Já se passava da meia-noite e tanto Zayn quanto Liam não conseguiam dormir. Havia estacionado o carro em um lugar semelhante a um deserto no meio do nada, e só se podia ouvir os carros na rodovia se prestassem bastante atenção. Não havia nada além daquela aquela área inóspita e as estrelas, que eram observadas pelo casal deitado no capô do carro roubado, Liam deitado sob o peito nu de Zayn, que apoiava a cabeça em um dos braços, enquanto o outro abraçava o corpo de seu amado. Estavam em um silêncio tão ininterrupto que pareciam sonolentos.
- Sabe - Zayn chamou a atenção de Liam, que ergueu o pescoço para prestar atenção no que o outro dizia -, por mais conturbada que esteja a nossa vida, às vezes eu acho que somos algo a ser documentado, sabe? Ainda mais agora que somos uma dupla e quase um casal de criminosos. Tipo, Bonnie & Clyde em uma versão forasteira, sabe? Bonnie & Clyde britânicos-mexicanos.
- Só se, no caso, você fosse a Bonnie. - zombou Liam, rindo da estupidez que o noivo acabara de dizer
.
- Eu sempre serei seu Clyde na cama então, por mim, tudo bem.
- Não tenha tanta certeza disso, o jogo pode virar qualquer dia desse e eu não vou te dar esse gostinho, srta. Bonnie. - continuou Liam, provocando.
- Oh, seu maldito Clyde.
- Sua ignorante Bonnie.
- Sua impertinente.
- Seu miserá- hey, você me enganou. Eu sou o Clyde!
- Hahaha, vamos tentar entrar em um acordo. Clyde & Clyde, então pode ser?
- Clyde & Clyde. - repetiu Liam, concordando. - Gostei de hoje, apesar de tudo. Precisávamos disso. Nos bons e mais momentos, não é mesmo? "Na alegria e na doença"...
- "Na saúde e tristeza"... - completou Zayn.
- "...E que seja infinitamente para sempre, já que nada parece ser capaz de nos separar." - Liam preferiu inventar algo que lhe desse mais segurança do que a ideia de que a morte fosse capaz de destruir o amor que sente por Zayn. E o outro pareceu aceitar a resposta, pois acolheu Liam em seus braços e entrelaçou as suas pernas com as dele, beijando seus lábios com todo o amor e leveza que podia absorver daquele momento.
Estar com Liam no meio do nada, sob as estrelas e em cima de um carro lhe parecia a melhor forma de se transmitir um final feliz. Mas aquele não seria ser o final deles, e nem mesmo era o melhor de todos os finais; nem mesmo aquele lugar era o melhor lugar do mundo, e nem mesmo aquele lugar era tão inóspito assim, já que alguém dotado com a habilidade de enxergar à longa distância observava os dois, na espreita. Nada podia ser tão trágico e cruel assim, mas não era essa coisa previsível que Zayn esperasse que fosse acontecer dali em diante.
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Algumas semanas se passaram, e Zayn e Liam pareciam finalmente estarem estáveis novamente. Já haviam feito mais alguns roubos pelas redondezas (estavam realmente pegando o jeito da coisa), e agora moravam em um casebre abandonado. O lugar ser tornara bastante aconchegante depois que começaram com roubos maiores e por ser tachado de "mal-assombrado" adquiria mais privacidade à eles, além de não terem que pagar nada por morarem ali. O carro da velha Juarez fora deixado para trás, e eles agora dirigiam uma pickup (que fora equipada com peças novas - e roubadas! - por Zayn, que também arrancou a placa para dificultar a identificacão) azul-marinho que, com a ajuda sobrehumana de Zayn para carregar coisas pesadas e o espaço que possuía atrás, se tornara a ferramenta perfeita para o transporte de mobílias e outras coisas mais pesadas. O casal "Ziam" estava realmente por cima outra vez.
- Tudo limpo, sem câmeras. - disse Liam, após atravessar a rua com alguns salgadinhos nas maos, dirigindo-se até a pickup, onde Zayn o aguardava por debaixo de óculos escuros. - Você estava certo, realmente era apenas um mercadinho, mas...tenho certeza de que o velho barbudo que parece o Papai Noel guarda alguma coisa valiosa debaixo do balcão do caixa. Ele não parava de olhar pra baixo enquanto eu verificava se havia algum sistema de alarme na loja.
- Tem certeza que compensa? Essa loja é bem fraquinha.
- Você vai ver que compensa depois que eu render o velho e tirar ele de perto do caixa. - respondeu Liam, com um fogo no olhar que não era possível de se ver dias atrás ao referir-se a atos criminosos.
- Você é bem gostoso quando está executando um plano. - observou Zayn, que se sentia orgulhoso do noivo ao mesmo tempo que responsável pela corrupção do mesmo. - Quer mesmo ir na frente?
- Tá brincando? É claro que eu vou na frente! Eu adoro tomar as rédeas das coisas. - provocou Liam, encostando-se na porta do carro para se aproximar de Zayn e persuadi-lo com uma mordida nos lábios dele, quando na verdade pareceu que ia beijá-lo.
- Hum, você não diria isso dias atrás se soubesse que eu iria roubar um mercado.
- Quer calar a boca e vir logo? Tô doido pra estrear aqueles golpes que você me ensinou, acho que eu sou realmente bom em ginástica acrobática. Concorda que eu sou bastante flexível?
- Ô, se concordo! - disse Zayn, batendo na bunda - extremamente apertada em um jeans preto, que nem parecia ser tão apertado assim - de Liam assim que saiu do carro.
Liam atravessou a rua displicentemente como um verdadeiro chefão da máfia, enquanto Zayn olhava ao redor, procurando por possíveis testemunhas, sem nenhum resultado, já que a loja se situava no meio da estrada, a mesma que eles tomaram para escapar de futuras abordagens da polícia da Cidade de México, que procurava por "assaltantes não-identificados" há meses.
Assim que o sininho pendurado acima da porta anunciou que havia clientes, Liam se posicionou repentinamente à frente do balcão com um chute que derrubou tanto o velho quanto os bombons de todos os tipos que estavam expostos pelo balcão.
Não houve nem mesmo tempo suficiente para que o senhor pudesse pensar em reagir.
- Você aprende bem. - disse Zayn, que entrou na loja logo atrás de Liam. Parecia impressionado com o chute e a maneira como Liam nem mesmo havia se desiquilibrado depois de uma "voadora". Este, por sua vez, encontrava-se de pernas cruzadas em cima do balcão, simulando uma tentativa de parecer sexy enquanto chupava um pirulito.
- Eu sei fazer tudo muito bem. - disse ele, colocando-se de cabeça para baixo atrás do balção, à procura do suposto tesouro que o velho parecia temer que lhe fosse roubado. Por fim, encontrou uma enorme pasta preta, como aquelas usadas por executivos de grandes empresas.
Com um salto mortal, Liam "mergulhou" para trás do balcão com maestria e arrancou a pasta de lá, pondo-se de pé quase que imediatamente.
- Hum, ele é precavido! - gritou Liam ao encontrar um rifle do outro lado do caixa, rindo logo em seguida ao apontá-lo na direção de Zayn, que também riu como se aquilo fosse uma piada interna entre os dois. - Mas não se preocupe, "bom velhinho", isso vai servir pra alguma coisa!
Dito isso, Liam usou o cano metálico da arma para quebrar a trava da maleta, que trincou com o impacto. Exibicionista, Liam abusou mais uma vez de sua flexibilidade para girar a alavanca (que impedia a maleta de ser aberta) com os pés, pendurando-se no balcão e erguendo uma das abas da pasta assim que recolheu as próprias pernas. Lá dentro, o conteúdo não era nada menos do que dólares, milhares deles, empacotados e separados por quantias.
- Então...compensa? - perguntou Liam, retoricamente. - Eu tinha certeza que o velho fazia parte de alguma máfia mexicana. Até me arrisco a dizer que isso é dinheiro de trágico de drogas.
- Isso é tudo e muito mais do que precisamos para vazar do México e atravessar a barreira dos Estados Unidos. - respondeu Zayn, quase não acreditando que toda aquela enorme quantia estava ali, deslizando entre seus dedos.
- Então, Texas, aí vamos nós! - comemorou Liam, sentando-se em cima do dinheiro em um giro e entrelaçando Zayn em suas pernas. - Amo você.
- Amo você mais. - respondeu Zayn.
- Realmente, foi tudo uma fase. Agora estamos ricos. E vamos pro Texas! Estados Unidos!
- E logo seremos só eu e você, voltando pra Londres.
- Exatamente. - disse Liam, agora ficando de joelhos no dinheiro por cima do balcão, apenas pra ficar exatamente do mesmo tamanho que Zayn e então beijá-lo com desejo, envolvendo sua língua na dele. Zayn simplesmente não podia negar, aquele Liam dominante, totalmente seguro de si e vestido de preto era mais do que ele podia sonhar.
Soltaram-se depois de quase cinco minutos de beijos e amassos, quando Zayn finalmente disse:
- Vamos para casa. Temos coisas para arrumar e uma viagem para ir.
- Posso ficar com o rifle? Eu realmente acho que ele pode ser útil.
- Não. Ele não vai ser útil quando atravessarmos a fronteira, Liam.
- Ahnnn, mas no Texas o porte de armas é permitido! - disse Liam, em uma imitação tão perfeita de um bebê chorão que fez Zayn rir quando o tomou nos braços e disse: - Vamos embora, e em casa você vai receber as palmadas que merece por ser tão malcriado.
- Gostei disso. Meu voto é sim, vamos. - e, dizendo isso, Zayn saiu levando Liam nos braços, enquanto o velho debaixo do balcão tentava assimilar o que havia acontecido e o que havia atingido sua cabeça, que doía como se um rinoceronte tivesse sentado nela.
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- Último dia no México.
- Último dia no México. - repetiu Liam, quando brindou com Zayn a segunda taça de champagne que tomavam. Estavam admirando os arredores sentados no telhado do velho casebre. Seus lugares preferidos para fazer sexo ou conversar sempre eram telhados, capôs de carros ou qualquer outra coisa parecida. Quanto a paisagem, tinha um pôr-do-sol exatamente igual àquele dia em que Liam decidira "provar o quão bom Zayn era", exceto o fato de que não se eram mais visíveis casas de subúrbios, e sim uma enorme vastidão de árvores que circulavam a área, além de fazendas distantes.
- Você fez todas as malas? - perguntou Zayn.
- Todas elas.
- Ótimo. Porque temos que sair daqui agora. Imediatamente. - disse Zayn, em um quase sussurro, e em seu rosto surgiu um olhar sombrio em pouco segundos.
Liam pareceu não entender, mas, assim que se virou, percebeu o que estava acontecendo. Um homem enorme, de chapéu de couro na cabeça e um sorriso triunfante no rosto se equilibrava, de pé, entre as telhas mais firmes. A maneira como seus braços estavam cruzados destacava seus braços musculosos e aparentemente pesados.
- Cowell! - disse Zayn, que pôs-se de pé com uma voz tão alterada que não se era possível extrair nenhum sentimento daquela reação, além do ódio ao homem à sua frente.
- Zayn, você o conhece? - perguntou Liam, pondo-se de pé quase que imediatamente ao noivo.
- Ah, é claro que ele conhece. - debochou o homem, falando pela primeira vez desde que aparecera repentinamente. - Afinal, quem não conhece Simon Cowell, o lobisomem mais experiente da Alcateia, não é mesmo?
- Pois eu não o conheço e nem faço questão! - rebateu Liam, totalmente seguro de si.
- Ora, seu raça suja, e o que você é além de um aperitivo para nós, os lobisomens?!
- Não fale assim do meu noivo, seu desgraçado! - disse Zayn, eriçando os pêlos e cerrando as presas, que cresceram desproporcionalmente em apenas um instante.
- Haha, e o Texas, Malik? Ouvi dizer que você estava indo para lá. Parece que não, não é mesmo? - disse Cowell.
-" Noivo"? Ora, que romântico da sua parte, Malik. - gemeu uma voz por trás de Liam, que fez Zayn olhar para o namorado e vê-lo preso por uma chave de braço por Scherzinger, Nicole Scherzinger, uma caçadora nata da Alcateia. - Nem mais um passo e eu acabo com a raça suja dessa peste que você insiste em chamar de "noivo"!
- Não! - gritou Zayn, contraindo as presas e os pêlos em sinal de autocontrole, visivelmente desesperado. Não havia maneira de resolver aquilo sem que a vida de Liam fosse colocada em risco. - Façam o que quiser comigo, mas não o machuquem, eu imploro! Me levem de uma vez, se é isso que querem.
- Não, Zayn! - Zayn ouviu Liam gritar, enquanto tentava, a todo custo, se desvencilhar dos braços de Scherzinger.
- Levar você? Agora? Por quê? Me parece cedo demais para tudo isso terminar! - disse Cowell. - Não quer nem mesmo ouvir como encontramos vocês?
- Eu não preciso de explicações. - disse Zayn, que tentava inutilmente controlar a raiva para que nada pudesse acontecer. - Scherzinger é conhecida como A Predadora, não é mesmo? A loba com o maior alcance de visão do planeta. Consegue ver até mesmo o futuro, sei disso.
- Isso, muito bem, menino Zayn! - disse Cowell, ainda rindo. - Sinto muito ter que atrapalhar a viagem dos pombinhos ao Texas, mas é exatamente por ter sido tão mal que tudo isso está acontecendo. Você renega ao trono e agride o seu pai, o que espera que aconteça?
- Não se esqueça da melhor parte, não é mesmo? - rebateu Scherzinger. - Coml se não bastasse ser gay, você ainda se relaciona com "raças-sujas", como este aqui!
- Ele...já...falou...pra...não...me chamar...assim! - disse Liam, que tentava resistir ao sufoco que era aquela chave de braço em seu pescoço. Zayn ergueu as mãos em sinal de rendição, e tudo parecia perdido.
- Ah, é mesmo, e o que ele, ou até mesmo alguém como você, pode fazer a respeito? - zombou Scherzinger.
- Eu...vou...ser...UM LOBO! - ao gritar isso, Liam conseguiu alcançar o braço de Nicole com os dentes, e o mordeu como nunca antes havia mordido em toda sua vida. Mordeu pra marcar, pra ferir, pra matar, se possível. A loba urrou de dor e desvencilhou o braço enquanto Liam, com suas habilidades acrobáticas, desferiu um chute em sua barriga. Não foi muito efetivo, mas conseguiu deixar a loba ainda mais furiosa.
- Liam!
- Zayn! - respondeu Liam, correndo em direção ao amado à medida que o outro também se aproximava. Tanto Cowell quanto Scherzinger reagiram, ambos tentanto conter, respectivamente, Zayn e Liam.
Então tudo pareceu correr em câmera lenta: Liam estendeu a mão para Zayn, Zayn tentou agarrar a mão de Liam. A ponta dos dedos de ambos se tocaram, mas não foi o suficiente para que as mãos pudessem se firmar.
Nicole puxou Liam pelo braço de supetão e Zayn foi contido por Cowell, que pôs os seus dois braços para trás. Liam, por sua vez, voltou a posição inicial em que estava, com Scherzinger agarrando seu pescoço.
- Sabe de uma coisa? - perguntou ela. - Eu tive uma visão sobre você, seu "racinha" de merda. E sabe o que acontece nela? VOCÊ MORRE!
A maneira como Scherzinger atirou Liam do alto, tão brusca e repentinamente, acabou ferindo-o no rosto com um corte feito por suas garras. Mas esse não foi, nem de longe, o maior dos danos que aconteceu em seu corpo. Com a queda, Liam adquiriu fraturas internas em toda a sua estrutura óssea, além do pescoço, que ficou tão roxo quanto estava deformado por dentro.
No exato momento em que Nicole arremessou Liam do telhado, Simon não foi capaz de deter Zayn, que descobriu a habilidade desconhecida de correr mais rápido do que 120km/h, ou seja, mais rápido do que um guepardo. Mas nem mesmo toda aquela velocidade fora capaz de impedir o imprevisível. Eram Zayn que eles queriam, porque tinham de matar o humano, quando o próprio lobisomem havia se rendido para salvar a vida de seu amor incompreendido?
Zayn não queria acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. Temia, temia olhar o corpo de Liam novamente e descobrir que suas preces, que fez enquanto encarava o céu estrelado, não havia sido atendidas. Liam estava morto. Em seus braços. E a última palavra que ouvira sair de sua boca fora o seu próprio nome, gritado em um momento de desespero.
A irritação em sua garganta não ficou contida, e ele grito tão alto que a dor que sentia mesclou o que ele sofria como humano con o que ele sofria como lobisomem, resultando em "grito-uivo" que faria até mesmo os mais corajosos e experientes correrem de medo. Com um impulso, Zayn, transfigurado em uma fera monstruosa, deitou o corpo de Liam novamente no chão para matar Simon e Nicole. Somente foi necessário usar um golpe em cada um, e eles morreram tão rápido como Liam, mas seus corpos foram destroçados pela força descomunal da fera. A dor da perda é maior do que todas as dores, e a mais forte de todas elas.
Quando se voltou em direção ao corpo, a fera não era mais a mesma de segundos atrás. Estava branda, encarando com pesar o corpo que antes fora tão móvel, tão belo, tão cheio de vida, tão flexível e tão...seu. Agora, não era nada além de um escombro roxo deixado para lembrá-lo da pessoa que ele mais amou nesse mundo.
E a dor foi tanta que Zayn não foi capaz de fazer com que seu corpo retornasse a aparentar um ser humano, então ele ficou ali, abraçando o corpo na forma da enorme besta monstruosa que era. E, mesmo como lobisomem, suas lágrimas caíram, em cascata, e a fera vulnerável e infeliz que Zayn Malik acabara de se tornara surgiu.
Não era mesmo aquele tipo de final que Zayn pensou que seria.
"A morte foi capaz de separá-los."
("A morte foi capaz de separá-los!")
("A morte foi capaz de separá-los...")
("A morte foi capaz de separá-los?")
(?).