Convergência Sombria | Bonkai...

By Dark_Siren4

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Depois de fugir do Mundo Prisão de 1994, Bonnie acha que pode ter uma vida normal ao lado de seus antigos am... More

1. Eu me caso com um sociopata
2. O Ritual de União das Almas
3. Enfrento a fúria da minha esposa
4. Deixo Kai me tocar
5. Bonnie me dá um perdido
6. Acordando com Kai
7. Meu novo emprego e um cadáver
8. Canção de Ninar
9. Meus sentimentos e Minha sogra
10. Meu novo colega de quarto
11. Incêndeio um Espectro folgado
12. Um coração partido
13. O meu e o seu coração
14. Entre dois idiotas e minhas descobertas
15. Eu? Apaixonado? Quem diria
16. E o tiro saiu pela culatra
17. Um velho me ataca
18. Sou dele
19. Sem ele
20. Visito o cemitério
21. Sou flagrado
22. Ela me domina
23. Férias forçadas
24. A Revanche
25. Amigos e Respostas
26. A Flora e o Mar
27. Um lago de verdades
28. Para Sempre
29. Reunião de família
30. Nas Sombras
32. Possessão
33. Supernova
34. Em casa
35. O que falta em mim
36. Nós dois
37. Um pedaço de mim
Capítulo 38: Minhas Prioridades
Capítulo 39: O homem em chamas
Epílogo:
Antes que eu me vá...
Capítulo Bônus: Linhas de Sangue
Livro Novo!

31.Conhecendo o inimigo

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By Dark_Siren4

Tudo havia desaparecido e por uma fração de segundo. O mundo pareceu mais sombrio, enquanto eu olhava nos olhos inexistentes e negros daquela coisa. Ele era só uma sombra, apenas resquício do que deveria ser humano.

Eu ainda podia ver Sanvine, parada em frente a mim, com um sorriso de satisfação. Ainda podia sentir o olhar assustado de Trevor e ainda podia ouvi-la. Bonnie.

Ela gritava meu nome desesperada.

E eu continha a vontade de me negar a fazer aquilo e correr para os seus braços, para o seu carinho. Porém, também tinha a nítida noção de que se o fizesse, não haveria mais uma Bonnie que eu pudesse abraçar.

Então deixei que aquilo se apossasse de mim. Seu toque era enérgico, como uma brisa invernal. O senti, envolver-se em todos os músculos de meu corpo, me apertando, como uma víbora, esmagando a presa.

E no momento em que ele começou a se fundir em meu corpo, senti cada extensão nervosa arder como ácido, como se minha pele e meus músculos estivessem em chamas. Cerrei os dentes, tentando não gritar, pois Bonnie estava por perto e eu sabia que aquilo acabaria com ela. A dor era angustiante, chegando em meus ossos, mas alguns segundos depois, ela se foi e eu pensei que enfim, tudo tinha passado, mas aí comecei a sentir. Uma leve dor de cabeça, no início, mas de forma muito rápida se tornou uma angustia lancinante.

E flashes de toda a minha vida, momentos dos quais eu não me lembrava de ter vivido, surgiram do nada. Uma pontada.

"Eu estava sentado no balanço do quintal de tia Dora. Sozinho, mas não era novidade. Eu tinha dez anos. Al me chamou pra brincar. Ele sempre me chamava, mesmo que fosse três anos mais velho que eu, porém eu digo não. Meu pai brigou comigo outra vez. Não quero falar com ninguém. Al foi embora um pouco cabisbaixo."

Outra pontada.

"Fui à casa da tia Dora outra vez. Tio Lucas disse que iríamos ao parque. Eu adorava o parque e os doces que sempre ganhava. Ouvi um som estranho vindo dos fundos do quintal, o segui.  E vi Sam, parada perto de um toco de árvore, ela batia uma pedra pesada contra algo. Cheguei mais perto, vendo a pequena borboleta esmagada contra a madeira, contorcendo a asa boa, enquanto Sanvine esmagava a outra. 'Você não vai contar para os meus pais', ameaçou. Eu não disse nada, apenas saí de perto dela. Al era legal, mas eu não gostava de Sanvine, ela era má comigo."

Mais uma pontada.

"Era o aniversário de dezesseis anos dos gêmeos Nessboth. Eu detestava festas, mas só ia por causa da tia Dora e tio Lucas. Todos estavam lá. Entreguei os presentes deles. Al adorou o gravador que eu dei a ele. O cara adorava o som da própria voz. Eu desconfiava de que um dia ele seria um ator ou algo do gênero. Fui até Sanvine, entregando o vestido que sabia que ela queria. Ela me beliscou enquanto eu passava o embrulho. Não gostava quando ela fazia isso."

Outras dores cortavam meu cérebro, enquanto flashes mais rápidos e desconexos invadiam minha mente. E não sei como, mas entendi que o bloqueio havia sido retirado. Ele o havia retirado.

Mais uma lembrança.

Mas eram imagens desconexas. 

"Eu estava preso. Eu não. Ele. Estava escuro, havendo apenas as luzes oscilantes das tochas.  Ele estava há muito tempo naquele corpo e já havia abusado demais de seu poder. Os outros tinham medo. A Ordem. Eles não aceitavam suas matanças e carnificinas desmedidas. Ele tinha que ser detido." 

Mais um flash.

"Ele gritava implorando para que parassem com aquilo. Que o deixassem ficar. Ele queria mais tempo. Não queria voltar para as trevas. Ele as temia demais. Mas já era tarde. Ele retornou para a escuridão."

Respirei fundo, tentando voltar, mas algo muito forte começou a me puxar para a inconsciência. Ele estava me sublimando, assumindo o controle. 

Eu lutei, mas ele era muito forte.

Ele urrou me empurrando para longe. Para longe de tudo. Para longe de Bonnie.

E tudo escureceu.

***

Arfei. 

O ar começou a entrar em meus pulmões. Foi estranho respirar outra vez, eu não precisava daquilo há muito tempo. Era uma sensação boa.

Senti o coração dele. Não. O meu coração. Esse corpo me pertence agora.

E senti mais um palpitar em meu peito, do lado direito. Era mais um coração. Era estranho estar em um humano com dois corações.

Experimentei, me sentar, em seguida tentei me levantar, mas como havia desaprendido a usar aqueles simples movimentos outra vez, caí sentado de novo. Fiquei frustrado.

Mais uma emoção humana. 

Esse corpo era diferente. Esse humano. Ele era mais explosivo e facilmente irritável. O último humano em que estive não era tão dado à violência como aquele. Então, tudo, de certa forma, era um pouco irritante.

— Kai? — ouvi uma voz chamando.

Era uma voz suave e doce, quase angelical. Senti meu coração se acelerar com aquilo. Por que ele acelerou só de ouvir aquela voz?  Empurrei essa questão para o fundo da minha mente. Não precisava daquilo para me atormentar mais. Apenas precisava me estabelecer neste mundo.

Abri os olhos, sentindo a fraca luz os incomodando. E vi uma coisinha pequena olhando para mim. Não. Não era uma coisa. Era uma humana.

Ela tinha uma tez morena com cabelos negros e sedosos que iam até o queixo. Seus olhos verdes, pousavam em mim com medo e apreensão... por mim? Ela estava preocupada comigo? 

Não, não podia ser.

Ela estava preocupada com ele. Kai.  Esse era o corpo dele. Ela sentia afeição por ele.

Eu sorri, gostando do movimento.

— Kai não está mais aqui — disse eu, cruelmente.

O som da minha voz era diferente. Jovem, divertida e ameaçadora. Uma mistura um pouco curiosa. Vi a humana, que eu conhecia por Bonnie, me encarando horrorizada. 

Os olhos..., lembrei.

Era a única coisa que eu não conseguia esconder. Eu sabia que eles eram de uma cor assustadora e desconcertante para os humanos, mas nunca precisei me preocupar com aquilo. Tentei me levantar de novo e dessa vez consegui. Uau! Ele era alto, mas eu me acostumaria.

Parei, olhando tudo em volta de mim, maravilhado como uma criança. Vi o céu noturno cheio de estrelas e a lua cheia, brilhante e clara.  Baixei os olhos, vendo a caverna escura em volta de mim. As sombras eram muito convidativas, pois vivi um bom tempo nelas.

Vi a pequena reunião de humanos que me cercava. Um homem encolhido contra uma parede rochosa, a pequena Bonnie e Sanvine. 

Havia outras duas garotas que eu conhecia só pelo gosto de seu sangue doce. Sofia e Liliana Cross. A mais velha já estava morta, enquanto a outra definhava.

Senti os olhos curiosos dela sobre mim.

— Pode falar Sanvine, eu sei que quer dizer algo — murmurei, com a voz arrastada de tédio por ter sido retirado de minha contemplação.

A garota jovem e de cabelos louros sorriu.

— É você? — murmurou sorrindo, parecendo radiante — É você, mesmo? 

Ela se aproximou de mim, ainda sorrindo e com a mão erguida, como se quisesse tocar meu rosto. Eu sorri.

— Pode ir em frente — murmurei.

Ela arfou e senti seus dedos pequenos e delicados tocando em meu rosto. Era uma sensação tão gostosa, tão macia e reconfortante. Claro que eu não ligava para aquela garota ridícula, só sentia falta do toque humano. Era diferente e maravilhoso.

Fechei os olhos, suspirando de prazer. Ouvi sua respiração acelerada.

— Eu nem acredito que seja você mesmo — disse ela — Esperei tanto por isso!

Abri os olhos, não dando a mínima importância para sua falação. Ergui minha mão, tocando sua bochecha. Sua pele era macia e quente. Eu senti tanta falta daquilo. E impulsivamente, peguei seu rosto entre minhas mãos, a puxando para mais perto de mim. Encostei meus lábios nos seus, desfrutando daquela boca. Ela era doce e macia como veludo. Mas não parecia a certa. Por que não parecia?

Sanvine gemeu, agarrando meus cabelos na nuca e me puxando para mais perto. Aquele puxão foi gostoso, havia me esquecido de como a dor era prazerosa.

— Larga ele, vagabunda! — ouvi a pequena Bonnie urrar.

Afastei Sanvine com um sorriso diabólico em meus lábios. Esta que pareceu muito irritada com aquilo.

— Posso matar ela agora? — resmungou a garota loura na minha frente, fazendo um beicinho.

Eu ri.

— Ainda não — respondi, saindo de perto de Sanvine e avaliando Bonnie — Ela me interessa.

Vi os olhos verdes e assustados da garota, enquanto olhava para mim. Ela se encolheu um pouco contra a parede ao perceber minha aproximação.

— Kai? —chamou.

Suspirei, não gostava que ela ficasse me chamando daquele nome.

— Eu já disse que não sou o Kai — murmurei, parando na sua frente.

Vi uma lágrima escorrer pelo seu rosto.

— Para de falar isso! — gritou ela, tremendo — Claro que é o Kai!

Suspirei pesadamente, me agachando e deixando meu olhar na mesma altura que os seus.

— Olhe bem para mim — sussurrei ameaçadoramente — Vê os meus olhos? Reconhece o seu querido Kai em mim? Por que eu posso me parecer com ele, mas não sou. E não pense nem por um minuto que vou hesitar em matar você. Pois é apenas descartável para mim e não passa disso, pequena.

Vi lágrimas descerem por seu rostinho em formato de coração. Não sabia que humanos podem ter rostos assim. Ela fungou, contendo as lágrimas. Seu olhar era furioso.

— E não pense nem por um minuto, que só porque se parece com ele que vou hesitar em matá-lo —  ameaçou.

Corajosa. Interessante.

— Deixo seu desafio em aberto, pequena — murmurei, encarando de perto.

Havia alguma coisa em seu olhar que me fazia querer competir com ela. O que era ridículo, pois eu era bem mais forte do que uma simples fêmea humana. Ela sustentou meu olhar, mostrando todo seu escárnio.  Eu não tinha medo de sua expressão zangada. Até achei divertido vê-la querendo medir forças comigo.

— Sofia já foi completamente drenada — avisei para Sanvine, ainda sem desviar o olhar dos olhos verdes.

— Como sabe?— a ouvi dizer, com uma voz um tanto incomodada.

Sorri, ainda olhando para a pequena.

— Estou me alimentando da força vital dela. Tenho que saber dessas coisas — expliquei.

Sanvine não respondeu.

— O que você é? — questionou Bonnie com seus olhos ardendo em lágrimas e fúria.

Eu sorri diabolicamente.

— Não vai querer saber — avisei.

Ela se remexeu, parecendo sentir dor.

E percebi que ela estava muito machucada, com sangue que pingava de seus cabelos escuros, manchando seu pescoço delgado e elegante, espalhando-se por uma camisa enorme e branca que sabia que era de Kai. Tinha o aroma dele.

Seu rosto estava pálido e cansado.

— Claro que quero saber — grunhiu — Eu quero descobrir como matar você.

Ela era divertida.

— Não irá me matar.

— Por quê, não? — desafiou.

— Porque, para isso, teria que matar o seu querido Kai — sussurrei, a olhando com diversão — E se você o fizer, matará a si mesma e o restante da sua Convenção patética.

Ela arfou, se dando conta. Porém, sua expressão endureceu logo em seguida. 

— Se for preciso, o farei — murmurou empinando aquele queixo bonitinho.

Eu ri com a imagem súbita de um gatinho que pensa que é um tigre.  Aquele corpo, o de Kai, tinha umas reações estranhas a tudo. Sob seus olhos, tudo parecia mais divertido e interessante. Acho que ele se tornaria um dos meus preferidos.

— Quando a hora chegar — disse eu, encarando‐a — Veremos se é capaz disso mesmo.

E me levantei, andando pela caverna, experimentando a sensação de usar pernas de verdade. Parei perto da garota caída no chão, dentro do círculo de fogo. Agachei, tocando em suas bochechas rosadas, ouvindo-a soltar um gemido débil. Seus olhos esbranquiçados estavam vacilantes dentro das órbitas.  Vi, com prazer, o rastro queimado que meu dedo deixou ao tocar sua pele. 

— Olá, Liliana — murmurei, sorrindo e tirando seus cabelos suados do rosto — Você já é praticamente minha. Falta pouco.

Olhei para o rastro que seu sangue deixava, subindo pelo altar. Indo até a imagem do que os humanos antigos pensavam ser eu. Eu odiava aquela coisa. Não pela aparência, mas pela história trazida consigo.

— Aposto que não conhece minha história, não é, pequena? — murmurou alto o suficiente para que Bonnie pudesse ouvir.

Ela não respondeu. Levantei, me voltando para ela que estava no outro extremo da caverna.

— O que eu deveria saber sobre você? — murmurou com desdém.

— Deveria conhecer minha história — murmurei — Conhecendo seu inimigo é como se conhece sua fraqueza. Não é o que dizem?

Ela me encarou, desconfiada.

— Por que está me falando isso?

Suspirei, cruzando os braços.

— Talvez, porque eu já tenha vivido demais. Vidas demais — falei — Talvez, eu esteja cansado.

Ela sorriu, irônica.

— Você não quer morrer, muito pelo contrário. Você quer viver. E quer muito. Senão, não teria tirado Kai de mim.

Mirei seus olhos verdes e inteligentes.

— Como pode me conhecer tanto em tão pouco tempo?— questionei.

— Eu não conheço você, mas conheço meu marido — respondeu, seca.

Ouvi Sanvine bufar.

— O que estamos esperando? — reclamou — Por quê não concluímos isso de uma vez?

Franzi os lábios, não gostava que me dessem ordens.

— Eu esperei mais de mil anos para estar livre. Acho que você aguenta, mais algumas horas, não é? — murmurei acidamente.

Sanvine fez uma cara feia, mas não discutiu, pois sabia que eu não gostava de ser contrariado. Voltei meus olhos para Bonnie, que me avaliou. Seu olhar era uma mistura de consternação e ódio.

— Sabe, pequena, eu sou muito, muito velho — comecei — Já estou aqui há mais tempo do que toda a humanidade.

Ela encarava meus olhos, parecendo interessada. 

Curiosa. Eu gostava disso. Prossegui:

— E já vi e vivenciei tudo.

— Porém?— me interrompeu.

— Porém não sou humano, sou algo além. Não se tem um nome definido para o que sou — expliquei — Em muitas culturas e em muitos lugares, já fui chamado de muitos nomes.

E me aproximei dela.

— Rei, imperador, monstro, deus, demônio… — vi a forma como ela estremeceu ao ouvir a última palavra — Kai passou muito tempo em outro mundo, o Mundo Prisão, mas não existe apenas essa dimensão. Existem outros lugares muito mais antigos e sombrios. E eu vim de um desses.

Parei olhando para ela.

Seus olhos, mostravam surpresa e curiosidade. Talvez, ela estivesse se questionando do porquê de eu estar contando aquilo, mas nem eu mesmo sabia. A solidão deve me ter feito ficar assim, tão desesperado por atenção.

— C-Como era o seu mundo? — perguntou, parecendo se esquecer um pouco do medo.

Senti a tensão me dominar.

— Era um ótimo lugar, tão bom que fazia todos os habitantes terem uma vontade desesperada de fugir — falei com ironia— É um lugar frio, cruel, sem vida e triste. O desespero domina tudo. Por que acha que estou aqui? — Ela não respondeu — Felizmente, consegui encontrar uma brecha para sair de lá. E conheci outros lugares, mas nenhum me surpreendeu mais do que esse mundo e seus estranhos humanos. Não têm ideia da sorte que têm aqui. Não compreendem a complexidade perfeita do que é ser humano, a genialidade do que são feitos. A forma como conseguem amar sem medir esforços e sem se limitarem. E do mesmo modo, como conseguem ser os seres mais vis e cruéis que eu já vi.  Sua maldade me delicia e fascina. Vocês são mais que perfeitos, são uma verdadeira obra prima.

Bonnie se remexeu, ainda me olhando. Parecia um pouco cautelosa. 

— Desde quando está aqui? No nosso mundo? 

Mudei o peso para a outra perna. Eu gostava de ficar me movimentando e sentindo meu novo corpo. Era ótimo.

— Quando cheguei aqui a humanidade ainda era escassa e limitada a algumas poucas tribos e pequenas civilizações. Não era grande coisa, como agora, mas para um recém chegado como eu, era maravilhoso. Só havia um pequeno porém — Ela me encarou, em expectativa — Eu não podia interagir fisicamente com ninguém. Era como ver TV, podia ver tudo, estar em todos os lugares, mas sem tocar e falar com ninguém. Eu era como um… espírito. Vaguei por entre as trevas durante muito tempo. Até que descobri um método para possuir humanos. Claro que a natureza sempre agia contra mim, então eu podia estar dentro de um humano, mas nunca por um período prolongado, pois os mais fortes me expulsavam e os mais fracos morriam por não poderem sustentar meu poder dentro deles por muito tempo.

Vi Bonnie arfar me olhando de cima para baixo, parecendo aflita.

— Fique calma, pequena — assegurei — Kai é forte. O que é muito bom para mim, pois posso ficar mais tempo aqui dentro.

A pequena garota me encarou com horror e nojo.

— Você é um verme — sibilou — Está apenas se nutrindo de Kai para passar para o próximo? É isso? — vi uma lágrima escorrer pelo seu rosto — Meu Deus… eu espero que ele seja fraco. Que morra, para que não tenha que manter você aí.

Eu ri. Fiz um leve movimento de mão, fazendo seu rosto se prensar contra a parede rochosa. Bonnie arfou, tentando se desgrudar da parede, mas eu a mantinha firme ali.

— E eu gostaria que você não falasse desse modo comigo, pequena. Não gosto que me contrariem.

Ela deu gritinho, tentando se soltar da parede, mas a pressionei mais, sentindo seu coração sacolejando de forma dolorosa em meu peito.

— Pensa que durante o tempo em que estavam juntos eu não observei você, garota? — Sibilei, caminhando devagar em sua direção e a cada passo que eu dava, aumentava a pressão em seu corpo — Eu conheço, cada detalhe seu. O que gosta, o que a excita, o que a assusta… Conheço cada desejo sombrio, seus piores pesadelos. Então, não pense que eu serei bonzinho como a merda do seu marido! Porque tudo que ele já fez para você, lhe garanto que farei pior e muito mais doloroso! — E na última palavra pressionei seu corpo pequeno, ainda mais contra a rocha. Cheguei mais perto dela, me agachando em sua frente — Sou mais que um simples garotinho revoltado com a família — sussurrei, vendo-a se contorcendo para se soltar — Sou um pesadelo vivo. 

Pude escutar suas costelas estalando levemente. Eu poderia facilmente esmagá-la, mas ela seria necessária.  Suspirei, diminuindo a pressão e me levantei.

Ela se engasgou, tossindo e recuperando o ar em golfadas.

— Espero que tenha compreendido — falei.

Ela soltou algo parecido com uma risada esganiçada.

—Vai à merda.

Aquilo me arrancou uma risada.

—Não seja mal educada, Bonnie — Ela era muito divertida — Mas acho que você vai gostar de ouvir o resto da história — Caminhei até o centro da caverna — Bem, onde paramos? Ah, sim. Possuir humanos — comecei — Durante muito tempo permaneci assim, trocando de corpos e vivendo em muitos humanos. Foi divertido, eu podia fazer coisas que os outros não faziam e nunca podia ser pego. A pior parte são as emoções confusas. Por mais de uma vez, perdi o controle e matei uma ou duas pessoas, mas tudo dependia do humor de meu hospedeiro. Porém, fui descuidado, comecei a chamar muita atenção para mim mesmo. E eles perceberam. A Ordem. Eles são como a sua Gemini, sempre de olho em coisas suspeitas e se metendo onde não é da sua conta — Suspirei profundamente, àquela história me deixava irado, mas prossegui — Houve uma noite, eu estava no Egito Antigo, consegui a sorte de possuir um dos nobres do faraó. Ele era um ótimo hospedeiro, eu nunca havia conseguido ficar tanto tempo em um humano e estava quase achando que havia encontrado um forte o suficiente para abrigar minha aura. Houve uma grande festa naquela noite. Os exércitos do faraó haviam vencido uma guerra, da qual eu participei, é claro. Estavam todos em polvorosa e alegres. Eu me divertia, quando vi uma jovem linda. Ela era uma das garotas mais exuberantes que eu já havia visto. Com aquela pele dourada de sol do deserto e olhos negros devastadores. Eu fui tomado pela paixão de súbito, nunca havia sentido algo tão forte. Porém, ela desapareceu por entre a multidão. A procurei pela festa toda, mas ela havia sumido. Foram dias de agonia para mim. Como o nobre que eu era, tinha acesso a todas as concubinas mais maravilhosas do palácio, mas eu não queria nenhuma delas. Só aquela garota linda e dourada. Já havia perdido as esperanças de encontrá-la, quando a vi no mercado da cidade, trajando um vestido leve e dourado, com os cabelos negros descendo pelas costas nuas. A segui, vendo-a parar em algumas tendas para comprar tecidos e outras coisas. Seu sorriso era tão lindo. E soube naquele momento que eu estava perdido. Descobri que ela era filha de um velho soldado dos exércitos egípcios e que seu nome era Kéfera, como o deus do sol, bem apropriado para ela. Ela já havia sido prometida a outro homem, com a posição mais elevada que a sua. Claro que o pai queria casá-la por interesse. Então, agi de acordo. Ofereci ouro e todas as riquezas mais inestimáveis a ele. E o velho ganancioso, cedeu a mão de sua filha, sem nem questionar quem eu era. Fiquei tão eufórica de felicidade, que a levei para o palácio na mesma noite. E o que ela tinha de bonita, tinha de teimosa, pois me odiou no primeiro instante em que me viu. E eu não entendia o porquê, pois o corpo que eu habitava era o de um homem jovem e bonito, não compreendia sua raiva. Eu estava louco de desejo, queria possuí-la naquela noite mesmo. Mas ela lutou bravamente por sua castidade e não me deixou tocá-la uma única vez. Aquilo me deixou revoltado, mas suportei sua rejeição, pois sabia que não a teria se a forçasse. Eu queria toda sua entrega, toda sua paixão. Aos poucos fui ganhando sua confiança, sua amizade e seu carinho. E meus sentimentos por Kéfera foram se modificando. Não era só o desejo enlouquecedor, era muito mais. Eu sentia… amor. Eu a amava e foi a primeira vez em toda minha existência em que consegui amar alguém. Obviamente, como o bobo apaixonado que fui. Contei tudo à ela e pensei que fosse me rejeitar de novo, mas não... Ela me beijou e quis ser minha. O desejo me dominou e a tomei em meus braços, arrancando suas vestes desesperadamente. E fiz amor com ela a noite toda. Os dias que se passaram foram os mais felizes da minha vida. Eu a tinha e sempre estava com ela, mas minha noiva começou a agir de maneira estranha. Sempre sumindo o dia todo. E eu sabia que ela mentia para mim, mas decidi ficar cego às suas mentiras. Só queria continuar a amando e sentindo aquela felicidade maravilhosa. Porém, a paranóia começou a me dominar e imaginava que ela tivesse outro homem. Não aguentei e numa noite decidi segui-la. Kéfera caminhou escondida, por entre as vielas escuras da antiga cidade, comigo em seu encalço. Vi quando ela entrou numa casa abandonada fora dos limites da cidade. Apertei minha espada em minhas mãos, pronto para matar seu amante. Destruir o homem que estava roubando o meu sol. Invadi a casa, já preparado para lutar, quando me surpreendi com a cena. Havia um grupo de mulheres de todos os tipos, de todas as regiões e de todas as idades, vestiam túnicas marrom-avermelhadas e me olhavam com espanto e surpresa. 'O que ele faz aqui, Kéfera?', disse uma mulher mais velha, parecendo ultrajada. Minha noiva não soube o que responder, aflita. E já estava me adiantando na direção dela, querendo entender o que acontecia, quando senti algo forte me prender e vi cordas se apertaram em volta do meu corpo como serpentes, lutei para me soltar, mas era impossível. Eu estava fraco como um humano, havia permanecido muito tempo naquele corpo. Khéfera ficou desesperada, implorando para que elas parassem com aquilo, mas não adiantou. A mulher mais velha deu um tapa em seu rosto a fazendo cambalear. 'Sua fraca! Você cedeu aos caprichos desse monstro! Seu trabalho era ficar de olho nele, para destruí-lo em seguida!!', gritou a velha. Ela chorou. E ouvi uma das mulheres dizendo que já estava na hora. Outras se negavam a fazer o que ela queria, dizendo que era muito arriscado, pois eu não poderia ser totalmente controlado. Não entendia o que estava acontecendo, só conseguia olhar para Kéfera, o meu sol. A traição doía horrivelmente, eu nunca amei ninguém, como a amava. As mulheres pareceram entrar em um consenso, achando boa a ideia do que a outra mulher queria fazer comigo. Kéfera começou a gritar e chorar desesperadamente, implorando para que não fizessem aquilo comigo, porque ela me amava e poderia me fazer ser melhor. Mas nenhuma delas quis ouvi-la. E começaram a pronunciar palavras, numa língua antiga. Babilônio, talvez. E senti… como se estivesse sendo arrancado de dentro de meu corpo. Eu tentava me prender, mas era muito, muito forte. Tudo começou a girar e todas minhas fibras queimavam e ardiam. Eu não enxergava mais nada, tudo era um borrão de cores desconexas. Ouvi Kéfera gritando, a vi pegar um punhal e esfaquear uma das bruxas. E vi, sem poder me mexer, uma outra bruxa a esfaqueando com outro punhal. Minha noiva caiu na minha frente, com seus olhos negros nos meus, implorando por perdão e repetindo um débil: 'Eu te amo', até que a vida a deixou. 'Khelf... Kéfera', foi tudo o que consegui dizer, antes que tudo escurece.

Olhei para Bonnie, que parecia ter perdido um pouco de sua raiva, seus olhos estavam úmidos e cheios de pena. Odiei aquilo.

— Você a amava mesmo? — perguntou com a voz um pouco fraca.

Cruzei os braços, a encarando.

— E isso importa? 

— Para mim, sim — respondeu.

Suspirei, tentando conter a dor que se formava dentro de mim, aquela dor que me corroía há milênios.

— Ela foi a única mulher que fui capaz de amar — respondi duramente — E foi a última. Eu nunca vou sentir isso de novo por ninguém, porque eu aprendi com isso tudo. Amar é destruir.

Ela se remexeu me olhando com expectativa.

— Mas você pode honrar a memória de Kéfera, me deixe ir — implorou — Deixe Kai livre...

— NÃO! — gritei — EU NÃO VOU DEIXÁ—LO IR! ELE ME PERTENCE AGORA! ELE SOU EU! ESSE CORPO É MEU!

Bonnie continuava me olhando com aquela pena irritante. 

— Kéfera está morta! — Sibilei — E não pense que vai me comover com sua draminha. 

— Por favor... deixe Kai livre, faça o que quiser comigo — implorou— Mas deixe-o ir.

Coloquei o polegar e o indicador na fonte.

— Por Anúbis, quando vocês mulheres começaram a ficar tão chatas? — resmunguei, respirando fundo para não perder a paciência.

Bonnie ainda me olhava de maneira suplicante. Aquilo me incomodava.

— Ah, muito obrigada! —reclamou Sanvine.

Me virei para ela, lembrando de sua presença só naquele momento.

— Ah, minha querida, você é uma exceção — murmurei estampando um sorriso em meu novo rosto.

Sanvine sorriu se aproximando de mim.

— Eu até acreditaria — disse ela, me dando um beijo na bochecha — Se não soubesse que Kai é um tremendo mentiroso.

Eu ri.

— Se você diz… — murmurei travessa mente — Bem, acho que já falei demais. Sam, que tal você continuar minha narrativa?

A garota loura lançou um sorriso cúmplice. Ela gostava de atenção.

— Ok — disse, assumindo um aquele ar orgulhoso que eu conhecia bem. Sanvine parou de frente para Bonnie, parecendo se divertir perversamente com aquilo — Então, Bonnie, meu bem — começou — Depois da morte de Al, resolvi viajar para todos os lugares. Eu queria conhecer tudo o que a Convenção Gemini me privou de ver. E numa dessas viagens fui para a África, viajei por muitos países de lá. É uma terra realmente maravilhosa. Resolvi conhecer lugares mais remotos, já que minha curiosidade não tinha limites. E acabei indo parar numa pequena tribo, numa parte menos populosa da Etiópia, pois tinham me dito que havia uma certa… peculiaridade nas redondezas. O lugar estava terrível, a terra estava morrendo, já que nosso amiguinho aqui, consegue tirar a energia do lugar. A natureza simplesmente fica doida quando ele está por perto — Ela riu, olhando para mim e retribuí o sorriso à incentivando a continuar — A tribo já estava praticamente inexistente com alguns poucos moradores, que já estavam partindo dali. E conheci um de seus anciãos. Um homem que já estava ali há muito tempo e que havia visto de tudo. Ele foi muito hospitaleiro e respondeu todas as minha perguntas. E me contou sobre "o mal na montanha". Uma força muito, muito antiga que já estava ali há muito tempo. Bem antes de ele nascer, mas disse que ele nunca pareceu tão inquieto como estava ficando, como se estivesse ansioso por algo… Isso chamou minha atenção. Eu sou uma bruxa, mas não sou de acreditar em qualquer superstição, porém me senti estranhamente atraída para aquele lugar. E depois de falar com o velho, decidi que deveria conhecer a tal caverna misteriosa ao pé da montanha. Foi uma caminhada de alguns quilômetros, mas enfim cheguei. E só de passar pela abertura da caverna, pude sentir a queda súbita na temperatura. Eu realmente fiquei assustada, mas continuei adentrando a caverna. Havia alguns ossos de animais espalhados lá dentro, como se algo tivesse os encurralado e se alimentando deles, mas não sabia ao certo se era isso, mesmo. Poderia ser só a caverna de algum animal selvagem, mas algo me dizia que não. E quanto mais me aprofundava, mais sentia uma vontade doentia de fugir dali. Era apenas um instinto de autopreservação. Porém, continuei, cheguei até um ponto em que havia apenas um extenso paredão de pedra, mas sem perceber, quase caí em um buraco. Ele era do tamanho de uma criança grande. Olhei para o fundo negro dele, com a nítida impressão de que alguém me observava de volta, mas não tinha certeza.  Tremendo de medo, resolvi entrar naquela abertura. Sorte a minha que eu havia levado alguns instrumentos de rapel e desci pelo buraco. A primeira coisa que notei foi a escuridão. Não conseguia ver um palmo à minha frente. E aquela sensação de ser observada, não me abandonou, era como se tivesse uma presença muito forte comigo, acompanhando cada passo. Acendi minha lanterna, procurando quem estava ali, iluminando cada canto, mas… estava vazio e silencioso. Silencioso demais. Foi muito rápido, mas captei um movimento, como o de uma pessoa, iluminei a área, já pronta para usar minha magia, quando eu a vi.... — Sanvine olhou para a estátua no altar, parecendo maravilhada — Era a coisa mais horripilante, assustadora, tenebrosa e terrível que já vi — sussurrou, perdida em pensamentos, talvez se lembrando do dia em que a encontrou — Mas também era maravilhosamente bela. A coisa mais perfeita que eu já tinha visto. E me perguntei: 'Como algo tão horrível pode ser tão bonito?'. E era como se um ímã me atraísse para aquela coisa, eu não conseguia me mexer, não conseguia me concentrar. Não queria mais nada, a não ser tocá-la. E foi o que fiz.  E no momento em que meu dedos tocaram aquela superfície escura e macia, tive vislumbres de toda sua vida. De toda sua existência. De todo o seu poder. Ele era tão forte e eu queria ter aquela força. E como uma tola boba, tentei sugar a magia existente na estátua. — Ela riu — Eu quase morri — disse com com a voz desgostosa — Era muito poder para absorver. Mas ao fazê-lo, criei uma espécie de ligação psíquica com a estátua. E soube o que ele queria. Fui embora, o mais rápido possível, para a capital. Me concentrei em procurar historiadores locais, houve um em particular, que me contou a história sobre o "espírito dentro dos homens". Rezava a lenda, que ele havia vivido há muito no tempo dos faraós e que havia se apaixonado por uma mulher que foi sua ruína. Já que não sabiam como derrotá-lo ou destruí-lo, um clã antigo de bruxas o aprisionou dentro de uma estátua antiga, o impossibilitando de possuir corpos humanos. Ele só poderia vagar sozinho pelas sombras, atrás do véu da realidade, sedento por reviver outra vez. Depois daquilo, soube o que fazer, me concentrei em procurar tudo sobre magia babilônica e enoquiana, na esperança de ter poder sobre aquela força na caverna ao pé da montanha. Eu queria todo aquele poder...

Pude ver o brilho da ganância nos olhos de Sanvine, ela desejava meu poder e só não o havia tirado de mim, por não conseguir suportá-lo dentro de si sem que perecesse por isso.

— Ela tentou resistir a mim — falei, olhando para os olhos verdes de Bonnie — Mas Sanvine sabia que não encontraria em qualquer parte do mundo um poder como o meu. Então, alguns dias depois, minha doce Sam, retornou. E prometi, que se ela me tirasse daquela caverna no meio do nada e me ajudasse em meu plano para me libertar, eu lhe daria todo o poder que ela quisesse. Sanvine apenas tinha que achar um corpo forte o suficiente para mim. E após ler seus pensamentos, soube que eu tinha muito mais afinidade com esponjas de magia. Eu só precisava de alguém forte o suficiente para conter minha aura. No caso, o seu Kai, me serviu de isca — Comecei a caminhar pela caverna, distraidamente. Era uma sensação indescritível, ter um corpo físico — Mas para que eu pudesse possuir um humano, precisava de um feitiço muito forte. Algo marcante— murmurei com um sorriso vitorioso— E há cerca de dois anos atrás, lembrei de uma cidade muito antiga e afastada no coração da Etiópia. Lá, residiam alguns textos muito velhos, tão milenares, que ninguém compreendia sua língua, mas eu sim.  Tive que pedir à Sanvine que fosse ao tal local já que meu corpo espiritual estava preso à estátua e o único contato que eu dispunha, era o que eu acidentalmente criei com Sam, nós sempre conversávamos por telepatia. Ela foi obediente, me trazendo os manuscritos e neles indicavam um ritual de sangue selvagem para libertar o meu espírito daquela estátua. Sabe, pequena, como uma receita de bolo. Eu precisava de sete bruxas jovens, para absorver seu poder e sua juventude. O sangue de um imortal, no caso seu amigo vampiro, Damon. O sacrifício de um inocente. E nossa linda Sofia, serviu a esse propósito. A magia de bruxas muito poderosas, e Theodora serviu nisso, também. E por último, mas não menos importante, um corpo físico para reter tudo isso, o de Malachai.

Bonnie me encarava com horror. Ri de sua expressão.

— Você deve estar pensando que eu sou um monstro, não é? — questionei a encarando com humor.

Ela arqueou uma sobrancelha, me encarando com seus penetrantes olhos verdes.

— Mas você é um monstro.

Arqueei uma sobrancelha como ela.

— Ah, é? Por que pelo que eu vi das memórias e dos pesadelos de Kai, ele também não foi nenhum santo — alfinetei — Principalmente, com você, pequena. Mas ainda assim, insiste em amá-lo. 

Vi suas bochechas corarem de raiva.

— Não se compare com ele, Kai se arrependeu das coisas que fez — rebateu — E ele me ama.

Cruzei os braços, a encarando com um sorriso frio.

— Ama? Ele já disse isso alguma vez?

Ela abriu a boca, como se fosse dizer algo, mas emudeceu.

— Ah… Então, ele não disse — saboreei — Sabe o porquê? 

Ela me encarava de cima a baixo com ódio; seus olhos cor de oliva me fulminavam.

— Kai nunca disse que a amava porque ele nunca sentiu isso por você, pequena. Só estava com você por conveniência, por causa do poder que têm juntos, só por isso. Você é apenas a fonte de magia que o alimenta.

Adorei a expressão de dor que ela fez, aquilo a magoava.

— O que foi? — eu ri — Você pensou que ele a amasse mesmo?

— Cala boca! Você não o conhece! —cuspiu, tentando conter suas lágrimas — Você não é ninguém para falar de Kai! Seu verme! Abutre! Você não é ele!

Franzi os lábios, ficando irritado. Aquela humana era ousada demais e isso me irritava. Minhas emoções ficaram totalmente afloradas e não me contive, marchei furioso na direção dela. Esse corpo tinha sentimentos demais. Confusos e descontrolados. Era difícil lidar com o corpo de um ex sociopata.

E quando me vi, tinha agarrado os pequenos ombros de Bonnie e a colocado de pé contra a parede, ouvindo seu arfar, enquanto suas costas se chocavam na rocha.

Eu a encarava com escárnio e ódio. 

— Já disse para não falar assim comigo! — urrei — Eu posso esmagar você como um inseto, sua garotinha ridícula e fraca!

Pude sentir seu corpo todo tremer, mas seus olhos não deixavam os meus.

— Você não vai fazer isso porque precisa de mim, não estou certa? — desafiou com um sorriso vitorioso.

Merda. Ela estava certa. Eu precisava dela mesmo.

Apertei mais seus ombros, querendo machucá-la para tirar aquele sorrisinho irritante de sua cara.

— Me diga, no que Kai e eu somos diferentes, hã? — murmurei, grunhindo de raiva — No que nós nos diferenciamos? Por que ele é melhor que eu?!

Ela riu de desdém.

— Para começar — sibilou — Kai é humano — Meu corpo estremeceu de ódio — E segundo — continuou — Ele nunca me machucaria como você está fazendo.

Olhei para minhas mãos, com as unhas quase cravadas em seus ombros cor de caramelo. Afrouxei um pouco o aperto, olhando de novo para seus olhos interessantes.

— Tem razão — sorri e vi a expressão de confusão que se formou em seu semblante — Ele agiria de modo totalmente contrário.

E subitamente, a puxei para mais perto, colando seu corpo delgado no meu. Bonnie me encarava confusa e horrorizada. Acariciei sua bochecha, sentindo aquele veludo em ébano sob meus dedos. A garota arfou.

— Ele a tocaria assim —afirmei, apertando mais meu braço, em volta de sua cintura, sentindo seu coração acelerar em meu peito. Olhando de forma intensa para seus olhos, deixei que a cor dos meus fluíssem do negro e dourado para o azul de Kai. Era um pouco difícil manter a cor original, mas seria só uma questão de concentração.

Sua boca escancarou de descrença. 

— V-Você não é o Kai… — sussurrou, com a voz vacilante.

— Tem certeza? — questionei, tocando seus cabelos e os aproximando de meu rosto inspirando seu cheiro, que lembravam flores. Jasmins, talvez?

Vi seus olhos verdes descerem para minha boca, parecendo em conflito.

— Você não é ele… — sua voz foi sumindo.

— Não? — e a encostei na parede, colando meu mais meu corpo ao seu.

Senti leves tremores percorrerem o corpo dela, meu rosto estava muito próximo ao seu, tanto que podia sentir seu hálito doce em meus lábios.

— Eu quero beijar você — sussurrei, sabendo que Kai já havia dito aquilo à ela. Rocei meus lábios devagar nos seus, sentindo uma eletricidade esquisita me percorrer. Meu corpo reagia à ela. Como se tudo em mim, conhecesse tudo em Bonnie, sua respiração, seu cheiro, suas curvas, seu beijo...

Aquilo deveria ser a memória física de Kai se lembrando de todas as vezes em que a tocou.

— Amor… — finalizei.

E a beijei.

Beijar Sanvine foi bom, mas foi desprovido de emoção, era a sensação e o momento. Porém, com Bonnie, foi estranho. Intenso. Parecia… certo. Era o beijo certo para este corpo.

Tentei ser calmo e frio no início, mas foi impossível. Os lábios dela eram como um néctar dos deuses, eu queria muito mais. A apertei mais contra a parede, agarrando sua cintura, como se minha vida dependesse daquilo e segurando seu rosto contra o meu com medo de me afastar dela.

— Kai — sussurrou contra meus lábios, gemendo e senti seus braços se enroscando em meu pescoço, agarrando meus cabelos e me puxando para mais perto. Experimentei deixar minha língua tocar a sua. Arfei ainda mais, gemendo de prazer.

Eu já havia beijado outras mulheres, mas a cada vez, a cada corpo diferente, havia uma sensação em particular. Quase como uma primeira vez. A senti prender meu lábio inferior em entre seus dentes e o puxando de leve.

Por Anúbis, senti meu corpo arder em chamas. O que era aquilo? 

Deslizei minhas mãos, por todo o seu corpo, quase gozando de excitação.  A ergui em meus braços, prendendo suas coxas em meu quadril. Bonnie enlaçou suas pernas em minha cintura. E me deixei levar por sua boca. A única mulher que havia conseguido me deixar naquele estado foi Kéfera. Nunca pensei que voltaria a sentir aquilo de novo. Ardendo de desejo, desci meus lábios para seu pescoço macio e cheiroso, sentindo o gosto de seu sangue ainda úmido ali. Ela era muito doce. Gemi, me deliciando em sua pele macia e seu sangue adocicado e quente.

A sentia agarrando meus cabelos, puxando e gemendo desesperadamente.

— Kai… — ela balbuciava.

Subi mordiscando sua orelha, ouvindo-a dar um gritinho de prazer. Meus lábios encontraram os seus de novo e me perdi outra vez, deixando minha língua se enroscar com a dela.

Era tudo tão intenso...

Senti a dor antes de notar o que estava acontecendo. Parei de beijá-la bruscamente, olhando para o punhal, que se sobressaiu da faca enterrada em meu abdômen.

A soltei, deixando Bonnie cair de qualquer jeito no chão.

— O que você fez? — questionei, sentindo a dor horrível em minha barriga. A faca deve ter perfurado algum órgão vital.

Ela havia sido muito esperta, escondendo a faca de Kai, quando Sanvine a ameaçou com ela.  Eu havia me esquecido daquele detalhe.

Arfei, arrancando a lâmina. Aquilo doeu demais, senti uma vontade súbita de vomitar. Caí de joelhos, segurando o ferimento do qual jorrava muito sangue.

— Eu disse que o mataria — murmurou Bonnie, resignada. E vi sua mão suja de sangue. De meu sangue.

— Agora eu acredito em você, pequena… — engasguei.

Vi satisfação em seus olhos ao mesmo tempo em que uma tristeza súbita os dominava.

— Oh, minha nossa! — ouvi Sanvine dizer e correr na minha direção.

Ela se ajoelhou ao meu lado, tentando estancar o sangramento.

— Sua maldita! — gritou a para a garota morena — Desgraçada! Eu vou matar você!

E… Comecei a rir.

Savine e Bonnie me olharam com uma mistura de espanto e ultraje. Encarei as duas, rindo e levantei a blusa, mostrando o ferimento em meu abdômen, se fechando com uma névoa negra ao redor. Até que a própria névoa desapareceu também, deixando apenas o sangue manchando minha camisa.

— Deviam ver a cara de vocês duas — ri mais ainda, me levantando — Tinha me esquecido de como é bom rir! 

Bonnie ficou chocada, enquanto Sanvine ficava gradativamente vermelha. 

— Você ficou louco! — gritou a loira — Quase me matou de susto! Pare de rir, isso não tem graça!

— Tem, sim — murmurei retirando uma lágrima do meu olho. Deixei que meus olhos voltassem para o habitual dourado e negro — Como acham, que sobrevivi tanto tempo em humanos? — questionei, achando a reação de Sanvine um pouco ridícula — Eu sempre mantenho meus corpos seguros. Nunca os deixo morrer ou envelhecer.

Sanvine ainda continuava revoltada. 

— Acabe logo com isso! —brigou.

Fechei a cara.

—Não ouse dar ordens em mim, sua pirralha — ameacei — Pois, enquanto você ainda usava fraldas e aprendia a falar. Eu já tinha vivido de tudo e visto muitas guerras.

Sanvine engoliu em seco, sabendo do que eu era capaz. Voltei para Bonnie, que ainda me encarava sem acreditar.

— Ah, Bonnie, minha pequena — murmurei, me aproximando dela e tocando seus cabelos escuros e sedosos — Você subiu no meu conceito, querida. Mas, aprenda comigo: Sempre esteja um passo à frente. 

Então, perfurei sua coxa com a faca, afundando-a até a metade da lâmina.

Ele gritou, agarrando a perna, que começou a sangrar imediatamente, manchando seu jeans.

— Eu vivi o suficiente — murmurei, empurrando o cabo ainda mais fundo em sua perna, ela gritou de novo — Para não ser enganado duas vezes por vadias como você e Kéfera.

Ela arfava com algumas gotas de suor descendo por sua têmpora. Arranquei a faca bruscamente, ouvindo-a soltar um silvo.

— Ei, você tem um nome? — questionou Sanvine.

Parei, olhando para ela.

— Por que isso importa agora? — questionei.

Ela deu de ombros.

— Preciso chamá-lo de alguma coisa — falou, de braços cruzados e cara feia por eu ter brigado com ela. E desconfiava de que ela estivesse com ciúmes de mim e Bonnie.

Eu sorri.

— Tenho, mas é impossível de se pronunciar em qualquer língua humana.

— Você nunca pensou em assumir o nome de algum dos seus hospedeiros?

— Não eram nomes de que eu gostasse — expliquei.

Ela cruzou os braços, me olhando com diversão.

—Porque não se auto nomeia?

Ponderei aquilo.

— Tudo bem — sorri — Que tal... Caleb? Gosto de como soa.

— Irônico — aprovou ela — Tudo bem, de agora em diante, vou  chamá-lo de algo além de Estátua Sinistra.

Eu sorri, gostando do meu novo nome. Era simples e eu preferia assim. Me levantei, saindo de perto de Bonnie. Caminhei, olhando para o céu noturno.

— A lua já está na posição correta, Sam — murmurei, sem olhar para ela — E Liliana, já está quase drenada. Hora de começar.

Fui em direção a garota caída no círculo de fogo.

— Ei, Cara dos Olhos de Hepatite! — ouvi alguém gritando.

Me virei, a tempo de ver um borrão vir na minha direção e quase me derrubar no chão.  Desviei dele, deixando que passasse a centímetros de mim. Um humano comum não teria conseguido fazer aquilo, mas eu não era um humano comum.

Ele parou, olhando para mim.

Claro, que eu já tinha visto a cara do sujeito.

— Olá, Damon — disse eu, sorrindo amistosamente.

Ele retribuiu o sorriso.

— Olá — assentiu — E a julgar pela sua cara de inteligente imagino que não seja o monstrinho do Kai, não?

Sorri maldosamente.

— Suponho que não — murmurei calmamente — O que faz aqui? 

— Sabe como é, não? Eu estava lá, quietinho na minha casa e acabei tropeçando com uma bruxa, que por acaso, achou um modo de localizar minha namorada sequestrada por você — deu de ombros, com um sorriso irônico — E não é que ela estava aqui? O que foi muita burrice da sua parte, deixar uma vampira tão fácil de ser encontrada perto dos nossos pequenos líderes da Gemini. Aliás, oi Bonnie! — disse olhando por cima do meu ombro — Como é o seu nome, mesmo? Caleb, não? Um nome sem graça, na minha opinião, mas é melhor que Malachai. E aliás, me responda como é estar aí dentro? O Kai fica gritando na sua cabeça ou quê? Por que aquele ali parece uma matraca, não cala a boca. Na próxima deixo você bancar o Gasparzinho, comigo, ok? Porque sou bem mais bonito que ele…

— Caleb! —gritou Sanvine.

Me virei a tempo de pegar a mão de alguém, o arremessando contra uma parede. Vi a garota de cabelos castanhos, se pondo de pé, um pouco desajeitada.

Comecei a aplaudir.

— Parabéns, por seu plano mal sucedido — murmurei acidamente — Precisa mais do que um papinho furado para me distrair, Damon.

O vampiro bufou.

—Isso geralmente funcionava com o Kai.

Cruzei os braços.

— Aí é que está a sua falha — murmurei — Eu não sou o Kai.

Ele franziu as sobrancelhas.

— Acho que percebi pela cor dos olhos e sua aura de vilão demoníaco — disse ele.

— Nem pense nisso, Elena — avisou Sanvine.

E vi a garota, parada ao lado de Bonnie. Sanvine, tinha uma mão erguida para a garota, a ameaçando, caso tentasse soltar sua amiga. Elena estava com a blusa de seda suja de sangue seco e algumas marcas vermelhas nos pulsos. 

Cordas embebidas em verbena, pensei.

Elena havia sido apenas uma isca para atrair Bonnie e Kai para nós. Entretanto, Damon havia dado um jeito de encontrá-la e acabou nos achando.

— Esse era o plano de vocês? — riu Sanvine — Dois vampiros contra uma bruxa e um demônio poderoso?

— É, parece, que não deu muito certo… — murmurou Elena, cabisbaixa, mas sorriu rapidamente — Por isso trouxemos reforços!

E vi uma seta cortar o ar, vinda das sombras e acertou o braço de Sanvine. Ela gritou, agarrando o ombro ferido.

E ouvi o som de passos.

— Matt Donovan? — questionei.

Ele trajava a típica calça jeans, camiseta e botas. O único diferencial era a besta em suas mãos.

— É, eu sei — murmurou Damon, revirando os olhos — Mas foi o que deu para arrumar na última hora. Graças a Deus, não temos só o água de salsicha do Matt.

O rapaz loiro bufou.

E vi, saindo do meio da escuridão, pessoas que eu conhecia bem, das lembranças de Kai e de minhas vigílias em sua vida. Uma garota alta, loura e magra. Caroline Forbes.  Tyler Lockwood. Um homem mais velho que o grupo de pessoas. Alaric Saltzman, noivo de Josette, irmã de Kai. Um outro rapaz de olhos verde-azulados, Stefan Salvatore, irmão mais novo de Damon.

Uma imagem engraçada surgiu em minha mente.

— Ora, ora… — eu ri — A Liga da Justiça de Mystic Falls!

Gostava cada vez mais do bom humor de Kai.

— O que é isso? — disse Caroline, me olhando de cima a baixo com cara de nojo — Não bastava ele ser insuportável sozinho? Tinham que colocar um bicho aí dentro também?

Fechei a cara para ela.

O dono do corpo até podia ter mudado, mas a aversão por Caroline, continuava intacta.

— Oi, Barbie — provoquei, sabendo que ela não gostava daquilo.

A vi ficar vermelha de raiva.

— É, garoto do inferno… — murmurou Damon — Acho que você está em desvantagem.

Eu sorri diabolicamente.

— Sim, parece.

Ele tomou isso como um encorajamento, se lançando para cima de mim, com aquela velocidade sobrenatural de vampiro. Fui mais rápido, o arremessando em uma parede com um simples movimento.

Damon resfolegou, caído no chão, surpreso com minha força descomunal.

— Isso não foi legal… — murmurou, tentando se pôr de pé.

Os outros seguiram seu exemplo.

Caroline e Tyler vieram para cima de mim, com as presas à mostra. E me perguntei, como aquele garoto havia sobrevivido ao acidente causado por Sanvine e como havia conseguido ativar sua maldição outra vez.

Caroline veio com as mãos em garra, para arrancar meu coração do peito, porém fui mais ágil torcendo seu pescoço. A loura desabou no chão.

Tyler rosnou para mim, tentando me alcançar com suas presas, mas com um simples movimento de mãos, quebrei suas duas pernas. O rapaz caiu, ganindo de dor.

Ouvi o som de algo assobiando e vindo muito rápido. Agarrei a flecha, antes que me acertasse bem entre os olhos. Fiz uma cara feia, olhando para Alaric e Matt.

— Eu não gostei nem um pouco disso — Sibilei.

Eles me ignoraram, soltando uma chuva de flechas sobre mim. Fiz uma barreira de proteção, às parando em pleno voo. Os dois homens olharam surpresos para as setas flutuando no ar. Senti uma dor e ardência estranha no pescoço. Olhei para baixo, vendo uma das setas atravessada em minha jugular. Respirei fundo, sentindo o sangue escorrendo por minha traquéia. Arranquei a flecha, odiando a dor. O ferimento começou a se fechar com a névoa negra.

— Motus — fiz eu, testando meu novo corpo de bruxo.

As flechas voaram na direção de Rick e Matt, que tentaram se desviar, mas pude ver algumas delas os acertando.

Eles desabaram. Rick com uma flecha no abdômen e Matt com uma na coxa e no ombro, com o sangue escorrendo livremente.

— Estou decepcionado com vocês! — provoquei — Eu esperava mais.

Procurei por Sanvine, vendo-a parada perto de um rapaz caído no chão. Stefan. Ela proferia o feitiço de quebrar ossos, o torturando. Seu braço e suas duas pernas, já estavam em posições realmente perturbadoras. Ele gritava a cada novo osso quebrado.

Revirei os olhos.

Garota infantil, pensei, com desdém. Me concentrei em Bonnie, pois ela era um elemento importante. Me adiantei, indo em direção à ela, mas… Estaquei.

— Sanvine! —gritei, a fazendo pular com o susto — Onde está ela?! Onde está Bonnie?!

A garota parou de torturar o vampiro, confusa.

— Mas ela está… — e olhou para o canto, onde Bonnie deveria estar, mas só haviam correntes arrebentadas.

Ela empalideceu.

— Esse idiota — sinalizei Stefan — Foi apenas uma distração, sua imbecil!

Ela começou a vasculhar a caverna em busca da garota, mas ela havia desaparecido como fumaça no ar. Tentei achar Bonnie, por sua aura, mas claro, que ela havia sido muito esperta a escondendo. No entanto, ela estava muito machucada, não poderia ter se libertado das correntes sem a ajuda de alguém.

— Procurando alguém? — provocou Damon, tentando se levantar.

Eu não estava com humor para brincadeiras.

— Motus — disse eu, fazendo uma estalactite do teto rochoso cair sobre o peito de Damon, o empalando, mas tive o cuidado de não deixá-la acertar seu coração. Queria que ele sofresse toda aquela dor. Ele urrou, tentando se levantar, mas estava preso ao chão.

— Seu... Desgraçado! Ah, merda! — praguejou, desistindo.

Eu ainda estava furioso.

— BONNIE! — gritei.

Ninguém me respondeu.

Respirei fundo, erguendo a mão e girando em todas as direções da caverna. Localizei a energia de Elena.

— Invisique! — murmurei com a mão erguida no ar. 

E foi como se elas tivessem surgido em pleno ar. Bonnie estava cambaleante, se apoiando na amiga, prestes a sair da caverna.

As duas garotas me olharam assustadas.

— Pensou que fosse escapar de mim? — Sibilei, com um sorriso vitorioso.

Elena, com sua velocidade de vampira, pegou a amiga nos braços, tentando fugir com ela. Porém, com um acenar de mão, as arrastei de novo para o centro da caverna. As garotas caíram no chão rochoso, tentando se levantar, mas as pressionei, contra o piso de novo.

—Você pensou que poderia mesmo se esconder de mim?— eu ri.

Olhei para Elena, que se contorcia, tentando se soltar.

— Ela é minha, entendeu? — disse eu, querendo que ela ficasse bem ciente disso — Vai se arrepender por ter tentando me atrapalhar, Elena.

Ergui a mão livre, ouvindo a garota gritar descontroladamente com a dor de cabeça súbita.

— Não! Para com isso, Caleb! Deixe ela em paz! — gritou Bonnie — Eu faço o que você quiser, por favor!

Sorri, aprovando sua reação.

— Eu não preciso da sua permissão para o que vou fazer — falei.

Bonnie me encarou, estremecendo. 

Diminuí a pressão em seu corpo.

— Se você tentar alguma coisa— ameacei — Vou arrancar a cabeça da sua amiga. Entendeu?

Ela assentiu, se levantando.

— Não, Bonnie, não faça isso! — arfou Elena.

Bonnie a ignorou.

Eu sorri, chegando muito perto dela. Olhei no fundo daquela floresta selvagem e verde, que eram os seus olhos. Coloquei minha boca perto de sua orelha, sussurrando as palavras antigas. Bonnie enrijeceu de imediato, soltando o ar em seus pulmões de uma vez só. Me afastei, vendo a garota parada, com as mãos grudadas nas laterais do corpo. Reta como uma tábua. Seu olhar estava perdido, como se ela estivesse vendo algo assustador. 

Seus olhos mudaram do verde oliva para um branco leitoso.

— O que fez com ela?! — berrou Elena, tentando se soltar da pressão.

Cruzei os braços, sorrindo.

— Nada… — respondi — Apenas a tornei uma passagem.

— Passagem? — questionou, confusa — Passagem para o quê? 

Sorri mais ainda.

— Passagem para outros como eu — respondi, vendo a expressão de horror nos olhos de Elena.

♡♡♡♡♡

Nota da Autora:

Oi gente :) , 

Demorei com o capítulo, mas postei.

E já puderam conhecer um pouco do Caleb, não? Ainda não acho que esse seja um nome adequado, mas foi um que me ocorreu. Gostei do significado. E falando em significado... Adorei o nome Kéfera, pois representa o deus do sol egípcio.

Espero que estejam gostando ou, ao menos, sofrendo junto com a coitadinha da Bonnie ;)

Beijinhos xxx. Até mais!

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