Águas de Março

By gisscabeyo

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Rio de Janeiro, berço do samba, das poesias de Drummond, da Boemia de Chico Buarque, das noites na Lapa, da G... More

Prólogo.
1 - Goodbye, USA. Olá, Brasil.
3 - Mais do que oculta.
4 - Não era pra ser tão fatal.
5- Oblíqua e Dissimulada
6 - Ano novo, desejo antigo.
7 - Nosso jogo é perigoso, menina.
8 - Infinito particular.
9 - Boemia Carioca
10 - Quebrando tabus.
11 - Bom dia.
12 - Canto de Oxum
13 - Agradável e lento.
14 - Tempo ao tempo.
15 - Menina veneno.
16 - Contrapartida
17 - O que é meu, é seu.
18 - Colo de menina.
19 - Meu Pavilhão.
20 - Rua Santa Clara, 33.
21 - Sensações extremas.
22 - Aos pés do Redentor.
23 - Codinome Beija-flor.
24 - Cuida bem dela.
25 - Luz em todo morro.
26 - Queime.
27 - Azul da cor do mar.
28 - Revival
29 - Desague.
30 - Axé!
31 - Vamos nos permitir - part1.
Vamos nos permitir - part2.
32 - Idas e Vindas.
33 - A lua e o sol - part1.
34 - A lua e o sol - part2.
Bônus - Part. 1
Bônus - Part. 2
Spin off - part 1.
AVISO - LIVRO

2 - Coisas que eu sei.

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By gisscabeyo


N/a: Olá, manos! Olha nós aqui de novo. Estamos atualizando rápido, né? E eu, Gisele, não estou enrolando. Aproveitem porque é o espírito natalino. UHSAUHSUHSHUSA Então, mais um capítulo, nos deixe saber o que estão achando e tals. Esperamos que gostem. Qualquer erro, consertamos depois. Até a próxima. ♥

-

Camila POV.

Depois do meu breve e catastrófico encontro com a irmã de Taylor na cozinha, fiquei me perguntando o que diabos eu havia dito de tão grave para ter a irritado tanto. Nunca antes alguém me tratou daquele jeito em uma primeira topada. E como sou uma pessoa que agrada fácil por motivos que nunca consegui entender, era exatamente o fato de ter sido xingada que estava me fazendo pensar sobre aquilo mais do que precisava.

: - Sua irmã não gosta muito de mim e, pelo o que pude perceber, esse desgostar não surgiu daquele momento na cozinha.

Eu comentei com Taylor em um tom mais baixo quando entramos no quarto dela. A janela aberta trazia a maresia e o vento forte da praia para dentro, deixando um frio gostoso e meu corpo arrepiado. Esfreguei os braços.

: - Ela meio que está implicando com você, Mila. – Taylor riu amarelo enquanto passava o vestido por sua cabeça. – Supôs que hoje sou livre demais por influência sua. Mas não ligue para isso, Lauren não tem mais a nossa idade. Na verdade, eu acho que nunca teve.

: - Aposto que não tem mais de vinte e sete. Mas do jeito que falou comigo, parecia ter uns cinquenta.

Rolei os olhos e sorri, retirando o meu vestido para ficar apenas de calcinha e sutiã. Normani estava desmaiada no chão, em uma cama fofa que Tay havia forrado para ela. Entre nós três, eu era sempre a que bebia mais, mas naquela noite Mani resolveu tomar o meu posto. E tomou foi todas, desde caninha da roça até champanhe. Ajeitei suas pernas e me sentei ao seu lado, me acomodando melhor para poder me deitar. Estava cansada, mas ainda encararia boas horas de sexo se tivesse opções.

: - Ela tem trinta e três.

Taylor disse ao terminar de vestir o pijama, se arrastando de joelhos sobre a cama de casal. Minhas sobrancelhas se ergueram.

: - O quê?

: - Lauren tem trinta e três anos, Mila.

Fiquei encarando o rosto de Taylor como se ela fosse um fantasma. Como aquela mulher tinha mais de trinta anos? Eu não me lembrava a idade dela nas histórias que Taylor me contava, mas jamais diria que ela saiu da casa dos vinte. Ela tinha um charme diferente, uma áurea branca, mas ao mesmo tempo pesada. E aquele corpo? De onde saiu aquele corpo? Não que eu tivesse reparado naqueles poucos minutos, mas... Okay! Eu reparei. Senti um pouco de inveja. Ou talvez tivesse admirado. Quem eu queria enganar?

: - Nossa... – Desviei meus olhos e os fixei no breu a minha frente, completamente impressionada. – Ela é intrigante.

: - Intrigante?

: - Sim. – Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, dando uma olhada em Normani antes de voltar a falar. Taylor me encarava de cima da cama, pernas de chinês e travesseiro no colo. Fiz o mesmo. – Sabe quando você olha pra uma pessoa na rua, em uma questão de segundos, e sente que ela tem muito mais para mostrar do que aquilo que está exposto? Eu senti isso quando ela me assustou na cozinha. Eu não sei. Mesmo que ela tenha sido uma grossa, sinto que tem algo nela que...

: - Lá vem você com essa mediunidade aflorada. – Taylor riu baixinho e negou com a cabeça. – Lauren é um poço de mistérios, Camila, nem eu que sou irmã a conheço de forma profunda. Não tente desvendá-la, pode morrer afogada.

: - Não quero desvendar ninguém, só me intrigou. – Cocei o queixo, dando de ombros. – Enfim! Vamos dormir, amanhã só um mergulho no mar vai me curar da ressaca.

: - Acordo vocês às nove, então. – Tay puxou o edredom para cima e se enfiou embaixo dele, ajeitando o travesseiro embaixo da cabeça. Me deitei ao lado de Normani, encarando o teto. – Boa noite, Mila!

: - Boa noite, Tay!

Desejei a minha melhor amiga o mesmo que eu queria ter, uma boa noite. Virei de lado e abracei meu travesseiro, sentindo Normani me abraçar por trás e jogar a perna direita em cima do meu quadril. Sempre dormíamos naquela posição se eu resolvesse virar de lado durante a noite. Quer ter melhores amigos? Não pode impedir que sejam folgados.

: - Minha cabeça tá rodando tanto.

Mani resmungou mais para ela do que para mim.

: - Só dorme, preta. Amanhã acordará melhor.

Entrelacei nossos dedos da mão que ela deixou caída em minha cintura e fechei meus olhos, respirando fundo. E o engraçado, se posso dizer, a última coisa que pensei antes de pegar no sono foi naquela gringa intrigante mandando eu ir me foder.

Acordei pela manhã antes mesmo do despertador de Taylor tocar. Vesti minha roupa e peguei minhas coisas, precisava passar em casa para tomar um banho antes de descermos para a praia. Avisei as meninas e peguei o caminho da sala. Minha cabeça latejava, teria que me lembrar de tomar um remédio assim que pisasse em casa. Estava verificando as horas em meu celular quando cheguei na sala, observando a grande mesa de vidro que cortava o ambiente com um lugar ocupado. Era Lauren. Estava concentrada no notebook a sua frente, sorvendo um líquido que imaginei ser café de uma xícara branca. Seu cabelo estava preso no alto da cabeça em um coque estiloso e os óculos de armação preta enfeitavam seu rosto. Ela não me viu, mas eu a estava vendo, e muito bem, o bastante para reparar em tudo isso. A grande porta de vidro que separava a sala da varanda, mostrava o mar de Ipanema ao fundo em mais uma manhã de Verão, naquele vinte e dois de Dezembro. Suspirei!

: - Bom dia!

Eu disse em um tom normal, usando da boa e velha educação que meus pais me deram. Lauren não me olhou, muito menos pareceu interessada em mim. Seus olhos varreram a tela do notebook mais uma vez antes dela me responder.

: - Bom dia!

Seu sotaque era tão engraçado. Eu quis rir, não por mal, mas imaginei que ela ficaria irritada, então resolvi engolir a risada. Não era um bom momento para a minha cabeça.

Me peguei querendo saber mais dela, mesmo não tendo tempo para uma conversa. Queria tirar a impressão ruim que tivemos uma da outra na noite anterior.

: - Nosso primeiro encontro ontem não foi lá dos melhores, então... – Eu disse ao me aproximar um pouco, parando a mais ou menos um metro e meio de distância. – Sou Camila Cabello, melhor amiga da Tay. Me desculpe por aquela situação.

Seus olhos encontraram o meu rosto, e ela me encarou por um tempo antes de apoiar seus cotovelos na mesa e descansar o queixo sobre seus dedos entrelaçados. Nunca me senti desconfortável sob o olhar de uma mulher, e estranhamente estava me sentindo no dela.

: - Sou Lauren Jauregui, irmã mais velha da sua melhor amiga. E tudo bem, não foi nada.

Sorri de canto.

: - Você nem é tão velha assim. - Me peguei dizendo antes que pudesse parar.

: - Como? – Suas sobrancelhas se ergueram.

: - Quê? – Neguei com a cabeça em uma risada rápida. – Nada.... Bem, eu já estou de saída.

Fui me afastando um pouco atrapalhada, rolando os olhos para o espírito adolescente que dominou o meu corpo naquele momento. Credo! Precisava me recompor, parecia que havia ficado de frente com minha ídola.

: - Até mais, gringa.

Não pude deixar de dizer ao parar perto da porta, sorrindo de forma divertida para uma Lauren de olhos estreitos.

: - Até mais, menina.

Sai do apartamento de Taylor com um pequeno sorriso no rosto, apesar da dor de cabeça, minha manhã havia começado muito melhor do que a noite havia terminando.

Quando entrei em casa na ponta dos pés, meu pai não estava com uma cara muito boa. Sentado em uma das poltronas da sala com os braços cruzados, ele me encarou de esguelha como se eu fosse uma garotinha de cinco anos que brigou no colégio. Suspirei!

: - Oi, pai!

: - Isso são horas de chegar, Camila? – Respirei fundo e fui tomando o caminho do meu quarto. Tudo o que eu não queria era brigar. – Onde você estava?

Ele levantou e veio atrás de mim, me fazendo massagear minhas têmporas depois que larguei a bolsa em minha cama.

: - Na casa da Tay. Onde mais eu estaria?

: - E você pergunta isso pra mim? Desde quando eu sei onde você realmente está?

Fechei meus olhos por um momento e levei minhas mãos até a cintura. Aquela situação me aborrecia tanto. A desconfiança de Alejandro para comigo era tanta que ele acabava agindo como se eu fosse uma mentirosa de plantão.

: - Você sabe, mas até hoje não entendo porque insiste em não ver. – Neguei com a cabeça. – Agora, pode me dar licença, pai? Não vamos discutir a essa hora da manhã, okay? Se quer brigar, deixe para mais tarde.

: - Você nunca quer falar sobre nada, você só que conversar sobre o que lhe convém.

: - Pai, por favor?

Alejandro estava começando a me chatear, e eu dificilmente me chateava. Talvez ele fosse a única pessoa no mundo que tinha o desprazer de conseguir essa façanha. Dez segundos foi o tempo que ele me encarou antes de sair do meu quarto sob resmungos, me deixando aliviada. Amava meu pai mais do que podia dizer. Mas sabe quando o convívio com uma pessoa se torna difícil e desgastante mesmo que o amor esteja lá? Era esse o caso.

Depois de demorar algum tempo para decidir o biquíni que usaria, tomei uma ducha rápida e um café reforçado, passando no quarto de Sofi para lhe dar um beijo antes de sair. Ela dormia agarrada com o enorme leão de pelúcia que eu havia dado, quase como um chamego. Sorri com a cena, Sofia era meu ponto de paz. Não havia nada que eu amasse mais do que ela no mundo.

Peguei minhas coisas e desci para encontrar as meninas. Por mais que a vontade de entrar no apartamento dos Jauregui's de novo fosse enorme, tentei manter o meu elástico no lugar com todas as minhas forças. Maldição! Curiosidade era algo que me destruía por dentro e quando a curiosidade era relacionada a uma pessoa então... Bufei impaciente na entrada do prédio, pronta para pegar o celular e ligar para Taylor quando a vi surgir com Normani em sua cola.

: - O que estava fazendo que demorou tanto?

Perguntei quando elas estavam perto o bastante, colocando os óculos de sol.

: - Estava tentando convencer Lauren a vir conosco, mas como pode ver... – Taylor resmungou e rolou os olhos. – Preferiu ficar com a cara enfiada naquele notebook.

: - Por mim, ela poderia ficar com a cara enfiada no meu decote.

: - Normani!

Taylor e eu dissemos ao mesmo tempo ao ouvi-la comentar, capturando o sorriso mais do que branco presente em seus lábios.

: - O quê? – Mani olhou para Taylor e ergueu suas mãos, dando de ombros. – Sinto muito, Tay, mas sua irmã é gostosa demais. É ou não é, Mila?

: - É.

Eu disse tão rápido que acabei deixando Normani com as sobrancelhas erguidas. Taylor me olhou com espanto, erguendo os ósculos de sol para me enxergar melhor.

: - É?

Ela perguntou interessada. Me senti extremamente intimidada, tão intimidada que minhas bochechas coraram. E eu acho que aquela foi a primeira vez que corei na vida. Bufei incomodada e fiz um gesto rápido com as mãos.

: - É. Ela é bonita, ué! Eu hein! Parece que falei algo demais.

Taylor e Normani deram de ombros, encerrando o assunto. Credo! Será possível que não podemos achar uma mulher bonita sem que as pessoas achem que você quer foder com ela?

Depois daquela situação um pouco constrangedora, atravessamos a rua e tomamos o calçadão da orla de Ipanema. A praia ainda estava um pouco vazia àquela hora da manhã, o que era bom. Odiava quando ela ficava cheia demais. Aprendam uma coisa, quanto mais cheia uma praia, mais arrastões podem acontecer.

Nós ficamos próximas a água, onde eu estendi uma canga azul e me sentei sobre ela. O mar estava calmo, parecia despertar. Apesar de preferir água doce, era sempre bom estar em conexão com Iemanjá. Me sentia leve, como se nada e nem ninguém pudesse me atingir. Uma paz avassaladora tomava conta de mim todas as vezes em que eu entrava no mar, e ao sair, meu corpo parecia flutuar, livre de todas as cargas negativas. Era por isso que em todas as manhãs depois de uma noitada, só um banho naquelas águas para me deixar renovada.

: - Qual será a boa de hoje a noite?

Tay perguntou depois de retirar o short e se sentar ao meu lado.

: - Trabalhar.

Mani respondeu enquanto ajeitava os lacinhos laterais presentes em seu fio dental branco.

: - Acho um absurdo você trabalhar aos sábados.

Comentei. Cheguei o corpo para trás e me apoiei em minhas mãos, enterrando os pés na areia.

: - Eu também, Mila. Mas, infelizmente, não posso escolher. – Mani sorriu divertida e retirou uma mecha de cabelo que voou contra seu rosto. – Até que eles estão me pagando bem, sabia? Mesmo eu achando que deveria receber muito mais só pelos assédios que tenho de aguentar.

: - Argh! – Taylor rolou os olhos, imitando a minha posição. – Homens! Eu realmente não entendo como posso ser hétero. Por que será que eles acham que possuem algum direito sobre o corpo de uma mulher? E pior, não percebem que um simples "psiu" é, de fato, a porra de um assédio.

: - Taylor, a sociedade é machista. – Olhei para ela, dizendo o óbvio. – Nós vivemos em um mundo onde as mulheres só possuem espaço se alguém der oportunidade. E acredite, quase ninguém dá. Preto, pobre e mulher nasceram para se foder na sociedade, essa é a verdade.

: - Agora imagina ser as três coisas ao mesmo tempo, preta, pobre e mulher.

Mani soltou uma risada sem humor, ajeitando a parte de cima do biquíni.

: - E bi. – Taylor e eu dissemos juntas, dando um riso rápido.

: - Viram só? Nasci para me foder mais ainda. É difícil, mas quem nasce no morro vai levando. É só não deixar o samba morrer.

: - Se depender de mim, ele não vai morrer é nunca.

Me levantei rápido e retirei o short, o jogando em cima de Taylor.

: - Vamos cair? – Mani apontou com a cabeça na direção do mar.

: - Agora!

Mordi o lábio inferior e encarei Tay, que sentada sobre a canga, derramava quase um quilo de protetor solar nos braços e pernas. Neguei com a cabeça.

: - Vão indo, eu vou depois.

Eu nem precisei chamar, ela já havia me dado sua resposta. Puxei Normani pela mão e nós corremos na direção do mar, rindo de tudo e nada ao mesmo tempo. Ficamos um bom tempo dentro da água, e quando os olhos começaram a arder por conta do sal, saímos em meio a uma conversa. Meu biquíni era sem alças com a parte de cima branca e a de baixo vermelha, criando um contraste perfeito na minha pele bronzeada de sol. Eu sabia disso porque não havia uma pessoa que não me olhasse enquanto eu voltava para a areia. Eu deveria ficar envergonhava, mas acho que já havia me acostumado. Quando se mora no Rio de Janeiro, não existem muitos lugares para se esconder.

: - O sol tá quente pra caralho. – Mani resmungou depois de tirar o excesso de água cabelo. – Ainda bem que sou preta e não tem como queimar mais que isso.

: - Babaca! – Soltei uma gargalha enquanto me sentava ao lado de Taylor, que estava concentrada na leitura de um livro. – Queria eu ter a sua cor. Da cor do pecado, como dizem por aí.

: - Meu amor, você não imagina o tamanho do pecado que é isso daqui.

Eu ri mais ainda quando Normani apontou para o próprio corpo, fazendo aquela cara de "sou gostosa pra caramba" que eu conhecia muito bem. Pior que ela era mesmo, eu tinha um pouco de inveja.

: - Mani, a essa hora da manhã não, por favor!

Tay reclamou sem retirar os olhos livro.

: - Invejosa!

Normani a respondeu e trocou uma piscadela comigo, antes de se deitar de bruços em sua canga.

Com um sorriso no rosto e o corpo todo molhado, eu foquei os olhos no mar, querendo me afogar naquela vibe gostosa que sempre surgia depois de um mergulho. O silêncio reinou do lado exterior por algum tempo, mas dentro da minha cabeça havia um falatório quase insuportável. Eu disse quase. Eu precisava calar um pouco da minha curiosidade.

: - Tay, Lauren trabalha em quê? – Perguntei sem encará-la.

: - Ela recebeu o cargo de CEO para a filial que a Microsoft abriu aqui no Rio, por isso se mudou. Mas antes era presidente do setor de marketing e desenvolvimento do Xbox.

Uau! Ela era mais legal do que imaginei. A imagem de poder que ela passava estava mais do que explicada. E aquilo só a tornava mais interessante.

: - Sofi vai adorar saber que sua irmã ajuda a desenvolver o passatempo favorito dela. – Taylor riu divertida, fechando o livro e me dando total atenção. – Deve ser foda trabalhar lá.

: - E realmente é. Bem, ao menos Lauren diz que é. – Tay colocou o livro ao seu lado, abraçando os joelhos dobrados. – Mas ocupa a maior parte do tempo dela, sabe? Acho que isso acaba prejudicando um pouco.

: - Prejudicando? – Perguntei me virando de frente para ela. – No que trabalhar na Microsoft pode prejudicar a vida de alguém?

: - Ah, Mila, Lauren não tem tempo para mais nada, ela passa vinte e quatro horas grudada naquele notebook, no tablet. Não sai, não se diverte, não esfria a cabeça, não conhece novas pessoas. Tenho medo de que ela envelheça sozinha, sem um amor, sem alguém para dividir os problemas e as alegrias, entende? É minha irmã, me preocupo com ela.

Aquelas informações me deixaram um pouco incomoda, e o pior era não saber o porquê. Talvez fosse o fato de ver alguém se isolar dessa forma. A vida é tão rara, qual é a graça de passar por ela e não viver intensamente? E Lauren era tão... Não sabia qual palavra usar para descrevê-la, mas era algo bom. Sempre fui muito sensitiva e nunca me enganei em relação a alguém. Fazia menos de vinte e quatro horas que eu a havia conhecido e quase nada nos falamos, mas era o suficiente para me fazer, de alguma forma, gostar dela. Seria muito dizer que queria me aproximar? Foi assim com todas as minhas amizades. Normani, por exemplo. Quando nos conhecemos, quis saber mais dela logo de cara, chamou minha atenção. Gosto de pessoas que despertam curiosidade em mim, gosto daquelas que me mostram pouco para que eu sinta vontade de cavar até o fundo e descobrir tudo. E Lauren me mostrou muito menos do que eu esperava.

: - As pessoas se afundam em suas responsabilidades e esquecem que a vida passa, Tay. – Sorri triste, encarando o mar. – Isso é triste. E a maioria delas não percebem até que seja tarde. Você deveria ajudar sua irmã com isso.

: - Como? Ela não quer ajuda nisso. Ela só quer trabalhar e trabalhar, foda-se o resto. Eu disse que enquanto ela estiver lá em casa, vai fazer o que eu quiser que faça. Que vou levá-la para conhecer o Rio, dançar e etc. Mas, sinceramente? Duvido que ela vá, Mila.

Tay bufou, abaixando seus ombros.

: - Lauren deve ter um motivo para ser assim, Taylor. Ninguém se fecha à toa. – Normani comentou ao se virar de barriga para cima em sua canga. – E aposto que foi decepção amorosa.

Taylor não disse nada, apenas calou-se e deixou que o silêncio tomasse conta do espaço em que nós ocupávamos. Suspirei! Eu entendi que o assunto estava encerrado. Mas como fazer minha mente entender isso?

Lá pelo meio dia nós decidimos subir, o sol estava quente demais e estava quase na hora do almoço na casa de Taylor. Meu pai, eu e minha irmã fomos convidados, mas apenas eu e ela iríamos, já que Alejandro teve que sair para fazer uma cirurgia de emergência. O que era melhor assim, ou eu correria risco de receber sermão no meio de todo mundo.

Parei com Sofi na porta dos Jauregui's depois da uma hora da tarde, me curvando um pouco para que eu pudesse ficar na altura dela.

: - Tudo bem, mocinha. – Ajeitei o vestido amarelo que ela usava, apertando o laço do lenço de mesma cor que ela tinha prendendo o cabelo. – Quais são as regras?

: - Cumprimentar todo mundo, pedir obrigada sempre que me oferecem alguma coisa. – Ela ia dizendo enquanto eu ia ajeitando o que tivesse para ajeitar nela. – Não falar alto, não rir alto, não me meter em conversa de adulto, não mexer nas coisas e me comportar direito.

: - Muito bem! – Beijei sua testa, segurando em sua mão esquerda e me erguendo para tocar a campainha. – E não coloque os pés em cima do sofá.

Foi tudo o que consegui dizer antes que Normani abrisse a porta, revelando a sala do apartamento com todos os membros da família Jauregui acomodados nas poltronas e sofá.

: - Demorou, piranha.

Mani disse perto do meu ouvido quando me aproximei, me fazendo rir baixo.

: - Desculpa! Estava arrumando essa bebezinha aqui.

Respondi sacudindo a mão de Sofia, fazendo Normani abrir um sorriso enorme ao olhar para ela.

: - Mila, para de me chamar assim. Eu já tenho dez anos.

Sofi curvou os ombros para baixo, corando nas bochechas. Ela odiava que eu a tratasse como se ela ainda fosse o meu bebê. Mas ela era, e sempre seria pra mim.

: - Você está linda, Sofi. Amei esse amarelo, muito bonito.

Sofia abriu um sorriso enorme, animada com o elogio de Normani.

: - Camila, que bom que chegou, só faltava você. – Foi Clara quem disse, sentada no sofá ao lado de Taylor. – Drea, pode servir o almoço.

A mãe de Normani estava arrumando a mesa e me ofereceu um sorriso. Era tão legal o fato deles não a obrigarem a usar uniforme, e muito menos tratar Normani como se ela fosse filha da empregada. Era como se todos eles fossem família. Nos cumprimentados de forma descontraída, e meus olhos traidores foram parar em Lauren, sentada em uma poltrona branca no canto esquerdo. Sua coxa direita descansava sobre a esquerda. Ela usava um vestido marfim que me parecia ser um palmo acima dos joelhos. Cabelo solto caindo por seus ombros até abaixo dos seios, uma ondulação leve. Maquiagem quase imperceptível, passaria despercebido diante dos olhos de uma pessoa distraída, mas não pra mim. Ela me olhou de volta e me ofereceu um sorriso pequeno e educado, rápido. Retribui e ela desviou o olhar. Fiquei frustrada. Mais frustrada ainda porque não conseguia entender o motivo da minha frustração. Dá pra entender? Não, eu sei.

Me sentei ao lado de Taylor e Clara enquanto esperávamos o almoço ser servido. Observei de longe Lauren iniciar uma conversa com Sofia. Eu não conseguia ouvir o que era, mas sabia que deveria ser algo engraçado pela forma com a qual minha irmã ria. Vez ou outra ela tocava o rosto de Lauren, o cabelo e eu me peguei desesperada para repreendê-la. Será que Lauren a acharia inconveniente? Eu choraria se qualquer pessoa achasse minha irmã mal-educada, afinal, o papel de mãe era meu. Quando nos sentamos à mesa para almoçar, elas ficaram lado a lado. Entre um sorriso e outro, Lauren olhava pra mim, e da mesma forma rápida com a qual olhava, desviava. Independente de qualquer coisa, eu estava feliz que ela estava fazendo o meu bem mais precioso rir. O almoço seguiu sem imprevistos, a comida estava deliciosa, mama Drea arrasava na cozinha. Quando a sobremesa chegou e eu vi o que era, quase chorei de emoção. Como não chorar diante de um pudim caseiro? Como? Em que lugar desse mundo gente rica faz pudim de sobremesa? Essas coisas só aconteciam na casa de Taylor e eu não sabia como agradecer por isso.

A tarde passou devagar e as quatro em ponto Normani se despediu de nós, ainda teria que passar em casa antes de ir para o trabalho. Saiu do apartamento de Taylor sob orações e bênçãos de mama Drea. Assim, ficamos eu, Taylor, Lauren e Sofia sentadas na sala, já que Michael e Clara jogavam uma partida de cartas na varanda.

: - Mila, Lauren disse que vai me dar um jogo novinho para o Xbox que ainda ninguém tem.

Sofia me contou animada, arrancando um sorriso de Lauren, que estava sentada ao seu lado direito, e eu, ao seu lado esquerdo.

: - É mesmo? E você pediu obrigada à ela?

: - Ela pediu sim. – Lauren respondeu por minha irmã, afagando a cabeça dela com calma. – É uma garota muito educada. Gosto disso.

Isso, isso, isso, isso. Eu repeti para mim mesma várias vezes, deixando que minha deusa interior desse pulos de euforia. Abri um sorriso enorme, havia ganho o dia.

: - Muito bem!

Eu disse a minha irmã com vontade de a abraçar bem forte. Não sei se mais por ela ou mais por mim.

: - Depois a Lauren pode ir lá em casa me ensinar a mexer no jogo novo, Mila?

Sofia cutucou minha barriga, me deixando meio sem jeito. Olhei para Lauren na mesma hora, e ela olhou pra mim. Ficamos assim por alguns segundos. Ela, constrangida, eu... Eu não sabia dizer ao certo.

: - É... – Comecei, sorrindo amarelo. – Se ela quiser, claro que pode.

: - É claro que ela quer. – Foi Taylor quem respondeu, soltando uma risada. - Lauren ama qualquer pessoa que ame o que ela faz. Estou mentindo, mana?

: - Não, não está. – Lauren se ajeitou no sofá com um sorriso pequeno, deslizando os dedos pelo cabelo e o jogando para o lado. Aquele era um gesto novo que eu havia acabado de descobrir nela. Desejei que ela fizesse outra vez, queria poder ver de novo. – Assim que eu trouxer o jogo, nós vamos até lá e eu te ensino tudo o que quiser.

: - Isso vai ser demais.

Sofi riu animada, quase bateu palmas. Aquela garotinha era quase um vídeo game ambulante.

: - Eu tenho uns aqui, Sofi, não são tão novos, mas eu sei que você não tem. São exclusivos e Lauren me mandou faz um tempo. – Taylor comentou já se levantando. – Vamos lá no quarto que eu vou te emprestar alguns.

Cocei a nuca e me ajeitei no sofá, sorrindo ao ver Sofi se levantar mais que depressa.

: - Posso ir, Mila?

Ela me perguntou, como sempre fazia quando queria algo.

: - Claro! – Passei a mão no rosto dela para limpar a marca de batom que Clara havia deixado em sua bochecha. – Comporte-se!

: - Pode deixar.

Ela deu uma corrida na direção de Taylor, agarrando a mão estendida da minha melhor amiga e sumindo com ela no imenso corredor.

: - Sua irmã é uma princesa, Camila. – Lauren disse em seu sotaque carregado, me fazendo sorrir. Eu descobri que gostava dele e achava engraçado ao mesmo tempo. – Muito educada, inteligente, engraçada. Sua mãe deve sentir muito orgulho dela.

É... Eu baixei meus olhos, sorrindo triste. Era estranho pensar que minha mãe não podia mais ter controle sobre a situação, que ela havia morrido e deixado aquela missão pra mim. Era estranho ter que falar sobre isso e pensar nisso. Olhei para Lauren outra vez, seus olhos verdes me encaravam intensamente, como se ela estivesse esperando a minha resposta.

: - Tenho certeza que onde quer que ela esteja, está muito orgulhosa da educação que venho dando a Sofia.

: - Ah, Camila... – Lauren descruzou as pernas e cruzou de novo, incomodada. – Me desculpe, eu não sabia. Eu...

: - Está tudo bem, gringa. – Eu ri da cara que ela fez quando usei o apelido, a fazendo estreitar os olhos. – Não se preocupe.

Nós ficamos um silêncio alguns segundos, mas eu não queria que o assunto acabasse, então logo comecei um novo.

: - Está gostando daqui? – Perguntei interessada, queria saber o que ela pensava, como pensava. – Digo, de tudo. Do lugar, das pessoas...

Lauren respirou fundo, cruzando os braços embaixo dos seios antes de voltar a me olhar.

: - Ainda não tive muito contato com as pessoas, então não posso dizer com clareza. Mas o lugar é maravilhoso, não temos essa vista nos EUA, por exemplo.

Ela riu de forma rápida, e acabei descobrindo também que gostei daquele som. Sorri para ela, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.

: - Acho que você vai adorar a noite, a Lapa. É tão bom! Gosta de samba?

: - Eu gosto do ritmo, mas eu não sei sambar.

Ela riu sem graça quando eu ergui minhas sobrancelhas.

: - Eu posso te ensinar, se quiser.

: - O quê? Não, não. – Lauren ergueu suas mãos para mim, negando com a cabeça. – Eu realmente não levo jeito para isso, menina. Deixo para você, Normani e Taylor.

: - Ah, qual é, Lauren! – Me virei de frente para ela, apoiando meu braço direito sobre o encosto do sofá. – Vamos tentar. Você vai gostar. É uma sensação deliciosa, você precisa sentir isso.

Por que diabos eu queria que ela sentisse como era bom sambar? Por que eu queria que ela se soltasse, curtisse? Que porra estava acontecendo com a minha cabeça?

: - Eu dispenso. Agradeço o convite, mas eu não levo jeito para dança nenhuma. – Ela me olhou de canto, parecia incomodada. Será que eu estava sendo inconveniente? – Taylor me disse que você faz Engenharia Química com ela. Está gostando do curso?

Ela estava claramente mudando de assunto, mas eu não me importei. Fiquei feliz por ela estar interessada em algo sobre mim.

: - Estou amando. Sinto vontade de me matar nos períodos das provas, mas logo passa.

Lauren riu da careta que eu fiz, negando com a cabeça. Seus olhos estavam calmos, um verde água tão brilhante. Fiquei presa neles. Havia cruzado com poucas pessoas de olhos verdes em minha vida.

: - Você vai ver quando se formar, tudo isso valerá a pena. – Ela ia dizendo enquanto sacudia o pé da perna cruzada de forma leve, e eu só conseguia prestar atenção nela, como se estivesse de frente para Elis Regina ou qualquer outra cantora que eu era muito fã. – A faculdade exige muito de nós, Camila. São anos e anos de dores de cabeça, noites mal dormidas, refeições reduzidas... – Ela suspirou de forma profunda, deslizando as pontas dos dedos pela lateral do pescoço. – Mas quando amamos a ideia daquela profissão, quando imaginamos o futuro brilhante que podemos ter por estarmos fazendo o que nós amamos é... Não tem explicação. Trabalhar e construiu um império faz fez pra alma. A questão é nunca perder o foco. Se você tem um, vai em frente, não olhe para trás.

A forma apaixonada com a qual ela falou sobre trabalho, sobre futuro profissional me encantou de um jeito que fiquei olhando para seu rosto fixamente, a fazendo rir sem graça.

: - Desculpa, eu... As vezes eu acabo falando demais.

Ela se desculpou enquanto se levantava, deslizando as mãos pela barra do vestido, o ajeitando. Eu a imitei e me coloquei de pé.

: - Não, você não fala demais, não precisa se desculpar. – Sorri de forma aconchegante, querendo desfazer a expressão indecifrável que se formou em seu rosto. – Eu só admirei a forma com a qual você falou sobre isso. Conheço poucas pessoas que falam sobre faculdade, trabalho e etc com tamanha intensidade. Acho que é um exemplo.

: - Então que seja um exemplo, menina. – Ela sorriu, mas já não era o mesmo sorriso de antes. Me senti confusa. – Não esqueça do que eu lhe disse.

: - Não vou esquecer.

Respondi de imediato, ouvindo as vozes de Sofia e Taylor surgirem do corredor. Lauren olhou para trás e eu segui seu olhar.

: - Bem, eu vou me retirar, Camila. Obrigada pela conversa.

Quem é que agradece por uma conversa hoje em dia? Aquela mulher não podia ser real. Ela nem mesmo me esperou responder, me ofereceu um gesto educado com a cabeça e foi se afastando. Tomada por um impulso que não sei de onde veio, a chamei.

: - Lauren... – Ela parou, me olhando com as sobrancelhas erguidas. Sofia correu na minha direção e Taylor parou para falar com os pais. Ficamos nos encarando, ela esperando, eu pensando. O que eu queria dizer? Afinal, por que a chamei? Muito de mim queria dizer muito de diversas coisas, mas o pouco que me restou apenas sorriu para ela, dando de ombros. – Obrigada você.

Ela sorriu, fazendo um leve sinal de positivo com a cabeça.

: - Até mais, princesinha.

Lauren se curou para frente e beijou a bochecha de Sofia, se virando de costas e sumindo pelo corredor, me deixando ali parada ouvindo apenas o som de seus saltos ao fundo.

: - Mila, olha os jogos que a Tay me emprestou. Vamos embora jogar logo, por favor!

Sofia começou a dizer sem pausa para respirar, chamando a minha atenção. Desviei o meu olhar para ela, tentando calar a minha cabeça que, de uma hora para outra, se tornou insana.

: - Vamos sim, vamos nos despedir do pessoal.

Peguei na mão de Sofi e a levei até Michael e Clara, que terminavam uma partida. Nos despedimos e Taylor nos levou até a porta.

: - Vamos pra onde mais tarde?

Tay me perguntou encostada na parede do lado de fora.

: - Preciso beber. – Eu disse enquanto deslizava os dedos pelo cabelo, realmente perturbada. – Vamos no bar onde a Mani trabalha em Copacabana. Assim ficamos perto dela e enchemos a cara.

: - Nossa! – Taylor riu da careta que eu fiz. - O que aconteceu contigo?

: - Me deu sede. – Respondi de brincadeira, rindo para ela. Olhei para Sofia, que me encarava com um ponto de interrogação imenso na testa. – Nunca pense em encher a cara, mocinha. Esqueça que eu disse isso.

: - Mas eu só gosto de Toddynho.

Sofia respondeu inocente, sem entender é nada, fazendo Taylor e eu cairmos na gargalhada.

: - Fique pra sempre no Toddynho.

Tay respondeu ao bagunçar o cabelo da pequena, que riu divertida. Olhei para minha melhor amiga ao enquanto segurava na mão de Sofia.

: - As nove em ponto esteja arrumada, vou ligar para Mani e avisar que vamos pra lá.

: - Pode deixar!

Fui me afastando de Taylor depois de a dar um beijo na bochecha, com Sofia na minha cola lendo e relendo as capas daqueles jogos.

: - Não se atrase!

Gritei por cima dos ombros, ouvindo sua resposta em forma de xingamento. Eu ri perdida em pensamentos, esperando mesmo que o álcool me ajudasse a esquecer o que não queria sair da minha cabeça. Como pode alguém entrar na sua vida de forma inesperada e em menos de vinte e quatro horas a transformar em um mar de curiosidade e dúvidas? Das coisas que eu sei, isso nem de perto é normal. Minha mãe sempre me disse que ser exagerada e curiosa, uma hora ou outra, não me faria nada bem. E olha só, ela estava repleta de razão.




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