Wonderfall

By mrayssalimaa

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"Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito." Os am... More

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Time
Wonderfall
Epílogo Parte 1 - Resiliência
Epílogo Parte 2 - Beàrling
Epílogo Parte 3 - Falicius
Finitus

Selcouth

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By mrayssalimaa


Lauren's pov

Selcouth (adv.) : desconhecido, raro, estranho e maravilhoso.

"O que está acontecendo com meu corpo?", pensei ao me dar conta dos meus músculos se contraindo em resposta ao olhar invasor de Camila.

- Droga. - sua voz soou baixa e fraca. - Você arruinou a minha sophrosyne.

Então, o mundo se calou.

Sua mão tocou o meu rosto e instantaneamente meus sentidos desligaram-se para o resto mundo, só funcionavam para ela. Meus olhos só enxergavam Camila, meu olfato só distinguia seu cheiro, meu tato só sentia seu toque.

"Eu preciso me controlar. Eu não posso ser lésbica. Isso é errado. Eu não posso ser...", pensei. "Não importa, a mão dela é tão...tão...".

Seus dedos tocaram tão delicadamente meu rosto que em qualquer outra situação, se fosse qualquer outra pessoa me tocando daquele jeito, eu mal poderia sentir. Entretanto, o toque de Camila, embora fosse suave, estava-me fazendo tremer.

Seus olhos não desgrudavam-se dos meus e por mais que a minha vontade de desviar o olhar fosse grande, maior ainda era a minha vontade de olhar eternamente o seu rosto, seus traços profundos e suaves... seus láb...

- Por que está tremendo? - Ela perguntou, retirando a mão do meu rosto e eu olhei para baixo imediatamente, cedendo à timidez.

- Eu não sei... - confessei, ouvindo a minha própria voz sair fraca demais e amaldiçoando-me por isso. - O que quis dizer sobre eu estar abalando a sua sophro...so.. - fiz uma careta tentando pronunciar a palavra que ela havia dito.

- Sophrosyne. - ela me ajudou.

- Isso, sophrosyne. - repeti, tentando memorizar a pronúncia daquilo.

Camila continuava a me olhar da mesma maneira que me olhara da primeira vez em que conversamos, nos corredores das salas de pranchetas da HGSD. Parecia querer me engolir, parecia querer me partir ao meio e mergulhar dentro de mim. E eu continuava a sentir estrelas se chocando e explodindo no meu peito cada vez que ela me olhava.

A mulher soltou algo parecido com um suspiro e com o olhar intrigado, como se discutisse com ela mesma, ainda me olhando, respondeu.

- Eu quis dizer, literalmente, que você está destruindo a minha paz de espírito. - ela disse em um tom ameno. - Eu tenho perguntas a seu respeito e não consigo respondê-las. Eu preciso das respostas e só você pode me dar essas respostas.

"Merda!", exclamei mentalmente. "Como eu vou dar à ela respostas que eu ainda não consegui dar nem para mim mesma?".

Era evidente que eu tinha total consciência de que eu devia respostas para a minha professora, afinal, eu havia lhe dado um beijo sem mais nem menos e da mesma forma eu havia desaparecido de seu carro cinco segundos depois. Eu sabia que lhe devia respostas, mas eu não tinha resposta alguma.

- Eu não sei se... - tentei começar a falar a respeito.

- Por que você me beijou, Lauren? - ela me interrompeu, ignorando totalmente a minha intenção de falar.

Foi direta. Objetiva. Foi mulher.

A tempestade de pensamentos que vieram à minha cabeça como resposta à pergunta dela foi tão intensa e tão cheia de fatos que eu não queria aceitar como verdades que eu travei outra vez. Apertei os dentes com força uns nos outros, tentando dissipar aquela enxurrada de palavras e frases que eu me recusava a dar como resposta para ela e principalmente, para mim.

"Lésbica", "Normani! Eu sou lésbica", "boca desejável", "os sentimentos mais descontrolados que já tive", "porque você é linda", "porque seus olhos são arrebatadores", "porque sou lésbica", "porque minha boca estava pulsando de vontade de beijar a sua", "porque eu me sinto atraída por você".

Apertei os dentes com ainda mais força e soltei um suspiro profundo e quase raivoso, na tentativa de afastar aqueles pensamentos inoportunos.

- Eu não sei... - respondi vagamente.

Eu realmente não sabia... Ou não queria aceitar o que eu sabia.

- Não sabe?! - ela perguntou, exclamando levemente e seu tom que, ainda que delicado, saiu mais duvidoso do que deveria.

- Não sei. - respondi simplesmente.

Todos os meus pensamentos, de repente, estavam concentrados em querer desaparecer. Ainda assim, mesmo com todos os meus pavores interiores do momento, mesmo com o enjoo que se acumulava e crescia no meu estômago, mesmo com a minha cabeça entorpecida, eu me permiti olhar para Camila outra vez.

Seu olhar continuava fixo em mim, sua expressão era intensa e a sensação de ser invadida nunca havia sido tão forte. Os pelos escassos dos meus braços se arrepiaram em reflexo ao frio que subiu rasgando pela minha espinha e eu me senti levemente zonza. Sua expressão se suavizou e eu desviei outra vez o olhar.

- Lauren... - sua voz soou mais tranquila do que sua expressão dizia que ela estava. - Não se intimide em me dizer que é lésbica. - ela começou, usando um tom de muita compreensão. - Isso não vai mudar em nada a minha forma de avaliar você. Eu respeito a sua orientação sexu...

- Eu não sou lésbica! - falei deixando transparecer mais nervosismo do que eu gostaria.

"Eu sou lésbica sim", o pensamento surgiu na minha cabeça como resposta à mentira que eu contara não somente para ela, mas para mim própria.

- O que? - ela pareceu confusa e ajeitou-se no banco do carro, sentando-se melhor. - Como assim? Você não é lésbica? - ela perguntou em um tom bastante inconformado.

"Sou", pensei. "Droga Lauren, você NÃO é lésbica."

- Não. - eu disse, encarando a mão dela que estava apoiada na própria coxa.

A tatuagem em forma de cruz fina não estava coberta por nenhum anel naquele dia e só naquele momento eu reparara naquilo. Como tudo a respeito dela, a tatuagem se encaixava perfeitamente em tudo o que ela era, como se sempre tivesse sido parte de seu corpo, mesmo que fosse uma coisa que eu vira poucas vezes, mesmo que fosse algo novo para mim. Seus dedos finos tinham curvas sinuosas, sem desníveis.

"Como ela pode ser tão perfeita até em detalhes tão ínfimos?", o pensamento surgiu involuntariamente, sem controle. "Por que diabos eu não paro de olhar para os malditos detalhes de perfeição dessa mulher?".

- Então, por que me beijou? - ela perguntou, deixando a cabeça pender levemente para o lado, como se seu corpo expressasse a interrogação de sua dúvida.

Engoli o nó que se formou em minha garganta, esperando que se aquele nó fosse engolido, respostas coerentes para a pergunta de Camila surgiriam, mas tudo o que aconteceu foi: nada.

- Eu não sei... - suspirei. - Eu agi por impulso. Estávamos tendo todo aquele momento durante a tarde e, eu não sei pra você, mas aquilo foi bastante intenso pra mim e eu não sei... - eu estava formulando uma resposta convincente, que de certa forma fazia sentido e tinha pontos de verdade, mas que ao mesmo tempo não era a verdade completa. Eu estava adaptando a verdade. - Eu meio que me deixei levar. Foi impulso. Como eu disse, eu vejo a arquitetura em você e eu estava tão preenchida de amor pela arquitetura naquele momento que acabei... "colocando pra fora" - fiz aspas com os dedos. - em você.

- "Colocando pra fora" em mim? - ela fez aspas com os dedos também.

- É... - eu respondi vagamente.

Não era como se aquilo não fosse parte da verdade. Eu a havia beijado em partes porque a admirava, então eu não estava sendo totalmente desonesta.

Ela se manteve calada por alguns instantes, sem nunca tirar os olhos de mim e ao mesmo tempo em que eu me sentia intimidada pela constância de seu olhar, eu gostava que o seu foco fosse eu. Porque quando Camila me olhava, parecia que só eu existia no mundo.

- Por que sua boca diz uma coisa e seus olhos dizem outra? - ela perguntou, de repente.

Seu tom era sempre ameno e curioso. Meus sentimentos eram sempre nervosos e descompensados.

- Meus olhos não estão dizendo nada. - falei repentinamente, pensando que minha rapidez em responder fosse motivo suficiente para convencê-la de que meus olhos diziam a mesma coisa que minha boca.

Ela me analisou outra vez e eu virei-me de frente para o para-brisa do carro, sentando-me corretamente no banco do passageiro.

- Tudo bem... - ela disse, mantendo-se na mesma posição. - Se esta é a sua resposta eu a aceito e a entendo. Não preciso me preocupar quanto a acontecer novamente, correto?

"Precisa!".

- Não. - eu disse para ela e para a minha cabeça.

- Você é uma boa aluna, Lauren. Eu gosto de ensinar você. Fui sincera quanto ao que lhe disse na ponte. Não é atoa que tenho lhe dado certa atenção no que diz respeito às suas habilidades de desenho e de percepção do mundo ao seu redor. - ela falou, tocando o meu rosto, fazendo-me virar de frente para ela. - O que aconteceu na terça feira passada, eu entendo. - seu olhar estava fixo no meu, carregado de compreensão e amabilidade e eu a agradeci por estar agindo daquela forma. - Não pense que estou chateada com você. Eu estava intrigada. - ela falou, tirando a mão do meu rosto. - Tudo bem?

Eu fiz que sim com a cabeça, olhando para ela.

Ao mesmo tempo em que sentia alívio pela maneira delicada que ela escolhera para lidar com a situação eu me sentia angustiada por ela não ter percebido que...

- Bom, então agora eu vou lhe devolver à Harvard. - ela disse, dando-me um sorriso agradável e sentando-se corretamente.

- Eu tenho uma pergunta. - falei, tentando manter o clima tranquilo que estava começando a surgir, mesmo que por dentro eu estivesse no meio de um terremoto.

- Faça. - ela disse, ligando o carro e ajeitando-se para sentar-se melhor no banco.

- Por que você disse que eu destruí a sua Sophrosyne? - perguntei.

- Já lhe disse... - ela falou, dando a partida no carro, pegando de volta o caminho para Harvard. - Por que eu queria respostas e não conseguia encontrá-las sozinha. Estava perturbando a minha...

- Não, não. - a interrompi. - Você disse que eu destruí a sua paz de espírito. - destaquei a palavra para que ela entendesse. - Por que?

Ela virou ligeiramente a cabeça de lado para me olhar e semicerrou os olhos levemente, arrastando depois um lábio no outro, em seguida dando-me um sorriso curto e envenenante.

O efeito do veneno daquele sorriso foi a paralisia imediata do meu pulmão. A dificuldade de respirar foi tanta que eu não tive alternativa a não ser respirar fundo. O sorriso dela aumentou ligeiramente e ela voltou a olhar para a rua.

- A resposta para essa pergunta é a mesma resposta para a pergunta que lhe fiz. - ela disse, intercalando o olhar entre mim e a rua.

- Qual pergunta? - a indaguei. Ela havia me feito mais de uma pergunta, afinal.

- "Por que você me beijou?". - ela respondeu.

- Então a sua resposta é "Eu não sei?". - perguntei, usando as mesmas palavras que eu havia usado para respondê-la.

Ela me olhou de lado novamente e seu sorriso envenenante voltou aos lábios. Voltou a olhar para frente.

- Não a resposta que você me deu com a boca, Lauren. A resposta que você me deu com os olhos. - ela falou, com o olhar fixo na rua.

Então, um sopro gelado se espalhou pelo meu corpo, congelando meus sentidos e minha razão.

As horas começaram a passar lentas depois daquela tarde com Camila. Eu queria que a quinta feira chegasse logo, para vê-la no restaurante, mas o tempo se arrastava, como se quisesse testar a minha resistência. Eu não tinha motivo nenhum para querer vê-la, senão, simplesmente vê-la. As coisas não estavam mais em uma ordem de conexão lógica na minha cabeça.

Eu queria ver Camila e só.

Os meus desesperos pessoais foram sendo empurrados para dentro de qualquer canto escondido dentro de mim. Eu não estava mais consumida pelo medo de pensar em mim mesma como lésbica. O medo ainda existia, mas foi como se tivesse percebido que não era o seu momento para entrar em cena e se retirou, dando espaço para Camila que àquela altura, dominava os meus pensamentos ainda mais do que antes, se é que isso era possível.

Camila dominava-me a mente furiosamente. Não havia um espaço dos meus pensamentos que não estivesse sendo impiedosamente ocupado por ela.

Eu estava eufórica pela quinta feira, quando eu, finalmente, poderia vê-la outra vez.

- Você está parecendo nervosa, Lauren. - Normani falou, escovando os dentes, encostada na porta do banheiro, olhando para mim. - Por que está assim?

Eu havia contado para Normani quase tudo o que havia acontecido na terça feira, quando Camila havia me levado para conversar. Eu omiti a parte em que ela disse que eu havia destruído a paz de espírito dela pelo mesmo motivo pelo qual eu a havia beijado. Omiti, não porque eu não confiava em Normani, mas porque eu não sabia como interpretar aquela informação, principalmente quando ela estava me fazendo sentir coisas tão descontroladas.

- Não estou nervosa. - falei, colocando alguns livros dentro da mochila. - Só estou...

Normani estava segurando a escova de dentes quase pendurada em sua boca, olhando-me com uma expressão de tédio total. Ela nem precisou dizer "pare de mentir", eu li em seu rosto.

Suspirei e sentei-me pesadamente na cama.

- É que hoje é quinta feira... - falei, deixando no ar, tendo certeza que Normani facilmente entenderia.

Joguei-me de costas na cama, vendo de reflexo quando Normani voltou para dentro do banheiro sem falar nada. Fechei os olhos e tentei dar um pouco de calma à minha mente, mas de nada adiantou. A minha agonia era tanta que meus olhos estavam pesados. Tentei concentrar meus pensamentos no barulho da água da torneira, mas tudo o que eu pensava, vinha acompanhado do nome dela.

"Água da torneira... Os olhos da Camila são lindos.", "Aula da professora Hadid... Não vejo a hora de ter aula com a Camila.", "Vou comer pão com geléia... Camila tem a voz tão bonita.".

Tudo levava os meus pensamentos à ela e eu estava enlouquecendo, mas curiosamente, eu não queria parar.

Era estranho... Estar enlouquecendo e gostar disso.

- Laur... - Normani falou, sentando-se ao meu lado na cama e eu abri os olhos, vendo sua silhueta bem perto de mim. - Você está assim por causa da professora Cabello? Vocês já não conversaram? - ela perguntou, usando o mesmo tom carinhoso e atencioso de sempre.

Inspirei profundamente e soltei o ar da mesma forma. Apertei os olhos e impulsionei meu corpo para cima, sentando-me ao lado de Normani.

- Conversamos, Mani. - falei, olhando para as minhas mãos, meio caídas entre minhas coxas. - Mas não é como se a minha explicação pra ela fosse verdade... Você sabe... Eu... - mordi o lábio inferior, sentindo-me envergonhada em repetir aquilo. Era mais fácil falar dos meus sentimentos quando eu não estava "calma". - Eu não a beijei por causa do momento... Não foi só por isso. Eu a beijei porque senti vontade. Meu corpo estava todo na minha boca e a minha boca estava desejando ela. - falei, ainda que com dificuldade.

- Mas o que está deixando você assim? Por que está tão ansiosa? - Ela perguntou, ainda sem entender.

- É que eu quero ver ela. - respondi, sem pensar.

- Pra que? - Normani levantou uma das sobrancelhas. - Vai falar alguma coisa para ela?

- Não... - olhei para baixo outra vez. - Eu só quero vê-la mesmo. - confessei, baixinho.

- Tipo, só ver por ver?

- É... - confirmei, usando o mesmo tom.

- Caramba, Lauren... - Normani falou, ponderando algo mentalmente.

- O que? O que foi? - perguntei, olhando-a e arregalando brevemente os olhos.

- Você está apaixonada pela professora Camila. - ela declarou.

- É CLARO QUE NÃO! - exclamei, sentindo um sopro fortíssimo no meu estômago e levantei da cama em um pulo. - É claro que eu não estou apaixonada por ela! - repeti, mais para mim mesma do que para Normani. - Você está interpretando as coisas de forma errada.

- Calma, Laur... - Normani tentou falar, mas de nada adiantou.

- Uma coisa é eu descobrir que gosto de beijar mulheres ou que eu gostei muito mais de beijar a professora Cabello do que de beijar qualquer outro homem e que por isso eu, provavelmente sou lésbica e estou perdida na vida, outra coisa SOU EU ESTAR APAIXONADA PELA MINHA PROFESSORA. - exclamei, quase gritando, alterando bastante o tom de voz para concluir a fala.

Eu estava andando de um lado para o outro, sentindo-me consternada com a suposição de Normani.

A minha amiga se levantou calmamente da cama e segurou nos meus dois braços, fazendo-me parar de andar feito uma louca. Eu a olhava com certo desespero, tentando encontrar qualquer tipo de porto seguro em seu olhar, qualquer coisa que acalmasse aquele turbilhão dentro de mim.

- Respire fundo, Laur. Você precisa se calmar, garota. - Normani falou, encarando-me firmemente, passando-me toda confiança que existia dentro de si. - Não adianta surtar. Não tem por que surtar. Eu só fiz uma suposição, tudo bem? Respire e se acalme...

Ela começou a respirar fundo e a soltar lentamente e eu a imitei, esperando, sinceramente que aquilo desse certo. Eu não ousava desviar os olhos dos dela e tampouco ela desviava os olhos dos meus.

Ficamos repetindo aquilo por alguns minutos, até que eu estivesse suficiente calma para conversar sem ter um surto outra vez.

- Está melhor? - Normani perguntou, deslizando as duas mãos pelos meus braços.

- Sim...

- Laur... toda essa situação com a professora Cabello está fazendo você pirar. - Normani falou, puxando-me delicadamente pelo braço, para sentarmos na cama novamente. - Eu sei que você não gosta de falar sobre isso e que não gosta nem de pensar sobre isso, mas o fato é que você precisa arranjar um meio de descobrir, organizar ou sei lá... fazer qualquer coisa para entender o que está acontecendo com você em relação à professora e em relação a você mesma.

- Eu sei, eu sei... - concordei, movimentando a cabeça em afirmação. - É só que... eu não sei como fazer isso, Normani. Eu não sei como acalmar as coisas dentro de mim. Não sei organizar o que eu estou sentindo, entende?

- Você nem precisava ter dito, isso está estampado na sua testa.

- O que eu faço? Como eu faço pra isso parar? - perguntei, quase suplicando por uma resposta que me ajudasse.

- A questão é: você quer que isso pare, Lauren? - ela perguntou, segurando as minhas duas mãos, olhando-me com atenção. - Porque, sinceramente, pra mim não parece que você quer que isso pare. Você fica fugindo das coisas com as quais precisa lidar, só pra ficar pensando exaustivamente na professora Cabello. Você não se permite pensar sobre tudo isso com clareza. Você está afastando seus pensamentos e deixando só o que você não consegue controlar, que é justamente: Camila Cabello.

- E o que você sugere que eu faça? - perguntei, deixando o peso dos meus ombros se refletirem nas costas, curvando-me ligeiramente para frente.

- Enfrente você mesma, Lauren. Pare de fugir. - Ela decretou e levantou-se da cama. - É o que você deve fazer. E agora vamos! - ela disse, puxando-me pela mão. - Temos que ir pra aula da professora Hadid e você sabe que ela "não tolera atrasos". - Normani disse, imitando o sotaque israelense da professora.

Eu ri.

- Você me faz recuperar o senso de humor nos momentos mais grotescos. - Eu disse, levantando-me e pegando a minha mochila.

- Você me faz ter senso de humor sempre, sua perdedora. - ela disse, puxando-me para um abraço. - Tente organizar esses sentimentos. Você é boa demais para sofrer por algo só porque não tem coragem de pensar sobre isso.

A apertei em meus braços, agradecendo mentalmente por ter conhecido Normani em um momento tão propício.

- Obrigada por estar aqui, Mani. - eu disse, apertando-a um pouco mais.

Ela beijou-me a bochecha e se afastou, segurando os meus braços outra vez.

- Não agradeça. Não estou lhe fazendo um favor. Amizade se trata de reciprocidade e você me dá tanto quanto lhe dou.

Concordei com a cabeça e depois ri.

- Você anda mais filósofa que o normal.

A garota negra ajeitou charmosamente os óculos no rosto, jogou o cabelo por cima do ombro.

- Faz parte do meu charme, você sabe.

Eu ri outra vez.

- E o que, nesse mundo, não faz parte do seu charme? - perguntei, abrindo a porta do quarto.

- Nada. - ela disse rindo.

Era a pura verdade, tudo no mundo fazia parte do charme de Normani Kordei.

A aula da professora Hadid sempre começava às oito horas em ponto e não foi diferente naquela quinta feira. A mulher de expressões pesadas, traços fortemente judeus no rosto, vestida cheia de adornos que, embora combinassem, eram pesados para os olhos, entrou pela sala trazendo toda a sua imponência e arrogância.

- Bom dia, turma. - ela disse. O sotaque israelense estava mais pesado do que em todos os outros dias.

Colocou a bolsa que parecia extremamente pesada em cima da cadeira e foi para o quadro. A turma ficou em silêncio total, enquanto esperava pela professora. A mulher retirou o tablet da bolsa e o conectou ao cabo de projeção. Alguns segundos depois, a imagem da tela inicial de seu tablet estava sendo reproduzida na tela de projeção da sala. Ela colocou o aparelho em cima da mesa e voltou-se para a turma.

- Hoje vamos falar de uma arquiteta muito conhecida de todos nós. - Ela pigarreou, denunciando que havia fumado antes de entrar na sala. - Para mim, é um orgulho falar desta arquiteta, porque, talvez vocês não saibam, mas ela foi minha aluna aqui em Harvard. - ela falou e encostou-se na mesa. - Não que eu seja velha, longe disso... Ela que é nova demais. - falou em um tom zombeteiro e todos na classe riram. - Hoje vamos estudar as obras de... - ela passou o dedo pelo tablet, revelando uma fotografia. - Camila Cabello.

Ouvir o nome dela me deixou em alerta total. Senti tanta excitação com o tema da aula que meu coração disparou.

- Ela tem vinte e sete anos, nasceu em Boston e faz uma das arquiteturas mais instigantes da atualidade. Acreditem vocês ou não, Camila Cabello é a mais jovem arquiteta a ganhar o prêmio Pritzker.

Todos da sala arregalaram os olhos com a informação. O prêmio pritzker era como o Nobel da arquitetura!

A professora Hadid soltou uma risada ao ver nossas expressões.

- Eu sei, estão assustados não é? - ela falou, olhando o tablet. - Mas acreditem, o prêmio dela foi um dos mais merecidos de todos os que já foram dados. Camila ganhou o prêmio por esse obra... - ela passou o dedo pelo aparelho, revelando uma nova imagem. - O Walt Disney Concert Hall.

O edifício era... era... estupendo! Não se parecia com nada que eu já tivesse visto antes. Desafiava o cérebro a encontrar um forma que lembrasse aquilo, mas, definitivamente, não se parecia com nada. Era uma forma inusitada e bela. Era magnífico.

Meu coração virou um balão de ar, tal foi o tamanho da minha exasperação com a arquitetura daquele lugar. Era belo e parecia dialogar com o céu. Era perfeito. Causava-me exatamente as mesmas sensações que Camila Cabello me causava.

O Walt Disney Concert Hall causava-me exatamente as mesmas sensações que Camila Cabello me causava.

- Ela é genial... - Keana falou em voz alta, ao meu lado, olhando tão fixamente para a tela que estava a ponto de babar.

- Sim, senhorita Keana. Ela é genial. Camila Cabello revolucionou a arquitetura do século vinte de um. Vocês tem sorte por serem alunos dela. Desfrutem o máximo que puderem. - ela falou e em seguida, passou novamente o dedo pelo tablet, revelando agora uma imagem do edifício da Harvard Graduate School of Design, o edifício onde estávamos naquele exato momento. - O lugar onde vocês estão agora, também foi projetado por Camila Cabello, então, se vocês apreciam qualquer coisa aqui, os créditos são dela. - ela disse, e depois continuou mostrando e analisando muitas obras já construídas pela professora Cabello.

Eu sabia que Camila era impressionante, sabia que ela conseguia fazer coisas brilhantes, mas estava tão absorta nos sentimentos confusos que ela me causava que nunca parara realmente para procurar a respeito de sua vida e obras. Ela havia construído aquele edifício. Ela havia construído o lugar que me causara tantas impressões reconfortantes de uma vez só.

"Camila Cabello é a mulher mais impressionante que existe.", o pensamento surgiu em minha cabeça e eu sorri sozinha para a imensidão do significado de ela ser impressionante. "Sim... Camila Cabello é impressionante e eu a quero para mim.".

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