Capítulo 3: Tente me pegar

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O Sol marcava o meio dia quando os ventos de inverno começaram a abrandar, chegando à intensidade em que permaneceriam nos primeiros dias da primavera.

Os passarinhos cantavam alegremente nos galhos de cada árvore e os insetos voltavam a aparecer naquela época do ano.

Embora fosse uma feiticeira do inverno, não podia negar que gostava ao menos um pouco da primavera. Mesmo que isso significasse o fim do gelo e da neve. Podia ter os dois na hora que quisesse de qualquer forma!

― Noventa e oito, noventa e nove, cem! ― ouviu Edric terminar a contagem enquanto se esgueirava para trás de uma antiga árvore de tronco envelhecido e galhos pendentes para baixo ― Pronta ou não, aí vou eu!

Não importava quantas vezes lhes perguntassem se não achavam que já estavam ficando velhos demais para brincar de pique, a resposta sempre seria a mesma: não.

A grama macia da primavera vindoura abafava o som dos passos de quem caminhasse pelo bosque, o que por um lado facilitava a locomoção silenciosa até o esconderijo, mas por outro exigia o dobro da atenção para perceber quando o outro jogador estaria se aproximando.

Apurou os ouvidos. Podia ouvir o bater de asas de algum pássaro, o zumbido de uma abelha ou outra, mas não o som de passos. Além disso, Ariane não era o tipo de pessoa que conseguia ficar parada por muito tempo, qualidade não muito favorável a quem queria se esconder.

Poucos minutos foram suficientes para que a feiticeira cansasse de ficar aguardando e partiu de seu esconderijo sem destino fixo.

Levantou-se com cautela, pronta para examinar o entorno e correr em direção a algum outro recanto. A única coisa que não esperava era que, quando se levantasse, Edric estaria bem ali em frente apenas esperando que ela saísse de trás da pedra.

Em um primeiro momento a feiticeira se exaltou com a surpresa, mas logo em seguida desenhou um sorriso maroto nos lábios, que acompanhou o de satisfação do feiticeiro.

Ele o mirou. Estava descalço, por isso ela não o tinha ouvido se aproximar.

― Isso é trapaça! ― reclamou.

― Claro que não!

― Claro que é!

O feiticeiro deu de ombros.

― Que diferença faz? Duvido que consiga correr mais do que eu. ― ele disse.

― Nunca duvide de mim. ― respondeu, já se afastando ao passo mais rápido que podia alcançar.

Mais uma vez não ouviu passos, apenas o som do vento batendo contra as orelhas. Não tinha a mínima ideia da distância que estava de Edric, mas também não se permitia olhar para trás com receio de tropeçar e se estatelar no chão, coisa que era bem possível.

Não demorou para que pudesse ver a enorme rocha reclinada que ficava no início do bosque e na qual o jogo se iniciara. Sorriu, acelerando ainda mais o passo. Já estava bem mais perto, então esticou a mão e tocou a rocha, fazendo o contato entre pele e pedra produzir um som de estalo ao mesmo tempo em que Edric fez o mesmo.

― Eu bati primeiro! ― defendeu-se.

Em todos aqueles anos em que ela e Edric se conheciam e brincavam de pique, aquela era a primeira vez que isso lhes acontecia.

― Claro que não! ― o feiticeiro replicou ― Você não precisa ganhar em todas as vezes.

― Então você admite que eu sou mais rápida que você?

― Ao contrário, é evidente que o mais rápido sou eu.

― Se fosse você o mais rápido, teria chegado primeiro.

Uma História de Primavera [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora