A fórmula matemática de Berna...

Af mirandaescreve

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Jane nunca se rendeu às convenções sociais. Por isso, seus bens mais preciosos são seu carro (restaurado por... Mere

Nota da Autora
Prólogo
Capítulo 1 - Bernardo
Capítulo 2 - Bernardo
Capítulo 3 - Jane
Capítulo 4 - Jane
Capítulo 6 - Bernardo
Capítulo 7 - Jane
Capítulo 8 - Jane
Capítulo 9 - Jane
Capítulo 10 - Bernardo
Capítulo 11 - Bernardo
Capítulo 12 - Jane
Capítulo 13 - Bernardo
Capítulo 14 - Bernardo
Capítulo 15 - Jane
Capítulo 16 - Jane
Capítulo 17 - Bernardo
Capítulo 18 - Bernardo
Capítulo 19 - Jane
Capítulo 20 - Jane
Capítulo 21 - Bernardo
Capítulo 22 - Jane
Capítulo 23 - Bernardo
Capítulo 24 - Jane
Capítulo 25 - Jane
Capítulo 26 - Bernardo
Capítulo 27 - Bernardo
Capítulo 28 - Jane
Capítulo 29 - Bernardo
Capítulo 30 - Jane
Capítulo 31 - Bernardo
Capítulo 32 - Jane
Capítulo 33 - Jane
Capítulo 34 - Bernardo
Capítulo 35 - Bernardo
Capítulo 36 - Jane
Capítulo 37 - Jane
Capítulo 38 - Bernardo
Capítulo 39 - Jane
Capítulo 40 - Jane
Capítulo 41 - Bernardo
Capítulo 42 - Bernardo
Capítulo 43 - Jane
Epílogo [tempo limitado]
RESSURREIÇÃO

Capítulo 5 - Bernardo

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Af mirandaescreve

Na manhã seguinte meu pescoço está em frangalhos, suportando uma cabeça que não pode estar no lugar certo. A luz ilumina todo quarto, não, sala e me impede de continuar a dormir. O ato de sentar e levantar do sofá demora mais de um minuto. Acho que cochilei no meio do caminho.

Café. Esse é meu primeiro pensamento e motivação para sair do ninho vermelho e laranja em que o sofá se transformou. Cada passo até a cozinha parece um terremoto em minha cabeça. Na bancada, os utensílios limpos para fazer café me esperam, assim como a leiteira sobre o fogão sem chama.

Quem teria coragem de começar a preparar café e parar no meio? Acendo o fogo e coloco três colheres cheias de pó no coador, tentando me mover o mínimo possível.

- Tem uma garota no nosso banheiro. – Sem virar, reconheço o sono na voz de Igor.

- Como? – indago, perdido em dor e sonolência.

- Acabou de entrar – boceja. – A garota no nosso banheiro. – Balanço a cabeça, querendo dizer que entendi essa parte, e desejo não ter me mexido. – É estranho, porque Bruno saiu ontem da festa com uma loira, mas essa aí é morena. Será que ele saiu com duas? Ou estou enxergando demais? – Igor diminui a voz, como quem fala consigo mesmo.

Festa? Que festa foi essa? Minha cabeça rodopia com imagens e lembranças da noite de ontem. A festa de Alan que eu não queria ir, mas fui por insistência de Bruno e Igor. Isso explica porque o mundo está comprimindo minha cabeça.

- A propósito, você deveria ter ficado até o final... – Antes de terminar a frase, a imagem de uma garota segurando meu chaveiro entre os dedos, me vem à mente, assim como a memória de ter limpado vômito da porta de um carro, em frente ao meu prédio. Lembro da calça jeans, das chaves no sutiã e da Magali. Lembro porque acordei no sofá.

- A garota tá comigo – digo, interrompendo-o. Igor me olha cheio de suspeita por trás dos óculos. Normalmente não trago garotas pra casa. Exceto Thaís e minhas outras três namoradas nesses dois anos. Mas essas histórias são passado. Posso contar nas mãos as noites em que Thaís dormiu aqui (não por minha culpa, mas porque tinha aversão ao apartamento e aos garotos). – Ela estuda comigo e me deu carona para casa, por motivos de álcool demais. Ou carma. Alguma coisa envolvendo carma, acho.

- Não te falei que a festa ia ser proveitosa? – Igor abre um sorriso e apontando o indicador para mim, insinuando a existência de algo a mais.

- Não foi nada disso – digo. – Ela só passou a noite aqui porque mora longe e estava cansada... nós estudamos juntos. – Coloco a água fervendo no coador e ouço sua risada desdenhosa atrás de mim, ao pegar o cereal no armário. Não tento convencê-lo do contrário, pois já o conheço tempo suficiente para saber que quando coloca algo em sua cabeça de mula, é quase impossível fazê-lo mudar de ideia.

Entendo sua reação, pois esse não é meu tipo de comportamento. Não sei onde estava com a cabeça ao convidar uma garota estranha para dormir na minha casa (sem segundas intenções) e ainda abrir mão do meu quarto. Certo que ela não é tão estranha assim e ainda me deu carona. De qualquer forma, esse não vai ser um dos tópico dos "Domingos em família" via Skype. A menos que eu queira ouvir um tremendo sermão sobre o perigo de trazer pessoas desconhecidas para casa, sobre drogas e roubos e assassinatos. Mesmo que nada disso tenha sido o caso.

A porta do banheiro range e, em segundos, Jane aparece na cozinha vestindo o mesmo de ontem, mas com cabelos molhados, cheirando a xampu de Igor. Ela acena para meu colega, que lhe cumprimenta sorrindo.

- Dormiu bem? – pergunta Igor, entre colheradas de cereal com leite, roubando minha fala. Tiro duas xícaras do armário e as coloco em cima da bancada.

- Depende. – Jane se aproxima de mim, apoiando-se na bancada. Seu quarto é ao lado do dele? – Ele nega com uma gargalhada curta e baixa, de algo que ainda não entendi.

- Por que? – pergunto, sentindo meu cérebro reclamar por iniciar seu uso tão cedo, nas piores circunstâncias possíveis.

- Porque seu outro companheiro de casa é bastante inconveniente... sonoramente. – Apenas um dos lados dos lábios de Jane sorri ironicamente. Finalmente entendo o que ela quer dizer. Dividir parede com Bruno é algo que requer paciência, música e fones de ouvido. Coloco café em minha xícara e ofereço o bule a Jane.

- Agora eu entendo porque não pensou duas vezes antes de me deixar ficar com o quarto – diz, se servindo. Igor me olha malicioso. Apenas sorrio sem entrar nos misteriosos motivos pelos quais havia cedido o quarto. Provavelmente esse é um dos casos "o álcool que mandou eu fazer isso".

- Você acordou cedo demais para alguém com cortina na janela – comento.

- Trabalho – diz, dando de ombros.

- Em que? – pergunta Igor. Viro-me para Jane, tentando não mover demais a cabeça. O cheiro de Igor que ela exala me faz torcer o nariz em desgosto. O que meu olfato sente não é o que minha visão espera e meu cérebro dolorido reclama com uma nova onda de dor.

- Decoração. – Ela coloca cinco colheres cheias de açúcar em seu café. Minhas papilas degustativas se revoltam contrariadas. – Eu ajudo pessoas a escolherem os livros perfeitos para enfeitarem suas estantes. – Igor ri pelo nariz ao beber o resto de seu leite direto da tigela.

- Então você faz matemática? – pergunta. Jane assente, sem tirar a xícara fumegante da boca, e fita Igor de lado, desconfiada. – Bernardo falou que vocês são da mesma turma. – Ela assente novamente. – Está gostando?

- O quanto dá. – Jane faz uma careta, como se a questão fosse irrelevante. Bebo mais do meu café, que fica melhor a cada gole. – Quer carona? – pergunta com os olhos nos meus. Minha cara de desentendimento deve ter sido suficiente para fazê-la continuar. – Até sua bicicleta? Que com sorte ainda vai estar perto da festa de ontem? Festa em que você ficou bêbado até dizer chega e depois vomitou no meu carro?

- Claro! Vou ao banheiro e já volto. – Coloco minha xícara pela metade dentro da pia enquanto Igor ri do meu infortúnio. – Cinco minutos?

- Sete.

- Fechado.

***

Pretendo tomar um banho rápido, porque não aguento meu próprio cheiro. Encontro minha toalha está úmida, então volto ao quarto e pego outra no armário. Provavelmente Jane se enxugou nela, por ser a mais próxima do box.

Tento me colocar no lugar de Jane, de pé num banheiro estranho, sob um chuveiro quente demais e com pouca pressão. Reparo na bagunça que passa despercebida aos meus olhos diariamente. Precisamos arrumar a pilha de roupas atrás da porta e tirar o lixo do banheiro com urgência.

Encontro Viviane (esse é o nome da Loura do Peitão!) esperando na porta do banheiro. Trocamos um sorriso estranho, apropriado à situação, antes de trocarmos de posição. Tento lembrar há quanto tempo vejo reflexos seu pelo apartamento, mas desisto com um bocejo.

Coloco roupas limpas rapidamente, para compensar o banho mais demorado, porém necessário para me livrar dos vestígios de álcool, vômito e mais de trinta e seis horas sem água e sabão. Quando volto à cozinha, encontro Bruno e Jane conversando baixo. Se não fosse clichê, diria que alguém poderia cortar a tensão com uma faca de manteiga.

- Olha, mas não é a flor do dia? – diz Bruno. Nada mal para quem estava falando de mim pelas costas. – Precisa de um remedinho?

- Sabe, você deveria aceitar. Tudo aqui... – Jane rodopia as mãos em frente ao meu rosto. – Está horrível.

- Acho que ele deve ter batido algum recorde pessoal. Álcool e Bernardo não combinam – diz Bruno, se aproximando ainda mais de Jane, que fecha o rosto em irritação. Gosto dela um pouco mais pelo gesto. – Temos sorte dele estar acordado e respirando a essa hora.

- Tá pronto? – Jane se afasta de Bruno, agitada. Apalpo meu bolso para checar se as chaves da bicicleta (Jane as deixou em cima da cama arrumada) e a carteira estão ali. Ela se aproxima mais que o necessário e segura meu braço, me empurrando para a porta. Não ignoro o olhar que Jane dá a Bruno antes de sairmos do apartamento.

- Acredito que você demorou mais de sete minutos – diz Jane. – Você não é um homem de palavra, jovenzinho.

- Foi por uma boa causa. Cheira. – Eu me solto de suas mãos e levanto o braço por cima dos seus ombros, forçando-a a cheirar o espaço embaixo do meu braço (é claro que usei desodorante). Bagunço seus cabelos quando tenta se soltar do meu quase abraço.

- Realmente – diz Jane, com um sorriso aberto. – Quase não dá mais para sentir o cheiro de vômito! – Aperto o botão do elevador duas vezes seguidas.

- Valeu pela ducha.

- Não há o que agradecer. – Já que nem pediu nada. Seus pés chutam distraídos o rodapé do corredor com um coturno preto e gasto.

No dia a dia Jane nunca sorri ou interage com a nossa turma. Ela costuma ser um ponto fixo, sempre próximo a porta. Ou dentro do carro preto. Ou na frente do prédio de aulas. Ao contrário do que pode parecer, em vez de invisível, a forma como irradia confiança a destaca do que estiver em volta.

Seu apelido (autoexplicativo) é "garota do carro". O adesivo enorme das laterais, imitando a boca aberta de uma tubarão engolindo as rodas, cumpre sua função de chamar atenção para o veículo. Quando penso no assunto, em todo esse tempo (mais de dois anos), só cheguei a vê-la em duas ou três festas em que o pessoal da nossa turma também estava. Incluindo a calourada.

Tento me acostumar a vê-la assim, em um lugar tão familiar e com um sorriso não-irônico no rosto. É estranho só perceber agora que ela tem os incisivos grandes e tortos e parece usar todos os músculos do rosto para sorrir. Como essa transformação é algo que quase nunca acontece, você não tem escolha além de retribuir o sorriso. É como uma pequena honra que alguém não ousaria desrespeitar.

- Como está a cabeça? – pergunta.

- Como o corpo do pica-pau quando acha que vai martelar uma árvore, mas na verdade é um daqueles postes de telefone. Tudo em mim reverbera – reclamo, consciente da honestidade em minhas palavras.


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Fortsæt med at læse

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