Uma História de Primavera [DE...

Od GiuliaFFerreira

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Diante de uma traição inesperada, a protagonista se vê obrigada a deixar a própria casa e lutar pelos seus di... Viac

Prólogo: Tempos de neve
Capítulo 1: O último dia
Capítulo 3: Tente me pegar
Capítulo 4: As flores do inverno são vermelhas
Capítulo 5: Mensageiro da meia-noite
Capítulo 6: A arma maculada
Disponível na Amazon

Capítulo 2: Quando as luas cobrem o sol

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Od GiuliaFFerreira

Mais um dos ventos de inverno varreu as ruas de Torrent quando Ariane enfim alcançou-as. Ela olhou para o céu, de forma a consultar o horário aproximado através da posição do sol. Não estava atrasada, ainda.

Deu um salto por sobre uma pedra que lhe atrapalhava o caminho e seguiu em direção ao bosque, descendo calmamente através das quietas ruas de paralelepípedos.

Tanto do seu lado esquerdo quanto do direito, por entre as gramíneas que nasciam em meio a terra e pedras, as flores do campo típicas da primavera já começavam a aparecer em botões.

As árvores que marcavam seu lugar de destino estavam a cada momento mais próximas, assim como uma alta rocha cinzenta e reclinada. Edric encostara-se nesse último espaço, com as costas apoiadas na pedra.

Apertou o passo. Quanto mais tempo tivessem para conversar antes do eclipse melhor seria. Porém, quando estava bem próxima ― já no campo de visão de Edric ― uma voz conhecida a chamou às costas, doce e calma como de costume.

― Princesa. ― ouviu.

Por quê? Mas, por quê? O que ela havia feito para merecer aquilo?

― Gabriel. ― ela cumprimentou, dando meia volta em direção ao garoto. Um falso sorriso moldurando os lábios. ― Você novamente?

― Mas é claro ― sim, era ele e aquele seu sorriso tosco. Por que ele fazia questão de montar aquele teatrinho todo santo dia sempre que a via? ―, aparecerei ainda mais agora que a primavera está chegando. ― sorriu ainda mais, se é que isso era possível, deixando as covinhas do seu rosto rosado à mostra.

Seus cabelos negros cortados na altura dos ombros voavam com o vento e os seus olhos cor de mel brilhavam na luz. Sua blusa branca, quase transparente, estava desabotoada perto gola, deixando parte do peito definido à mostra.

Gabriel era o filho mais novo de Otávio de Gloriam, morto na batalha em que o pai de Ariane dera o mesmo fim a Salazar. Agora quem governava o ducado era a viúva, Duquesa Dolores.

Ele havia se mudado para Torrent há anos no intuito de estudar, e era o que continuava sendo dito todas as vezes que alguém perguntava algo, mesmo que não fizesse o mínimo sentido para Ariane.

Se Gabriel de Gloriam fosse adquirir conhecimento intelectual, deveria ter ido para o ducado de Epistolis. Já se o objetivo fosse graduar-se em combate e as artes da guerra, nem mesmo deveria ter saído de casa.

O garoto olhou ao redor, examinando os botões de flores que decoravam o chão por entre a grama verde. Não demorou muito em seu trabalho, pois logo escolheu um e o colheu.

O feiticeiro dispôs o botão cor-de-rosa entre ambos, segurando-o com a mão esquerda e então abrindo a outra mão, completando um simples encantamento primaveril e fazendo o botão se abrir em flor.

― A primeira flor da primavera para a princesa. ― ele falou, sentiu o perfume das cinco pétalas e entregou a flor delicadamente à garota, que a aceitou mais por educação do que por outra coisa.

Não demorou muito a partir daí e o garoto despediu-se e partiu. Foi só o tempo de ele virar as costas para o sorriso se desmanchar no rosto de Ariane.

― Esse garoto não se toca! ― reclamou, usando de seus poderes de inverno para congelar a planta.

A feiticeira voltou-se novamente em direção ao bosque, deparando-se com Edric, que vinha em sua direção enquanto ria descontroladamente. Como que aquilo poderia ser tão engraçado?

― E você ri? ― inquiriu sofregamente. Sua resposta veio com outro riso, que se prosseguiu. ― Será que você consegue parar? ― ela pôs uma mão na cintura.

― Na verdade não, não consigo. ― o garoto respondeu ainda rindo. ― Mas talvez eu possa tentar. ― e ele por fim se controlou, não sem um sorriso de lembrança ainda aparente. ― Vamos continuar andando! Cada minuto que você gastou conversando com ele é mais um minuto que nos aproximamos do eclipse.

― Não estava conversando com ele! É aquela criatura abominável que me persegue.

― Não é o que a flor na sua mão diz. ― treplicou ― Ninguém lhe disse que gelo serve para conservar as coisas?

― E o que você queria que eu fizesse, espertinho? ― a feiticeira deixou a indignação transparecer em um ar de deboche

― Isso. ― falou, tomando a planta da mão da garota e fazendo com que ela murchasse entre as suas. Ariane não conseguiu impedir a saída de uma risada sarcástica.

― Sabe muito bem que não tenho poderes de outono, Edric.

― Mas eu tenho, logo posso fazer esse tipo de coisa. ― sorriu.

A esse ponto já haviam chegado ao bosque. A rocha cinzenta e reclinada que podiam ver de longe era bem maior quando se estava perto, mas nada de que os impedisse de escalá-la para assistir à sobreposição do sol às luas naquela manhã.

― Pronto? ― a princesa perguntou, apalpando a calça até encontrar o pequeno frasco com a poção, quando já estavam sobre a rocha.

― Pronto!

Ariane destampou o pequeno recipiente, e um aroma marinho exalou de seu interior. Conhecia aquele cheiro dos tempos em que seu pai ainda era um homem vivo e infeliz. Suas memórias daquela época eram escassas, talvez por ser muito pequena a época, além de estranhas e distantes.

Bebeu um gole. Tinha um sabor azedo e salgado, mas tudo bem, tudo para assistir ao eclipse. Com uma careta passou o frasco para Edric, que assim como a primeira bebeu um gole do líquido.

Nada aconteceu no primeiro instante. Ariane já se perguntava o que exatamente deveria acontecer na sequência quando seus olhos começaram a se irritar, ardendo, coçando e lacrimejando quase um rio inteiro.

Era uma sensação estranha, como a que se sente quando se passa um tempo exagerado olhando diretamente para um fonte de luz mágica. A feiticeira piscou e esfregou os olhos durante algum tempo, e só então o desconforto pareceu cessar.

Com a barra da camiseta, secou as lágrimas que molhavam seu rosto, em seguida procurando por Edric, sentado ao seu lado. Mirou-o. Os olhos dele, que eram de um intenso azul marinho, haviam passado para uma tonalidade um pouco pálida de dourado.

Ele sorriu, e através de uma conversa sem palavras ela soube que os seus olhos, anteriormente negros com pequenas auréolas prateadas circunscrevendo a pupila, também se encontravam na mesma tonalidade que os dele.

E bem a tempo. Naquele mesmo momento, um movimento no céu os avisou de que o eclipse já estava para começar.

Era a primeira vez que via uma eclipse solar diretamente. Haviam outros todos os anos, mas eles não eram visíveis da capital. Além disso, o centésimo dia de inverno era o único dia em que as quatro luas podiam se juntar em frente ao sol. O único dia em todo o ano em que um deus podia invadir a estação de outro.

Uma a uma, as luas começaram a se interpor ao caminho da luz. Primeiro, a lua da primavera, a menor delas; depois a do inverno, então a do verão e, por último a do outono.

Antes que tudo ficasse escuro, o sol era como a lua ─ qualquer uma das luas ─, todavia brilhava mais em um tom avermelhado, e a cada lua que se juntava, menos luz vinda do sol os alcançava, e pouco a pouco e dia se tornou noite.

Ninguém jamais soube explicar o porquê, mas aqueles eclipses sempre tiveram algum poder sobre os feiticeiros do verão, revitalizando ou fortalecendo seus poderes. O mesmo, entretanto, não se aplicava aos feiticeiros de outras estações.

Não sabia se tinha algo a ver com o poder do eclipse ou não, mas teve um pensamento que não deixou de fervilhar na sua cabeça durante um único instante durante todo o evento.

Já vinha pensando naquilo há algum tempo, mas os momentos de silêncio ao lado de Edric tornaram aquela concepção muito mais palpável dentro de si. Eram os fantasmas da sua consciência voltando a assombrá-la. Não conseguia esquecê-los.

Foi apenas questão de pouco tempo até que o olhos dos feiticeiros retornassem a sua cor original. Ariane desceu da rocha com um olhar taciturno, fitando o chão como se pudesse encontrar suas respostas jogadas lá a qualquer momento.

― Alguma coisa errada? ― Edric lhe perguntou, dando um salto de cima da rocha. ― Está tão silenciosa. Já estava até me preparando para ficar ouvindo você falar eternamente sobre o quão incrível havia sido o eclipse e se perguntando quando viria o próximo...

― Você repara em tudo mesmo, não é? ― indagou, não podendo evitar um sorriso.

― Um bom espadachim deve estar atento a tudo em todos os momentos. Você devia saber isso. ― ele devolveu-lhe o sorriso.

― Sei.

Mudou o foco de sua visão, passando a fitar o amontoado de árvores do pequeno bosque, logo atrás de Edric.

― Sabe, é sobre algo que vem me torturando já faz um tempo, e só agora percebi o tamanho da influência que ela possui. ― fez uma pausa, respirando fundo, e então suspirou ― Eu estava pensando em, sabe? Renunciar. É isso. Eu não fui feita para o governo. Na verdade eu devia ter nascido em outra família, uma que não me desse tanta responsabilidade política. Analice é quem deve ser a rainha, ela quer isso, não eu.

Disse tudo de uma vez, como se assim fosse mais fácil. Enquanto falava, balançava o pé direito para frente e para trás, chutando o solo até que arrancou um tufo de grama do chão, deixando um pedaço de terra nua.

A resposta do outro ainda demorou um pouco para vir.

― Você não quer governar ou acha que não está preparada para isso? ― ele perguntou, agora com seriedade.

― Não sei, talvez as duas coisas. Não tenho certeza! Não é exatamente o modelo de alguma coisa simples, Edric!

― Ei, calma, eu sei disso. Talvez você não deva fazer nada por enquanto, já que não sabe qual é a escolha certa. Você tem até o seu aniversário para pensar, lembra?

― Sei, mas...

― Ariane, uma vez que você tenha renunciado não tem mais volta. Se você se arrepender disso, o máximo que vai conseguir é ser a Duquesa de Gloriam. ― ele falou essa última parte com um sorriso nos lábios.

Sabia que irritaria a feiticeira com aquelas palavras, pondo fim a extrema seriedade com que falavam. A verdade é que Edric não suportava climas pesados, e fazia de tudo para findá-los.

― Du... Duquesa de Gloriam? ─ ela não compreendeu de imediato.

― Isso levando em consideração que o irmão mais velho do projeto de duque morra de alguma fatalidade sem deixar herdeiros.

― Mas é claro que não! ─ quase gritou ─ Gabriel não gosta de mim de verdade. Além do mais, nunca me casaria com aquele lá.

― Se você diz...

― Sim, Edric, é o que digo. Sem falar que eu te contei isso tudo porque queria saber a sua opinião, não para você ficar zoando com a minha cara! ― repreendeu-o.

― Minha opinião? ― ele pareceu surpreso, coisa que a feiticeira não esperava. Ariane nunca falara mais sério anteriormente em toda a sua vida. ― Mas eu... Que tipo de opinião eu poderia dar? Eu nunca ocupei nem nunca ocuparei um cargo importante em toda a vida. Não tenho a mínima ideia de como é ser pressionado a comandar um monte de gente e fazer tudo funcionar direito. ― ao fim da última palavra um silêncio desconcertante se instalou.

― Sim, você tem razão. Eu... Eu fui enérgica demais, desculpe.

― Não, você não precisa se desculpar. Eu também não fui o melhor amigo do mundo. ― disse, fazendo uma pausa ao final. ― Tem alguma coisa que eu realmente possa fazer por você?

― Um abraço seria bem-vindo. ― sorriu, agora fitando os olhos azul marinho do feiticeiro.

─ Isso é algo que eu posso fazer. ─ ele se aproximou com um sorriso tenro nos lábios e embalou a garota em seus braços, envolvendo-a em seu calor.

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