MARLEY SE ajoelhou no chão frio do jardim e arrancou algumas ervas daninhas que
circundavam as flores e a folhagem. Durante a rotina de trabalho matinal de Chrysander, ela
encontrara outras formas de ocupar seu tempo para o desânimo do jardineiro que voava até ali
duas vezes por semana para cuidar dos jardins.
Desde aquele desabafo na praia, Chrysander deixara de lhe impingir Patrice e o dr.
Karounis a cada preocupação com sua saúde. Em vez disso, a enfermeira e o médico se
mantinham nos bastidores para serem acionados se necessário e Chrysander lhe permitira
transitar pela escada sozinha.
Apesar do fato de continuar trabalhando durante as manhãs, ele aparecia para tomar café da
manhã em sua companhia antes de retornar ao escritório. E então, começava o divertimento de
Marley. Todas as manhãs, encontrava uma forma de enlouquecê-lo. Quando Chrysander saía à
sua procura, após a jornada de trabalho, invariavelmente Marley punha à prova a promessa
que ele fizera em se abster de exigir que descansasse.
Quando ele a encontrara no jardim, apoiada nas mãos e nos joelhos, Marley pensou que
fosse vê-lo enfartar. No mesmo instante, Chrysander erguera nos braços, a carregara para
dentro de casa e pela escada, a despira e a colocara na banheira.
Marley dera risadinhas da expressão feroz do noivo, escutara com pretensa seriedade o
sermão sobre não se colocar em perigo daquela forma nunca mais e no mesmo instante tramara
incorrer na mesma travessura, tão logo Chrysander se distraísse com o trabalho.
Aquilo dera início a um jogo engraçado entre eles, no qual o divertimento ficava
exclusivamente por conta de Marley, porque ele não conseguia achar nenhuma graça em sua
contínua desobediência.
E então, lá estava ela, esperando, extasiada, o momento em que ele a encontrasse.
Marley ouviu o suspiro exasperado atrás dela e sorriu, mesmo quando se viu erguida no ar.
Sua cabeça colidiu com a solidez do peito largo e um sorriso lhe curvou os lábios diante da
expressão sombria de Chrysander, que resmungava durante todo o trajeto até a casa.
– Prometi suavizar minhas tendências superprotetoras. Parei de insistir para que
descansasse e até permiti que você transitasse sozinha pela escada. – Marley revirou os olhos.
– Mas você é capaz de desafiar a paciência de um santo.
Como fizera antes, e com o que ela estava contando, Chrysander a despiu e colocou-a em
um banho de imersão. Ele lhe lançava olhares furiosos o que a fazia soltar risadinhas enquanto
afundava na água. Marley se banhava lentamente, e os olhos âmbar seguiam cada movimento
com um desejo feroz.
Deleitando-se com o fato de deter toda a atenção de Chrysander, valeu-se daquela vantagem
para, lânguida, esfregar a esponja sobre cada centímetro de seu corpo.
Quando terminou, lançou um olhar inocente à Chrysander, que a secava com uma toalha.
Marley conjurou um de seus melhores sorrisos, mas aquilo não ajudou em nada a suavizar o
brilho feroz daqueles olhos dourados.
– Sua graciosidade não a livrará de um sermão, pedhaki mou.
– Bem, ao menos sou graciosa – retrucou atrevida.
– Por que insiste em me provocar? Meus cabelos estão ficando grisalhos e a culpa é toda
sua.
Marley relanceou o olhar aos cabelos negros do noivo que não se encontravam maculados
por um único fio branco e ergueu as sobrancelhas.
– Pobre querido. Está muito velho para lidar com uma mulher grávida?
– Eu lhe mostrarei o velho – rosnou ele enquanto a erguia da banheira.
Mal teve tempo de secá-la, antes de penetrar no quarto com passos duros e depositá-la na
cama. Os olhos de Marley se arregalaram, apreciativos, quando ele começou a se despir
revelando o corpo musculoso.
– Certamente tenho de agir como uma menina levada com mais frequência – murmurou ela.
– Posso me acostumar facilmente com a punição.
– Sua feiticeira – disse ele ao se inclinar na direção dos braços que o aguardavam.
Chrysander sempre determinava a forma como faziam amor, e ela sabia que sempre fora
daquele jeito, mas no momento foi invadida por um repentino desejo de virar a mesa.
Enlouquecê-lo da mesma forma como Chrysander fazia com ela.
Marley o empurrou, fazendo-o recuar e erguer o tronco com a testa franzida. Em seguida,
também se ergueu e pousou as mãos nos ombros largos, forçando-o a se deitar de costas.
Quando montou sobre os quadris retos com um joelho de cada lado, observou a expressão
chocada com que ele a encarava e um sorriso malicioso lhe curvou os lábios.
– Quero tocá-lo – disse com voz suave, espalmando as mãos sobre as coxas musculosas e
as movendo lentamente para cima.
Os olhos âmbar faiscaram como labaredas de fogo.
– Então, fique à vontade e me toque, agape mou.
Incapaz de evitar uma pontada de nervosismo, Marley lhe tocou a virilidade e o sentiu se
contrair em resposta. Invadida pela ousadia, fechou os dedos em torno da ereção e o acariciou
suavemente.
Um gemido escapou da garganta de Chrysander e ela percebeu gotículas de suor lhe
brotarem na testa. Ele era um homem lindo. Forte, viril, exalando força por todos os músculos.
Inclinando o tronco, Marley pressionou um beijo no abdome definido, traçando um caminho
eletrizante com os lábios até os mamilos planos. Uma fileira fina de pelos lhe escurecia a
linha média do peito e ela escorregou os dedos naquele local, gostando da sensação da
aspereza em sua pele.
Sabia o que desejava fazer, mas não tinha certeza de como conseguir. Chrysander devia ter
lhe pressentido a incerteza e a hesitação, porque esticou os braços e lhe envolveu as laterais
dos quadris com as duas mãos.
Em seguida, suspendeu-a e tornou a baixá-la sobre o comprimento de sua ereção,
escorregando para dentro dela.
– Você está me matando, pedhaki mou – confessou com voz gutural. – Deus! Isso é muito
bom. Você é tão doce!
Encorajada com a satisfação e a aprovação na voz de Chrysander, fez amor com ele,
depositando beijos sobre o peito largo, enquanto as mãos longas guiavam os movimentos de
seus quadris.
Marley sentiu o próprio corpo estremecer e percebeu que estava se aproximando do clímax,
mas não sucumbiria até que ele também se rendesse ao êxtase. No instante seguinte, sentiu
Chrysander enrijecer sob seu corpo e as mãos fortes se contraírem nas laterais de seus
quadris. Ele arqueou, penetrando-a ainda mais fundo, e, com um grito, Marley sentiu o mundo
explodir ao seu redor. Pendeu para a frente, mas ele a segurou com todo cuidado. Em seguida,
Chrysander a deitou sobre o peito arfante e lhe acariciou os cabelos enquanto os dois lutavam
para recuperar o fôlego.
Chrysander girou para acomodá-la ao seu lado e desencaixar os corpos dos dois, suscitando
outro gemido de Marley. No mesmo instante, ela se aninhou ao corpo forte, aquecida e
saciada.
– Eu me saí bem? – perguntou as palavras abafadas pelo peito largo.
Chrysander soltou uma risada que lhe sacudiu o corpo e virou o rosto para que ela pudesse
vê-lo.
– Se tivesse sido melhor, teria feito de mim um velho antes do tempo.
– Mas você gostou? – questionou ela com voz suave. – Ou acha que me transformei em uma
devassa agora?
Chrysander lhe beliscou a ponta do nariz e depositou um beijo no mesmo ponto.
– Gostei muito. Tanto que estou considerando deixá-la brincar no jardim outra vez amanhã.
Marley revirou os olhos e bocejou sonolenta. Ele lhe traçou o contorno da maçã do rosto
com um dos dedos.
– Durma agora. Eu a acordarei na hora do jantar.
– Não preciso cochilar – resmungou ela, embora quase adormecida.
NÃO DESEJANDO parecer totalmente previsível, Marley renunciou ao jardim no dia seguinte,
optando pela piscina aquecida. Desde que chegara à ilha, vinha observando as águas azuis reluzentes com olhar cobiçoso. Graças às butiques ávidas por entregarem suas mercadorias na
ilha, dispunha de um traje de banho simplesmente decadente que estava ansiosa por
experimentar.
Enquanto colocava o diminuto biquíni, percebeu que, na essência, estava tentando seduzir
Chrysander. Não que já não tivesse conseguido isso, mas estava tentada a fazê-lo se apaixonar
por ela.
Marley franziu a testa para a imagem que o espelho lhe devolvia. O certo não seria o
contrário? Ele gozava de memória perfeita. Não deveria ser ele a tentar fazê-la se apaixonar?
Sabia que o amava, mas não dera voz àquele sentimento. Algo a detivera, e agora Marley
ponderava o que a desestimulava a dar aquele salto.
Havia uma hesitação em Chrysander que a incomodava, como se ele quisesse manter
alguma distância entre os dois. Mas não era isso que ela desejava. Queria que ele a amasse
com a mesma intensidade com que o amava.
Marley deixou escapar um suspiro. Se ao menos pudesse se lembrar!
Contorcendo o corpo diante do espelho, ajustou o biquíni até ficar satisfeita com o
resultado. A parte superior lhe erguia os seios pequenos, emprestando-lhes uma aparência
mais avolumada do que realmente tinham. A parte de baixo... Marley sorriu quando se virou
para obter a visão traseira do traje de banho. Não era exatamente uma tanga, mas chamava
atenção para as nádegas levemente arredondadas.
Aprumando as costas outra vez, Marley acariciou o abaulamento do abdome. Chrysander
parecia gostar de sua gravidez. Tocava e beijava sua barriga com grande frequência e parecia
encantado com o crescimento contínuo. Esperava que ele achasse o biquíni... e ela... sexy.
Percebendo que estava muito exposta, esticou a mão para o robe de seda e o vestiu. Não
queria que ninguém mais a visse naquele escandaloso traje. Aquela visão era apenas para os
olhos de Chrysander.
Marley desceu a escada e cruzou a sala de estar sem ser vista. Caminhou até a pequena área
que abrigava a parte interna da piscina e observou a água ondulante em expectativa.
Com ou sem Chrysander, estava ansiosa por nadar.
Livrando-se do robe, atirou-o sobre um das espreguiçadeiras e caminhou até a margem para
imergir a ponta de um dos pés. Estava divinamente aquecida. Se encaminhou aos degraus e
desceu para a água.
Ah, aquela era uma sensação maravilhosa. Nadou na direção até a divisória de vidro que
dava vista para a porção externa da piscina. Ficou tentada a mergulhar sob a divisória e nadar
para o ar livre, mas a brisa fria a desestimulou.
Durante algum tempo, boiou preguiçosamente sobre a superfície e, em seguida, deu alguns
mergulhos se mantendo de baixo da água pelo tempo que o fôlego permitiu. Veio à tona com
um arquejo e se amparou na margem lateral da piscina. Foi então que se deparou com um par
de mocassins de couro.
Marley ergueu o olhar para ver Chrysander a observando, com os braços cruzados sobre o peito e uma carranca zombeteira estampada no rosto. Até mesmo ela podia perceber que os
lábios sensuais se contraíam de maneira suspeita.
Pestanejando com ar inocente, ela sorriu e o cumprimentou. Chrysander se agachou e com a
ponta de um dedo lhe ergueu o queixo.
– Divertindo-se, pedhaki mou?
– Muito – respondeu ela.
– E pensar que estava ansioso por arrebatá-la de seu jardim hoje – murmurou ele.
Marley sentiu o rosto ferver ao se lembrar do que acontecera no dia anterior depois que
Chrysander fizera exatamente aquilo. Em seguida, estendeu a mão.
– Pode me ajudar a sair?
Chrysander lhe segurou a mão ao mesmo tempo em que ela fechou os dedos da outra sobre o
pulso largo, plantou os pés na lateral da piscina e o puxou com toda a força que possuía. Com
um grito de surpresa, ele pendeu para a frente e caiu, espirrando água para todos os lados.
Chrysander voltou à superfície se debatendo e, por um instante ela pensou que estivesse de
fato furioso. Ele a encarou com olhar irado, antes de baixar o olhar às próprias roupas e soltar
uma risada que ecoou no ambiente.
Antes que ele pudesse pensar em retaliação e desejando que Chrysander visse seu biquíni,
ela nadou até os degraus e saiu da piscina com movimentos deliberadamente lentos. Em
seguida, olhou por sobre o ombro para ver o queixo de Chrysander quase cair aos pés
enquanto observava a parte de trás de seu biquíni.
Quando alcançou o topo, ela se virou para lhe proporcionar uma visão de seu perfil e o
ouviu prender a respiração. Em seguida, girou mais uma vez, se encaminhando à
espreguiçadeira onde deixara o robe.
– Ah, não fará isso, sua provocadora – rosnou ele.
Marley pestanejou, confusa, com a velocidade com que ele saiu da piscina. Soltou um
guincho de surpresa quando ele a ergueu nos braços e voltou para a piscina.
– Suas roupas!
– Como se agora isso tivesse alguma importância! Você as arruinou.
– Sinto muito.
Chrysander soltou uma risada.
– Não, não sente. – Ele se inclinou na lateral da piscina e a depositou com cuidado na água.
Em seguida, se dirigiu a ela com olhar austero. – Não se mexa.
Marley soltou uma risadinha que logo morreu em sua garganta quando o viu começar a se
despir. Primeiro se livrou da camisa, revelando o peito musculoso. Em seguida, atirou os
sapatos para o lado e arrancou as meias molhadas. Quando levou a mão à braguilha da calça
comprida, Marley corou, mas se viu incapaz de desviar o olhar nem que disso dependesse sua
vida.
O volume patente contra o tecido da cueca boxer enquanto Chrysander descia a escada lhe
dizia que havia conseguido o intento de deixá-lo enlouquecido de desejo. Porém, agora imaginava o que fazer quanto àquilo.
Com um mergulho preciso que quase não espalhou água, ele surgiu ao lado dela. Em
seguida, a puxou contra o corpo, capturando-lhe os lábios com um beijo faminto.
– Deveria ser considerado ilegal usar um biquíni como esse – disse ele lhe explorando o
pescoço com beijos eróticos.
– Não gostou? – Marley perguntou, fingindo inocência. – Posso me desfazer dele.
– Ah, gostei – murmurou ele. – E vou gostar ainda mais de arrancá-lo de seu corpo.
Marley se soltou e mergulhou, nadando para o mais longe possível. Após uma curta
distância, emergiu, mas não o viu de imediato. Quando baixou o olhar era tarde demais. O
corpo de contornos prefeitos se encontrava muito próximo debaixo da água e ele lhe puxou as
pernas, fazendo-a imergir outra vez.
Os lábios sensuais cobriram os dela enquanto Chrysander dava impulso para que os dois
emergissem da água. Marley lhe envolveu o pescoço com os braços e lhe sorriu.
– Acho que terei de retirar o comentário de que você é muito sério.
– Parece que sim.
– Não me oporia à ideia de você me tirar da piscina e me levar lá para cima – declarou ela,
com pretensa inocência.
Chrysander se apossou da boca macia mais uma vez com um beijo quente e de tirar o
fôlego. As mãos longas deslizando pelas laterais do corpo de Marley para se espalmarem nas
nádegas arredondadas. Em seguida, suspendeu-a e ela enroscou as pernas nos quadris retos.
– Segure-se em mim, pedhaki mou – murmurou ele. – Eu a tirarei da piscina agora mesmo.
Chrysander subiu os degraus com cuidado e saiu da piscina. Quando se aproximaram das
espreguiçadeiras, ela percebeu que havia duas toalhas os aguardando. Ao que parecia,
Chrysander tinha a intenção de entrar na piscina durante o tempo todo. Marley exibiu um
sorriso travesso. Seu noivo não era tão sério afinal.
Depois de pousá-la em uma das espreguiçadeiras, ele esticou a mão para uma das toalhas.
Em seguida, lhe secou os cabelos, o corpo, permitindo se deter nos pontos mais sensíveis do
corpo de Marley, tocando-a e a acariciando até que ela estivesse se contorcendo na cadeira.
– Quem está provocando agora? – perguntou ela ofegante.
Chrysander montou sobre a espreguiçadeira e baixou o corpo até encostá-lo ao dela.
– Hummmm, você está quente.
– Está com frio? – questionou ele com voz rouca. – Estou imaginando o que posso fazer
para aquecê-la.
Marley o puxou para perto, lhe envolveu o corpo com os braços, enterrou os dedos nos
cabelos negros molhados e o beijou. Um som de puro contentamento lhe emergiu da garganta
quando ele correspondeu ao beijo com igual ardor.
A ereção lhe comprimia o ventre, quente e rígida como o aço. Uma onda de calor varou o
corpo de Marley, deixando-a corada e excitada. Desejava aquele homem. Com toda a força de
seu ser.
– Leve-me para o quarto – sussurrou ela contra os lábios sensuais que lhe exploravam o
pescoço e a curva do seio.
O som de uma porta se fechando os surpreendeu. Chrysander deixou escapar um xingamento
enquanto rolava para o lado e erguia uma toalha para cobri-la. Marley enrijeceu quando viu
Roslyn por sobre o ombro largo.
Logo sua surpresa se transformou em raiva. Aquela mulher invadia a casa e a privacidade
dos dois, sem nem ao menos um telefonema para avisar que estava a caminho da ilha. Não
ouviram sequer o ruído do helicóptero pousar. O que não era de se admirar, já que estavam
ocupados com outros assuntos.
– O que está fazendo aqui? – Chrysander questionou em um tom de voz frio como o gelo.
– Desculpe-me a interrupção, sr. Anetakis – começou Roslyn, embora a expressão não
refletisse nenhum arrependimento. O olhar vagou por Marley com um triunfo que logo ocultou
quando voltou a atenção a Chrysander. – Há vários assuntos que requerem sua atenção e
pensei que seria melhor trazê-los pessoalmente do que relatá-los por telefone ou e-mail.
– Certamente esses meios nunca falharam no passado – retrucou Chrysander com voz tensa.
– Se nos der licença, acho que é melhor me esperar no escritório.
– Sim, claro, sr. Anetakis. Mais uma vez peço-lhe desculpas pelo incômodo.
Marley estremeceu, dessa vez em virtude de um frio mais profundo. Aquela mulher tinha
uma cronometragem impecável.
– Sinto muito – disse Chrysander enquanto a ajudava a se erguer da espreguiçadeira. Em
seguida, lhe envolveu o corpo trêmulo com a toalha e a colou à lateral do corpo. – Vou
acompanhá-la até o quarto para que possa vestir algo mais quente. Isso não levará muito
tempo e logo estarei de volta.
Marley anuiu, mas para ela o momento fora arruinado. O humor adorável e divertido que
Chrysander demonstrava minutos atrás havia se dissipado. A paixão que eletrizava a
atmosfera entre os dois agora se transformara em um cobertor frio atirado sobre eles pela leal
assistente.
Chrysander a guiou até o quarto e a apressou a entrar debaixo do chuveiro. Quando Marley
saiu do banho, ele já havia se vestido e descido.
Com um suspiro desanimado, ela envolveu o corpo com a toalha e se sentou na beirada da
cama.
A IRRITAÇÃO havia substituído o bom humor de minutos atrás quando Chrysander entrou no
escritório. Dirigiu um olhar austero a Roslyn, que se afastou para que ele passasse.
– Essa intrusão não me agradou – começou em tom áspero. – Não me telefonou, não avisou
nem pediu permissão para vir até a ilha. – Roslyn empalideceu e arregalou os olhos. – Essa é
minha residência particular, e aqui você não tem o livre acesso do qual desfruta em meus
ambientes de trabalho. Estamos entendidos?
– Sim, senhor – retrucou a assistente, tensa.
– E então, o que há de tão importante que não justificou ao menos um telefonema prévio? –
perguntou ele.
– Descobri que outro projeto foi roubado – respondeu Roslyn com voz suave.
– O quê? – Chrysander começou a praguejar e demorou um instante para se dar conta de que
estava falando em grego, portanto a assistente não estaria entendendo. Espalmou as duas mãos
sobre o tampo da mesa, balançando a cabeça em negativa.
– Que projeto? Conte-me tudo.
A expressão de Roslyn endureceu.
– Um antigo que o senhor havia jogado fora. Era o planejamento original para o hotel do
Rio de Janeiro. Mas ainda assim ela deve tê-lo vendido para Marcelli, com os outros, porque
o hotel que ele está erguendo em Roma tem as mesmas características. Vi as provas
pessoalmente dois dias atrás.
A raiva era como ácido corroendo as veias de Chrysander.
– Meus irmãos já sabem disso?
Roslyn negou com a cabeça.
– Achei melhor lhe contar primeiro.
Chrysander anuiu e fechou os olhos enquanto se virava para olhar a praia, além da janela.
Sempre que pensava ter aceitado a traição de Marley, o passado voltava para assombrá-lo.
Por mais que quisesse esquecer, seguir em frente, colocar aquele episódio para trás, sempre o
via retornar, insidioso e implacável.
Esforçou-se para se lembrar de como Marley poderia ter tido acesso aos planos para o
hotel. Certamente não se protegia em casa. Por mais cuidadoso que fosse no escritório e em
todos os outros aspectos de sua vida, sempre agira de maneira relaxada e despreocupada com
ela, nunca pensara em resguardar seus interesses de Marley.
Como seria capaz construir uma vida ao lado de Marley se não podia confiar nela? Estaria
sendo tolo em começar um relacionamento temporário, sabendo que tudo iria por água abaixo
no instante em que ela recuperasse a memória? Quando tivesse de encarar seus pecados e
arcar com as consequências da traição que lhe fizera?
Em meio a tudo aquilo, Chrysander só conseguia se lembrar de uma coisa: a expressão de
Marley no dia em que a confrontara em seu apartamento. O choque e o horror absolutos
estampados em seu rosto. Poderia alguém fingir tal reação com tanta perfeição?
Pela primeira vez, Chrysander fez uma análise profunda da mulher que ela fora durante todo
tempo em que estiveram juntos, antes do sequestro, e da mulher que se mostrara desde então.
Não havia nenhuma grande diferença. A única inconsistência era a traição.
– Chrysander – Roslyn o chamou com voz suave. Os olhos âmbar se estreitaram ao ouvir a
assistente se referir a ele pelo seu primeiro nome. Nunca tolerara aquele tipo de tratamento de
seus funcionários, embora não soubesse dizer por que se sentia incomodado escutá-lo de
alguém que trabalhava tão intimamente ligada a ele há bastante tempo. – Não permitirá que ela
faça nada de errado, certo?
Chrysander girou para encará-la.
– Não. Isso não se repetirá – respondeu com a voz tensa. A raiva lhe percorrendo a espinha
como uma serpente. Mas aquela raiva não se concentrava somente em Marley. Por alguma
razão, irritou-o o fato de Roslyn se achar no direito de preveni-lo contra a noiva.
A assistente parecia desconfortável.
– Espero apenas que ela não estrague mais uma vez seus acordos para esse novo hotel. Não
outra vez. É um negócio muito importante.
outra vez. É um negócio muito importante.
– Acho que isso não é de sua conta. Marley é problema meu.
Roslyn se encolheu diante do tom do patrão.
– Peço-lhe desculpas, mas essa empresa e esse emprego são muito importantes para mim.
Trabalhei duro para o senhor e me empenhei muito no projeto do hotel de Paris.
Chrysander permitiu que um pouco da raiva se esvaísse em um profundo suspiro. Roslyn
trabalhara duro e era compreensível que tivesse certa animosidade em relação a Marley,
mesmo que ele não estivesse disposto a tolerar isso. Mesmo que não sentisse que aquela
animosidade era justificada. Tal pensamento o atingiu como uma bala de revólver, porque
aquilo significava que, de algum modo, não acreditava que Marley fosse capaz de cometer um
crime.
– Aprecio muito sua preocupação, porém esse não é um problema seu. Se isso era tudo que
tinha a dizer, então pedirei que o helicóptero a leve até o continente.
Roslyn pareceu querer protestar, mas em seguida concordou.
Trinta minutos mais tarde, Chrysander a acompanhou até o heliponto e, tão logo o
helicóptero decolou, ele retornou para dentro da casa.
A raiva e as dúvidas evaporaram quando entrou no quarto e encontrou Marley sentada na
cama, envolta apenas por uma toalha, com expressão tristonha e distante.
Chrysander se ajoelhou diante dela e lhe tocou o rosto.
– O que é, agape mou? Você está bem?
O sorriso de Marley não se refletiu no olhar. Naqueles lindos olhos azuis que faiscavam
minutos atrás enquanto ela ria. Queria ver aquele brilho outra vez. Desejava ter de volta
aquele momento roubado na piscina. Antes da chegada de Roslyn e das notícias que poderiam
mudar tudo entre os dois. Mais uma vez.
– Estou em uma situação muito desagradável – confessou ela.
A incompreensão o fez franzir a testa. A tristeza e a resignação no tom de voz de Marley
não o agradavam.
– O que quer dizer com isso? – perguntou com voz suave enquanto lhe traçava o contorno da
lateral do rosto com um dedo.
Marley o encarou.
– Não me agrada o modo como ela tem livre acesso às nossas vidas. Esta é a nossa casa.
Deveríamos ter a liberdade de fazer amor, nos divertir juntos sem temer sermos surpreendidos
em uma situação comprometedora por uma estranha. Mas se der voz a isso, disser que não gosto dela e não a quero aqui, temo parecer mesquinha. Não há nenhuma forma de eu sair
vencedora e todas de sair perdedora nesta situação. – Ela baixou o olhar por alguns instantes e
voltou a erguê-lo. A emoção lhe fazendo os olhos faiscar. – Não gosto da forma como você se
retrai todas as vezes que ela aparece. Essa mulher entra aqui com um pretexto profissional e,
quando vai embora, você se torna distante. As últimas semanas têm sido maravilhosas, e agora
ela aparece e já posso senti-lo se distanciando de mim. Não sei se posso suportar isso.
Lágrimas banharam os olhos azuis, o que o deixou sem palavras. Tudo o que Marley dizia
era verdade. Não pensara em como ela se sentia. Achava que conseguia esconder as emoções
conflitantes que experimentava sempre que se lembrava do fato de que ela o roubara, traíra e
lhe mentira.
Chrysander tomou-lhe uma das mãos, levou-a à boca e a pressionou sobre os lábios.
– Desculpe, agape mou. Sinto muito se a presença dela a tem incomodado e eu não percebi.
Isso não se repetirá. Já informei Roslyn de que, sob nenhuma condição, deve aparecer aqui
sem dar ao menos um telefonema.
– Eu poderia suportar a presença dela. Não vou mentir e dizer que simpatizo com essa
mulher, mas poderia tolerá-la. O que não posso suportar é o modo como você se retrai todas
as vezes que sua assistente aparece. Sem nenhuma lembrança para me fortalecer a
autoconfiança, não tenho nada que me diga: Marley, você está sendo ridícula. Claro que há
algo se passando entre você e Roslyn.
A surpresa quase fez o queixo de Chrysander despencar.
– Acha que estou tendo um caso com ela? – perguntou não conseguindo evitar o arrepio de
repugnância que lhe percorreu a espinha.
Marley negou com a cabeça enfática.
– Oh, transformei isso em um caos. Estou apenas tentando dizer que, para mim, tudo isso é
novo. Nosso relacionamento é novo. Não consigo me lembrar do tempo que vivemos juntos,
portanto, para todos os efeitos, estamos construindo um novo relacionamento. Recomeçando.
Não posso evitar a insegurança quando vejo que ela está tentando minar nosso convívio.
Chrysander a envolveu nos braços, sem ideia do que responder. Não podia negar que
provavelmente Roslyn queria afastá-lo dela. A assistente sabia que Marley havia roubado a
empresa, à qual era devotada e para a qual passara longas horas preparando o acordo que
havia desaparecido com os projetos para o hotel de Paris. E agora, ele ficara sabendo que
mais um dos projetos da Anetakis seria apresentado sob a assinatura de Marcelli. Não
importava que fosse um que ele havia descartado. Marley não poderia saber disso na ocasião.
Que situação absurda! Mas o que mais o surpreendia era a raiva que as palavras de Roslyn
lhe suscitaram. Sua primeira reação fora defender Marley e repreender a assistente por acusála.
Mas como poderia fazer isso se Roslyn estava coberta de razão?
Tudo o que sabia era que não queria magoar Marley. Por mais estúpido que aquilo
parecesse, dado o estrago que ela causara, queria afastar a tristeza daqueles olhos azuis.
Embora não pudesse fazer nada para apagar o passado, podia se certificar de que Roslyn não fosse uma fonte de discórdia entre os dois. Iria satisfazer a vontade de Marley naquele
aspecto, porque refletia a dele. Não queria que nada se interpusesse entre os dois naquela ilha.
Roslyn não voltaria àquela casa.