebê fossemos precisar. Camisolas limpas, toalhas, roupinhas de bebê, fraldas, mamadeiras, etc. Kai também, colocou algumas coisas que achou necessárias.
O vi colocá- la por cima do ombro, sem me soltar.
Abriu a porta- que estava entreaberta- com o pé e saiu caminhando apressadamente, comigo em seus braços. Mas teve o cuidado de não ir rápido demais, para não me causar mais desconforto.
Os corredores estavam vazios, não havia ninguém que pudéssemos ver.
Todos estão naquela festa idiota, resmunguei para mim, mesma.
A fraternidade que comemorava, era uma das maiores do campus, então seria mais que justo, ver todos os jovens de Withmore, indo festejar por lá. Inclusive, minhas amigas que moravam um andar abaixo de mim, mas não estavam presentes.
As contrações, ainda não haviam chegado, então tentei me manter calma para não assustar meu bebê.
Experimentei, olhar para Kai e me arrependi.
Sua expressão era de raiva e resignação contida.
- Sei o que está pensando- murmurei, e minha voz estava mais frágil do que eu queria. Me sentia exausta.
Kai soltou o ar pesadamente, parecendo aborrecido.
Ele não olhava para mim, só para o corredor adiante.
- Me preparei pra isso, por meses- disse, com uma voz dura- E não estava lá, quando mais precisou de mim.
- Não diga isso- murmurei, sentindo toda a sua agonia- Nós não sabíamos que ele viria agora. Nas consultas, tudo correu bem. Não havia indícios.
- Podia ter acontecido algo pior com você e nosso filho- disse, ainda aborrecido- Eu deveria estar por perto.
- Kai- disse, tocando seu rosto- Não fique se martirizando por isso, ok? O importante, é que estamos juntos, agora.
Ele não disse nada, apenas me lançou um olhar sem expressão e sem vida. E eu sabia que ele tentava esconder todo o seu medo.
Eu morri duas vezes perto dele e nem consigo imaginar o quão doloroso e excruciante foi para Kai, me perder. Tentei, me colocar em seu lugar e quase senti a dor de perdê-lo realmente.
Eu não conseguia viver sem ele. Seria insuportável.
Kai desceu três lances de escadas, comigo em seus braços e caminhou por toda a extensão da instituição. Não sabia como ele conseguia me carregar e não parecer cansado, o fazia como se eu nem pesasse nada.
As dores me subjugaram durante todo o caminho. Cada contração vinha mais forte e com um intervalo menor.
Tentei me manter firme, para não desmaiar, outra vez.
Kai percebia, meu sofrimento, o que só o fazia apertar mais o passo pelo estacionamento da escola, com o queixo endurecido e com uma expressão de calma forçada.
A chuva fria despencava sobre nós dois, deixando-nos completamente encharcardos.
Ele parou em frente ao Gran Torino preto e antigo.
Kai tinha um amor quase obsessivo por aquele carro, vivia se preocupando em comprar peças novas e o consertando. Eu tinha um certo ciúme disso, pois não queria me afastar dele, mas entendia que garotos precisavam de seus brinquedos.
Dar uma de mecânico era a terapia de Kai, principalmente, quando tinha um dia estressante e cansativo.
Ele abriu a porta do banco traseiro e me depositou com cuidado dentro dele.
Me ajeitei, enquanto Kai, colocava o cinto de segurança em volta de mim, se certificando de que não estivesse apertado demais.
Senti sua mão fria por causa da água tocar em meu rosto, afastando os frios grudados em meu rosto. Seus olhos tinham perdido um pouco daquele tom de chumbo, a luz dos raios faziam com ficassem de uma cor de prata brilhante.
- Vai ficar tudo bem- sussurrou, acariciando meu rosto- Eu prometo.
- Acredito em você- murmurei, dando um sorriso de canto.
Kai se inclinou sobre mim, dando um beijo carinhoso em minha testa.
Suspirei.
Ele se afastou, pegando o que se parecia uma jaqueta preta de couro, sobre o banco do carona. Me cobriu com ela, deixando aquele aroma de almíscar me rodeando e com o adicional de poder me aquecer, também.
E se afastou, fechando a porta do carro.
O vi através do vidro -que mais parecia uma cachoeira, tamanha era a força da chuva- dando a volta e se sentando no banco do motorista.
Kai sacudiu um pouco da água dos cabelos encharcados, logo em seguida, pôs a chave na ignição e mal tinha fechado a porta do carro, e já estava correndo, com as rodas do automóvel deslizando pelo asfalto, em um som alto e agudo.
O motor rugia, conforme Kai acelerava mais.
Estávamos saindo dos muros, do estacionamento do campus, quando o vi procurando algo nos bolsos da calça.
Até que tirou o celular e ainda olhando para a estrada, digitou os números na tela.
Encostou na orelha, se remexendo ansiosamente no banco do motorista.
- Alô? Ah, oi Rick, preciso falar com a Jô- explicou, parecendo nervoso, houve uma pausa e Kai ficou irritado- Não ligo se o som do telefone acordou a Charlotte, preciso falar com a minha irmã. É importente- outra pausa- Então, acorda ela!
Kai esperou, tombarilando os dedos pelo volante nervosamente.
- Jô?- e suspirou, audivelmente com impaciência. Jô deveria estar dando uma bronca terrível no irmão. Ela passava muitos dias fazendo plantões seguidos e quando podia dormir era quase sagrado, nem mesmo Rick ousava acordá- la- Preciso que se vista e vá para o hospital, agora. Quê? Não me importo que tenha passado por um plantão longo, deveria trabalhar menos. Preciso de você agora, Jô. A bolsa de Bonnie se rompeu.
Kai ficou em silêncio, provavelmente, ouvindo os gritinhos histéricos de Jô, ou ela andando apressada pela casa e procurando seu jaleco.
- Sim, ela está com contrações mais frequentes e em um período de tempo curto, o bebê já está a caminho- explicou, olhando para a estrada molhada e escura das ruas do campus- Só confio em você para fazer isso. Preciso que arrume a melhor equipe de cirurgiões desse campus. Bonnie tem que ser muito bem cuidada.
Exagerado, pensei, revirando os olhos.
Kai era extremamente super protetor, chegava a ser um pouco sufocante. Porém, ele havia me visto morrer por duas vezes, então, não era de se estranhar que agisse, assim.
Também, agiria da mesmo forma se o tivesse perdido tantas vezes. Acho que, seria pior que ele.
Kai desligou o celular, voltando sua atenção para a estrada.
- Não deveria tê- la acordado, Kai- murmurei, com a voz um pouco cansada após tantas contrações- Outro médico poderia cuidar de mim.
Ele me encarou pelo espelho retrovisor acima de sua cabeça.
- Jô é a melhor no que faz- murmurou, com a voz insondável- Não quero nenhum outro médico. Ela vai cuidar bem de você.
Consegui detectar a frase implícita em suas palavras.
Jô não me deixaria morrer, era isso o que queria dizer. Mas continuei, quieta.
- Eu amo você- disse, vendo seus olhos assumirem o azul terno que eu amava.
Kai deu um pequeno sorriso para mim. Era preocupado e um pouco tenso, mas ainda era o meu sorriso.
- Eu, também, amo você, minha vida- disse carinhosamente.
Eu sorri para ele, vendo-o voltar sua atenção para a estrada.
Claro, que eu ainda ficava apavorada com a direção suicida de Kai. Ele adorava correr com aquele carro, mas ainda bem, que nunca levou uma multa ou uma infração na carteira de motorista. Nem sabia como ele conseguia esse feito. E o fato de estar preocupado comigo só o fazia correr acima dos cento e cinqüenta quilômetros por hora. Porém, naquele momento não me importei com aquilo, pois estava mais preocupada com meu filho, para notar alguma coisa.
Meu sorriso, foi morrendo em meu rosto. Uma contração estava chegando.
E seria das fortes.
- Ah!- arfei, me inclinando sobre minha barriga enorme, com uma das mãos pousadas nela e a outra, agarrando o assento de couro.
Eu sentia, como se um punhal cego e enorme, estivesse me rasgando, tamanha foi a dor. Todo meu corpo tremia em razão de estar se retesando para conter a dor insuportável em meu ventre.
Um suor frio, começou a descer por minha pele, fazendo meu corpo ficar muito mais quente. O gosto do sangue era bem evidente, pois eu mordia meu lábio inferior para conter um grito.
Ergui os olhos, vendo uma umidade persistente me cegando, e vi o modo como Kai lançava olhares frenéticos na minha direção e na da estrada. Ele estava terrivelmente preocupado, sua dor era tão palpável quanto a minha.
Ele não suportava me ver sofrer e ainda mais por algo que ele não podia controlar.
Os nós de seus dedos ficavam brancos, conforme ele apertava as mãos no volante do carro. E seus lábios provocantes, estavam em uma linha rígida, demonstrando toda sua preocupação comigo.
- Inspira e expira, Bonnie- murmurou, me encarando pelo retrovisor, com um olhar suplicante.
Tentei fazer o que ele mandou, mas ainda assim, a dor não passava. As contrações estavam com uma potência inacreditável.
Demorou mais que no início para a dor desaparecer de novo, mas sabia que ela voltaria daqui alguns segundos ou minutos. Seria só uma questão de esperar.
Kai pareceu muito mais motivado, dirigindo perigosamente rápido em direção ao hospital de Withmore.
Não era um grande percurso.
Cerca de meia hora a pé e vinte minutos de carro. Chegaríamos rapidamente, com Kai dirigindo como um verdadeiro psicopata.
Encarei a estrada sob a chuva forte e pude ver alguns pequenos cafés e restaurantes em cada lado da rua, mas estavam fechados à essa hora.
Tudo era tão estranhamente vazio e assustador sem a presença de pessoas. Talvez, fosse só a noite chuvosa que carregava aquela sensação de angústia e medo.
Como se algo fosse acontecer...
Me forcei a parar de pensar em coisas ruins, pois com a sorte que tínhamos, algo ruim, realmente, poderia acontecer.
A estrada iluminada só pelas luzes dos postes, tornou- se estranhamente colorida e vívida.
Azul e vermelho.
Pude ver à alguns metros de distância, as sirenes de dois carros de polícia, que fechavam a passagem, fazendo uma fila enorme de carros se formar.
Ouvi os som de buzinas impacientes.
- O que está acontecendo?- perguntei para Kai, que observava a estrada com os olhos semicerrados- tentando ver através da chuva que caía- enquanto estacionava atrás de um Volvo prata.
Minha voz soava cansada e assustada, quase com um tom infantil.
Kai virou a cabeça por sobre o ombro, me fitando.
- Eu não faço a mínima idéia- suspirou, me vasculhando com os olhos procurando algo aparentemente errado. E deve ter achado, pois baixou os olhos, voltando a olhar para a estrada.
- Você está cansada- concluiu, com um pesar forte em sua voz.
Me remexi um pouco no banco, inclinando para frente com cuidado, e pousei a mão sobre seu ombro.
Kai suspirou.
- Eu vou ficar muito bem- falei forçando um sorriso para ele- Claro, que bem depois do seu filho parar de me chutar como se eu fosse uma boa de futebol.
Aquilo o fez rir, o que me deixou muito mais aliviada.
- Não se preocupe tanto, bebê - sussurrei acariciado os cabelos molhados de sua nuca- Você fica muito diferente do Kai que eu conheço. Parece um velho chato.
Ele deu de ombros.
- Não sou chato. Só protejo o que é meu.
Ergui uma sobrancelha.
- Então, eu sou sua propriedade?
- Claro que, sim- murmurou, com um ar quase brincalhão.
- Vou deixar que continue com essa ilusão- revirei os olhos, apesar de estar cansada e desconfortável.
Ele me olhou por sobre o ombro.
- Por isso, a amo tanto- brincou.
E não pude deixar de sorrir um pouco.
No mesmo instante, ouvi um som abafado como o de um objeto batendo contra o vidro.
E vi um policial, completamente encharcado, encarando- nos seriamente do lado de fora do carro.
Kai baixou o vidro do seu lado.
- Boa noite- disse o homem, apontando uma lanterna para nossos rostos.
- Boa noite- retribuiu Kai, sério- O que está acontecendo ali na frente?
O policial carrancudo, fez uma careta mais antagônica.
- Foi essa maldita festa de fraternidade- resmungou- Esses adolescentes bêbados bateram os carros. Dois foram internados no hospital com ferimentos graves e outros três se salvaram por milagre.
Enquanto olhava para o homem, pude sentir... outra contração chegando.
- Kai!- chamei, me inclinando para frente e agarrando o encosto do banco em que meu marido estava sentado- Dói...!
Senti algumas lágrimas escaparem.
- O que ela tem?- ouvi o homem, questionar.
- Ela está em trabalho de parto- explicou Kai, parecendo ansioso e nervoso, como se estivesse louco para furar aquele bloqueio e dirigir o mais rápido possível para o hospital- Não há um modo de passarmos? Eu preciso levar minha esposa ao hospital! Por favor, ela precisa de cuidados...
- Ei, ei! Calma garoto- murmurou o policial- Não há um modo de passar. Precisam contornar o campus.
Ouvi a respiração alta de Kai.
- Não dá tempo de contornarmos o campus! É um caminho muito longo. Ela não vai aguentar- sabia que ele estava muito próximo de perder a paciência e isso não era bom.
Gemi baixinho, tentando me segurar. Eu me balançava para frente e para trás, em uma medida desesperada para me livrar da dor.
- Sinto muito, filho- disse o policial, parecendo se condoer de nosso sofrimento- Não posso deixar que passem. As ordens foram claras.
Senti o coração de Kai fervendo em meu peito.
E nem precisava olhar para ele, para saber que devia estar encarando o policial de um modo quase assassino.
- Se acontecer qualquer coisa com a minha mulher- disse Kai, de forma lenta e fria- Juro que encontro você e arranco sua cabeça.
E deu marcha- ré no carro, saindo à toda pela estrada. E claro, que ele tinha que dar um maldito cavalo-de-pau, que quase me fez vomitar.
Kai me encarou pelo retrovisor, pedindo uma espécia de desculpas silenciosa.
Aceitei.
O que mais me causou estranheza foi o fato de o policial não ter nos seguido e prendido Kai por desacato à lei e direção perigosa. Mas acho que de certa forma, ele estava ocupado demais, arrumando a merda que aqueles adolescentes idiotas haviam causado.
E Kai continuava dirigindo rapidamente, tentando compensar o tempo que perdemos.
Acontece, que aquele era o caminho mais curto. O trecho que contornava o campus, levava cerca de quarenta minutos de carro e uma hora a pé.
Eu nem sabia se aguentaria mais dez minutos de contrações cada vez mais fortes.
Elas não estavam indo embora, como antes. Estavam se tornando mais presentes e incrivelmente dolorosas.
A cada nova pontada de dor, eu me encolhia como uma bolinha no banco, chorando e gritando de dor.
Kai não tentava me acalmar, pois sabia que aquilo não adiantaria mais e uma que eu estava quase o xingando por não ir mais rápido.
A dor estava me transformando em uma criatura irracional.
O Gran Torino, deslizava pelo asfalto molhado, grunhindo aos duzentos quilômetros por hora.
Não conseguia olhar para onde estávamos indo, pois estava muito concentrada em não desmaiar, mas sabia que estávamos em uma parte onde árvores se estendiam por quilômetros dos dois lados das calçadas, competindo com os postes de luz. E também, estava ciente que não havia mais nada além daquilo.
As pessoas não passavam por essa parte do campus nesse horário.
Me senti pequena e solitária naquela vastidão e a única coisa que me confortava era ter Kai, comigo.
- Aguenta só mais um pouco, Bon- disse, ainda mirando a estrada com uma expressão mais que resignada.
Quase tive vontade de responder: "Ah, claro, posso segurar esse bebê aqui dentro por toda a eternidade", mas não o disse pois não era culpa de Kai que eu estivesse com aquela dor.
A única resposta decente que pude dar, foi:
- Hummmmmmmm...
Já estávamos a cerca de quinze minutos no caminho para o hospital.
E acredite, quando se estava sendo torturada por dores, aqueles simples minutos se tornavam uma eternidade. Mas não era o tempo que me preocupava e sim o barulho estranho que o carro de Kai, fazia.
Era um som alto, como um guincho e um som metálico ao fundo.
Kai também, percebeu.
- Ah, não...
A velocidade começou a cair drasticamente.
- Não, não, não! Não faça isso comigo, garoto!- implorou, como se estivesse falando com um cão super inteligente- Não, não... agora, não!
E o carro simplesmente parou. Morreu.
- Kai?- chamei assustada, ainda encolhida no banco de trás do carro.
Ele me encarou um pouco aflito.
- Eu vou dar um jeito nisso, amor.
E saiu de dentro do carro.
Ergui um pouco minha cabeça, ainda morrendo de dor, mas tentando me conter.
Vi meu marido, contornando o carro no meio do temporal e alçando o capô preto. Ficou assim durante mais alguns segundos e depois o abaixou bruscamente.
Eu não conseguia ouvir o que ele dizia, mas podia ver.
Kai esmurrava o capô da lata velha e chutava o párachoque com um fúria doentia, como se estivesse espancando uma pessoa de verdade.
Esperei até que ele parasse com seu acesso de fúria.
Ele caminhou decidido para o carro, entrando e pegando seu celular em cima do banco do passageiro. Discou os números rapidamente, xingando quando errava algum.
Colocou- o na orelha e esperou alguns segundos.
- Oi, é do hospital de Withmore? Eu preciso de uma ambulância perto do "Arvoredo". Minha esposa está em trabalho de parto- ficou em silêncio ouvindo o que o atendenta falava do outro lado. Pude vê-lo ficar um pouco mais rubro- Como assim, não podem mandar uma ambulância?! Estamos na metade do caminho, não irá demorar muito. O quê?! Foda- se a merda desses adolescentes bêbados e alcoolizados! A vida da minha esposa e meu filho são mais importantes e não a porra de um coma alcoólico de um cretino que não sabe beber! Eu exijo que mande uma ambulância! O quê?! Ei! Espera...
E ele afastou o celular da orelha, bufando de raiva.
- Merda! Merda!- exclamou esmurrando o volante do carro- Não acredito nisso!
Me virei, no banco, com aquela dor me golpeando. Minhas costas estavam em chamas.
- O que está acontecendo?- perguntei, mais assustada do que queria transparecer.
A cabeça de Kai pendia entre os ombros em sinal e cansaço e derrota. Ouvi- o suspirar.
- Disseram que não vão mandar uma ambulância, por causa daquela festa inútil. Parece que os idiotas de lá, estão aprontando, se machucando em acidentes e indo parar no hospital em coma alcoólico. Resultado: todas as ambulância estão sendo requisitadas por todo o campus.
Tremi um pouco.
- Quer dizer, que ninguém vem nos ajudar?
O vi esfregar os cabelos, talvez tentando achar uma resposta para aquilo. Kai odiava não poder me ajudar e salvar o tempo todo. Isso acabava com ele.
- Nós vamos dar um jeito, amor- falou, esticando a mão pela lateral de seu banco e encontrando a minha. Ele a apertou com firmeza, passando todo aquele conforto para mim.
- Sim, nós vamos- tentei sorrir para ele.
E Kai, pareceu se lembrar de algo.
O vi pegar o celular e discar mais alguns números. Encostou o aparelho na orelha e esperou.
- Alô, Damon! Cara, preciso da sua ajuda!
- Põe no viva-voz - pedi, com uma voz esganiçada.
Ele o fez.
- O que você quer, monstrinho? Eu estou com a minha garota. E há menos, que você me diga que está com duas louras gostosas, eu não saio desse quarto. Ai! Calma, Elena, eu estava brincando!- Damon, o idiota de sempre.
Kai pareceu não dar importancia para aquilo.
- O meu filho vai nascer- disse, com uma pontinha de desespero, mas ainda assim, orgulhoso como um pavão- Preciso de uma carona, meu carro enguiçou na metade do caminho. Preciso levar Bonnie para o hospital, logo.
- A Bonnie está ouvindo?- questionou do outro lado da linha.
- Sim- disse Kai.
- Parabéns, BonBon, vou comprar um pacote de fraldas no caminho!- gritou do outro lado.
- Vai se ferrar, Damon!- grunhi, me virando no banco, incapaz de conter aquele monstro dentro de mim, que queria mandar todos irem à merda.
- Imagino que isso falando comigo, sejam as contrações- murmurou, sendo irônico.
- Babaca de merd...- comecei, mas fui interrompida por Kai, que começou a a falar com o retartado do meu amigo.
- Onde você está?- questionou, ele.
- Ainda na festa da fraternidade, mais exatamente no quarto de um desconhecido, com a minha namorada linda- respondeu, Damon.
Kai suspirou.
- Ok, me poupe dos detalhes, só preciso que venha até o "Arvoredo". A Elena, sabe onde fica. Venha o mais rápido que puder, precisamos de você aqui.
E desligou, logo em seguida.
- Agora, o que nos resta é esperar- suspirou.
E se embrenhou pelos bancos, para poder ficar perto de mim. Kai sentou- se ao meu lado- no banco de trás- e colocou minha cabeça sobre suas pernas com cuidado. O senti acariciar meus cabelos úmidos pela chuva e o suor.
E de certa forma, fez com que a dor parecesse menos importante. Kai me deixava totalmente segura, mesmo que o mundo estivesse desmoronando à minha volta.
- Sinto muito. Isso tudo é minha culpa- sussurrou, ainda tocando em meus cabelos.
Continuei encolhida como uma bolinha no banco do carro, com as contrações indo e vindo.
- Por que diz isso? Por causa do carro?- questionei, erguendo um pouco a cabeça para observá-lo.
Ele suspirou, com seus olhos azuis na chuva que desmoronava com
toda a força do lado de fora.
- Por tudo, Bonnie- disse com pesar- Por não ter consertado essa lata velha direito, por não ter planejado esse dia, o nascimento do nosso filho com mais cautela, por...
- Ah, meu Deus!- revirei os olhos- Agora vai me dizer que também é culpado por minhas contrações, porque você me engravidou?
O vi dar um sorrisinho triste.
- Colocando dessa forma... É. Sou culpado disso, também.
Coloquei minhas mãos em volta de minha barriga, de forma protetora. Havia se tornado uma atitude muito natural, como se meu filho estivesse ali por toda minha vida.
Encarei seus olhos azuis- cinzentos.
- Escuta aqui, Malachai- murmurei de forma firme- Você não fez essa criança sozinho. Também, é minha responsabilidade. E pelo amor de Deus! Dores de parto são mais comuns o do que você imagina, então não fique se martirizando por isso. E se você, meu caro, não tiver a pretensão de me contar alguma coisa engraçada para que eu me esqueça dessa maldita dor, sugiro que fique calado.
Kai ficou me fitando, sem saber o que dizer. Então, preferiu o silêncio.

Cerca de trinta minutos haviam se passado e nada de Damon e Elena aparecerem.
Eu já estava, gemendo como um animal à beira da morte. As contrações estavam tão intensas que quase desmaiei de novo.
Kai foi carinhoso, tocando em meus cabelos e me dando sua mão sempre que a dor estava insuportável demais. E acho, que se ele não fosse mais forte que eu, com certeza, já teria esmagado sua mão, tamanha a brutalidade com a qual a segurava a cada nova investida das dores.
E tenho certeza de que devo tê- lo xingado algumas vezes. Meu cérebro irracional tentanva se distrair com boas lembranças de nós dois juntos, mas tudo em que eu conseguia pensar era no quanto ele era um idiota, tagarela, folgado, abusado, safado e convencido.
A antiga Bonnie nunca pensaria coisas tão ruins do homem que ela amava, mas ela nunca havia sofrido de contrações tão fortes, que faziam as pernas tremerem.
Essa droga de chuva que não vai embora!, pensei, querendo socar cada pingo d'água que caía do céu.
Kai havia saído do carro, quando viu que eu estava com dores insuportáveis e tentou- com resultados infrutíferos- fazer o carro pegar. Mas aquela coisa velha não sairia do lugar.
Ele nem parecia se importar com a torrente de água que caía sobre si e nem com os raios que cortavam o céu, mais ao longe.
Kai estava focado em nos tirar dali.
- Onde você está, Damon?!- ouvi- o gritar no celular, para que o som da chuva não abafasse sua voz- Como assim está preso em uma fila de carros perto do bloqueio?! Bonnie depende de você! Ela está com muita dor e já liguei mais cinco vezes para aquele hospital de merda e disseram que as ambulâncias estão atendendo outros chamados!- kai fez uma pausa com o rosto encharcado e vermelho de raiva- Quanto tempo você acha que pode levar?- e emudeceu, franzindo ainda mais o cenho, em sinal de preocupação- Tá... Ok.
E desligou.
Ele caminhou um pouco derrotado na minha direção e soube que a situação era bem grave.
- Damon não pode vir. Pelo menos, não agora- disse, abrindo a porta do carro, antes que eu perguntasse- Ele está preso naquele bloqueio e pode demorar muito até que chegue aqui. Caroline, Elena e Stefan estão com ele.
E claro, que não pude controlar o soluço que escapou de meu peito.
- O que vamos fazer? Nosso filho pode morrer, Kai...- solucei mais alto- Não o deixe morrer, por favor.
A expressão de Kai era torturada, como um homem em chamas, que não sabe para onde ir ou como apagar as flamas que percorrem seu corpo. Era muita responsabilidade, para depositar em seus ombros e ele estava com tanto medo quanto eu, mas tentava ser forte por nós dois.
- Está doendo muito?- perguntou de súbito.
Eu não era do tipo que me queixava, mas naquele momento eu estava com uma dor lancinante. Era como se uma lâmina embebida em ácido estivesse me cortando.
- Está. Demais- solucei de novo.
Kai franziu os lábios e voltou a caminhar na calçada, debaixo do temporal. O vi deslizar as mãos em garras pelos cabelos castanhos e molhados, como se estivesse se decidindo sobre algo.
Ele andava de um lado para o outro, ainda com a expressão torturada.
Não fazia ideia do que se passava na cabeça dele. Kai era uma surpresa ambulante.
Ele ficou assim, mais alguns segundos até que... parou. Estacou na calçada, olhando para o cimento molhado. Observei, enquanto o homem em chamas desaparecia, tomado pelo olhar do homem decidido que eu conhecia.
Kai.
Ele veio até mim, rapidamente, pousando a mão no teto do carro e a outra no encosto do assento, seu olhar estava cheio de determinação.
Seus olhos azuis, me percorreram, como se aquilo fosse mais um tipo de incentivo.
- Bonnie- sussurrou.
Afastei meu rosto que estava escondido sob a fresta entre o banco e encosto, e olhei para seus profundos olhos azuis.
- A emergência não virá- sussurrou com cuidado- Damon não pode nos ajudar. E você está sofrendo... Não podemos esperar.
Arqueei as sobrancelhas.
- Você está dizendo que...
Ele assentiu.
- Você terá que dar à luz, aqui- disse de forma cautelosa- Não posso colocar sua vida e do nosso filho em risco, esperando alguém nos ajudar. Tem que ser feito agora. E eu sei que ainda não sou formado e que nunca fiz um parto em toda a minha vida, mas precisamos tentar. É a única opção...
Sua voz foi morrendo, enquanto seus olhos aguardavam minha decisão.
Pesei todos os prós e contras daquilo.
Sabia que Kai era um excelente aluno de medicina. O melhor da classe, acho que o melhor de todo o campus. Porém, não estávamos em um hospital e se qualquer coisa mais grave ocorresse com meu filho não haveria como salvá-lo. Não dispúnhamos de equipamentos médicos para ajudar.
Porém, eu não podia negar que eu estava brincando com o destino, ao prolongar tanto a estadia dele dentro de mim. Isso poderia matar nós dois. E não podia me dar ao luxo de demorar.
Claro, que uma parte de mim, estava ansiosa para conhecer aquela pequena pessoinha. Para saber se ele se pareceria com Kai ou comigo, ou se seria uma mistura melodiosa de nossas melhores e piores características. Se seria alegre e de riso fácil como o pai, ou se seria mais sério e compentrado como eu.
Pensei muito nisso, durante minha gravidez, e principalmente agora que eu estava prestes à vê-lo.
Isso foi um forte argumento em minha decisão.
Encarei os olhos azuis de Kai, que parecia nervoso e ansioso.
- Eu confio em você, Kai.
Ele assentiu com um pequeno sorriso.
- Vou tentar fazer com que seja rápido, ok?
Concordei com a cabeça.
Kai se inclinou e beijou meus lábios em um selinho carinhoso.
E se afastou, indo para a traseira do carro. Ouvi o porta- malas sendo aberto e em seguida fechado.
E de repente, Kai surgiu, segurando alguns cobertores ainda embalados em plásticos, juntamente com lençóis e travesseiros, igualmente embalados.
- O que é tudo isso? - questionei, rindo um pouco para disfarçar todo meu nervosismo.
- Precaução- murmurou, colocando a pilha de lençóis, cobertores e travesseiros sobre o banco, ao meu lado. Pude ver as etiquetas de preço, ainda presas neles.
Ele até podia ser exagerado, mas gostava da genialidade do meu marido.
Levou alguns minutos, para que Kai ajeitasse tudo para mim. Estendeu os lençóis e cobertores sobre o banco traseiro do carro e colocou os travesseiros, para que eu tivesse mais sustentação.
Me deitei, com cuidado, sentindo dores lancinantes.
Kai tirou minha roupa íntima, deixando- me só com a camisola de seda branca. Fez todo o procedimento de deixar todas as coisas que fossem necessárias mais próximas.
O vi pegar uma sacola, com coisas que ele havia tirado do porta-malas. Objetos para cirurgia e todo tipo de quinquilharias de médicos.
- Eu nunca mais vou reclamar do seu exagero- murmurei, ofegando, mas tentei estampar um sorriso em meus lábios.
Kai sorriu, enquanto limpava as mãos e o os braços, até a altura dos cotovelos com álcool em gel.
- Sei que gosta do meu lado maníaco- sorriu, como o convencido que era.
Esperei, enquanto ele me examinava, vendo se eu estava com dilatação o suficiente.
- Está na hora, Bon- murmurou de maneira séria, ajoelhado na porta do carro, enquanto a chuva caía sobre suas costas.
Assenti, encostada contra os travesseiros.
Ele subiu, o tecido da camisola em minhas coxas, estendeu um lençol sobre minhas pernas e fez com que eu flexionasse os joelhos, deixando-os mais perto de minha barriga redonda.
Eu não me sentia nenhum pouco envergonhada, pois Kai conhecia cada parte do meu corpo confiava nele.
Ele me encarou de maneira firme e séria.
- Bonnie, agora vou precisar que faça força. Como nunca fez na vida.
Assenti, um pouco nervosa.
- Inspira e expira- sussurrou e o imitei- Isso...
E comecei a empurrar, contraindo os músculos do abdômen, sentindo uma dor forte.
Mordi o lábio inferior para impedir que eu gritasse mais alto. Minhas mãos estavam agarradas contra o banco e o encosto, sentindo o couro sob minhas unhas.
- Força, Bonnie!- incentivava Kai, com as mãos pousadas em meus joelhos.
Grunhi mais alto, forçando o máximo que eu conseguia.
Em seguida parei, com meus pulmões em brasa e meu cérebro parecendo à ponto de explodir com tanta pressão.
Eu respirava rapidamente, ofegando alto, com aquelas contrações cada vez mais cortantes.
- Respira devagar- pediu Kai- Isso vai ajudar.
Fiz o que ele mandou, sentindo as dores diminuírem um pouco.
- Está pronta?- perguntou, me olhando de forma séria.
Assenti, fazendo força outra vez.
Me concentrei em gritar menos e fazer o máximo de força que eu conseguia.
Kai me incentivava, dizendo que eu estava indo bem e pedindo para que eu me esforçasse mais. Mas, depois de mais quatro tentivas, vi que não estava adiantando.
- Não dá... - ofeguei, depois de mais uma tentativa frustrada- Eu não... consigo...
Kai me fitou, parecendo muito preocupado, mas sua expressão assumiu a mesma determinação.
- Você consegue, sim. Eu ajudo, Bonnie.
Observei seus olhos azuis, que me encorajavam a continuar.
- Tudo bem...- afirmei com a cabeça.
Queria que ele se orgulhasse de mim, que visse a mulher que ele tanto adorava. Eu não aceitava ser uma fraca.
Meu filho precisava de mim.
O vi se inclinar para frente, e colocar o braço sobre minha barriga, enquanto a outra pousava em meu joelho.
- Você faz força e eu empurro, ok? Será um trabalho em conjunto- murmurou de maneira firme.
E de repente, não vi mais o Kai.
Ali estava o médico que ele tanto queria ser. Naquele momento ele deixou de ser meu marido e se tornou o Dr. Parker.
- Vai dar tudo certo- disse para mim, mesma, respirando rapidamente.
E empurrei com mais força do que eu podia imaginar. E Kai ajudou, fazendo pressão contra minha barriga, empurrando meu ventre.
- Você consegue, amor!
Fiz mais força, grunhindo com a dor lancinante. Acho que nem estava respirando.
- Anda Bonnie!
Forcei mais, quando senti algo se deslocando dentro de mim, fazendo uma pressão forte de dentro para fora.
Vi o sorriso emocionado que Kai deu, parecendo mais motivado.
- Isso, amor! Eu já estou vendo ele! Empurra com mais força!
Cerrei os dentes, sentindo meu coração quase saltar do peito.
Empurrei com tanta força, que podia sentir meus neurônios estalando na cabeça. Pensei que fosse ter alguma espécie de parada respiratória, pois não deixava mais o ar entrar ou sair de meus pulmões.
Dei tudo de mim. O tanto quanto podia.
E senti algo escorregar para fora de mim e a dor subitamente sumiu.
Caí sobre os travesseiros, ofegando brutalmente, sentindo tudo escurecer à minha volta, mas me forcei a ficar acordada. Não desmaiaria agora.
Um suor quente e úmido corria por toda minha pele, enquanto eu tentava manter meus pulmões em um ritmo normal.
E ouvi um guincho baixinho, em seguida tornando- se mais alto.
Ergui um pouco a cabeça, vendo Kai, olhando maravilhado para algo em seus braços.
Era algo pequeno e rosadinho. E o guincho que ouvi, provinha dele.
- Você conseguiu...- sussurrou Kai, ainda olhando para o bebê em seus braços que chorava vigorosamente- É um menino.
E riu, deixando que lágrimas escapassem de seus olhos azuis.
- Nós temos um menino! - disse mais alto, rindo como um bobo.
Eu sorri, me esquecendo de toda a dor e cansaço, sentindo lágrimas quentes descerem por meu rosto.
Era o meu filho.
Esperei tanto para vê-lo e agora... ele estava ali, nos braços de Kai.
Sem perceber direito o que fazia, ergui meus braços em direção aos dois.
- Me deixe ver ele... por favor...- implorei, ansiosa para senti-lo contra meu peito e tocar em sua pele macia e rosada.
Kai foi rápido, como se tivesse feito àquilo durante toda a vida.
Cortou o cordão umbilical com uma tesoura de cirurgião, em seguida proferiu um feitiço para que o cordão tivesse a ponta cauterizada, impossibilitando um sangramento ou uma infecção. E limpou o bebê, com toalhas macias- sendo bem rápido- e o envolveu em três cobertores azuis de lã e colocou uma touquinha da mesma cor em sua cabeça.
Eu ainda estava com os braços estendidos para tocá- lo.
- Por favor... - pedi.
Kai se inclinou, sobre mim, segurando a criança, com cuidado, e o depositou sobre meu peito.
Imediatamente, ele parou de chorar.
Um soluço escapou de meus lábios enquanto observava o bebê em meu peito.
Ele era tão pequeno, mas parecia saudável. Com as bochechas gordinhas e coradas e sobrancelhas ralas e loura- esbranquiçadas.
Não pude ver a cor de seus olhos, pois estavam fechados, mas havia algo no formato de seus lábios que lembravam Kai.
Cerquei meus braços em volta dele, com cuidado. Rocei meu nariz em sua testa macia, sentindo o cheiro de sua pele de bebê.
- Ele parece com você- sussurrei, ainda olhando para o ser mais perfeito de todos. E notei os soluços e minha voz.
Eu chorava de alegria.
- Você acha?- perguntou Kai, tão emocinonado quanto eu.
Vi o bebê, dar um sorrisinho calmo ao ouvir a voz dele.
- Ele tem as mesmas covinhas- eu ri, mais emocionada que antes.
Kai ficou em silêncio, apenas nos observando. Ele parecia extremamente feliz e orgulhoso.
- Obrigada, meu amor- sussurrei para ele- Nosso filho só está aqui por sua causa.
Kai esfregou meu joelho, gentilmente.
- Não, ele está aqui por sua causa. Você mandou muito bem, sua metida- murmurou com um sorriso, me mirando com os olhos azuis.
Sorri voltando à olhar para o menininho em meus braços. Ele era lindo como o pai.
- Kai...- comecei a dizer, quando senti um desconforto estranho.
Ele percebeu.
- O que foi?- estranhou.
- Nada é só que...Ah!- engasguei, sentindo uma pontada de dor.
- Bonnie! Bonnie! O que está acontecendo?!
Empalideci ao me dar conta.
- É... é mais uma contração..- ofeguei.
Kai pareceu confuso, inicialmente, mas logo se deu conta.
- Tem mais um...- sussurrou, me encarando- Tem mais um bebê. São... gêmeos.
Pensei que fosse desmaiar ali mesmo.
Gêmeos? Como não percebi?
Me lembro de ter sempre tido a sensação de que o bebê chutava demais dentro mim, como se estivesse agitado vinte e quatro horas por dia, mas não era um bebê. Eram dois.
Vi Kai se levantar rapidamente e correr para o porta- malas cheio de tralhas de seu carro.
E o vi trazer um... cesto de palha velho.
Me lembrava daquele cesto. Eu o tinha jogado fora, após a limpeza no armário de nosso quarto, sempre desconfiei de que Kai não havia se livrado de todas aquelas coisas.
O vi se agachar e colocar cobertores e lençóis, fazendo uma cobertura macia.
Ele se inclinou sobre mim, pegando o menino.
- Preciso deixá-lo seguro, pois ele pode cair dos seus braços- explicou, quando pareci relutante em soltá-lo.
Respirei fundo, deixando que ele o tirasse de meu peito.
Kai depositou o bebê dentro do cestinho forrado, ainda dentro carro, se esgueirou para colocá-lo no banco do passageiro.
E em seguida voltou para a entrada do carro, perto de mim.
Seus olhos foram sérios e preocupados, quando me perguntou:
- Acha que consegue mais uma vez?
Eu assenti cheia de determinação, mesmo que meu corpo estivesse ansiando por descansar.
- Vamos nessa- falei, forçando um sorriso, o que pareceu deixá-lo mais calmo.
Kai se posicionou de novo, entre minhas pernas e me encarou firmemente.
- Mais uma vez, preciso que faça muita força, amor- explicou.
Afirmei com a cabeça, respirando fundo.
E contraí os músculos do abdômen com mais força, agarrando o banco de couro. O suor recomeçou a descer por minha têmpora, enquanto eu empurrava com a maior força que conseguia.
- Vamos, Bonnie, você consegue, anda!- me encorajou.
Fiz muito mais força, quase sem respirar. Meus músculos gritavam, pela dor e a câimbra, mas os mantive tensos.
Meus dentes trincavam, cerrados um contra o outro.
- Bonnie, pára, respira- disse Kai, quando viu que eu estava em meu limite.
- Não!
E continuei empurrando, como se minha vida dependesse disso.
E senti o mesmo que a primeira vez. Como algo, se encaixando e fazendo uma pressão interna.
- Merda! Eu tô vendo ele, Bon!
Empurrei mais.
- Força, Bonnie! O cordão umbilical está enrolado no pescoço! Faça mais força!
Claro, que aquilo me deixou mais desesperada. Já tinha ouvido casos de bebês que ficavam com seqüelas graves por causa da falta de oxigenação no cérebro, ou até que morriam por isso.
Fiz mais força que na primeira vez, com a determinação de manter meu filho vivo.
- Mais força, Bon! Os ombros já estão quase saindo!- ouvi Kai, dizer enquanto tentava desenrolar o cordão do pescoço do bebê, com cuidado.
- Ah!- gritei, empurrando com toda a força que eu tinha.
E como da primeira vez, senti algo escorregar para fora de mim e a dor sumiu.
Quase desmaiei, quando minha cabeça encontrou o travesseiro, mas me mantive alerta. Eu teria tempo para descansar depois.
Levantei a cabeça, sentindo- a pesar um pouco, apoiei- me nos cotovelos.
- É... é um menino?- perguntei, arfando, para Kai, que segurava o outro bebê.
Ele sorriu parecendo mais emocionado que da primeira vez. Seus olhos azuis focaram os meus, cheio de lágrimas.
- É uma menina- ele disse, sorrindo.
Meu sorriso foi imenso e cheio de alegria.
Um menino e uma menina.
Eu era a mulher mais feliz do mundo.
- Me deixe segurá-la...- pedi, estendendo os braços de novo, mais ansiosa que antes.
Kai olhou para nossa filha, se preparando para limpá- la e agasalhá- la como fez da primeira vez. Porém, ele estacou.
- O que foi?- perguntei, ficando assustada.
Ele parecia em choque.
- Ela não está chorando...- sussurrou, parecendo se dar conta- Por que não está chorando...?
E foi então que eu percebi, que ela não estava se mexendo e nem parecia estar respirando.
- Ah, meu Deus...- solucei- Ela está... está morta...?
Kai não respondeu, repousando o corpinho pequeno do bebê no assento coberto do carro, entre minhas pernas.
Não consegui ver muita coisa, mas percebi o modo frenético com o qual, Kai começou a trabalhar.
O vi se abaixar e pegar algo em uma sacola. O objeto em e suas mãos, parecia uma buzina com uma ponta com um pequeno orifício.
- Ela deve estar com muco nos vias aéreas. Não consegue respirar- explicou, usando o objeto para sugar o líquido da boca e das narinas da menina.
Meu coração estava completamente despedaçado, como se eu nem conseguisse respirar. Nem ousava me mexer, observando o procedimento com um medo crescente.
Segundos se passaram e mesmo após tirar a obstrução das vias aéreas de nossa filha, ela ainda não estava respirando.
- Kai...- implorei, sentindo o nó em minha garganta.
Então, ele assumiu outra atitude. Colocou as mãos espalmadas sobre o peito dela e de forma cuidadosa, mas firme começou a realizar uma massagem cardíaca, tentando trazê- la de volta.
Eu estava me contendo para não cair aos prantos, mas não o fazia pois aquilo seria uma confirmação de que ela havia se rendido. E eu não aceitaria aquilo, queria que ela vivesse.
Ela se tornou minha vida no momento em que começou a crescer dentro de mim.
- Vamos, princesinha!- disse Kai, ainda fazendo uma massagem cardíaca e o vi se abaixar, e empurar ar para seus pulmões- Não nos deixe!
Sua voz estava embargada e pude ver lágrimas descendo por seu rosto. Sabia que a morte de nossa filha seria inconcebível para os dois.
Não aceitaríamos de forma alguma.
Ouvi o som de um bebê chorando e por um momento pensei que fosse ela, mas percebi que o som vinha do banco da frente.
Meu filho, chorava como se soubesse o que estava acontecendo com sua irmã.
- Shh...- fiz, com a voz trêmula de medo e desespero- A mamãe está aqui, meu amor.
Ele pareceu ouvir, pois parou de chorar no mesmo instante, porém não durou muito, porque ele recomeçou.
- Kai! Por favor, não a deixe morrer!- implorei, não conseguindo mais conter minhas lágrimas.
Kai continuava, com massagens vigorosas, mas não estava tendo resultado.
Ouvi um trovão ao longe, como um forte mau presságio.
Meu menino, chorava desesperadamente, parecendo assustado. E eu queria pegá-lo em meus braços e dizer que estava tudo bem, mas não conseguia desgrudar os olhos de minha filha.
Meu coração encolheu como uma bolinha apertada. Meus soluços, vinham altos, enquanto eu implorava para que Kai não a deixasse morrer.
Ele não desistiu um momento sequer, não parou nem quando parecia dar sinais de exaustão.
E mesmo que eu desistisse, sabia que ele nunca desistiria de salvar nossa filha.
- Kai!- chamei, quando uma idéia me ocorreu- Use magia!
Ele me encarou por alguns segundos, ainda com uma expressão de dor e desespero. Em seguida assentiu.
Colocou as mãos, sobre o peito dela e proferiu um feitiço.
- An Duca Tuas, Animos!- exclamou e vi seu corpinho ter um pequeno espasmo, quase como se Kai a tivesse desfibrilado.
Mas não foi o suficiente.
- De novo! - rosnei.
- An Duca Tuas, Animos!- gritou, e houve outro espasmo, mas nada em seguida.
- De novo!- gritei, incapaz de pensar em qualquer coisa que não fosse ela- De novo, Kai!
E ele foi mais uma vez. Outro espasmo. Nada. Feitiço. Espasmo. Nada. Feitiço. Espasmo. Nada...
Eu estava começando a perder as esperanças.
- De... de novo...- sussurrei, me perdendo em outro soluço.
E ouvi um choro baixinho.
Pensei que fosse o menino no banco da frente, mas ele simplesmente havia parado de chorar.
Arfei.
Era ela.
Ela estava chorando.
Minha filha estava viva.
Kai começou a rir e chorar, completamente aliviado, com os braços em volta dela.
- Ela... sugou minha magia- ele riu, ainda com o rosto encostado contra o dela- Essa é a garotinha do papai.
Eu ri e chorei junto com ele, incapaz de conter minha alegria. Foi como se meu coração tivesse reaprendido a bater novo.
O universo fazia sentido outra vez, pois eu estava com o homem que eu amava e nossos filhos.
- Me deixe segurá-la, Kai...- pedi, agora muito mais ansiosa.
Ele fez o mesmo procedimento de cortar o cordão e cauterizá-lo, limpá-la e a vestiu com cobertores cor de rosa e com uma touca da mesma cor.
E a colocou sobre meu peito, mas não antes de beijar meus lábios e dar um beijo suave no alto da cabeça de nossa filha.
- Minhas garotas- sussurrou.
Em seguida se afastou, fazendo outros procedimentos necessários. Quando terminou, pegou nosso filho e ficou sentado no banco da frente com ele em seus braços.
E eu fiquei ali deitada com alguns cobertores, que Kai colocou sobre mim, com minha menininha em meus braços.
Ela era linda, dormindo profundamente em meu peito. E se nosso filho se parecia com Kai, tinha que admitir que ela era a minha cara.
Pude ver os lábios pequenos e cheios, com sobrancelhas ralas, mas de um tom escuro e levemente arqueadas. E como da outra vez, não consegui ver seus olhos, pois estavam fechados.
Sua pele era morena, mas alguns tons mais claros que a minha e pude notar alguns fios escuros de seu cabelo cacheado, que se sobressaíam embaixo da touca de lã.
Fiquei um bom tempo, olhando para minha pequena lutadora, sentindo a maciez de sua pele de bebê.
Eu era mãe.
Não de um, mas dos dois bebês mais lindos de todos. E nem sabia, mas foi como se o meu coração simplesmente tivesse inchado de felicidade. Eu não era apenas capaz de amar Kai, mas também conseguia sentir o mesmo carinho e afeto por meus filhos.
E pela primeira vez na vida, senti que tinha uma família de verdade.
- Não vejo a hora de você crescer, para podermos jogar baseball, garotão- ouvi Kai, sussurrando para o bebê em seus braços, como se ele pudesse compreender algo.

Cerca de vinte e cinco minutos depois, ouvi o som de pneus, cantando à distância. E o carro preto e caríssimo de Damon surgiu na estrada.
Ele estacionou ao nosso lado.
Ouvi o som de uma porta sendo aberta e em seguida seu som abafado ao ser fechada.
Percebi que a chuva havia parado, deixando só uma leve neblina no ar.
- Droga! Espero não ter...- murmurou, abrindo a porta do carro de Kai, onde eu me encontrava com o bebê no colo-... demorado demais...
E olhou embasbacado de mim, para a menina envolta em cobertores sobre meu peito.
- Está extremamente atrasado, Salvatore- brinquei.
- Com certeza- concordou, Kai, no banco da frente.
E Damon conseguiu ficar mais pasmo ao ver o menino nos braços de Kai.
- Ok. Dois bebês. Seus filhos- murmurou, parecendo falar consigo mesmo- Por que, só eu acho que vocês não vão ser bons pais?
Ouvi sons de saltos contra o asfalto, estavam se aproximando.
- Talvez, porque você pense mal de todos que não sejam você, Damon?- rebateu a voz de Elena, que surgiu usando um shorts desfiado e uma blusa sem mangas e cheia de paetês rosa pink.
Damon revirou os olhos.
Caroline- com um vestido colorido e apertado- e Stefan, também estavam com eles.
Minhas amigas ficaram maravilhadas com os bebês, brigando para ter o direito de segurá-los nos braços, enquanto Kai me carregava para o carro de Damon, ainda envolta no cobertor.
Ele me depositou com cuidado na traseira, sentando- se comigo e ajeitando os travesseiros, para que eu pudesse descansar.
Kai se ofereceu para segurar os bebês em seus braços, enquanto eu descansava um pouco durante o caminho para o hospital.
Stefan e Caroline, resolveram ficar para chamar um guincho para rebocar o carro de Kai.
Damon se concentrava na estrada, dirigindo, com Elena sentada ao seu lado, que vez ou outra me perguntava se eu estava precisando de alguma coisa.
Mas eu não queria. Apenas desejava poder dormir um pouco.
E embalada pelo ronco baixo do motor do Masserati negro, adormeci profundamente.

Tudo era silêncio, mas era um silêncio calmo e confortável.
Ouvi o som do que parecia, pássaros cantando ao longe.
Me espreguicei, sentindo o colchão confortável sob o qual eu dormia. Era macio e quente.
Abri meus olhos devagar, sentindo uma luminosidade forte os inundar, mas logo se acostumaram rapidamente.
Vi o que se pareciam... nuvens?
Eram nuvens brancas a fofinhas, contra um céu azul. Era lindo.
Mas não eram nuvens de verdade, era apenas uma parede pintada com esse tema.
Olhei em volta, vendo um grande quarto, arejado e claro. As cortinas balançavam levemente por uma brisa fresca que vinha da janela.
E pude ver o sol brilhando através das vidraças limpas.
Suspirei, um pouco sonolenta.
Tinha algo importante, de que eu deveria me lembrar...
E os acontecimentos da noite passada surgiram em minha mente.
- Os bebês!- exclamei, procurando por eles pelo quarto com os olhos, mas só o que vi, foi o rapaz alto e de pele pálida que me observava, com um pequeno sorriso no outro extremo do quarto.
- Bom dia, pra você, também, amor- disse Kai, sorrindo e vindo na minha direção.
Percebi que ele não vestia as roupas molhadas da noite anterior. Usava uma camisa branca e lisa, com jeans e outras botas.
Sentou- se na poltrona ao meu lado.
- Como está, se sentindo?- perguntou, pegando minha mão entre as suas.
Aquele toque era bom e reconfortante, mas um estranho nervosismo me dominava.
- Onde estou?- perguntei.
- No hospital do campus. Você adormeceu durante o caminho, mas compreendo que estava muito cansada- ele disse, sorrindo um pouco, olhando para nossas mãos entrelaçadas.
Hospital... OK.
- Onde eles estão?- questionei, mais ansiosa que antes.
Seus olhos azuis- cinzentos pousaram nos meus, havia um certo divertimento neles.
- Bonnie e Kai Junior estão no berçário do hospital- explicou.
Eu ri, ficando menos tensa.
- Bonnie e Kai Junior?
Ele deu de ombros, rindo também.
- Eles não têm nomes ainda, então arrumei apelidos provisórios.
Aquilo me fez rir mais.
- Sério? Bonnie e Kai Junior?!- gargalhei mais.
Kai ficou me observando com um sorriso divertido nos lábios.
- É bom ver você sorrindo, depois de toda aquela amartia de ontem à noite- comentou, acariciando minhas mãos- Mandou muito bem, Bennett. Eu não teria tanta força e coragem como você.
- Você não tem um útero- eu ri.
Ele revirou os olhos.
- Pois é, fui recriminado a vida toda por isso- resmungou, com um sorrisinho.
Me inclinei dando um beijinho na ponta de seu nariz.
- E sou muito grata por isso- provoquei, e fiquei mais séria em seguida- Obrigada pelo que fez por mim, ontem. Obrigada por não ter desistido dela.
Ele suspirou baixinho com seus dedos percorrendo minha maçã do rosto.
- Ela é minha filha, Bonnie. Eu nunca desistiria dela, como nunca desistira de você.
Meus olhos pousavan nos seus com profundidade e carinho. Eu o amava mais do que poderia descrever.
Nunca imaginei, que Kai poderia se transformar tanto. Que um dia estaríamos em um hospital, felizes com nossos primeiros filhos.
- Eu amo você- sussurrei, me inclinando e tocando seus lábios com os meus.
Ele retribuiu meu beijo, com carinho e desejo contido. E tive que afastá-lo, pois Kai começava a se empolgar demais.
Suas bochechas estavam um pouco coradas e seus olhos brilhavam com desejo.
- Se controle, Parker, agora você é um pai de família- provoquei, me ajeitando no colchão de novo.
- Pois é, acabaram- se as rapidinhas em cima da escrivaninha- disse, com um sorriso de canto.
Revirei os olhos.
- Você é desprezível- eu ri.
- Sou, mas você me ama- deu de ombros.
Olhei em volta do quarto, ainda irrequieta. Kai pareceu perceber.
- Você quer vê-los, não é?
Assenti, com meu coração apertado. Àquela distância estava me corroendo, como se eu me sentisse sufocada sem meus bebês.
Estive tão acostumada com senti-los dentro de mim, que agora me sentia mais que vazia. Me sentia oca.
Kai deu um sorrisinho.
- Jô me disse que você poderia vê-los depois que se alimentasse- falou, apontando para algo ao lado de minha maca.
Segui seu olhar, vendo uma mesa branca com uma bandeja, com uma gororoba de hospital nada apetitosa.
- Eu não quero comer isso- resmunguei, cruzando os braços.
Ele franziu o cenho.
- Claro, que vai- ameaçou- Ou não verá as crianças.
Aposto que minha expressão deveria ser do mais puro ultraje.
- Você não pode me impedir- rebati, cruzando os braços sobre a camisola de hospital, que alguém colocou em mim.
Kai arqueou uma sobrancelha, em desafio.
- Não duvide do que eu posso fazer, Bonnie.
Fiquei quieta.
Ok. Eu estava tentando dar um gelo nele.
Meus olhos focaram a parede azul com nuvens e passei uns bons dez minutos, a encarando.
O ouvi pigarrear, falando pela primeira vez.
- Eu sei que essa gororoba não é nem um pouco apetitosa, mas você precisa se alimentar para poder deixar nossos filhos fortes e saudáveis, entende?
Ele tentava conciliar tudo e eu estava sendo teimosa.
Virei a cabeça, lentamente em sua direção, vendo seus olhos azuis nos meus. Pude notar algumas olheiras sob seus olhos.
Ele não havia descansado um minuto sequer e eu estava o cansando mais.
Suspirei, me rendendo completamente.
- Desculpe- falei, me esticando e pegando a bandeja com a comida esquisita- Você está certo.
Ele sorriu, perecendo satisfeito.
Dei uma garfada no montinho de comida. Bem... apesar de não ter muito tempero, até que não estava tão ruim.
E quando dei por mim, já tinha devorado tudo. Acho que o esforço da noite passada, havia me deixado faminta.
Kai me observava, dando colheradas em um pequeno copo descartável com gelatina de cereja. Aquele safado tinha pegado a melhor parte.
Suspirei, colocando minha bandeja vazia sobre a mesa.
- Pronto- falei, me recostando nos travesseiros- Você me deve uma gelatina, seu cretino.
Kai me lançou um beijinho, terminando de comer o último pedaço.
- Dou quantas você quiser, quando sairmos daqui- disse, colocando o copo vazio e a colher sobre a bandeja.
Fiquei parada o encarando.
- O que foi?- perguntou.
- Você prometeu que eu veria nossos filhos- falei, ainda fazendo cara feia.
Ele sorriu de forma diabólica.
- Se eu disser que menti para que se alimentasse, você me espancaria com muita força?- perguntou, se encolhendo teatralmente contra a cadeira.
Semicerrei os olhos.
- Tanto que trocaríamos de lugar- ameacei- Você quem ficaria em uma maca, não eu.
Kai riu.
- Meu Deus, o que eu fiz com você?!
- Aprendi com o melhor- sorri, dando de ombros.
Estava prestes à dizer mais alguma coisa, quando ouvi uma batida na porta.
- Bem na hora- aprovou, Kai, olhando em seu relógio de pulso- Entra!
E a porta se abriu devagar, trazendo uma enfermeira que empurrava dois bercinhos transparentes nos quais meus bebês estavam.
Me remexi na maca, com minhas mãos formigando para tocá-los.
Foi então, que percebi algo.
A enfermeira- uma mulher mais velha, gorda e com cabelos cor de rouge- encarava meu marido, que não parecia nenhum pouco feliz em vê-la.
Aquela era a enfermeira do hospital de Mistyc Falls, que o havia acusado de "agredir" o médico local.
- Não acredito...- disse a mulher, fazendo uma carranca para Kai- Deus realmente é misericordioso, dando alguma criança para alguém como você, rapaz.
Kai fez uma tremenda cara feia para ela. Do tipo, que ele só reservava pra quem não gostava de verdade. Nem mesmo Damon, já havia visto aquela expressão.
- Você por acaso, foi transferida?- questionou.
Ela assentiu.
- Deus é muito cruel, comigo- resmungou.
A mulher pareceu ofendida.
- E não me olhe assim, velha desaforada- falou, ficando de pé e encarando a mulher baixinha, que não parecia nenhum pouco intimidada com seu olhar.
Ela cruzou os braços.
- Era com garotinhas, como você- disse ela, o encarando- que eu me divertia na cadeia.
Kai fez uma expressão engraçada de confusão e em seguida de nojo.
- Eca! Sai daqui, velha doida- resmungou, empurrando a mulher porta afora e a trancou em seguida- Impressionante, como se vê essas coisas sinistras só na Virgínia!
Eu ri.
- Tem alguém com quem você se dê bem? Além de mim, é claro.
Ele sorriu, e começou a empurrar os carrinhos dos bebês para mais perto de mim.
- Sim- disse pegando nosso filho em seus braços, com todo o cuidado- Com essas coisinhas lindas, aqui.
Ele sorriu, caminhando até mim e me entregando o menininho.
Quando o senti em meus braços, tive uma súbita vontade de chorar. Ele era lindo e perfeito.
Haviam trocado suas roupas, colocando um macacão de veludo azul claro, com pequenos peixinhos laranjas estampados. Ele estava envolvido em um cobertor azul e com uma touca, cobrindo seus cabelos finos e claros.
Toquei sua bochechinha macia, sentindo o calor confortável de sua pele.
- Oi, meu amor...- sussurrei, sentindo uma lágrima descer por meu rosto.
Ele se mantinha de olhos fechados, mas pude ver suas mãozinhas rosadas se moverem freneticamente. Experimentei, encaixar meu dedo em sua palma. E imediatamente, ele o segurou, apertando com força, parecendo muito mais calmo.
- Você gosta de tocar na mamãe?- sussurrei, e o vi dar um sorriso banguela e fofo- Você é tão lindinho...
Levantei, minha cabeça, vendo Kai, sentado na poltrona ao meu lado, com a menininha no colo.
Ela era muito mais agitada, movendo pernas e braços, como se quisesse aprender a andar logo e sair correndo por aquele quarto.
- Era ela- falei.
Kai levantou seus olhos de nossa filha.
- O quê?- disse, confuso.
Eu sorri.
- Era ela quem vivia chutando. Ele era mais quieto- e olhei para o bebê em meus braços- Por isso, eu tinha a impressão de haver só um bebê.
Kai pareceu confuso.
- Ainda, assim...quando eu a tocava só conseguia sentir a presença de um dos bebês... mas como?- murmurou, pensativo. Eu não tinha resposta para aquilo, mas por um momento seu semblante se iluminou- Ela o estava protegendo.
-O quê?- e foi minha vez de ficar confusa.
Kai parecia ansioso com sua descoberta.
- Você não entende? Ela tinha força o suficinte para sublimar a presença dele. Por isso, não conseguíamos vê-los no exame de ultrassom. O poder dela é tão forte que conseguiu esconder o irmão e a si mesma. E lembra das vezes em que ela sugou sua magia?
Assenti; aquilo era muito doloroso.
- Talvez, ela o fizesse de forma instintiva. Tomando sua magia para poder manter a proteção que criou para si mesma e o irmão.
Olhei para a menina pequena e indefesa em seus braços.
- Está querendo dizer.. que ela é mais forte que o irmão?- perguntei.
Ele negou com a cabeça.
- Estou dizendo que ela é uma espécie de prodígio, pois conseguiu criar um feitiço de proteção e ocultação, ainda no ventre, mas isso não quer dizer que ele também não possa ter habilidades como as dela. Acho que é só uma questão de tempo até descobrirmos.
Encarei a menina e o menino, impressionada. Então, era isso que acontecia ao juntar dois bruxos fortes demais.
Pequenos bruxos prodígios.
- Teremos que ensiná-los a controlar isso. Eu, mais do que ninguém, sei como é conviver com tanto poder e pouco controle.
Isso me deixou um pouco nervosa, mas teríamos muito tempo para ensiná-los.
- Fica calma, Bon. Vai demorar muito para que eles façam as panelas da cozinha flutuarem- brincou, me acalmando.
Assenti, voltando a olhar para o menino em meus braços e comecei a rir.
Kai me encarou, como se eu fosse maluca.
- Bonnie e Kai Junior!- murmurei rindo e olhando para Kai- Sabe que eles não podem ter esses nomes para o resto das vidas deles, não é?
Ele arqueou uma sobrancelha.
- Que nome você sugere?
Pensei um pouco.
Eu tinha passado meses, tentando encontrar nomes dos quais eu e Kai, gostássemos, mas nunca concordamos e brigamos muito por isso.
- Ainda não sei...- murmurei.
Kai coçou o queixo, olhando para a menina e o menino.
- Que tal... Ernest e Matilda?
Meus olhos quase saltaram das órbitas.
- Kai, sua família não tem histórico dos nomes mais bonitos, então deveria deixar esse trabalho para mim.
Ele revirou os olhos.
- O que tem de errado com esses nomes? São de boas lembranças- defendeu- Matilda era a boneca caolha da Jô e Ernest era um cão que eu tive, quando criança.
Semicerrei os olhos, o desafiando.
- Você não vai colocar o nome de uma boneca caolha na nossa filha e nem o nome de um cão sarnento no nosso filho, entendeu?
Acho que eu devo tê-lo assustado, pois concordou de imediato.
- Façamos assim- suspirei, tentando entrar em um acordo- Vamos escolher nomes sóbrios, dos quais os dois gostam. Você se sente mais à vontade com menino ou menina?
- Menino- respondeu.
Assenti.
- Então, eu começo- murmurei, olhando para a menina em seus braços- Que tal... Claire?
Kai parou para pensar um pouco, parecendo pesar o som e o significado.
- Não é um nome espetacular, mas acho que combina com ela- e sorriu para a menina- Não é, Claire?
Claire deu um sorriso, banguela para o pai.
- Acho que ela gostou- ele sorriu e olhou para mim.
- Bem, é sua vez...- eu disse, meio cautelosa, esperando algo bem bizarro.
Por favor, não escolha um nome esquisito, implorei. Por favor, não escolha um nome esquisito.
Kai coçou o queixo, mais uma vez, olhando para o menino em meus braços.
E sorriu, olhando para o piso branco do quarto.
- É um pouco sentimental demais... mas acho que talvez, você goste- ele disse e levantou seus olhos azuis para mim- Eu andei pensando em chamá-lo de... Lucas. Sabe, em homenagem ao meu irmão. Mas acho que você não gosta e...
- Não...- falei, o interrompendo- Eu gosto de Lucas. Combina com ele.
Baixei meus olhos, para o bebê em meus braços.
-Lucas- sussurrei, olhando para ele.
Ele se movimentou, como se tivesse ouvido de verdade, quase como se compreendesse. Era um pouco estranho... bebês não entendiam certas coisas nessa idade.
- Claire e Lucas- murmurou, pensativo- Daria uma ótima dupla de música country.
Olhei para meu marido, sorrindo.
- Você não tem jeito, mesmo.
Kai me encarou, pronto para dar mais uma de suas respostas prontas, quando Claire, começou a chorar.
Kai ficou apavorado, olhando para a menina, sem saber o que fazer.
- O que ela tem?- perguntou para mim, ainda a olhando como um animal aprisionado- Será que está doente?
E o vi colocar as costas da mão, contra a testa da menina, medindo sua febre.
- Vou chamar a Jô- disse se levantando, rapidamente com o bebê nos braços.
- Kai- chamei, contendo a vontade de cair na gargalhada.
- O quê?- disse, se virando com uma expressão um pouco assustada.
Eu sorri, me segurando para não rir.
- Já parou para pensar que ela pode estar com fome?- questionei.
E vi sua expressão confusa e assustada mudar para compreensão.
- Ah...- murmurou e veio, com Claire até mim.
Trocamos os bebês com cuidado, de modo que Lucas foi para os braços de Kai e Claire para os meus.
Ela era o bebê com os pulmões mais fortes que eu já vi. Gritava e esperneava dentro do macacão cor de rosa, sacudindo as mãozinhas em sinal de desagrado.
E foi instintivo, quando a encostei em meu peito seus lábios pequenos e ávidos, procuraram meu seio, mordiscando por cima da camisola.
- Calma, meu amor... shhhh...- sussurrei a balançando um pouco e abaixando a alça do lado direito de meu ombro, deixando meu seio à mostra. Claire, encostou seus lábios famintos, sugando com força.
- Ei, minha princesa, vai com calma- sussurrei, quando ela sugava o leite com muita força e acabava se engasgando. Nesses momentos, tinha que afastá- la para que recuperasse o fôlego.
E voltava a colocá- la em meu seio de novo, deixando- a mamar, até se satisfazer.
Quando a menina se deu por satisfeita, largou meu seio, ficando com bracinhos e perninhas completamente moles, com um leve suor na testa por causa do esforço.
Limpei o suor, com uma toalha de algodão, vendo- a suspirar e cair em um sono profundo, com a barriguinha volumosa.
- Ela é comilona- eu ri, dando um beijo carinhoso em sua cabeça, inspirando aquele cheiro gostoso que só os bebês têm.
Levantei a cabeça, olhando para um Kai que me observava atentamente.
- Eu tinha razão quando disse que você seria uma boa mãe- e olhou para Claire, sorrindo- Nocauteou a menina só com um punhado de leite.
Revirei os olhos, sorrindo para ele.
Coloquei a menina sobre meu peito, espalmando suas costas devagar, até que ouvisse um pequeno arroto seu.
Depois, me levantei devagar, um pouco cansada, colocando- a em um dos bercinhos transparentes.
Ela dormia profundamente, talvez sonhando com coisas bonitas, como só uma verdadeira garotinha podia.
Me deitei na maca de novo.
Estendi meus braços, olhando para Kai.
- É a vez do Lucas- murmurei, vendo-o dar os primeiros sinais de quem ia chorar bem alto.
Kai colocou-o em meus braços, com cuidado.
Abaixei a alça de minha camisola, do lado esquerdo, vendo o menino abocanhar meu seio, antes mesmo de estar descoberto.
Ao contrário da irmã, Lucas, era bem mais calmo, como se soubesse que se puxasse o leite com muita força, acabaria se engasgando. Ele foi bem paciente, se alimentando com calma, até que seu estômago não pudesse suportar mais uma gota de leite.
Eu havia passado meses assustada com a possibilidade de não saber amamentar direito, mas era tão natural e prazeroso que fiquei me perguntando, como havia me preocupado tanto.
Quando terminamos, Lucas soltava uma respiração ofegante e estava sonolento como Claire.
Deitei- o sobre ombro, deixando que arrotasse. Em seguida coloquei-o no berço, ao lado da irmã.
Os dois dormiam profundamente.
Kai veio sentar-se ao meu lado.
Estendi minha mão, procurando a sua. Ele a segurou.
Ficamos alguns segundos observando nossas obras-primas.
- Você tem tanto jeito com crianças- sussurrou Kai, acariciando meus cabelos- E eu fico todo apavorado só com um choro.
Me inclinei, dando um beijo em sua testa. Ouvi-o suspirar.
- Querido, é só uma questão de tempo- sussurrei contra sua pele, sentindo o aroma gostoso de almíscar que era mais marcante em seus cabelos- Logo você saberá tanto, quanto eu.
- Assim espero...- sussurrou de volta- Bon...
- Hum?- fiz, distraída pelo aroma gostoso de seus cabelos.
- Você está feliz? Quer dizer, você gosta de ser mãe? Gosta de estar comigo?
Eu sorri, plantando um beijo carinhoso em sua bochecha.
- Não quero ser mais nada do que a mãe de Claire e Lucas- sussurrei, perto de seu rosto- E não quero ser mais nada além de sua esposa.
Ele acariciou meu rosto.
- Você é muito mais que isso- disse com seu hálito quente, em meu rosto- Você é minha mulher, amiga, companheira, meu amor, a razão do meu viver e o motivo pelo qual respiro. Você é meu tudo. E sou apenas, um enorme nada sem você.
Sorri, vendo seus olhos azuis percorrerem cada centímetro de meu rosto.
- Tirar você de mim- sussurrei- Seria como me impedir de respirar ou como se arrancassem meu coração do peito. Eu que sou um enorme nada, sem você. Não sabia que era tão incompleta até te conhecer. E não me sinto, mais... vazia.
Ele sorriu, deixando àquelas covinhas lindas à mostra.
Kai segurou meu rosto entre suas mãos, me puxando de forma carinhosa para perto de si.
Quando meus lábios, estavam quase tocando os seus, mais uma vez, ouvimos o som de batidas na porta.
Ele revirou os olhos azuis, se afastando de mim.
Kai caminhou até a porta e a destrancou.
- Pensei que teria que usar meu golpes de Bruce Lee, para arrombar a porta- ouvi Jô, resmungar.
Vi a mulher de cabelos escuros, entrando no quarto.
Minha cunhada passou dois meses, com medo de não retornar ao seu peso normal. Mas aqui estava ela, linda como sempre.
- Olá, Bonnie- disse, ao me ver na maca- Como está se sentindo?
- Cansada- fiz uma careta.
Ela remexeu o jaleco branco.
- Acredite, conheço bem essa sensação- disse, se lembrando de quando nossas posições estavam trocadas- Bem, tirando esse cansaço você está muito bem. E para que não ficasse mais exausta, pedimos para que as visitas viessem mais tarde.
Assenti e deixei que ela me examinasse em busca de qualquer sintoma diferente, mas eu estava saudável.
Ela anotou algumas coisas em uma prancheta e logo foi em direção aos bebês.
Ela parou, colocando a mão no peito e fazendo uma expressão emocionada.
- Ai, meu Deus... eu sou tia- disse olhando para os dois bebês, parecendo estar com uma vontade imensa de pegá- los no colo, mas se conteve- Eles são tão fofos! Seria errado dizer que quero morder essas coisinhas lindas?
Kai sorriu.
- Olha maninnha, canibalismo não é bem visto pela sociedade em que vivemos- provocou Kai- E não acho que você gostaria da idéia de eu morder uma das suas filhas.
Jô revirou os olhos.
- Estraga-prazeres.
Eu ri.
- Bom, então só preciso fazer os exames finais, só para ter certeza de algumas coisas.
Fiquei quieta, observando enquanto Kai a ajudava. Os dois conversavam sobre termos médicos, desconhecidos para mim.
Era uma conversa bem maçante, mas notei algumas palavras que eram repetidas com alguma frequência. Como "nervo óptico", "retinas" e outras coisas ligadas aos olhos.
Me ajeitei, no colchão, ficando subitamente desconfortável.
Jô terminava de abotoar o macacão de Claire.
- Jô- chamei, vendo- a se voltar para mim- O que está acontecendo? Os bebês estão bem, não é?
Vi o modo, como Kai baixou os olhos, parecendo perturbado com alguma coisa.
Jô remexeu o tecido do jaleco, o torcendo entre os dedos.
- Josette?- chamei.
Eu nunca a chamava assim, há menos que estivesse preocupada ou nervosa demais com ela.
Jô levantou os olhos azuis, mirando os meus com firmeza.
- O que está acontecendo?- repeti, sendo mais dura do que queria.
Ela respirou fundo e falou rapidamente.
- Quando você e os bebês deram entrada no hospital, imediatamente, pedi que fizessem todos os exames necessários em todos os três- começou- Fizemos toda uma bateria de testes e os bebês e você estão saudáveis. Porém, em um exame de rotina um dos médicos, notou algo estranho com uma das crianças.
Comecei a arfar desesperadamente, subitamente me lembrando de todas as coisas erradas que fiz durante a gravidez. Comer besteiras demais, dormir pouco e viver estressada por causa do trabalho e meu curso.
Tudo isso podia ter contribuído para qualquer problema de saúde.
E imediatamente, pensei em Claire.
- O cordão dela...- engoli em seco- enroscou-se no pescoço...- minha voz estava perdida em si mesma-... isso pode ter causado algum problema...
Senti uma ardência no peito e o nó na garganta. Como se eu nem conseguisse respirar direito.
Jô pareceu confusa.
- Bonnie... não estou falando de Claire- explicou.
Ergui meus olhos, mais assustada ainda.
- Lucas?- minha voz saiu mais alta do que eu pretendia.
Ela assentiu devagar.
- O oftalmologista do hospital detectou algo nos olhos dele- falou seriamente- Pedi uma bateria de exames para confirmar.
- O que ele tem?- perguntei, com o coração na garganta.
Ela não respondeu, resguardando um silêncio duro.
Minhas mãos tremiam.
- O q-que quer dizer?- gaguejei, insistindo mais- Que meu filho pode ficar... cego?
Jô fechou os olhos com força, parecendo mais frágil do que queria aparentar. E quando os abriu estavam marejados.
- Bonnie ele não vai ficar cego...- sussurrou, me mirando- Porque ele já é cego.
Meu mundo simplesmente rotacionou e ficou fora do eixo.
Meu filho... não enxergava?
Ele nunca poderia me ver, nunca saberia como é parecido com o pai. Lucas nunca teria uma vida normal...?
- Não tem um modo de reverter isso? Cirurgias, ou algum tratamento?- eu implorava.
Jô sacudiu a cabeça negativamente.
- Não sabemos como tratar, simplesmente, porque não sabemos o que ele tem- explicou.
- O quê? Como assim?- minha voz era carregada de ultraje- Como, não sabem?
Ela cruzou os braços diante do peito.
- Já vi muitos casos de doenças como catarata congênita, miopia degenerativa, atrofia do nervo óptico, etc. Mas não é nada disso. Pensamos pode ter sido causado por uma infecção durante sua gravidez, mas também, não é nada disso. E cogitei a hipótese de um câncer, porém todos os exames deram negativo para tudo isso. Os olhos de Lucas são perfeitos, porém ele não enxerga.
Torci meus dedos nervosamente.
- Se os resultados foram negativos, como podem ter certeza de que ele é realmente cego?- questionei, tentando me agarrar à qualquer coisa.
Minha cunhada voltou- se para o irmão.
Kai tinha uma expressão insondável, não deixando nada transparecer.
- Ele abriu os olhos, hoje?- questionou Jô.
Kai deu de ombros.
- Quando fui visitá-lo no berçário, sim.
- Ele parecia interessado em tentar enxergar as coisas em volta?
- Na verdade... não- respondeu de forma relutante- Ele só encarava um ponto fixo, mas não parecia estar... realmente vendo alguma coisa.
A mulher assentiu, indo até o berço de Lucas.
- Posso acordá-lo?- perguntou, olhando para mim.
Apenas assenti com a cabeça, incapaz de dizer qualquer coisa.
Jô se abaixou, pegando o menino em seus braços com cuidado. Lucas acordou de imediato, mas não chorou.
Vi a mulher caminhando com cuidado até mim. Ela parou ao meu lado na maca e ainda segurando Lucas, usou a outra mão para buscar algo no bolso do jaleco.
Tirou de lá, um cilindro pequeno e preto. Uma lanterna.
- Quando a luz é apontada para os meus olhos, veja o que acontece- disse, acendendo a lanterna e ficando perto o suficiente para que eu visse.
Ela colocou a luz bem perto de seus olhos azuis e vi sua pupila contrair por causa da luz excessiva.
- Está vendo?- disse abaixando a lanterna em seguida- É um reflexo natural dos olhos. As pupilas contraem para filtrar menos luz, impossibilitando danos aos olhos. E agora vejamos o Lucas...
E foi como se ele tivesse compreendido. Subitamente, abriu os olhos.
Eu ainda não o tinha visto de olhos abertos, e claro, que fiquei maravilhada ao ver olhos azuis- cinzentos como os de Kai. E havia tanta perspicácia e inteligência neles, como se ele não tivesse realmente a idade que aparentava.
Jô apontou a lanterna para as retinas do bebê, que não pareceu nenhum pouco incomodado com a luz forte. E ao contrário de sua tia, suas pupilas não contraíram. Ele nem parecia se dar conta da luz em seus olhos.
- Ele não vê... nada- constatei, tomando conhecimento daquilo.
- Não vê- disse Jô, cabisbaixa- Sinto muito.
Estendi meus braços, querendo confortá-lo com meus carinhos. Jô o entregou à mim.
- Não se sinta mal por isso- sussurrou, pousando sua mão em meu ombro- Minha mãe dizia que certas bênçãos, vem disfarçadas em tragédias, para que aprendamos a reconhecê-las.
Olhei para ela, com lágrimas ameaçando sair.
Eu não disse mais nada, apenas me limitando a olhar para o meu filho, que estava distraído demais sacudindo as mãozinhas para perceber qualquer coisa ruim.
Ouvi o som dos passos dela pelo quarto. E em seguida a porta batendo.
E ouvi os passos de Kai, muito perto de mim. Ele sentou-se ao meu lado na maca.
- Você sabia disso- acusei- Sabia e não me contou.
Ouvi-o suspirar, parecendo muito cansado.
- Não queria que ficasse triste por isso- e sua voz, parecia perdida em emoções.
Levantei, meus olhos, mirando Kai.
Ele me encarava de forma séria, sem dizer uma palavra.
- Ele é meu filho, Kai! Achou que se eu não soubesse, ficaria menos preocupada?!
- Ele também é meu filho, Bonnie- disse sem alterar a voz, mas ainda assim, parecia muito frio- Me preocupo tanto, quanto você. E quando soube disso, tentei fazer todos os feitiços de cura que fossem necessários, mas nada adiantou. E cheguei à conclusão de que isso não é uma condição. E sim, um estado.
" Lucas não é cego, só nasceu sem a habilidade de enxergar, mas isso não quer dizer que ele não possa ver".
Encarei- o sem compreender.
- O que quer dizer com isso?- questionei- Acha que isso tem haver com magia? Que é um tipo de habilidade extra?
Ele deu de ombros.
- Não sei dizer, Bonnie. Claire e Lucas, não são como qualquer criança que eu já tenha visto. São mais fortes do que tudo que eu já tenha sentido. Nunca vi um poder tão grande, nem mesmo em um líder de Convenção como eu. Pode ser que a falta de visão de nosso filho, seja uma habilidade não vista ainda, pois se o caso dele não é o de uma cegueira normal, então tem algo de muito forte e sobrenatural nisso.
Essas teorias me encheram de uma certa esperança de que meu filho, talvez pudesse realmente ter uma vida comum.
Voltei meus olhos, para o bebê em meus braços.
Lucas continuava quieto, como se estivesse absorvendo tudo de nossa conversa. Vi o pequeno sorrisinho em seus lábios.
E aquilo me fez acreditar que não haveria barreira ou problema forte o suficiente para ele. O fato de não enxergar não seria um empecilho e sim sua força.
O amei mais que tudo naquele momento. Simplesmente, me esqueci que havia algo errado.
Ela era lindo e perfeito, não havia nada que precisasse ser melhorado.
- Eu o aceito como é. E o amo por isso- sussurrei.
Kai tocou em seus cabelos louros e finos que se sobressaíam na touca.
- Fico feliz que pense, assim- disse Kai, me observando com carinho.
Sabia que ele mais do que ninguém, foi rejeitado por ser diferente. E acho que teve medo de que eu fizesse o mesmo com nosso filho, mas eu nunca faria isso.
Ele era como o pai, minha razão de viver e meu orgulho.
- Eu amo você, garotão- disse Kai, tocando seus cabelos.
Eu sorri para ele, vendo as mãozinhos rosadas de Lucas se movendo freneticamente, como se estivesse de alguma forma, tentando se comunicar com o pai.

Algumas horas se passaram, enquanto o dia transcorria.
Kai se ofereceu, para tomar conta dos bebês, para que eu descansasse um pouco mais.
Acho que tirei um cochilo de uma hora, pois Claire e seus pulmões vigorosos me acordaram. Mas não me sentia tão cansada.
Passei o restante do dia, cuidando de meus filhos lindos e conversando com Kai, que me deixou à par do que havia ocorrido na noite passada.
Ele me disse que os jovens estavam agindo daquela forma tão descontrolada por causa de uma nova droga que estava sendo distribuída na irmandade onde a festa ocorreu. O que causou todo tipo de loucura pelo campus.
O diretor teve que expulsar e mandar a polícia investigar os responsáveis. Os danos por todo o território do colégio, tiveram que ser ressarcidos pelos pais dos alunos culpados.
E achei um enorme "bem-feito" para eles, porque por causa daquele acidente quase que eu e meus filhos morremos.
O hospital, foi obrigado à me dar todo o tipo de paparico, pois Kai fez da vida do diretor, um tremendo inferno, ameaçando processar o hospital e a faculdade, por negligenciarem uma estudante grávida.
Àquilo me fez rir.
Se ele não fosse se formar em medicina, com certeza daria um ótimo advogado.
Mais tarde recebi a visita de meus amigos.
Minhas amigas, ainda estavam encantadas com os bebês, viviam pegando-os no colo e dizendo o quanto eram lindos.
Liv escapou de uma de suas aulas na faculdade, só para ver os sobrinhos. Ela foi pega de surpresa tanto, quanto nós, pois ficou sabendo do nascimento dos bebês naquela manhã. E Tyler não teve a mesma sorte, não pôde sair de suas aulas, pois estava em fase de provas, mas mandou avisar por meio de Liv, que viria visitar à mim e os bebês em breve.
Até Matt, deu um jeito de aparecer, acompanhado de Liliana, que parecia um pouco envergonhada.
Damon e Stefan, chegaram depois, junto de...
- Abby?!- exclamei, ao ver minha mãe, parada na entrada do quarto, usando jeans escuros, uma blusa amarela e saltos de pele de tubarão.
- Achou que eu perderia a chance de conhecer meus netinhos?!- disse, atravessando o quarto e me dando um forte abraço de vampiro.
Ela me afastou, tirando alguns fios de cabelo dos olhos.
- Não pude vir da outra vez em que você foi hospitalizada- murmurou, se referindo à quando eu fui internada no hospital de Mistyc Falls, após a luta com Caleb- Tive problemas com uns caçadores, mas agora está tudo bem. Como você está, meu amor? O parto foi difícil?
Damon deu uma risadinha.
- Tão difícil, quanto é para uma garota que dá à luz à gêmeos no banco de trás de um carro velho- murmurou.
Lancei um olhar assassino para ele.
Eu pretendia... bom, mentir, dizendo que foi tudo bem. Em um hospital limpinho e cheio de médicos prestativos, para impedir uma reação exagerada de minha mãe.
O que foi por água à baixo com a declaração descarada de Damon.
Abby me encarou horrorizada, como se eu tivesse dito que pari meus filhos em um matadouro.
- Foi um pouco assustador, mas saiu tudo bem, mamãe...- expliquei pela centésima vez, até que ela se mantivesse calma- Kai estava comigo. Tive muita sorte. Foi ele quem fez meu parto.
Abby, encarou meu marido, como se ele fosse uma espécie de super herói. E demorou um pouco, até que ela parasse de abraçá-lo e agradecê-lo por salvar minha vida.
- Casar com esse rapaz, foi a melhor coisa que podia ter feito, querida- disse apertando a bochecha de Kai, como se ele fosse uma criança, o que o fez rir- Além de tudo é um médico! Vai cuidar tão bem de você e meus netinhos.
Minha mãe estava eufórica, segurando Claire em seus braços e dizendo o quanto era linda e se parecia comigo. Bom, exceto pelos olhos que eram de um azul- cinzento como os de Lucas.
Ficamos reunidos durante à tarde e vez ou outra recebíamos visitas de Jô, que conseguia escapar por alguns minutos do trabalho. E sem falar em Rick, que veio logo depois com as gêmeas, Charlotte e Mia.
- Isso aqui, são para os meus sobrinhos!- disse ele, mostrando um carrinho de pelúcia gigante e vermelho, juntamente com um urso branco e enorme com um grande laço cor-de-rosa.
Acho que Claire e Lucas, já tinham um tio preferido.
Em se tratando de colo, descobrimos que Claire, não queria ficar com mais ninguém além de mim, Kai e minha mãe. Lucas era mais amável, não se importava em ser pego nos braços de outras pessoas que não fossem o pai, a mãe e a avó. Ele acabou gostando de ficar mais com Elena.
Os dois pareceram se dar muito bem.
Em seguida, Damon o pegou nos braços, alegando ser melhor que a Super Nanny.
- E não é que ele não enxerga, mesmo?- disse, balançando o indicador diante do rosto de Lucas, que não parecia perceber nada.
Kai bufou, se levantando e pegou nosso filho em seus braços.
- Vampiros também, podem ficar cegos- falou, com um sorrisinho mau- Basta um feitiço e arranco seus olhos fora.
Damon fez uma careta, mas ficou quieto.
Elena revirou os olhos, para Damon, repreendendo seu namorado.
- Bonnie, como farão para continuar na faculdade, agora que têm os bebês?- perguntou Caroline, que era extremamente preocupada com o meu futuro acadêmico- Não me diga que abandonará o curso!
Dei uma risadinha.
- Não, Care...- expliquei - Kai e eu conversamos sobre isso. Nós vamos alugar um apartamento no campus, até concluirmos nossos cursos. Só faltam alguns meses, para eu ganhar o meu diploma e posso pagar uma babá para ficar com os bebês.
Vi Elena erguer a mão, com um enorme sorriso.
- Eu me habilito para o cargo!- disse, parecendo empolgada- Vai ser um sonho poder cuidar desses bebêzinhos lindos.
Elena sempre gostou de crianças, desde pequena. Era um pouco irônico que agora ela fosse uma vampira, o que implicava em ser estéril.
Eu torcia para que ela também, pudesse ter essa felicidade.
- Eu também!- disse Caroline, sorrindo- Elena vai mimar demais, esses dois. Preciso ficar de olho.
- Pode contar comigo- se ofereceu Liv- Tenho que ficar observando o que essas tontas farão com os meus sobrinhos.
- Já que todas estão nessa...- disse Jô, quando conseguiu escapar um pouco do trabalho- Me ofereço para cuidar dos dois. Eles até podem brincar com a Mia e Charlie.
Tentei imaginar Caroline, Elena, Liv, Jô e Kai no mesmo espaço. Daria uma bela confusão, isso sim.
Sorri para elas.
- Obrigada, garotas, é muito bom ter a ajuda de todas vocês- falei.
Passamos uma tarde bem calma, tirando o fato de Damon ficar fazendo piadas o tempo todo, dizendo que o fato de nosso filho não enxergar, não era um problema. Ruim era o fato de ele ter cara do pai.
Kai mostrou o dedo do meio.
- Só tá com inveja, porque não tem uma cópia mirim de você- provocou, ainda com Lucas nos braços.
Damon, revirou os olhos.
Às vezes, meu melhor amigo e meu marido, pareciam duas crianças.
No decorrer do dia, fomos nos despedindo.
Abby, foi a última à ir embora, prometendo que viria nos visitar no dia seguinte.
E assim chegou à noite.
Kai colocou Claire e Lucas, ao meu lado, com alguns travesseiros em volta deles.
Deixei que o crepúsculo se esvaísse, sem que eu percebesse, pois estava ocupada demais, olhando para os bebês adormecidos e com meus dedos entrelaçados com os do homem, que havia me dado aqueles presentes, com os quais eu jamais poderia sonhar.

❤❤❤❤❤❤❤❤

Nota da Autora:

Oi amores do meu coração,

Sei que vacilei demorando demais com o capítulo. E peço um milhão de desculpas por isso. Acho que enrolei mais nesse, porque, de certa forma, é uma contrapartida para o final.
E ninguém gosta de finais. Principalmente, euzinha aqui o/.
Também, sei que mais uma vez, fiz a Bonnie sofrer, mas foi necessário, já que partos não são doces como sonhos. E deu uma emoçãozinha básica kkk.
Resolvi esconder o fato de Bonnie estar esperando gêmeos, porque dava um clima cheio de suspense na história. (Mas aposto, que alguns já suspeitavam disso...)
E mais um tema que com certeza, deve ter deixado muita gente furiosa comigo: o fato de Lucas, ser cego.
Mas pretendo mostrar mais dele, no próximo capítulo e falar mais de sua "habilidade". Acreditem, ele não é coitadinho ou inofensivo. Ele tem uma personalidade marcante, assim como Claire.
E meu Deus! Como foi difícil pensar em um nome para essa menina! Mas depois de passar meses, meditando sobre isso e perturbando minha amiga, finalmente consegui um nome. Tcharam! Espero que tenham gostado :)
E o que acharam desse capítulo?Amaram? Odiaram?
Comentem!

Beijos xxx
Até o próximo :*

P.S: O capítulo 37 foi o penúltimo. Infelizmente :( Mas preparei um final legal. Espero que gostem! :)










Continue Reading

You'll Also Like

1.4M 80.7K 79
De um lado temos Gabriella, filha do renomado técnico do São Paulo, Dorival Júnior. A especialidade da garota com toda certeza é chamar atenção por o...
118K 9.4K 85
Logo após o desastroso casamento de Josette e Rick, Bonnie pensa ter se livrado de seu pior pesadelo: Kai Parker. Mas, tudo muda quando a bruxa é seq...
114K 7.2K 38
Você já imaginou como seria se os personagens de The Vampire Diaries e The Originais juntos com Lizzie Josie e Hope assistindo aos momentos de Klarol...
168K 7.8K 23
Richard Ríos, astro do futebol do Palmeiras, tem uma noite de paixão com uma mulher misteriosa, sem saber que ela é a nova fisioterapeuta do time. Se...